Delfim: taxa de câmbio como processo econômico natural é diversionismo

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Delfim Netto criticou “a crença quase que religiosa” de que “a taxa de câmbio é o resultado de um processo econômico natural”. Em artigo publicado na revista “Carta Capital”, Delfim aponta a questão do câmbio como um dos entraves para o sucesso do PAC.

“Entre os muitos e graves problemas que temos que enfrentar, há um que precisa ser esclarecido. Trata-se de como interpretar a política de câmbio flexível num país que acredita que, para controlar a inflação, precisa manter a maior taxa de juro real do mundo. Ao mesmo tempo, tem um sistema financeiro dos mais sofisticados, o que abre a possibilidade de arbitragens que tendem a supervalorizar a taxa cambial. Cultivamos, outra vez, a mistificação diversionista que alimenta a crença quase religiosa de que a taxa de câmbio é o resultado de um processo econômico natural, que tem ajudado a transformar o Brasil no lanterninha dos países emergentes”, afirma Delfim.

Hora do Povo

Obs. Cambio supervalorizado faz com que a indústria nacional seja desmantelada, é uma política perversa, e ainda tem gente que apoia !

1º de Maio Unificado: centrais abrem hoje mostra sobre Senna

Começa nesta quarta-feira, (22) a partir das 19h30, a mostra Vitória — Exposição Ayrton Senna, Homenagem aos Trabalhadores, na Galeria Prestes Maia, no Centro de São Paulo. O evento — que comemora e registra a sede de vitória de um dos maiores pilotos e ídolos esportivos do Brasil — inaugura oficialmente os eventos comemorativos do 1º de Maio Unificado, em homenagem ao Dia do Trabalhador.

Para a abertura da exposição, já estão confirmadas as presenças do prefeito Gilberto Kassab e de Orlando Silva, ministro dos Esportes. Foram convidados também autoridades do Executivo e do Legislativo, esportistas e sindicalistas do Brasil todo. Personalidades empresariais e religiosas estarão igualmente presentes.

A Exposição Vitória é fruto de uma parceria entre as centrais UGT (União Geral dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras Brasileiros), NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores) e o Instituto Ayrton Senna — que, juntos, promovem o 1º de Maio Unificado em São Paulo.

Com entrada gratuita, a mostra na Galeria Prestes Maia retratará a carreira de Ayrton Senna (1960-1994), tricampeão mundial de Fórmula 1 e um dos maiores ídolos da história do Brasil. A exposição — que fica em cartaz até 15 de maio — vai exibir troféus, capacetes, karts, macacãos e fotos de Senna, além de uma Lótus amarela usada por ele nos anos 80. Crianças poderão assistir ao filme Para Ser um Campeão. As visitas poderão ser feitas das 9h30 às 19 horas.

“É a primeira vez que temos a oportunidade de levar esses objetos à apreciação dos trabalhadores”, comemora Margareth Goldenberg, diretora-executiva do Instituto Ayrton Senna. “A intenção é fazer com que trabalhadores que torciam e vibravam por ele tenham acesso ao acervo”.

SERVIÇO

Exposição Vitória (abertura)
Data: 22 de abril, às 19 horas.
Local: Galeria Prestes Maia, Vale do Anhangabaú, São Paulo.
Visitação: de 23 de abril a 15 de maio, das 9h30 às 19h.
Entrada: gratuita.

“Vamos garantir a primazia do talento sobre as fortunas”

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Afirmou Lula no lançamento do Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE) que destina R$ 8 bilhões até 2010 e R$ 1 bilhão em 2007

O presidente Lula lançou na quarta-feira, em Brasília, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) que prevê a liberação neste ano de R$ 1 bilhão para o setor e R$ 8 bilhões até 2010. “Eu anuncio o PDE como o Plano mais abrangente já concebido neste país para melhorar a qualidade do sistema público e para promover a abertura de oportunidades iguais em educação”, afirmou. “Eu vejo nele o início do novo século da educação no Brasil. Um século capaz de assegurar a primazia do talento sobre a origem social e a prevalência do mérito sobre a riqueza familiar. O século de uma elite da competência e do saber, e não apenas de uma elite do berço ou do sobrenome”, prosseguiu.

