Belluzzo adverte para real supervalorizado e desindustrialização

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O economista Luiz Gonzaga Belluzzo afirmou que o “forte declínio da participação da indústria manufatureira” no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro – situação revelada a partir da nova fórmula de cálculo da riqueza nacional – e no emprego revela um processo de desindustrialização. “Há fortes indícios, ademais, de que a valorização do real está promovendo o rompimento dos nexos inter-industriais das principais cadeias de produção”, assinalou, em artigo para a “Folha de S. Paulo”.

Belluzzo advertiu que os efeitos da “continuada valorização do real”, que atualmente vem causando divisão nas opiniões de especialistas, podem causar decepção aos que cultivam uma visão otimista da movimentação hoje predominante no câmbio. “A história do capitalismo já registrou períodos relativamente longos de termos de troca favoráveis aos produtores de commodities, mas não há notícia de que tenham sido sustentáveis”, lembrou.

Jornal Hora do Povo

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“Estamos aniquilados”, dizem tucanos sobre popularidade de Lula

Um exemplo de excelente jornalismo

A matéria abaixo, da Reuters, é o que se pode chamar de bom jornalismo. Uma excelente repercussão das pesquisas divulgadas na semana. O leitor pode achar que é fácil, mas a verdade é que é muitíssimo difícil arrancar este tipo de declaração de políticos. Em geral, são necessários alguns anos de experiência e muita habilidade para conseguir declarações tão fortes como as que estão abaixo. Político nenhum gosta de elogiar o adversário ou reconhecer seus próprios fracassos. Palmas para Ricardo Amaral e Natuza Nery.

“Estamos aniquilados”, dizem tucanos sobre popularidade de Lula

Por Ricardo Amaral e Natuza Nery

BRASÍLIA (Reuters) – Na semana em que duas pesquisas de opinião mostraram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com cerca de 50% de aprovação, o PSDB, principal partido da oposição, deu sinais de desânimo no Congresso.

“Estamos aniquilados”, desabafou o deputado José Aníbal (PSDB-SP).

Mesmo em processo de obstrução às deliberações na Câmara há quase um mês, o PSDB e seus parceiros do DEM (ex-PFL) e PPS não conseguiram derrotar o governo em nenhuma votação este ano.

Enquanto isso, Lula vai consolidando uma coalizão de 11 partidos, que corresponde a 70% da Câmara. Num jantar com as principais lideranças do PMDB no país, na noite passada, o presidente sacramentou uma ampla e inédita aliança com o maior partido da base.

“A Câmara se transformou numa extensão do Executivo. Aqui se vota o que o governo quer”, afirmou o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP).

Na terça-feira, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou sondagem realizada pelo instituto Sensus mostrando que Lula tem aprovação de 49,5% dos entrevistados. Em janeiro de 1999, logo após ser reeleito, o então presidente Fernando Henrique Cardoso obteve somente 32% de avaliação positiva, afetado por uma grave crise cambial.

Nesta quinta-feira, levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que Lula, apesar de ter caído 8 pontos percentuais em relação a dezembro de 2006, mantém aprovação de 49% dos entrevistados.

“As pesquisas refletem uma realidade que não podemos alterar neste momento. O PSDB terá de dialogar com setores da sociedade, manter sua coerência e aguardar que esta situação se modifique com o tempo”, argumentou Madeira.

Ex-líderes durante o governo Fernando Henrique, Madeira e Aníbal reconhecem que o ex-presidente também montou maioria esmagadora no Congresso, mas acusam o governo Lula de utilizar sua força para travar mudanças.

“Nós utilizamos nossa maioria para promover reformas. Esse governo tem força mas não tem agenda”, disse José Aníbal.

Os tucanos estão desconfortáveis também com o processo de obstrução comandado pelo DEM, para exigir a instalação da CPI do setor aéreo. O PSDB é autor do requerimento da CPI, que depende de decisão judicial para ser criada, mas os deputados avaliam que a imagem do partido está sendo associada, de forma negativa, ao atraso nas votações.

A pesquisa da CNT indicou que a repercussão negativa sobre os transtornos nos aeroportos não atinge Lula na intensidade que a oposição calculava. Segundo a sondagem, 82% dos entrevistados tomaram conhecimento da crise. Desse total, 25,8% responsabilizaram o governo federal pela crise.

Os controladores de vôo apareceram em segundo lugar no “ranking” de responsabilidade, apontados por 15,1%, seguidos das companhia aéreas, com 10,9%; da Aeronáutica, com 9,9%, e da Infraero, com 9,3% das menções.

