
Uma multidão tomou as ruas de La Paz contra manobra de mudar a capital para Sucre, próxima à região rica em hidrocarbonetos a qual os entreguistas querem ofertar às transnacionais
Mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas da capital boliviana La Paz na sexta-feira, 20, para repudiar a manobra dos separatistas de transferir o Executivo e o Legislativo para a província de Chuquisaca, cuja capital é a cidade de Sucre e com isso tentar enfraquecer a capacidade de centralização do país e a proximidade do povo aos órgãos de poder (enquanto a capital La Paz e sua vizinha El Alto reúnem mais de 2 milhões de habitantes, Sucre não chega a abrigar 250 mil e está próxima dos departamentos onde atuam os que querem dividir o país).
No que foi considerada a maior manifestação da história da Bolívia, o ato reuniu caravanas de camponeses, trabalhadores, estudantes, empresários, políticos e funcionários públicos de diversas partes do país, que se dirigiram a El Alto, nos arredores de La Paz, desde o início do dia, sob o lema “A Sede Não Se Move”. Imagens do protesto transmitidas pela TV mostravam quilômetros de ruas cobertos pela multidão.
A sede desses dois poderes foi levada a La Paz no fim de 1899, em conseqüência de uma guerra civil que começou com uma demanda de federalização do país semelhante à atual de autonomias departamentais propostas pelos separatistas, que não se conformaram com a vitória de Morales nas últimas eleições presidenciais. Sucre manteve a sede do poder Judiciário.
Os distritos que tentam aprovar a mudança da capital administrativa da Bolívia tentaram, em vão, impedir o estabelecimento da Assembléia Constituinte proposta pelo presidente Evo Morales, que a convocou com objetivo de adequar a Constituição do país às transformações que vêm se realizando na Bolívia, como a nacionalização dos recursos naturais e a reforma agrária.
Agora, parlamentares constituintes da cidade de Sucre – apoiados por alguns parlamentares separatistas dos departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija – pretendem voltar a abrigar o Executivo e o Legislativo e incluíram essa demanda na Assembléia Constituinte que está reescrevendo a Constituição da Bolívia.
UNIDADE NACIONAL
O prefeito de La Paz, José Luis Paredes, afirmou que a manifestação servirá para consolidar a unidade nacional. “La Paz e sua população são a garantia da unidade do país e fomos também os promotores da Assembléia Constituinte, por isso estamos indignados com a proposta de mudança de sede”.
“A responsabilidade do povo foi maior do que imaginávamos”, disse Paredes.
“Viemos para dizer àqueles que querem nos separar, que querem a divisão do país, que as suas tentativas não terão sucesso”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de La Paz, Luis Revilla..
Em resposta ao argumento dos separatistas da importância da “unificação” dos poderes em Sucre, os manifestantes exigiram a transferência do Judiciário de Sucre para La Paz.
Claudio Álvarez, da Central Operária Regional de El Alto, afirmou que a proposta de mudança da capital foi feita pela direita boliviana. “Essa mudança pretende jogar os bolivianos uns contra os outros e dividir o país”, acrescentou.
O presidente da Federação de Associações de Moradores (Fejuve) de El Alto, cidade vizinha à La Paz, Nazario Ramírez, discursou que a “mobilização é contra os partidos neoliberais, a oligarquia econômica e a oligarquia política”.
O chamado à unidade boliviana foi a tônica dos discursos pronunciados por vária lideranças regionais, municipais, operários e camponeses.
María Quisbert – uma das voluntárias de La Paz que coordenaram o protesto – classificou a manifestação de sexta-feira como “histórica”. Ela declarou que o protesto serviu para mostrar que “o povo está unido contra a possível mudança de sede do governo”.
Ao final do ato, os manifestantes aprovaram um prazo até seis de agosto para que a Assembléia Constituinte da Bolívia “elimine definitivamente o tratamento do tema em todas as suas instâncias”. Caso contrário, o departamento (Estado) inteiro fará uma greve geral.
O presidente Evo Morales declarou em entrevista à imprensa no Palácio Quemado que o povo reunido em La Paz “lidera a unidade nacional e luta com muito sentimento por essas profundas transformações que vive o país”.
“La Paz, sem ofender nem provocar ninguém almeja a grande unidade nacional mediante a Assembléia Constituinte”, acrescentou Morales.
Além de não servir aos interesses nacionais, segundo cálculos da Câmara Nacional de Comércio, o Estado precisaria de mais de US$ 10 bilhões para transferir para Sucre toda a infra-estrutura instalada há 108 anos em La Paz.
OLIGARQUIA
A campanha separatista, cujo centro está localizado na província de Santa Cruz de La Sierra, se intensificou desde a vitória do candidato popular Evo Morales que busca colocar os recursos do país a serviço dos interesses do conjunto de sua população.. Ao invés de se submeter à decisão do povo nas urnas, essa oligarquia pretende dividir o país e formar um enclave onde possam se beneficiar de migalhas e propinas a partir da entrega da riqueza do subsolo, em contraposição às medidas de nacionalização do gás e do petróleo efetivadas por Evo.
Milhares de bolivianos já haviam tomado as ruas do país no início do ano em Cochabamba para exigir o afastamento do governador Manfred Reyes, que mesmo com sua proposta separatista derrotada nas urnas por um plebiscito, prosseguiu com a campanha pela separação.
O bando separatista da Bolívia, que tenta arrancar ao país a região mais rica em petróleo, gás e outras riquezas naturais, tem como um dos chefes o latifundiário Sergio Antelo, que ameaçou que, se não se garante a autonomia para seus interesses, “tudo é possível”. No documento “proposta de reforma do texto constitucional do Conselho Pré-autonômico de Santa Cruz”, patrocinado por Antelo, por Juan Carlos Urenda Díaz, advogado que recebia pelo Escritório Jurídico Sullivan & Cromwell de Nova Iorque (ligado ao JP Morgan e às empresas norte-americanas com interesses no Canal de Panamá) e por Javier Mansilla, funcionário de multinacionais do petróleo, entre outros; exigem que as províncias possam: “autorizar a negociação de empréstimos, alienação de bens e realização de contratos que comprometam os ingressos petroleiros e do gás da região”, e que os governos autônomos possam “fomentar planos migratórios para a utilização da terra e dos recursos naturais do país”.
RODRIGO CRUZ
Hora do Povo
Rizzolo:Essa proposta separatista é uma manobra safada da direita apoiada pelas empresas internacionais que querem sim dividir o país e formar um ducado onde possam se beneficiar de migalhas e propinas a partir da entrega da riqueza do subsolo, em contraposição às medidas de nacionalização do gás e do petróleo efetivadas por Evo, ou seja , querem ter uma parte do páis pra eles, é lógico que a direita com isso quer jogar uns contra os outros para enfraquecer o governo Morales, esse bando separatista conta com apoio de empresas norte americanas que não se conformam em não conseguir se apropriar e lucrar explorando da única riqueza do povo Boliviano que são os hidrcarbonetos. A resposta foi o povo na rua .