Brasil repele intransigência dos países ricos no comércio externo
“Buscaram acomodar seus próprios interesses defensivos em agricultura e ao mesmo tempo pedir contribuição desproporcional dos países em desenvolvimento no que diz respeito aos bens industriais”, avaliou o presidente Lula, sobre a retirada do Brasil e da Índia de Doha
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, anunciou que foi procurado pessoalmente pela representante de Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab, e, por telefone, pelo comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, dois dias após Brasil e Índia ter suspendido as negociações do G-4 (Brasil, Estados Unidos, Índia e União Européia), que buscava um acordo para a Rodada de Doha, como se convencionou chamar as discussões na Organização Mundial do Comércio (OMC) iniciadas em 2001. “Sem que eu tenha me movido, eles procuraram falar comigo de coisas substanciais, não é nenhuma negociação, mas dizer que querem tentar salvar (a Rodada de Doha), então tudo bem. Isso reforça minha convicção de que fiz a coisa certa”, disse.
Segundo Amorim, após a suspensão das negociações é que “caiu a ficha” dos representantes dos chamados países ricos. “Há uma nítida visão de que não só a nossa firmeza tinha fundamento, legitimidade, como precisam do Brasil e da Índia”. “Vai ver, o que parecia tão absurdo em Potsdam, não parece mais tanto. Se eles estão correndo atrás, é porque tem alguma coisa aí”, frisou.
A intolerante proposta dos Estados Unidos e da União Européia de redução de tarifas de importação de produtos industriais nos países em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que ficaria mantido o dumping e as restrições de entrada de produtos agrícolas nos chamados países ricos, levou a que Brasil e Índia dessem por encerrada a reunião do G-4 na quinta-feira (21), em Potsdam, Alemanha. A negociação que havia sido iniciada na segunda-feira (18) tinha previsão de encerramento no sábado. Na avaliação de Celso Amorim, os EUA e UE chegaram à reunião “com um nível de acordo mútuo” e “como sempre ocorreu, o que eles acordam consideram como sendo um acordo e os outros não podem mudar a essência, talvez possam mudar uma pequena vírgula”.
O porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, informou que após o encerramento da reunião em Potsdam, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, ligou para Lula. Baumbach disse que “o presidente Lula observou que os países desenvolvidos buscaram acomodar seus próprios interesses defensivos em agricultura e, ao mesmo tempo, pedir contribuição desproporcional daqueles em desenvolvimento no que diz respeito aos bens industriais”.
A Rodada de Doha foi iniciada com a proposta de discussão sobre o comércio mundial nos variados setores, como indústria, agricultura e serviços. Em 2003, dois anos após iniciada, chegou-se ao impasse exatamente nas questões que causaram a suspensão da reunião do G-4, que têm o propósito óbvio de sangrar ainda mais os países em desenvolvimento.
Com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o advogado Durval Noronha de Goyos Jr, árbitro da OMC, observou que “em dez anos de OMC cerca de 73% dos ganhos obtidos com o comércio internacional estão com os países desenvolvidos”. Assim, na década de 1990, enquanto os chamados países ricos aumentaram em US$ 1.938 o valor de suas exportações per capita, os países em desenvolvimento aumentaram apenas em US$ 98.
Celso Amorim destacou que o Brasil procurou expressar na reunião de Potsdam a posição do conjunto dos países em desenvolvimento. “O Brasil sempre sentiu que estava lá não apenas representando a si mesmo, mas representando o G-20 em termos de agricultura. Também tentamos expressar os sentimentos, os pontos de vista e as percepções dos países em desenvolvimento”, sublinhou o ministro.
O ministro avalia que as exportações brasileiras continuarão a crescer. “Não vamos ser catastrofistas. O comércio vai continuar”, afirmou. Segundo o ministro, mesmo com o impasse nas negociações de Doha, as vendas externas brasileiras continuarão crescendo. “Pode ter certeza, o Brasil vai continuar a exportar mais, mais e mais”, disse o ministro. “Precisamos da OMC porque precisamos de boas regras, porque precisamos que os subsídios agrícolas acabem. Vamos também continuar trabalhando para abrir mercados”.
“Queremos ampliar o acordo com a Índia e solidificar as relações no Mercosul e na América Latina”, ressaltou Amorim.
Hora do Povo
Rizzolo: Já disse anteriormente, que os EUA e a União Európeia, são governos fracos, em final de mandato, sem apoio eleitoral em seus países. Uma Europa sem liderança e sem política comum, a não ser defender com unhas e dentes essa política fracassada de subsídios agrícolas. De nossa parte devemos tirar todas as lições, continuar negociando, mas cuidar do Brasil e do Mercosul, da integração da América do Sul, do nosso mercado interno, aprofundando nossa política de desenvolvimento e nossa política industrial e de inovação. Não dá para confiar e acreditar nas instituições internacionais como elas estão hoje e com a presente hegemonia norte-americana e européia, o que querem é subjulgar os interesses de países como o Brasil e a Índia, e de sobra acusam nos acusam e à India de termos sido culpados pelo fracasso das negociações.
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