“Dá até desânimo de fazer oposição”, disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), uma das novas lideranças do partido.

do entrelinhas

Brasil adere ao Banco do Sul

Excelente – se confirmada – a notícia divulgada há pouco pela BBC. Depois de se reunir no Banco Mundial, em Washingaton, com representantes sul-americanos, o ministro Guido Mantega comunicou a decisão brasileira de integrar, como sócio pleno, o projeto de criação do Banco do Sul.

No entender do ministro da Fazenda, a nova instituição deveria assumir um perfil híbrido, misto de Fundo Monetário Regional – portanto emprestador de última instância, na concepção original keynesiana, para asseguar o equilíbrio monetário e comercial do processo de integração – e banco de fomento.

A decisão auspiciosa do governo brasileiro acontece no exato momento em que se noticia que o país já é o nono maior investidor de reservas em título norte-americanos. Estes, como se sabe, rendem juros baixíssimos, muito inferiores ao custo de internalização desses recursos, que exige emissão de dívida do Tesouro indexada pela taxa de juros mais alta do planeta (no ano passado o custo dessa defasagem foi equivalente a um Bolsa Família inteiro: mais de R$ 8 bilhões de reais).

O Brasil tem cerca de US$ 59 bilhões, praticamente 50% de um total de reservas de US$ 111 bilhões, aplicados em treasures nos EUA. Ou seja, temos mais ou menos o equivalente ao que o PAC vai investir este ano alocado, a juros baixos, para financiar o déficit comercial e o consumo da população mais rica da face da terra.

A decisão de se tornar sócio pleno do Banco do Sul abre a possibilidade de remanejar parte das reservas brasileiras para um fundo comum de investimentos na região (a Argentina, por exemplo, já acumulou US$ 39 bilhões em reservas e a Venezuela deve ter outro tanto).

O Banco do Sul seria o gestor desse fundo e nasceria, desde já, com gás para mudar a velocidade e o patamar da integração regional, com desdobramentos encorajadores para o desenvolvimento de todas as economias integradas.

Bela notícia para abrir a semana.
enviada por Zé Dirceu

Temos que pensar na integração regional e nada melhor do que um fundo comum para o desenvolvimento capitaneada pelo Banco do Sul, temos que repensar a America Latina de dentro pra fora; concordo com o Dirceu bela notícia para abrir a semana , se confirmado.

Batismo de sangue

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Batismo de sangue
Escrito por Frei Betto

Levei dez anos para escrever “Batismo de Sangue” (editora Rocco), de 1973, ao sair de quatro anos de prisão, a 1983. Reviver toda a saga de um grupo de frades dominicanos na luta contra a ditadura militar fez-me sofrer. Revirei a memória, fiz entrevistas e pesquisas, revisitei os locais dos acontecimentos, consultei arquivos. Sim, arquivos. O governo federal, comandado por dois ex-presos políticos (Lula na presidência e Dilma Rousseff na Casa Civil), desconsidera a memória nacional ao não abrir os arquivos das Forças Armadas. Felizmente existem arquivos fora do controle militar. Sobretudo arquivos vivos, sobreviventes da grande tribulação.

Deu-me trabalho levantar os últimos momentos do líder revolucionário Carlos Marighella e o intrincado cipoal em torno de seu assassinato pela repressão, em 4 de novembro de 1969. E doeu-me descrever em detalhes a paixão e morte de frei Tito de Alencar Lima, levado ao suicídio em 1974, aos 28 anos, em decorrência das torturas sofridas nas dependências do II Exército, em São Paulo. Queriam forçá-lo a assinar confissões falsas e delatar pessoas. Não escutaram senão o silêncio daquele religioso que sabia ser “preferível morrer do que perder a vida”, como escreveu em sua Bíblia.

Um dia dei o livro a Helvécio Ratton, que também militou na resistência à ditadura e esteve exilado. Escrevi na dedicatória: “Helvécio, a vida supera a ficção”. Diretor de cinema, ele tomou a si o desafio e levou às telas “Batismo de Sangue”, que estréia a 20 de abril. As cenas – ambientação precisa dos anos 60 – foram rodadas no Brasil e na França. Integram o elenco Caio Blat (no papel de Frei Tito), Ângelo Antônio (frei Oswaldo), Léo Quintão (frei Fernando), Odilon Esteves (frei Ivo), Daniel de Oliveira (que me interpreta), Marku Ribas (Carlos Marighella), Marcélia Cartaxo (Nildes), Cássio Gabus Mendes (delegado Fleury) e outros.

