
No 3º Congresso do PT, o presidente Lula disse que as mudanças no país “incomodam muita gente” e conclamou: “vamos à luta”
O presidente Lula empolgou as cerca de 3 mil lideranças políticas e delegados presentes ao 3º Congresso do Partido dos Trabalhadores ao defender em seu discurso, no sábado, que o partido tem uma grande tradição de lutas e está promovendo uma “transformação histórica no país e nada que nos aconteça pode nos esmorecer”. “O PT”, disse Lula , “chega ao seu terceiro congresso, aos 27 anos, de uma existência que marcou não só a história social e política do Brasil como de toda a América Latina”. “Nosso partido tem uma história intimamente ligada à luta dos trabalhadores e de amplos segmentos de nosso país por uma sociedade politicamente mais democrática, economicamente mais igualitária e socialmente mais justa”, afirmou.
MARCA
“O PT precisa ficar muito atento e cada vez mais combativo”, prosseguiu. “Ganharmos as eleições num país desse tamanho e fazermos as políticas sociais que estamos fazendo não é uma coisa simples. Isso incomoda muita gente. Antigamente cada centavo que eles davam aos pobres eles contabilizavam como gastos e nós, orgulhosamente, dizemos que quando fazemos isso estamos investindo na conquista da cidadania, na conquista da democracia”.
“Muita gente fica incomodada. E nós temos que ficar tranqüilos, serenos, sempre de bom humor. Porque o resultado do nosso governo será uma marca histórica da sociedade brasileira, eu não tenho dúvida disso”, assinalou. “Mas é preciso que a gente fique alerta porque eles não vão nos deixar nadar em águas tranquilas o tempo inteiro. É preciso se preparar para os tsunamis que virão”, alertou Lula.
O presidente ressaltou que sua trajetória política “é inseparável da trajetória do PT”. “Vocês me fizeram viver momentos de intensa e imensa alegria e emoção”, disse. “O gesto que vocês fizeram na crise de 2005, quando o partido convocou o eleições e 320 mil militantes foram às urnas dizer aos nossos críticos que “estamos mais vivos do que nunca” e que ganharíamos as eleições em 2006, foi decisivo”. “E foi exatamente isso o que aconteceu”. “Quando, durante a crise de 2005, a CUT levantou a cabeça e, junto com outros movimentos, disseram: ‘mexeu com Lula mexeu comigo’, a coisa mudou de figura”, lembrou.
“Eu precisava fazer esse alerta porque os adversários são incansáveis, apesar de alguns estarem cansados”, brincou. “Os nossos senadores, deputados federais, deputados estaduais precisam aprender uma lição: que a gente não pode ficar abalado cada vez que sai uma manchete contra o nosso partido”, alertou. “Até porque eles estão criticando não os nossos defeitos, mas exatamente as nossas qualidades”, acrescentou.
“Encontramos um país que enfrentava gravíssimos constrangimentos. Não me refiro somente a problemas conjunturais como ameaças de um novo surto inflacionário, a fragilidade de nossa inserção no mundo e o sucateamento do Estado. Os problemas eram mais graves. Eram estruturais. O país estava profundamente vulnerável face à desordem econômica internacional”, assinalou.
“Nossas universidades, a despeito da qualidade de seus cientistas e intelectuais, vivia um momento amargo. As políticas públicas sofriam com o persistente desmonte e privatização do Estado. Multiplicavam-se as demandas dos mais variados setores sociais relegados ao mais profundo abandono. A auto-estima dos brasileiros se encontrava em seu mais baixo nível. O país sofria os efeitos do que Celso Furtado chamou de construção interrompida”, acrescentou.
“Domamos a inflação que, de novo nos ameaçava, controlamos a ameaça de uma nova crise cambial, diminuímos lenta, mas seguramente, os juros que inibiam nossa atividade econômica, estimulamos como nunca o mercado externo, sem prejuízo do mercado interno, retomamos o crescimento de forma sustentada. Não o fizemos, como dizem alguns, mantendo a política econômica anterior, mas, ao contrário, fizemos justamente o que não havia sido feito. Se tivéssemos prosseguido naquele caminho recessivo e perdulário o Brasil certamente teria quebrado”, enfatizou.
