
“Não vamos permitir que se coloque em risco a segurança das pessoas”, disse o presidente, determinando que a FAB assuma o controle
O presidente Lula determinou na terça-feira que a Força Aérea Brasileira assuma total controle sobre o tráfego aéreo do país. Ele anunciou sua decisão na reunião do Conselho Político do governo. “A disciplina e a hierarquia militares são inegociáveis”, disse o presidente. “A Aeronáutica está com a responsabilidade de não permitir que esses problemas aconteçam novamente”, disse. “O comandante Juniti Saito sabe dos problemas mais do que ninguém e como encontrar uma solução”, completou o presidente, determinando também que “a desmilitarização do serviço está suspensa até segunda ordem”.
CHANTAGEM
Lula criticou duramente o comportamento dos controladores de vôo que, iludidos com o incitamento de setores da mídia, paralisaram suas atividades por cinco horas, na última sexta-feira, provocando o caos nos aeroportos. Segundo o presidente, eles agiram de forma traiçoeira ao se aproveitarem de sua viagem aos Estados Unidos para paralisar os aeroportos. O presidente enfatizou que não vai aceitar “intimidações” e só vai conversar “após garantir a ordem absoluta”. “A única coisa que peço aos controladores é que não prejudiquem o povo brasileiro, porque as pessoas querem viajar, as pessoas querem trabalhar e as pessoas querem o mínimo de tranqüilidade”, afirmou.
Ele deixou claro que não vai ceder a nenhuma chantagem. “A negociação tem de ser feita da forma mais madura possível, mais consciente possível e estou sempre disposto a conversar com sindicatos, adversários e aliados políticos, mas as pessoas precisam aprender que em um regime democrático o respeito às instituições e aos princípios hierárquicos são fundamentais para que a gente possa ter sucesso na condução da própria democracia”, disse.
A atuação do presidente Lula durante a crise, intervindo de forma firme, mesmo estando fora do país, e reforçando o comando da FAB, deixou completamente desorientada a mídia golpista. Alardeando no fim de semana que a negociação conduzida pelo governo abriu uma “crise militar”, uma “quebra da hierarquia”, etc, agora, com o desfecho que teve, não ela sabe o que dizer. A coesão cada vez mais sólida entre o presidente e seus comandantes militares deixou-a calada. Ela lançou a idéia de que Lula teria se submetido, mas não colou. O tiro saiu pela culatra. A negociação feita na sexta-feira, todos sabem, foi a que era possível naquelas circunstâncias. Agora o presidente saiu mais fortalecido ainda do episódio, e a população mais esclarecida sobre quem são os verdadeiros responsáveis pelo tumulto.
Na quarta-feira, Lula decidiu não receber os representantes dos controladores e mandou o ministro Paulo Bernardo comunicar a eles que não aceita negociar sob pressão. Lula exigiu a volta completa da normalidade. O ministro disse que o presidente continua aberto ao diálogo, mas tem claro que qualquer negociação pressupõe “respeito mútuo entre as partes” e a “vontade de preservar a execução dos serviços públicos essenciais, de tal forma que a população não seja prejudicada”.
Manipulados pela mídia golpista que já os vinha insuflando desde o acidente com o avião da Gol, os controladores não perceberam que serviram de joguetes para que ela acobertasse os pilotos do Legacy e alimentasse o seu delírio lacerdista, e se prestaram a essa tamanha birutice. “Não podemos permitir que se coloque em risco a segurança das pessoas”, disse Lula. “Queremos reconstruir um clima de respeito à hierarquia e de disciplina e que as pessoas saibam a sua função”, prosseguiu. “Eles (controladores) são tão civis que nem usam mais fardas”, afirmou. “Ficam oito horas nos aeroportos e nem passam pelos quartéis”, acrescentou. “Esses caras adoram a vida de civil. Mas não querem tirar a farda”, completou.
O brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, assumiu todo o trabalho de normalização do setor e já tomou uma série de providências para garantir o bom funcionamento dos aeroportos, não só durante a Semana Santa, mas de forma permanente. A Aeronáutica vai remanejar controladores em caso de greve. O Comando tem em mãos um plano de emergência caso os controladores do tráfego aéreo deflagrem novo motim. O plano prevê o deslocamento de 120 controladores para as regiões onde houver crise. Em caso de agravamento da situação, a Aeronáutica poderá convocar 250 militares que estão na reserva. Eles estarão de prontidão para atuar em casos emergenciais.
O Cindacta-1, em Brasília, foi cercado por policiais da FAB e o comando proibiu o uso de telefones na sala de trabalho. Também foi preparado um plano com os sargentos controladores da Defesa Aérea para serem acionados em caso de necessidade. O presidente Lula concluiu que a partir de agora o governo “não fica mais refém dos controladores”. Técnicos da Infraero e da Aeronáutica se reuniram na tarde da quarta-feira para acertar os detalhes do plano. Otimista, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, prevê tranqüilidade nos aeroportos. “Tenho a impressão que a sensatez está voltando”, disse.
Sobre a punição dos controladores, o presidente lembrou que o Ministério Público Militar entrou com um pedido de inquérito policial militar. “Vamos aguardar a apuração”, disse. O motim da sexta-feira passada gerou três inquéritos policiais militares abertos pelo Comando da Aeronáutica em Brasília, Curitiba e Manaus. A Aeronáutica anunciou que está atenta a qualquer movimentação dos controladores. Se decidirem voltar a parar, eles receberão imediatamente voz de prisão e os sargentos da Defesa Aérea assumirão seus postos no controle dos aviões. O Código Militar prevê cinco situações em que os amotinados podem ser enquadrados: conspiração, recusa de obediência, abandono de posto, descumprimento de missão e motim.
MINISTRO
O presidente Lula anunciou também que vai manter no cargo o ministro da Defesa, Waldir Pires. Em rápida entrevista após almoço com o presidente do Equador, Rafael Correa, no Itamaraty, Lula disse que uma substituição na Defesa agora não é uma questão para o governo. “Waldir Pires vai continuar no cargo. Ministro, sou eu que ponho, sou eu que tiro. Se algum dia tiver que tirá-lo, tirarei. Por enquanto, não é esta questão”, afirmou.
Jornal Hora do Povo