
Leitura para final de semana
Prestes a estrear pijama de presidiário com número 28301-016, Lewis “Scooter” Libby foi solto por ordem assinada por Bush, em troca do seu silêncio. Como governador do Texas, Bush não era assim compassivo: confirmou 156 penas de morte, a grande maioria de negros e latinos
O chefe de gabinete do vice Richard Cheney, Lewis “Scooter” Libby, teve sua omertá premiada por George W. Bush, que, com uma penada por ‘ordem executiva de clemência, o livrou de 30 meses de prisão a que tinha sido condenado por um tribunal federal no caso Plamegate – o complô montado para tornar pública a condição de agente da CIA da esposa do diplomata norte-americano, Joseph Wilson, que denunciou ser fraude a alegação de Bush, para invadir o Iraque, de que Sadam “teria comprado urânio do Niger” para fazer bombas atômicas. Além de chefe de gabinete de Cheney, Libby era ainda um dos principais conselheiros de W. Bush.
Compassivo diante de “Scooter”, W. Bush, porém, no seu tempo de governador do Texas, não sentia essa necessidade de comutar sentenças – foram 156 confirmações de pena de morte que assinou, e que tornaram o estado recordista em execuções nos EUA. Começou a assinar as ordens de execução no dia da posse como governador, e prosseguiu à média de duas semanas e meia de intervalo. A ponto de se tornar conhecido como “o governador da pena de morte”. Segundo a denúncia dos bispos do Texas, a grande maioria dos condenados à execução era de negros e latinos. Foram executados até retardados mentais. Dos 24 menores que deixou no corredor da morte, onze eram negros, onze eram latinos e dois brancos. Mas, claro, não há racismo no Texas.
De acordo com o “The Globe and Mail” do dia 2 de julho, após a recusa pela corte de apelações federal do pedido de revisão apresentado por “Scooter” Libby, o Departamento de Presídios dos EUA já lhe havia designado o número do traje de preso: 28301-016. Assim, era grande a pressa de W. Bush em emitir sua ordem executiva de “clemência”. Aqueles que apressadamente concluírem que Bush garantiu a impunidade de Libby, se enganam. O decreto, no essencial, busca garantir a própria impunidade de Bush e a de Cheney. Afinal, o silêncio – melhor dizendo, o perjúrio de Libby e sua “obstrução das investigações” – serviu para salvar as próximas cabeças dos responsáveis pela operação de vingança contra o embaixador Joseph Wilson – isto é, o guru de Bush, e seu ‘ponto eletrônico’ nos debates da campanha presidencial, Karl Rove, o vice Cheney, e ele mesmo, W. Bush.
“BOLA DA VEZ”
Como apontou Denis Collins, ex-repórter do “Washington Post”, “não é que ele [Libby]não seja culpado das coisas que nós sabemos que ele é culpado, mas de que ele foi a bola da vez … que recebeu a tarefa do vice [Cheney] de ir lá fora e falar com os jornalistas”. Não exatamente “falar”, mas vazar a informação sobre Valerie, na tentativa de paralisar o embaixador e as denúncias. Aí, diríamos nós, já não se sabia mais onde terminavam as dependências da CIA ou do gabinete de Cheney, e onde começavam as salas – ou prostíbulos – das redações. Muitos dos mais conhecidos jornalistas dos principais jornais e revistas dos EUA, de repente, eram flagrados em meio a uma operação de perseguição ao embaixador Wilson e ao serem convocados para depor, foi um festival de encobrimento. Além da já citada Miller, o colunista Robert Novak – que foi o abre-alas da operação -, o diretor de redação do “Washington Post”, Bob Woodward, Walter Pincus (também do “Post”), Matthew Cooper (Time), Tim Russel (NBC) e vários outros.
A “clemência” indignou o embaixador Wilson, que denunciou que “a ação de Bush demonstra que Casa Branca é corrupta de cima a baixo”. Além dos 30 meses de prisão, o tribunal condenou Libby a dois anos de liberdade vigiada e multa de 250 mil dólares. O “perjúrio”, declarações falsas e a “obstrução da justiça” que propiciaram a condenação de Libby são, claro, apenas a ponta do iceberg. O crime que vem pendendo sobre as cabeças coroadas de Washington não é apenas a violação do sigilo de identidade de um agente da CIA. O que, aliás, só se tornou lei no tempo de Reagan. O crime, todos sabem, é a conspiração para ludibriar o povo norte-americano para invadir o Iraque e assaltar seu petróleo em prol de meia dúzia de monopólios dos EUA. E conseqüente assassinato de um milhão de iraquianos, derrubada de um governo legítimo e eleito pelo povo iraquiano, destruição maciça da infra-estrutura do país e devastação do patrimônio da Humanidade confiado ao Iraque – os tesouros das civilizações mesopotâmicas e do Califado de Bagdá.
