Na entrevista, terça-feira, o presidente defendeu um candidato de consenso da coalizão em 2010 e disse que quer fazer o seu sucessor
Em sua entrevista coletiva, na terça-feira, dia 15, afirmou o presidente Lula que “não serei candidato em 2010. Não é por nada, não, é porque a Constituição não permite”. O presidente reafirmou sua posição anterior contrária à reeleição para o Executivo: “fui obrigado a ser candidato à reeleição porque a situação política exigia que eu fosse o candidato”.
“Tenho dito aos partidos políticos que eu não posso falar mais disso este ano”. Lula expôs a opinião de que “a melhor reforma política que poderia acontecer seria acabar com a reeleição e aprovar um mandato de cinco anos. Se a pessoa fez um bom governo, cinco anos depois ela poderia voltar e concorrer a uma nova eleição”.
COALIZÃO
O presidente ressaltou a coalizão que foi formada no seu governo, em especial a integração do conjunto do PMDB. Sobre certas acusações da oposição, declarou que “não existe votação por nomeação de cargo. Quem quiser votar contra, pode votar contra. O que eu estou propondo aos partidos políticos, e estamos construindo uma harmonia, é uma coalizão neste país, o que é diferente de distribuição de cargos. Se bem que os partidos políticos da base precisam ocupar os cargos que podem ocupar. Mas não pode ser essa a condição sine qua non para montar a coalizão. A coalizão tem que ser montada para construirmos um projeto para este País”.
“Eu queria a coalizão porque queria o PMDB como um todo e não o PMDB fracionado. Eu queria o PMDB na sua totalidade, com os seus deputados, com os seus senadores e com a direção do partido. Eu não queria um PMDB que tivesse 40 deputados de um lado, 40 deputados do outro, 10 senadores de um lado, 10 senadores do outro. Eu queria o todo do PMDB, como eu quero o todo do PR, como eu quero o todo do PRTB”, disse Lula, demonstrando a ampla unidade conseguida em torno de seu governo.
CONSENSO
Lula declarou que a unidade conquistada, no que depender dele, será mantida e expressa numa candidatura em 2010, para que o projeto nacional e popular implementado por seu governo não tenha interrupção: “a base [do governo] vai ter um candidato e esse candidato, na minha opinião, deve ser tirado de um consenso para disputarmos as eleições. Necessariamente não precisa ser alguém do PT. Se é um candidato da base, e a base tem vários partidos políticos, vai ser um candidato saído de dentro dela”.
“Eu esqueci de perguntar para o Papa”, disse o bem humorado presidente, “mas eu posso dizer a vocês que eu quero fazer o sucessor, e por uma razão muito simples: porque eu quero que tenha continuidade o que nós estamos fazendo no país”. Afirmou que “eu trabalho para fazer [o sucessor]. Agora, entre trabalhar para fazer e dizer que vou fazer, não tenho esse poder”.
Referindo-se aos critérios para a escolha desse candidato a presidente, Lula ressaltou que “todos os partidos participam do governo em função da proporcionalidade da sua representação na sociedade brasileira, e o candidato deverá ser discutido entre todos os partidos que compõem a base”.
Nesse sentido, garantiu seu apoio e participação na campanha eleitoral: “quero terminar o meu mandato na condição daquele que os candidatos chamem para ir ao palanque, porque é duro você terminar um mandato e ninguém te chamar para nada, as pessoas te esconderem, fingirem que você não é do partido, não citarem o seu nome, não o convocarem para a televisão. Eu quero ser um presidente diferente. Quando chegar a eleição de 2010, eu quero estar tão afiado que as pessoas vão pedir para eu ir ao palanque: ‘Vamos lá Lula, vamos fazer um comiciozinho’. É assim que eu quero terminar o meu mandato e é para isso que eu vou trabalhar. A base vai ter um candidato e esse candidato, na minha opinião, deve ser tirado de um consenso da base para que a gente possa disputar as eleições”.
MUDANÇA
Sobre a união das forças políticas do país na coalizão governamental, destacou que não é importante a posição anterior de cada um de seus participantes. Naturalmente, o que a coalizão traz de novo ao país é que muitos que não estavam no governo, agora estão, unidos em torno de um projeto de mudanças para o país. Este é exatamente o dado novo da realidade. Obviamente, se todos perseverassem eternamente nas mesma posições, a realidade seria estática e nada poderia jamais mudar.
O presidente exemplificou com a sua própria trajetória: “muita gente vai engolir o que disse do governo, com muita tranqüilidade. Nada como um pouco do passar do tempo para as coisas irem se assentando. Todo ser humano é plausível de erro. Eu já fiz julgamento precipitado de quantas coisas? Lembro quando o presidente Sarney lançou a Ferrovia Norte-Sul. Eu me esgoelava no Congresso Nacional contra a Ferrovia Norte-Sul, eu e outras pessoas. Tanto é verdade que ela ficou, de 1987 até agora, com apenas 215 quilômetros construídos. Eu, que era contra em 1987, já fiz em quatro anos mais [quilômetros] do que todos os presidentes a partir de 1987. O que não se pode é ficar com o passado como se fosse uma espada na cabeça das pessoas, sem permitir que elas possam evoluir”.
Fonte Hora do Povo
Obs. O Lula é um homem de bom senso e era isso que se esperava do discurso.