Presidente visitou o Chile e fechou vários acordos. “Chávez está mudando a história da Venezuela e tem aprovação de seu povo”, disse na Argentina
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva de bateu com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, durante sua visita àquele país, a criação do Banco do Sul, uma instituição que já tem o apoio dos governos da Argentina e da Venezuela, voltada para financiar projetos da América do Sul. “A construção de uma América do Sul integrada requer soluções inovadoras e financiamentos”, disse Lula. “Vamos avançar na harmonização de critérios e normas de financiamento em nossa região. Esse será um passo prévio na direção de um Banco Sul-Americano de Desenvolvimento”, acrescentou, chamando a atenção de que a integração sul americana “ajudará a dinamizar as atividades produtivas, criando um grande mercado regional e facilitando os contatos com mercados extra-regionais”.
O Banco, discutido em duas reuniões por Lula e Bachelet, poderá ter 7 bilhões de dólares iniciais para investimentos e deverá reduzir a dependência latino-americana em relação ao FMI e ao Banco Mundial. “O processo de integração regional entrou em nova etapa, com maior ênfase na necessidade de expandir a infra-estrutura e de superar as assimetrias”, ressaltou Lula, ao defender o aumento dos investimentos na região. “Fomos muito além dos meros acordos de preferências comerciais. Seja no Mercosul, seja na União Sul-Americana de Nações, estamos avançando na construção de estradas, gasodutos, pontes e interconexões elétricas”, disse. “Essas obras têm forte impacto multiplicador sobre toda a economia, com reflexos diretos na melhoria das condições de vida de nossas populações”, assinalou. A presidente chilena comemorou os tratados assinados pelos dois países durante a visita de Lula ao seu país e disse que eles são muito importantes para o desenvolvimento da região. Brasil e Chile assinaram oito tratados, entre eles um de intercâmbio em pesquisas de biodiesel e álcool.
ACORDOS
Bachellet ficou surpresa com a presença de mais de 300 repórteres querendo ouvir Lula ao final do Fórum Econômico Mundial sobre a América Latina. Ela disse a Lula que apenas uma vez tinha visto tanta gente assim. Lula, então, perguntou que outro presidente esteve no Chile e que mobilizou tantos repórteres. Bachelet respondeu que não foi um presidente, mas a cantora colombiana Shakira, quando foi se apresentar no Chile.
Além da participação no Fórum, Lula esteve numa escola secundária batizada com o nome de “República del Brasil”, fez uma visita à sede da representação da FAO para a América Latina e Caribe e participou de solenidade oficial de assinatura de convênios no Palácio de La Moneda.
Durante a solenidade, Lula defendeu a integração regional. “Eu acredito firmemente e nós, países da América do Sul, ainda não descobrimos o potencial que existe entre nós para a integração completa no campo do comércio, da política, da cultura, da ciência e tecnologia, da agricultura, da saúde”, acrescentou. “Porque, muitas vezes, durante décadas e décadas, todos nós estávamos com os olhos voltados para o chamado continente rico. Olhávamos com muito carinho e com muita ambição para a Europa, para os Estados Unidos, para o Japão e para outros (países) asiáticos mais ricos, e olhávamos com um certo desprezo para nós mesmos”, salientou.
“A verdade”, disse Lula, “é que ainda não procuramos o potencial para consolidar a integração dos países da América do Sul”. “Temos todas as condições na América do Sul de resolver o problema da energia elétrica, de resolver o problema da energia nuclear, de resolver os problemas dos biocombustíveis, de resolver o problema do gás e do petróleo, de resolver o problema da energia, da biomassa, da energia eólica, utilizando o potencial e a possibilidade de complementaridade existente entre nós”, assinalou Lula.
KIRCHNER
Depois de deixar o Chile, Lula foi para a Argentina onde se encontrou com o presidente Néstor Kirchner. Em Buenos Aires, Lula prestou seu apoio às iniciativas de Kirchner e elogiou a sua administração à frente da Argentina. Os dois presidentes se reuniram na Casa Presidencial de Olivos, nos arredores de Buenos Aires. Na reunião foram debatidos o biocombustível, a criação do Banco do Sul, a eleição presidencial na Argentina e negócios bilaterais.
Durante entrevista à imprensa argentina, Lula fez também fortes elogios ao presidente da Venezuela. “Chávez está mudando a história da Venezuela e tem aprovação de seu povo”, disse. Ele brincou com os repórteres ao falar sobre a administração de Chávez. “Ele corre com um Fórmula 1 e é muito mais veloz do que nós. Ele vai a 300 km/h e nós só podemos ir a 230 ou 270 km/h”, afirmou. “Cada um trabalha com o tempo que lhe permite o seu próprio país”, ponderou. “Os presidentes de esquerda no continente têm que recuperar décadas em quem o povo pobre foi submetido à fome e à miséria”, ressaltou. “Quantos anos desperdiçamos pensando que os EUA viriam nos salvar. Acreditávamos iam nos adotar, mas ninguém adota ninguém”, alertou o presidente, defendendo uma maior integração econômica da região.
Além da discussão sobre o Banco do Sul, Lula defendeu também o projeto de construção do Gasoduto do Sul. A obra cortará toda a América do Sul e terá 9.300 quilômetros de extensão. Ele levará gás venezuelano para vários países, entre eles Brasil e Argentina. Sobre o Banco do Sul, Lula disse que o Brasil “tem o máximo interesse em participar do projeto”. Ele advertiu, no entanto, que “é necessário definir se será uma instituição para favorecer o desenvolvimento ou se será um substituto do Fundo Monetário Internacional”.
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