Brasil quer antes de tudo participar da concepção do Banco do Sul, diz Lula

O presidente Lula disse que o Brasil quer participar da discussão sobre o formato do Banco do Sul e definir seus objetivos, durante sua entrevista após a realização da Cúpula Energética Sul-Americana, na Ilha Margarita, Venezuela (ver também matéria acima). Ele informou que o tema não foi discutido na Cúpula. “É preciso definir, antes de qualquer coisa, o que é esse Banco do Sul, para que ele serve. Ele é um banco que tem a finalidade do FMI? É um banco que tem a finalidade do Banco Mundial? É um banco que tem a finalidade do BNDES?”

“Primeiro é preciso definir para quê nós queremos um banco, qual a sua finalidade, para depois, então, sabermos se compensa participar ou não, por isso é que não foi discutido aqui”, declarou. Lula também relatou que não foi debatida no encontro a “Opep do gás”.

Na segunda-feira ainda, o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que “não vamos aderir a um projeto pronto”. “Não vamos comer um prato feito. O que nós queremos é ir para a cozinha e participar da elaboração deste prato”, assinalou Marco Aurélio aos jornalistas na Ilha Margarita.

No final da semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o Brasil iria participar do projeto e que ele seria “a oportunidade de ter uma instituição financeira na qual controlamos as decisões e podemos voltá-la para os interesses de nossos países”.

Hora do Povo

Luciano Coutinho assume comando do BNDES

O presidente Lula anunciou o economista Luciano Coutinho para a direção do BNDES em substituição a Demian Fiocca. Professor titular da Unicamp, Coutinho foi secretário-geral do Ministério da Ciência e Tecnologia no governo José Sarney.

Em recente entrevista, o economista afirmou que “o Banco Central tem sido muito conservador” e que “os juros estão altos demais”. Segundo ele, “a taxa de câmbio brasileira está profundamente desalinhada e o Banco Central tem sido muito leniente diante dessa apreciação da taxa de câmbio, que é bastante onerosa e nociva ao País”.

Para o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, Luciano Coutinho “vai dar dimensão ao principal instrumento de política industrial”. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, Coutinho “é um desenvolvimentista, não tem visão financista”.

hora do povo

BC paga US$ 5 bi para se tornar credor dos EUA

A gestão de Henrique Meirelles no Banco Central alçou o Brasil à condição de oitavo maior emprestador ao Tesouro dos EUA, acumulando até janeiro deste ano US$ 53,7 bilhões em títulos desse país. Esse montante correspondia naquele mês a 59% do total das reservas internacionais do Brasil de US$ 91,086 bilhões.

Os papéis do Tesouro norte-americano, comprados por Meirelles para compor as reservas internacionais brasileiras, são remunerados a uma taxa de juros reais de 3% ao ano. Na compra de dólares no chamado “mercado de câmbio”, utilizados para aquisição de papéis dos EUA, o Banco Central do Brasil emite títulos a juros reais de 10,6% ao ano. Com essa diferença de remuneração dos títulos, a estimativa é que o Brasil perde cerca de US$ 5 bilhões ao ano, o que significa dizer que pagamos para ser credores de um país que tem uma economia muito maior do que a nossa.

Poderia até parecer coisa de idiota, não fosse esse mesmo o objetivo de Meirelles e demais representantes dos bancos estrangeiros que ocupam a diretoria do BC: promover uma brutal transferência dos nossos recursos para o Grande Irmão do Norte. Ou seja, mais que deletéria, a política de Meirelles se constitui em um crime cometido contra o país.

Segundo os números do Banco Central, na tentativa de impedir a sobrevalorização do real, em todo o ano passado a totalidade de dólares comprados no “mercado de câmbio” foi de US$ 37 bilhões, enquanto neste ano, até meados de abril, US$ 22 bilhões.

No dia 13 último, as reservas internacionais totalizavam US$ 113,278 bilhões, dos quais 82,7% em títulos (majoritariamente norte-americanos).

VALDO ALBUQUERQUE

Hora do Povo

Sociedades calibradas para matar

mas.jpg

Importante entrevista sobre a explosão de violência nos EUA, palco renitente de massacres como o ocorrido na última segunda-feira, na Universidade de Virgínia Tech, foi publicada no jornal Pagina 12, na quarta-feira, e reproduzida pelo site do Instituto Humanitas Unisinos.

O jornal ouviu o pesquisador argentino Darío Kosovky, coordenador da Área de Segurança do Instituto de Estudos Comparados em Ciências Penais e Sociais (Inecip). Kosovky explica que a violência ensandecida no cotidiano norte-americano não pode mais ser explicada nem entendida como doença individual de alguns desequilibrados. Trata-se da dinâmica constitutiva de um sistema que semeia conflito e competição desenfreada por todos os lados, para depois reprimir suas consequências. O que está por trás do edulcorado sonho americano é isso: um moedor de carne e de desejos porque, no fundo, as promessas capitalistas desse sonho não são para todos.

Atrás dos vencedores encontra-se uma legião de “loosers” – os não tão bonitos, os tímidos, os perdedores, os pobres, os não-brancos, os imigrantes, os islâmicos, os comunistas, os que não têm e jamais terão um “carrão” etc. Ou seja, a vasta maioria dos seres humanos do planeta.

Como costuma acontecer em culturas imperiais, a sociedade que injeta esses imputs na subjetividade de seus cidadãos – e na dos demais habitantes do planeta – tem dificuldade de lidar com a legião de perdedores regurgitados em cada etapa da engrenagem – urbi e orbe, dentro e fora dos seus marcos territoriais. A saída que encontra é negá-los, seja pela repressão interna, seja pela guerra externa, ambas conectadas por uma ideologia de “tolerância zero” aos “dissidentes”.

Os fuzileiros passam pelas armas seus contestadores externos e a máquina repressiva mantém encarcerados os de dentro, como acontece hoje com boa parte da juventude negra norte-americana. O jovem pobre e negro é o principal rosto visível por trás das grandes nos EUA, a ponto de mascarar assim os índices de desemprego na economia mais poderosa da terra.

O que o Estado imperial faz no resto do mundo – e com seus pobres internos – começa a se reproduzir agora, com angustiante regularidade nas próprias “entranhas brancas” do sistema. Cho Seung-hui, o matador da Virgínia, infelizmente não será o último da série.

Jovens perdedores como ele, esmigalhados em sua subjetividade, sem canais para resolver diferenças e acomodar trajetórias de vidas não propriamente vitoriosas, encontram na matança uma forma de expressão facilitada pela beligerância legalizada num país armado até os dentes. Segundo o pesquisador Kosovky há praticamente 200 milhões de armas de fogo na sociedade norte-americana, uma para cada cidadão.

Oremos. Oremos para que o Brasil retifique a rota de seu desenvolvimento, a tempo de evitar que os sinais amedrontadores emitidos de nossas periferias, venham a se tornar, também, a forma de expressão de nossa juventude banida e sem oportunidades.

Leiam aqui a entrevista do Página 12. É uma das melhores análises sobre a tragédia ocorrida na Universidade de Virgínia Tech.
enviada por Zé Dirceu

Obs. Concordo com o Zé Dirceu em genero, número e Grau !