MOBILIZAÇÃO

Ele ressaltou a importância do projeto para o avanço do país e disse que “nada é mais importante hoje do que a capacitação dos brasileiros para que possamos construir uma riqueza nacional mais sólida e firmar uma presença cada vez mais soberana no mundo”. “Sabemos que, ao contrário do que se fez no passado, a educação pública só pode melhorar se for aperfeiçoada em todo o seu conjunto”, acrescentou.

Lula fez questão de destacar o papel dos educadores na elaboração do Plano. “O PDE é fruto do esforço técnico e político deste governo, mas é resultado de uma ampla consulta a todos os setores envolvidos com a educação no país. Foram ouvidos centenas de educadores, cientistas, intelectuais, políticos e empreendedores e nele também estão sintetizadas as conquistas do nosso primeiro governo”, salientou.

O presidente disse que o PDE é a continuação de seu primeiro mandato: “Passamos a investir em todos os níveis de ensino, da creche à universidade, e acabamos com aquela lei absurda que proibia a criação de novas escolas técnicas”. “Nunca se criou, em espaço tão curto de tempo, tantas universidades, escolas técnicas e agrotécnicas”, disse Lula. “Conseguimos ampliar de forma expressiva o acesso do estudante pobre à universidade. Isso se deu tanto por meio do ProUni, que será ampliado agora pelo PDE, quanto pela criação de novas universidades, especialmente no interior do nosso país”, argumentou.

“O plano que lançamos hoje vai aumentar em 10 vezes o investimento federal nas áreas mais carentes do ensino”, salientou Lula. “O PDE garante, sem dúvida, um aumento significativo de verbas na educação, mas os problemas do nosso ensino público não se restringem à quantidade de investimentos”, ponderou. “Ao contrário”, avaliou o presidente, “existe muita coisa que o dinheiro em si não resolve e muitas dificuldades que os governos sozinhos não poderão superar”.

Lula disse que o PDE será um instrumento de mobilização nacional e que o projeto vai envolver toda a sociedade no esforço em prol de um ensino público transformador e de qualidade. “Nossa meta, até o final do governo, é implantar mil pólos da Universidade Aberta para formar e aperfeiçoar a qualificação de 2 milhões de professores e professoras em todo o território nacional”, apontou Lula. “É preciso, como estamos fazendo, valorizar os profissionais da educação, o que não se dá apenas pelo salário, mas também pelo reconhecimento do importante papel que os educadores têm na vida do nosso país”, acrescentou. “Por isso, é necessário que sejam criadas as carreiras profissionais, para que eles vejam futuro na profissão, para que possam se aperfeiçoar constantemente e ser estimulados no seu esforço”, defendeu.

Segundo Lula, o PDE vai ampliar em 100 mil o número anual de bolsas do ProUni e vai implantar o Programa de Reestruturação das Universidades Federais. Vai ampliar e modernizar o ensino profissionalizante, colocando uma escola técnica em todas as cidades-pólos do país. E também será a garantia da recuperação do atraso na alfabetização, com foco nos mil municípios que têm uma taxa de analfabetismo superior a 35%, sendo que, desses mil municípios, 950 estão no Nordeste. Abragendo todas as etapas da educação, o plano prevê medidas para ajudar as comunidades mais carentes, como a garantia de luz elétrica em todas as salas de aula – principalmente na zona rural – e o fornecimento de barcos para o transporte escolar em áreas isoladas pelas águas.