Filmes nem sempre retratam adequadamente os livros nos quais se inspiram. Em geral, a literatura ganha em profundidade da arte cinematográfica, obrigada a condensar-se num par de horas. O livro, traduzido para o francês e o italiano (e, em breve, para o espanhol), merecedor do mais conceituado prêmio literário do Brasil, o Jabuti, atrai o interesse dos leitores desde sua publicação há 24 anos. Falei ao Helvécio: “Livro é livro, filme é filme; não quero interferir”. O máximo que solicitou, a mim e aos frades Fernando de Brito, Oswaldo Rezende e ao ex-dominicano Ivo Lesbaupin, foi conversar com os atores sobre a nossa experiência na guerrilha urbana e na prisão. Li o roteiro de Dani Patarra, considerei-o excelente, mas preferi não opinar.

Em março, no Festival de Brasília, vi o filme pela primeira vez. Fiquei transtornado: arrancou-me lágrimas, reavivou-me a indignação contra o arbítrio, ativou-me as teias da emoção, enlevou-me pela trilha sonora, fez-me agradecer a Deus pertencer a uma geração que, aos 20 anos, injetava utopia nas veias. Fiquei embevecido frente à força estética das imagens produzidas pelo talento de Helvécio Ratton. O Festival de Brasília concedeu-lhe os prêmios de Melhor Direção e Melhor Fotografia (Lauro Escorel). No Festival de Tiradentes, a platéia de mais mil pessoas, a maioria jovens, expressou a emoção em prolongadas palmas.

A arte brasileira adianta-se ao governo e escancara os bastidores da ditadura. Este é um filme a ser visto especialmente por quem não viveu os anos de chumbo. Ali está o estupro da mãe gentil, gigante entorpecido, o Brasil sem margens plácidas, arrancado do berço esplêndido, resgatado à democracia pelos filhos que, por amor e esperança, e sem temer a própria morte, não fugiram à luta.

“Batismo de Sangue” é um hino à liberdade. Nele se revela a história recente de uma nação e a fé libertária de um grupo de cristãos. Emerge, contundente, a subjetividade dos protagonistas, como frei Tito, em quem se transubstanciou a dor em amor, o sofrimento em oblação, as algemas em matéria-prima desta invencível esperança de construirmos um mundo em que a paz seja filha da justiça, e a felicidade, sinônimo de condição humana.

Frei Betto é escritor.

Mais um cúmplice de Meirelles nos juros de escorcha deixa o BC

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Mais um confrade de Henrique Meirelles na política de juros na lua vai deixar o Banco Central. Trata-se de Rodrigo Telles da Rocha Azevedo, diretor de Política Monetária, cargo chave na definição dos juros e do dólar. A saída de Azevedo ocorre justamente uma semana antes do Copom se reunir novamente para decidir sobre a taxa de juros.

Azevedo tornou-se diretor de Política Monetária do BC em outubro de 2004. Até 2004 era diretor-executivo do Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston S.A., desde 2001. Foi economista-sênior do Banco de Investimento Garantia S.A de 1994 a 1998. Para ele, a política de juros altos que trava o crescimento e que agora provoca a vertiginosa queda dólar frente ao real, promovendo a quebra da indústria nacional, é bem-sucedida.

No início de março, o ex-diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, outro aliado de Meirelles, também deixou o BC, após divulgação do resultado do PIB. Bevilaqua foi economista do FMI, em Washington, consultor do Banco Mundial e do BID e pertenceu ao Opportunity de Daniel Dantas. Ele era um dos principais responsáveis pela política de transferência de vultosos recursos para os banqueiros externos através dos juros estratosféricos.

Rodrigo Azevedo vai ser substituído pelo economista Mario Torós, que foi vice-presidente do banco Santander Banespa.

Hora do Povo

Empresas brasileiras produzirão redes ópticas de alta velocidade com tecnologia do CPqD

Seis empresas brasileiras foram selecionadas para produzir equipamentos para redes ópticas de alta velocidade com tecnologias desenvolvidas pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). Integram o projeto os ministérios das Comunicações e de Ciência e Tecnologia.

O projeto, que conta com recursos de R$ 55 milhões, combina a pesquisa com o desenvolvimento de rede de alta capacidade de tráfego, flexibilidade e qualidade de transmissão em tempo real, utilizando-se das redes IP e WDM. Serão beneficiados com a tecnologia desenvolvida serviços de telemedicina, teleducação, entretenimento, estudos de prospecção de petróleo, etc.

De acordo com o ministro Hélio Costa, a seleção das empresas teve como critério a avaliação da capacidade técnica, desempenho financeiro e modelo de gestão. Também foram consideradas empresas que já produzem sistemas ópticos e outras que estão apostando nesse campo.

A iniciativa vai possibilitar às empresas escolhidas condições de oferecer equipamentos avançados às operadoras de telecomunicações, proporcionando a evolução das redes ópticas no país.

Hora do Povo