REVANCHE
Se não se tratasse disso, não teria sido necessária a operação de revanche contra o embaixador Wilson e que, eles não ignoravam, envolvia vários riscos que, inclusive, acabaram dando no Plamegate. É que agressão ao Iraque havia sido cometida ao largo do Conselho de Segurança da ONU, ao arrepio da lei internacional, com o uso de rombudas mentiras e fraudes, e sob pressão do maior movimento de massas contra a guerra jamais visto no mundo inteiro. Toda a agressão estava pendurada na campanha de fraudes, mentiras e desinformação desencadeada pela Casa Branca e amplificada pelo “The New York Times”, Murdoch, CNN e outros operativos, na blietzkrieg até Bagdá e na expectativa de pagar a invasão com o petróleo iraquiano. Isto é, no fio da navalha.
E foi nesse quadro que explodiu o artigo do embaixador Wilson. Como se sabe hoje, entre os preparativos para a deflagração da invasão estava a fabricação de pretextos, os “incidentes do golfo de Tonkim” de W.Bush, com a ajuda de governos e serviços secretos amigos. Logo em seguida apresentados como “prova” da “ameaça terrorista de Sadam” e reverberados pelas redes de TV e jornais dos EUA, irmanados em verdadeira cadeia nacional pró-guerra. Coube a Blair a fraude dos “45 minutos” para o Iraque usar armas químicas. Berlusconi e o serviço secreto italiano forneceram documentos falsos sobre o “urânio do Níger”. Aliás, forjados com papéis timbrados roubados no ano novo de 2001 – veja-se, 2001 -, quando a embaixada do Níger em Roma foi arrombada. Dentro dos EUA, uma súbita epidemia de envelopes com pozinho de Antraz preparava o palco para a encenação de Colin Powells na ONU, com tubinho na mão. E na reta final o MI-5 inglês requentou o dossiê sobre o “urânio de Sadam”.
Assim, o papel do “urânio do Níger” para a invasão do Iraque não foi pequeno. Bush usou a mentira em seu discurso do “Estado da União” que antecedeu o ataque – o que no processo que condenou Libby é lembrado como as famosas “16 palavras” -, e numa conhecida entrevista, Rice, referindo-se a isso, descreveu a “nuvem em forma de cogumelo” que ameaçava os EUA. A conclusão explícita do artigo de Wilson era de que o país tinha sido levado à guerra sob falsos pretextos. A partir daí, começou a cruzada contra ele e sua mulher. Daí em diante, é como naqueles filmes da Máfia. Libby dá a informação a Novak, deixando claro quem é o embaixador, e o reacionário colunista só precisa depois consultar o “Quem é Quem” para obter o nome de Valerie. Um depois do outro, os principais meios da mídia dos EUA metem os pés pelas mãos na operação. Mas a pressão aumenta, Libby é pego em perjúrio e obstrução da Justiça e renuncia. Para azar da gangue de Bush, mais danos colaterais: vêm à tona os vínculos de Judith Miller com a cruzada contra Wilson, suas conexões com Libby e o emprego, ou melhor, fachada, no “New York Times” vai para o vinagre, depois de uma temporada na cadeia.
ANTONIO PIMENTA
Hora do Povo
Rizzolo:Impressionante, hein ! Para confirmar 156 penas de morte,quando governador do texas onde a grande maioria era de negros e latinos Bush era implacável , agora clemência para quem acoberta a veradeira máfia da Casa Branca ele oferece e se cosnterna com essa corja, que compassividade, não ? Isso só denota que sob os auspícios de Bush o povo americano é um fantoche do espírito belicista e dominador do chefe da nação ” guardiã da liberdde “. Uma pena para os americanos, como já disse anteriormente, os EUA presisam repensar sua política e aprender a não confiar em republicano e ” garimpar” quem é o melhorzinho na seara democrata.