Um absurdo a doutrina que o cardeal Joseph Ratzinger pregou no Brasil. Ele, embora escolhido Papa, para mim não encarna hoje a Igreja Católica e seu pensamento. Representa, sim, uma regressão grave e perigosa para a humanidade e reassume posições totalitárias quando afirma textualmente que “em nome dos direitos e liberdade individual atenta-se contra a dignidade do ser humano”. Quem não se lembra dos discursos totalitários e fascistas contra o liberalismo e as democracias, com o mesmo argumento? Todo regime autoritário faz essa afirmação. Fora a banalidade da frase, em todas as sociedades os direitos e liberdades individuais são limitados pela lei e pela Constituição.
Pior é tratar as Igrejas Evangélicas como “seitas”, afirmando que a Igreja Católica e “a única Igreja de Cristo”. Um atentado à liberdade religiosa, um chamamento ao sectarismo e ao fundamentalismo, uma negação do pluralismo religioso, tão caro ao nosso povo e à nossa nação. Joseph Ratzinger não está à altura do título de Papa. Ofende dezenas de milhões de brasileiros que professam a fé nas Igrejas Evangélicas.
Mas também é gravíssimo seu discurso sobre a centralidade de Roma e sobre sua própria autoridade. Uma bofetada em todos os bispos e Igrejas Católicas nacionais e na Igreja latino-americana. Uma negação de nossas nacionalidades e culturas. Uma ofensa a nossos países e povos. E uma negação da democracia, mesmo que indireta e mesmo que limitada, levando-se em consideração que estamos falando de uma Igreja e de uma religião.
Não me conformo, como cidadão formado na doutrina católica e na militância social da Igreja nas décadas de 50 e 60, de ver o Papa esconder de todos e de todas a existência de um número grande de homossexuais na Igreja, de inúmeros caos de aids e, particularmente, dessa praga que atingiu a Igreja em todo mundo que é o pedofilismo. E ainda chamou a atenção dos bispos para os desvios sexuais. Uma humilhação.
Ao contrário, o Papa fechou os olhos para esse problema e ainda louvou o celibato que, todo mundo sabe, nem sempre existiu na Igreja.
Também não abordou a situação social dos padres, sem vínculos empregatícios e sem segurança social e previdenciária, como se o problema não existisse. E ainda solicitou ao governo brasileiro que não exija a aplicação das leis trabalhistas do pais à Igreja Católica. Um acinte, para dizer o mínimo.
Como vemos, para além da justa alegria dos católicos por receberem o Papa no Brasil, de nossa hospitalidade e cortesia, não podemos nos calar perante tal regressão no pensamento e na ação da Igreja Católica, tão cara a todos nós, formados nas suas escolas e doutrinas. Até porque é evidente que esse pensamento exposto por Ratzinger levará a Igreja no Brasil a uma catástrofe frente à concorrência das Igrejas Evangélicas.
Mas essa já é uma outra questão.
enviada por Zé Dirceu
Obs. Concordo com o Zé e vejo isso com muita tristeza , não aprecio esse discurso onde de uma forma estranha coloca os evangelicos, protestantes , ou seja aqueles que de uma forma liberal discordam da doutrina católica como propagadores de ” seitas “. Ora, isso é um absurdo ofende milhões de brasileiros, marginalizando algo sagrado que é a liberdade religiosa quando afirma que a Igreja católica é a única Igreja de Cristo. Infelizmente tenho que me solidarizar com os evangelicos. Agora aqui entre nós porque será que a Globo está dando tanta enfase a essa visita ? Temos que refletir.