O jornal “O Estado de S. Paulo”, órgão oficial da oligarquia cafeeira desde o tempo em que Artur Bernardes usava calça curta, iniciou uma campanha contra as entidades populares. Até aí nenhuma surpresa. Apesar da oligarquia cafeeira ter ido para o túmulo da História há muito tempo, o “Estadão” esqueceu-se de nele deitar. Assim, permanece vagando por aí com essas idéias exóticas de 200 anos atrás: continua achando que a questão social é um caso de polícia e que organização popular é coisa de baderneiro.
Segundo o órgão dos Mesquitas, o problema é que o governo federal está gastando R$ 3 bilhões em convênios e contratos com entidades populares. Não sabíamos disso, mas… só? Com todas as entidades? Custa crer que seja tão pouco.
Pois, apesar dos esforços titânicos do companheiro Lula, este ano o governo gastará com os bancos, segundo o Orçamento Nacional, a quantia de 165 bilhões, 868 milhões, 83 mil e 836 reais (já foram pagos, até o início deste mês, 95 bilhões, 983 milhões, 665 mil e 952 reais). E não estamos falando em pagamento da dívida, ou seja, em amortização. A quantia citada são somente os juros. Para amortização da dívida estão reservados outros 735 bilhões, 341 milhões, 657 mil e 876 reais (já foram pagos 304 bilhões, 352 milhões, 876 mil e 410 reais).
O “Estadão” não acha isso um escândalo. Nem acha que é um desperdício. Mas acha que é um escândalo e um desperdício o governo investir 3 bilhões em convênios pelos quais cada entidade receberá uma quantia modesta e, em troca, seus ativistas terão que suar a camisa para atender o povo. Porque não se trata de nenhuma doação. Trata-se de trabalho em prol da população. O dinheiro dos convênios é, para as entidades, uma pequena contrapartida do Estado ao trabalho que fazem para uma população carente de quase tudo.
VERSÃO MIRIM
A única área onde o “Estadão” e sua versão mirim, o “Jornal da Tarde”, acham que há seriedade nos convênios é na Saúde. O motivo é óbvio: os tucanos em São Paulo entregaram os hospitais a uma série de ONGs de fancaria, mera fachada de seus apaniguados. Aí, sim, existe fraude e desperdício de dinheiro público – e não é pouco. Mas nisso o “Estadão” não está interessado que se fale. Daí, todas as organizações que atuam na área de Saúde viraram santas.
Os senhores de escravos e seus sucessores, os latifundiários da oligarquia, não gostavam que seus escravos e semi-escravos aprendessem a ler e escrever. E continuam não gostando, mesmo já tendo passado deste para outro mundo. Assim, cumprindo sua função de boletim das almas penadas, o “Estadão” implica especialmente com os convênios do “Brasil Alfabetizado”, belo programa do governo Lula, pelo qual entidades, prefeituras e Estados recebem uma pequena ajuda, correspondente apenas ao pagamento de professores, para empreenderem a luta contra o analfabetismo. Em troca, a entidade tem de pagar coordenadores e supervisores, treiná-los, assim como aos professores, elaborar a pedagogia, confeccionar e distribuir o material didático, conseguir ou alugar salas de aula, além de, evidentemente, mobilizar os próprios alunos, organizando, durante meses, cursos para dezenas de milhares de adultos que nunca freqüentaram uma escola.
Naturalmente, não será para ler o “Estadão” que o povo está se alfabetizando. Portanto, que haja milhões de pessoas ainda analfabetas, não é um problema para ele. Se houvesse mais, talvez sua situação fosse melhor.
Se o “Brasil Alfabetizado” tem um problema, este é, precisamente, a escassez de verbas. Mas são esses modestos recursos, utilizados com inegável sabedoria pelo Ministério da Educação e pelas entidades, e cuja aplicação é rigorosamente fiscalizada, que o mausoléu da Marginal quer também entregar aos banqueiros – a quem mais eles gostariam que fossem entregues?
JORNALISMO FABRICATIVO
Assim, diz o “Estadão” que não encontrou as salas de aula que procurou. Realmente, era impossível que encontrasse salas de aula onde as aulas não começaram. É evidente que entre a liberação dos recursos pelo governo e o início do curso existe um período de preparação, o que está, inclusive, previsto nos convênios. Foi durante esse período que o “Estadão” supostamente tentou encontrar as salas de aula. Por que escolheu justamente essa época? Exatamente porque sabia que não iria encontrá-las. Depois das barbaridades do “jornalismo investigativo”, temos agora o jornalismo fabricativo. Embora, a verdade é que ele é mais velho até do que o “Estadão”.
Porém, melhor será passar a palavra a uma das entidades difamadas. A CUT emitiu a seguinte nota:
“CUT esclarece edi-tores do Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo:
“O Jornal da Tarde errou na reportagem que publicou hoje – repercutida também pelo Estadão – ao tentar transformar um acontecimento comum, no qual não há irregularidade, em denúncia “quente” e candidata a manchete.
