“Uma política econômica que privilegia o pagamento dos juros da dívida pública compromete um orçamento capaz de atender às necessidades básicas dos trabalhadores e o desenvolvimento do país”, denunciam os bispos brasileiros durante Assembléia da CNBB
Em mensagem divulgada em homenagem aos trabalhadores nesta terça-feira, 1º de Maio, os bispos brasileiros reunidos em Indaiatuba, interior de São Paulo, na 45ª Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), criticaram a atual “política econômica que privilegia o pagamento de juros da dívida pública, compromete um orçamento capaz de atender às necessidades básicas dos trabalhadores e o desenvolvimento do país”.
Os bispos elogiaram as políticas sociais do governo Lula e defenderam a necessidade de mais avanços. “Reconhecemos que algumas políticas públicas têm proporcionado transferência de renda, oferta de novos postos de trabalho, recomposição do poder de compra do salário mínimo. Preocupam-nos, no entanto, a persistência do desemprego, o subemprego, a informalidade, o trabalho infantil, as migrações internas e para outros países”, diz o documento.
SACRIFÍCIO DA NAÇÃO
“A dívida pública do país é paga às custas do sacrifício de toda a Nação, das camadas mais pobres, sobretudo dos trabalhadores. Evidente que houve melhoras, mas ainda não é suficiente para nos exultarmos”, disse Dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana (MG), que concedeu entrevista coletiva em nome da CNBB.
No documento, os bispos saúdam “ a coragem e a generosidade dos trabalhadores e trabalhadoras, cuja vida expressa solidariedade e compromisso com a justiça”, e cobram que as reformas que hoje se encontram em discussão no país “signifiquem mais segurança no trabalho, salário justo, digna aposentadoria e eqüitativa distribuição de riqueza e renda”.
MAIORIDADE PENAL
A Igreja também fez uma apelo ao Congresso Nacional para que se posicione de forma contrária à redução da maioridade penal. “Infelizmente precisamos chamar mais a atenção para isso, pois não é por esses meios que a violência vai diminuir”, disse Dom Geraldo Lyrio.
“Não basta a redução da maioridade penal. Esta não é a medida mais importante, mas sim o Estatuto da Criança e do Adolescente, que precisa ser cumprido em todos os aspectos. É preciso ainda maior distribuição de renda, uma Justiça mais rápida, mais ágil e eficaz e uma Polícia bem treinada e mais focada”, defendeu dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida do Norte (SP).
ASSENTAMENTOS
Os bispos também pediram um maior empenho do governo para agilizar a reforma agrária e para equacionar problemas de produção nos assentamentos já existentes pelo país. “A situação de muitos de nossos acampamentos é que não há condições para o desenvolvimento agrícola condizente, nem a possibilidade de escoamento da produção. São condições de extrema necessidade, sem as quais o assentamento de esvazia”, disse dom Geraldo Lyrio.
Dom Mauro Montagnoli, bispo de Ilhéus (BA), defendeu uma reforma agrária mais eficaz. “A Igreja é a favor dessa reforma e tem marcado presença no sentido de apoiar e insistir que ela ocorra. A Justiça tem contribuído para dificultar isso. Vemos centenas de trabalhadores acampados”, afirmou.
A assembléia geral dos bispos brasileiros continua até o próximo dia 9, quando serão eleitos os novos presidente, vice-presidente e secretário-geral da CNBB. As resoluções do encontro serão levadas a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, que acontecerá entre os dias 13 a 31 de maio.
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