PAC

“A imprensa tem chamado o PDE de “PAC da Educação”. Não é uma comparação, de todo, inadequada”, avaliou. “Na verdade, os dois são complementares”, afirmou. “Eu já disse uma vez: para diminuir a desigualdade entre as pessoas, a alavanca básica é a educação; e para diminuir as desigualdades entre as regiões, a alavanca básica são os grandes programas de desenvolvimento, que ampliam a infra-estrutura produtiva e social”, prosseguiu Lula.

Para ele, PAC e PDE “são anéis de uma mesma corrente em favor da construção de um novo Brasil. Um Brasil que é feito de obras e ação, mas também de sonho e utopia. Um Brasil que não se faz em um dia, que não se faz em um só governo, mas para o qual estamos dando, hoje, aqui, passos decisivos. Um Brasil que quer acelerar, crescer e incluir”.

SÉRGIO CRUZ HP

As diferenças entre Ségolène e Sarkozy

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Entusiasta do mercado e da flexibilização de direitos, Sarkozy quer aproximação com os EUA. Já Ségolène Royal defende papel do Estado e promete reformar a França sem brutalizá-la. Pesquisa aponta redução da vantagem do candidato conservador.

Marco Aurélio Weissheimer – Carta Maior

O fato de os diversos partidos que compõem a esquerda francesa manifestarem-se a favor do voto para a socialista Ségolène Royal, contra o conservador Nicolas Sarkozy, evidencia que há algumas diferenças importantes entre os dois candidatos que disputarão o segundo turno das eleições presidenciais francesas no próximo dia 6 de maio. Tradicionalmente críticas do pensamento econômico do Partido Socialista francês, essas forças políticas identificam em Sarkozy um inimigo maior a ser derrotado. Mas qual são, afinal de contas, as principais diferenças entre Sarkozy e Ségolène? A trajetória dos dois candidatos já aponta algumas delas.

Ministro do Interior no governo de Jaques Chirac, Sarkozy, de 51 anos, tornou-se conhecido nacionalmente por defender uma política mais dura em relação à imigração. Durante os distúrbios de rua de 2005, ele se referiu aos jovens habitantes da periferia de Paris como “racaille”, ou ralé. Enquanto ministro, Sarkozy aprovou medidas para combater a imigração ilegal, incluindo deportações e o incentivo à integração dos “imigrantes mais qualificados” à sociedade francesa. Dizendo-se inspirado no primeiro-ministro britânico, Tony Blair, apresenta-se como um modernizador que quer romper com as tradicionais elites que detêm o poder na França. Na campanha eleitoral, Sarkozy defendeu uma ruptura com o estilo tradicional da política e prometeu estimular a mobilidade social, com melhores escolas e cortes no funcionalismo público.

Ségolène Royal, de 54 anos, nasceu em 1953, no Senegal (ex-África Ocidental Francesa). Formou-se em economia no Instituto de Estudos Políticos, de Paris, e depois foi estudar na Escola Nacional de Administração, um tradicional centro formador de autoridades francesas. Nesta escola, conheceu François Hollande, com quem vive até hoje. Uma das principais lideranças do Partido Socialista, Hollande era um dos postulantes socialistas à candidatura presidencial. Ela enfrentou uma pesada carga de preconceitos na disputa pela candidatura. Um dos concorrentes, Laurent Fabius, chegou a perguntar-lhe quem ficaria cuidando de seus filhos, caso ela fosse candidata. A declaração infeliz de Fabius acabou rendendo pontos a Ségolène. Eleita parlamentar pela região de Deux-Sevres, foi ministra do Meio Ambiente (1992-1993), vice-ministra da Educação (1997-2000) e vice-ministra da Família e Infância (2000-2001).

Propostas econômicas
O jornal Le Monde relaciona, nesta terça-feira (24), aquelas que seriam as principais diferenças entre eles no terreno econômico. O conservador Nicolas Sarkozy é apontado como um entusiasta do mercado e da flexibilização de direitos sociais e trabalhistas como caminho para a França crescer. Além disso, é um defensor de uma maior aproximação com os Estados Unidos, algo que significaria uma considerável mudança na política externa francesa.