“A CUT recebeu um repasse de R$ 8 milhões do MEC para executar um projeto de alfabetização de adultos, dentro do programa federal Brasil Alfabetizado, e as aulas, que deveriam ter começado em 1º de dezembro, ainda não tiveram início. Crime? Corrupção?
“O próprio jornal responde: o repasse das verbas, anunciado no Diário Oficial da União em 28 de dezembro do ano passado (portanto, mais tarde do que a data prevista para o início das aulas), só aconteceu de fato em 23 de abril deste ano.
“Estes são os fatos principais que sustentam a reportagem. Nem seriam necessários outros, ignorados pelo texto, para ter clareza de que não há irregularidade alguma.
“Apesar disso, inserida na série de reportagens que denuncia fraudes de ONGs no uso de recursos do Brasil Alfabetizado, e com tratamento policialesco na chamada de capa, a reportagem de ontem tenta induzir leitores incautos a imaginar a CUT como uma entidade que frauda recursos destinados à alfabetização de adultos.
“Algo muito grave, irresponsável. A forçada de barra jornalística cometida pelo JT pode muito bem ser usada em sala de aula como exemplo de desserviço à opinião pública.
“Na página interna, a mistura gráfica e confusa de outros casos envolvendo ONGs tem duas explicações possíveis – inabilidade dos redatores ou má-fé.
“A reportagem também cita números e nomes simulando orgulhosamente a descoberta de dados misteriosos. Bobagem. Todos os números e nomes citados podem ser encontrados com facilidade no site do Ministério da Educação, lá explícitos como prestação de contas. Até mesmo os telefones pessoais de trabalhadores do projeto estão no site.
OS FATOS
“Vamos agora a alguns fatos que o JT ignorou.
“Por respeito a normas legais, a CUT, através da Agência de Desenvolvimento Solidário, não pôde dar início às aulas. É preciso primeiramente selecionar alfabetizadores e, depois disso, há um prazo – também estabelecido nas regras do Brasil Alfabetizado – para capacitá-los. Após o repasse das verbas, a CUT deu início a essa formação, a partir de proposta pedagógica aprovada pelo MEC. O ritmo desse processo não é ditado nem por nós nem pela vontade do JT, mas sim pelas normas vigentes.
“O projeto de alfabetização que a CUT vem desenvolvendo, no âmbito do Brasil Alfabetizado, já alfabetizou mais de 100 mil brasileiros desde 2004. Não apenas em bairros da região metropolitana de São Paulo, mas também em comunidades indígenas, quilombolas, carcerárias e caiçaras, no mais profundo sertão ou em plena floresta. Mas, ao que tudo indica, o JT não chegaria até lá. Os equipamentos todos e as salas de aula são compartilhados pela comunidade. Os alfabetizadores, ao longo desse tempo, são oriundos da comunidade em que atuam.
“A cada nova etapa, o projeto educacional da CUT passou pelos trâmites legais por que passa agora. Prometemos que, assim que as novas aulas começarem, convidaremos os autores da reportagem para acompanhar ao menos uma.
Coordenação da ADS (Agência de Desenvolvimento Solidário)”
Hora do Povo
Rizzolo: Tudo o que refere ao povo, ao popular, ao desenvolvimento do trabalhador pobre, a elite é contra, e o jornal representante da elite paulistana e brasileira é o Estado de São Paulo. Não há dúvida que do ponto de vista aristocrata é um escândalo e um desperdício o governo investir 3 bilhões em convênios pelos quais cada entidade receberá uma quantia modesta e, em troca, seus ativistas terão que suar a camisa para atender o povo. Agora, por outro lado, a aristocracia acha normal e maravilhoso o governo este ano gastar com os bancos, segundo o Orçamento Nacional, a quantia de 165 bilhões, 868 milhões, 83 mil e 836 reais (já foram pagos, até o início deste mês, 95 bilhões, 983 milhões, 665 mil e 952 reais), isso só em juros, para amortização da dívida estão reservados outros 735 bilhões. Uma brincadeira né? E observe, 3 bilhões são pra todas as entidades, pra ensinar os coitadinhos, gente humilde, trabalhadora, explorada, desnutrida, que agora a essa altura da vida vai finalmente aprender a ler. !
Tudo isso , vem de encontro ao que eu digo sempre , a idéia é desqualificar o governo Lula, pra elite operário no poder, pode até ser, mas olha, a chave do cofre fica com os detentores e representantes do império americano e da aristocracia brasileira e internacional, ou seja, o controle do Banco Central. Agora quando o coitadinho do operário humilde, tem oportunidade de através de um programa aprender a ler, é isso que dá. No fundo é desprezo pelo povo brasileiro mesmo.
Não tem jeito.