Ele comemorou a criação de 1,2 milhão de empregos com carteira assinada nos primeiros seis meses do ano. “O Fome Zero, principalmente o seu carro chefe, o Bolsa Família, produziu a mais ampla transferência de renda que o país já viu. Não só produziu uma ampla proteção social de mais de 40 milhões de pessoas como permitiu aumentar o consumo criando um amplo mercado de massas que sempre foi um dos objetivos programáticos históricos de nosso partido”, argumentou o presidente. “Hoje”, prosseguiu, “esse consumo interno é o principal motor do nosso crescimento. Isso desmonta a tese elitista de que nossos programas sociais, especialmente o Bolsa Família, são medidas assistencialistas ou populistas”. “Quem assim pensa nunca passou fome ou só conhece a pobreza através dos livros. Quem pensa assim não compreende que o Bolsa Família não é favor, é um direito do povo pobre desse país”, rebateu.
“Foi preciso fazermos a reconstrução do Estado. Colocar os bancos públicos a serviço do desenvolvimento do pais. A privatização e a atrofia do Estado brasileiro impediam o funcionamento de nossas políticas públicas. Contrariamente ao que afirmam os conservadores, faltavam funcionários para a saúde a educação, para o controle do desmatamento de nossas florestas e para outras atividades”, denunciou Lula, lembrando que em seu projeto de “transformação produtiva” vai investir R$ 504 bilhões com o PAC.
Lula defendeu a continuidade do projeto de desenvolvimento. “Esses 8 anos de nosso governo não podem ser um intervalo progressista entre governos conservadores”, ressaltou. “Como tenho dito, passarei a faixa presidencial a meu sucessor em janeiro de 2011, mas lutarei para que o futuro presidente seja alguém identificado com o nosso projeto, capaz de dar continuidade e profundidade à obra que nós iniciamos”. “Nosso projeto inclui uma ampla coalizão de partidos. Temos que trabalhar para ampliá-la ainda mais. Para isso, o PT deve se manter unido”, salientou. “Se tivermos paciência e sabedoria política, teremos, junto com o nosso povo, muitas outras vitórias”, acrescentou.
Lula criticou o preconceito de certos setores da sociedade. “E muito fácil para aqueles que tomam uísque, achar que estamos gastando dinheiro com os pobres. Mas, o que estamos fazendo é investir no futuro do país”. “Nossa prioridade é colocar comida na mesa do povo, porque sem o povo não haverá nação”, afirmou.
Lula defendeu os dirigentes do PT que vão ser processados pelo STF. “Ate agora nenhum deles foi inocentado ou culpado”, disse. “Até agora tem um processo. Eles terão tempo para se defender e provar sua inocência. Aqueles que não cometeram erros serão absolvidos”, afirmou.
“Mas, o importante é que nada que nos aconteça, processados ou não, pode nos esmorecer”. “A vida é muito curta. Não temos o direito de nos sentir derrotados. Nenhum petista tem que sentir vergonha de defender um companheiro”, completou Lula.
REVOLUCIONÁRIOS
“O que é importante e é sagrado nisso, é que numa luta de um partido político com a tradição como o nosso, uma luta como essa, não se faz sem dor e sem ferimentos. Nós já perdemos tanta gente. Perdemos pessoas que morreram antes do PT para consolidar a democracia. Jovens que um dia levantaram a cabeça para conquistar a democracia nesse país”. “Perdemos velhos revolucionários como Apolônio de Carvalho, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Betinho, Henfil; já perdemos Mariguela, já perdemos Margarida Alves, por isso, vamos prosseguir nesta luta. A luta sempre continua”, concluiu.
SÉRGIO CRUZ
Hora do Povo
Rizzolo: Não resta a menor dúvida que a criação de 1,2 milhão de empregos com carteira assinada nos primeiros seis meses do ano, foi um grande feito do governo Lula. A Bolsa Família, que a elite gosta de dizer “que é coisa de vagabundo”, enquanto saboreia um wiskye 12 anos, é essencial, e como bem disse Lula, os que são contra, conhecem a pobreza só através dos livros, a Bolsa Família foi um grande avanço em direção ao combate à fome e a miséria. Sempre digo que investimento não é só no material, mas o principal investimento é no social, nas pessoas, no combate à fome, na saúde, como diria Noam Chomsky, temos que optar entre o lucro ou as pessoas, é claro que as teorias neoliberais que preconizam o “mercado” como regulador a tudo atribuindo a ele o poder mágico da justiça social, fracassaram e quem as defende é no mínimo mal intencionado e tem como seu santo padroeiro Adam Smith; num país faminto como o nosso onde 45 milhões de pessoas vivem e desprendem seus organismos de anemias profundas através da alimentação que a Bolsa Família proporciona, não pode depender de mercado, são crianças, idosos, que tem o direito de se alimentar adequadamente, e a intervenção do Estado é primordial. Sabemos que antes de tudo programas como este são acima de tudo de saúde pública, e necessários ao desenvolvimento do Brasil.