Presidente Lula dá início à recuperação da nossa Marinha Mercante. Logo depois de encomendar 10 navios petroleiros em Suape, Petrobrás encomenda 9 no Rio de Janeiro
A Petrobrás, através da Transpetro, assinou na quarta-feira, no Rio de Janeiro, com a presença do presidente Lula, os contratos para a construção de nove petroleiros pelo Consórcio Rio Naval, dando continuidade ao Programa de Modernização e Expansão da Frota. Já haviam sido encomendados 10 outros petroleiros, para serem construídos em Suape, Pernambuco, pelo estaleiro Atlântico Sul. Esses 19 navios são os primeiros de 42 que serão construídos para a Petrobrás. Essa etapa compreenderá 26 navios, que serão construídos no Rio, em Pernambuco e Santa Catarina.
É a maior encomenda de navios que o país já viu em décadas, talvez a maior de todas. Os investimentos fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula. O fato representa um impulso extraordinário para a produção e, especialmente, para a devastada indústria naval.
Como disse o presidente, “não só temos engenharia, como estamos dispostos a nos transformar no país que tem a mais competente indústria naval do planeta”. Condenando o desmonte da indústria naval, por Collor e Fernando Henrique, o presidente afirmou: “Não é possível que os homens que dirigiram este país não perceberam que uma nação que tem conhecimento para produzir uma empresa como a Embraer, um país que tem competência para produzir e criar uma Petrobrás, um país que teve a grandeza de criar uma CSN, um país que teve condições de fazer um combustível alternativo da qualidade do álcool, não tenha condições de ter uma indústria naval. Só há uma hipótese: as pessoas que dominavam e que determinavam eram sócias das empresas estrangeiras que produziam lá fora. Porque, se fossem brasileiros, saberiam que este país não poderia prescindir de ter uma indústria naval que pudesse disputar qualidade com os mais importantes países do mundo”.
Na cerimônia de assinatura dos contratos, realizada no estaleiro Sermetal, estiveram também o governador do Rio, Sérgio Cabral (ver matéria nesta página); o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli; o presidente da Transpetro, Sérgio Machado; o presidente do BNDES, Damian Fiocca, além de ministros, secretários de governo e presidentes de sindicatos.
PATRIMÔNIO
Como se referiu o presidente, o Brasil já teve uma das maiores frotas do mundo. A Petrobrás, através da Fronape (Frota Nacional de Petroleiros), foi decisiva no incremento da Marinha Mercante brasileira. A destruição desse patrimônio nacional – que não transportava só petróleo, pois a Petrobrás estabeleceu uma subsidiária, a Interbrás, que inclusive trocava petróleo por outros produtos – deixou o país à mercê dos fretes em navios estrangeiros, com nossa balança sendo prejudicada pelos preços impostos por armadores externos.
Em 1996, já tínhamos atingido um ponto crítico: o Brasil gastou US$ 6 bilhões em fretes, sendo pagos US$ 5,7 bilhões por afretamentos em navios de bandeira estrangeira – ou seja, 95% do total (dados do Ministério do Desenvolvimento – MDIC). Mas, Fernando Henrique intensificou a destruição da frota: o resultado é o gasto atual de quase US$ 10 bilhões ao ano em transporte marítimo – 96% dos quais vão para armadores estrangeiros (dados da Transpetro).
Na década de 80, a indústria naval brasileira era a segunda do mundo na construção de grandes embarcações, exportando navios para a Inglaterra, França, Alemanha, Grécia e Estados Unidos. Nessa década, em média, os estaleiros empregavam 40 mil trabalhadores, com uma produção de 30 navios por ano, num total de um milhão de toneladas.
Em 1999, os estaleiros do Brasil empregavam apenas 500 trabalhadores. O famoso estaleiro Mauá, fundado pelo Barão, tinha, em 1999, 20 funcionários. (dados do MDIC e da Secretaria de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Estado do Rio de Janeiro). Nenhum dos estaleiros estavam construindo navios em 1999. O último de grande porte a ser entregue tinha sido o “Livramento”, em 1996, mas encomendado em 1987.
Particularmente para a Petrobrás, a reativação da indústria naval é de extrema necessidade, uma vez que a estatal utiliza hoje, segundo a Transpetro, 120 petroleiros, e, destes, 70 são fretados, com gastos anuais de US$ 1,2 bilhão.
EMPREGOS
Ressalte-se que o número de empregos indiretos que a indústria naval proporciona é muito maior do que o número de empregos diretos: um navio é uma cidade flutuante, precisa de lâmpadas, móveis, vidraçaria, maçanetas, etc., etc., etc. Um petroleiro, por exemplo, tem, em média, 360 mil peças. Na esteira da destruição da indústria naval, milhares de outras empresas que produziam para ela fecharam – ou demitiram em massa. Não é espantoso que o Estado mais atingido pelo desmonte da indústria naval, o Rio de Janeiro, seja o mais escancaradamente atingido pela marginalidade.
Revertendo essa situação, o PAC na indústria naval terá um investimento inicial de US$ 2,5 bilhões para a construção de 10 navios da classe “Suezmax” – os maiores petroleiros que existem antes dos superpetroleiros, transportando 175 mil toneladas. Além disso, há 5 da classe “Aframax”, com carga de 120 mil toneladas e 4 da classe “Panamax”, de 80 mil toneladas. Em seguida, serão encomendados 4 navios de produtos, de 48 mil toneladas, para transportar derivados do petróleo e 3 navios para transporte de gás.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Naval e Offshore (Sinaval), Ariovaldo Rocha, presente ao evento, comprometeu-se a fazer com que todos os trabalhadores contratados na construção das embarcações tenham registro trabalhista, ou seja, carteira assinada. “Estamos bastante esperançosos de que o PAC venha dar a aceleração que o país precisa”, disse ele.
Para garantir não apenas os empregos diretos, mas também os indiretos, impulsionando toda a economia, o programa determina que 65% dos componentes dos navios sejam fabricados no Brasil.
Lula lembrou que “tinha gente da Petrobrás que escreveu artigo pago, na Gazeta Mercantil, dizendo que era uma insanidade querer recuperar a indústria naval brasileira, que isso era de quem não conhecia que a gente poderia comprar muito melhor em Cingapura, na Espanha, na Noruega. E falava mais: o Brasil não pode construir plataforma, porque o Brasil não tem mais competência, não tem mais engenharia. Ora, o que está acontecendo neste instante no Brasil? Nós não só temos engenharia como estamos dispostos a nos transformar no país que tem a mais competente indústria naval do planeta Terra. E para isso, nós temos que acreditar em nós”. E, sorrindo, completou o presidente: “Qual é a nação que vai para frente se a gente não acredita na gente?”.
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