Sarkozy promete fazer da “revalorização do trabalho” uma de suas políticas prioritárias. Durante a campanha eleitoral, tentou convencer os trabalhadores assalariados a “trabalhar mais para ganhar mais”. Essa idéia envolveria, entre outras coisas, a supressão de impostos, para os empresários, sobre horas extras trabalhadas (para além de 35 horas semanais). A supressão destes encargos, segundo ele, estimularia os empresários a pagar mais por horas suplementares de trabalho. O candidato governista apresenta-se como um defensor da “França que se levanta cedo e trabalha muito”, enfatizando enormemente o que chama de “valor do trabalho”. O outro pilar de sua campanha é a valorização da identidade nacional, da questão da imigração e da segurança. Com esse tripé, típicos do discurso da extrema-direita francesa, Sarkozy conseguiu abocanhar uma considerável parte dos votos que, nas eleições presidenciais de 2002, haviam sido dados a Jean-Marie Le Pen.

Já a socialista Ségolène Royal aposta em soluções neokeynesianas que consideram o papel do Estado indispensável para a retomada do crescimento e a geração de empregos, com inclusão social. Ela promete reduzir a carga tributária das empresas e priorizar a geração de novos empregos, especialmente para a juventude. Enquanto Sarkozy fala para o que considera ser a “França profunda” (conservadora), explorando o medo e a insegurança dos franceses diante da ameaça do desemprego, da “invasão de estrangeiros” e mesmo do terrorismo, Ségolène adota um discurso que promete melhores condições de trabalho para a juventude, com cursos de formação profissional e melhoria do sistema educacional. O desafio comum aos dois candidatos é colocar esses discursos em prática diante de um cenário de estagnação econômica e de crise de financiamento do Estado.

Nos últimos cinco anos, a França registrou um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) inferior à média das 30 principais economias do mundo. A renda per capita, que era a sétima do mundo em 1990, hoje ocupa uma modesta (para os padrões históricos franceses) 17ª posição no ranking internacional. Tanto Ségolène quanto Sarkozy prometeram atingir índices de crescimento econômico na casa dos 2%. A socialista promete reformar a França sem brutalizá-la, uma referência ao discurso linha dura adotado por Sarkozy, em defesa da identidade nacional, do controle e redução da imigração e de uma mão dura do Estado para diminuir os índices de insegurança. “É preciso fazer triunfar os valores humanos frente aos das bolsas de valores”, repetiu a socialista durante a campanha. O desafio de Ségolène é imenso, pois precisa dialogar com os temores de boa parte da população em relação a temas como violência, insegurança e desemprego.

Redução da vantagem de Sarkozy
Sarkozy saiu do primeiro turno como favorito mas, nesta terça-feira, uma pesquisa apontou uma significativa redução de sua vantagem sobre Ségolène. A pesquisa do TNS Sofres mostrou o candidato conservador com 51% dos votos, contra 49% da socialista. O levantamento ouviu mil pessoas entre os dias 23 e 24 de abril. Um dado significativo é o alto número de indecisos: cerca de 20% dos entrevistados disseram que ainda não definiram o voto. Na última pesquisa do mesmo instituto, realizada nos dias 18 e 19 de abril, Sarkozy tinha 53% das intenções de voto, contra 47% de Ségolène. Na reta final da campanha, os dois disputam o voto do eleitorado de centro.

A maioria do setor empresarial e do eleitorado de extrema-direita e centro-direita está fechada com o primeiro. Ségoléne, por sua vez, tem apoio do eleitorado de esquerda, da maioria da juventude de periferia e dos imigrantes com direito a voto. Para vencer, terá que conquistar ainda o apoio de uma parcela importante desse eleitorado de centro. A socialista tem pouco mais de dez dias para reverter o favoritismo de Sarkozy. No dia 2 de maio, terá uma oportunidade para fazer isso, em um debate nacional pela televisão com Sarkozy