O governo dos Estados Unidos deu a entender nesta terça-feira (9) que as negociações da Rodada de Doha de comércio global estão ameaçadas, depois de um grupo de países em desenvolvimento insistiu que deve receber o que os norte-americanos consideram “tratamento favorável nas discussões”.
Os norte-americanos reagiram duramente a uma proposta do Brasil, Argentina e África do Sul por flexibilidade adicional para as indústrias do Mercosul e da Sacu (a união aduaneira da África Austral), advertindo que isso “pode significar o fim da Rodada Doha”.
Há semanas Washington demonstra frustração com o avanço das negociações, lançadas há seis anos para impulsionar a economia mundial através da abertura do comércio. As negociações da Rodada de Doha, no entanto, concentram-se desde julho em agricultura e indústria, com base em documentos divulgados para cada área por mediadores da Organização Mundial de Comércio (OMC).
A reação dos ricos foi motivada também por outras demandas do bloco em desenvolvimento, com cerca de 90 países, que Brasil, Índia e África do Sul conseguiram organizar. O bloco pede mudanças estruturais no texto de base da negociação industrial e responde a pressões da representante comercial dos EUA, Susan Schwab.
O bloco reitera que só haverá progressos na negociação industrial depois do resultado da negociação agrícola e considera inaceitáveis cortes maiores nas tarifas de nações em desenvolvimento do que nas dos países ricos. A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) calcula que o texto industrial significa corte nas tarifas consolidadas de 21% nos EUA, 23% na União Européia, comparado a 58% no Brasil, 62% na Índia, 42% na África do Sul e 28% na China.
O bloco em desenvolvimento diz ser crucial obter flexibilidades maiores na área industrial. Brasil, Argentina e África do Sul querem espaço maior para o Mercosul e a Sacu protegerem mais produtos industriais, a fim de preservar as tarifas externas comuns. A mensagem é que o texto industrial precisa ser amplamente alterado.
Para os ricos, há retrocesso
As reações dos “elefantes” do comércio mundial, contudo, foram categóricas. “Essa proposta pode sinalizar o fim da Rodada Doha”, declarou ao Valor o porta-voz comercial dos EUA, Sean Spicer. “Enquanto os EUA e outros têm mostrado claro compromisso em ir adiante, essa proposta marca um retrocesso importante e na direção errada.” A União Européia também avisou que o texto do mediador da negociação “é razoável, documentos alternativos não sao necessários e estamos esperando outros na mesa para negociar”.
A atual fase de negociação era para aproximar posições em direção a um acordo final, após seis anos de negociações, mas a história se repete, com endurecimento de todas as partes. A Argentina, com posição forte na área industrial, sinalizou logo o perigo para Doha: “Esse é um barco pesado, se não for girado a tempo a colisão com o iceberg é inevitável”, avisou o embaixador Alberto Dumont.
Em escritórios importantes da OMC, o clima de hostilidade e os debates negativos ao longo do dia deflagraram o sinal de alarme. O diretor-geral, Pascal Lamy, porém, considera que o aprofundamento da discussão geralmente leva a esse tipo de cenário.
Emergentes apontam o entrave
A maioria dos negociadores ataca os EUA pelo impasse. Na agricultura, os americanos são “seletivos”, mas na área industrial pedem “concordância incondicional”. Já o embaixador americano na OMC, Peter Allgeier, acelerou a crítica aos grupos em desenvolvimento, conduzidos por Brasil, Índia e África do Sul. “Agora não é mais tempo para se dizer o que não se quer, é tempo para dizer o que estão prontos a fazer em agricultura e na área industrial”, afirmou enfático.
O alvo de Allgeier foi sobretudo a demanda de Brasil e Argentina por flexibilidade adicional para o Mercosul. Para ele, o Brasil está querendo “virar de cabeça para baixo” a OMC. “Dizer que países devem (liberalizar) menos, porque estão em uniões aduaneiras ou em outros acordos preferenciais, é se desviar da OMC”, argumentou. “A OMC é sobre liberalização multilateral e não devemos abrir precedentes para arranjos especiais.” Sinalizou que os EUA estavam prontos a examinar “necessidades específicas e bem definidas” para certos países protegerem mais suas indústrias, mas não para o Mercosul.
A constatação de Dumont, embaixador argentino, foi rápida: “Os EUA estão de acordo para acomodar todo mundo, menos nós (Argentina, Brasil e África do Sul). E querem que esqueçamos flexibilidade adicional para uniões aduaneiras. Para o Mercosul essa é uma questão fundamental.”
Nos corredores da OMC, importantes personagens da negociação consideravam “preocupante” se a advertência do Brasil – de que prefere o Mercosul a Doha, caso não obtenha mais flexibilidades para sua indústria – for para valer e não meramente tática de negociação.
A resposta do embaixador brasileiro, Clodoaldo Hugueney, veio logo. “Nossa posição é sólida e podem ficar preocupados, porque não há dúvidas sobre isso. O Brasil tem o objetivo político de fortalecer e preservar o Mercosul, consolidar a TEC, acabar com as exceções. E temos que encontrar soluções para compatibilizar Doha e o Mercosul. A rodada tem que preservar as uniões aduaneiras.” Para os EUA e a UE, porém, o Mercosul não é união aduaneira completa, com numerosas exceções. Para a UE, “só há duas uniões aduaneiras no mundo, a UE e a Sacu”, segundo seu embaixador, Eckert Guth.
Site do PC do B
Rizzolo:É impressionante o atrevimento e o descaso por parte dos EUA com os países da América Latina, e os em desenvolvimento, precisamos aprender com eles como se defende os interesses nacionais, todos sabem que nos últimos três anos os EUA deram US$ 15 bilhões de subsídios aos seus agricultores. A proposta brasileira é para que dêem US$ 12 bilhões E o que eles querem? Querem dar US$ 17 bilhões, é uma brincadeira, né, ou seja, estão querendo aumentar ainda mais, inclusive na média dos últimos 3 anos. Já se analisarmos a União Européia, a exploração continua, não querem mexer em absolutamente nada em relação à agricultura, e ainda exigem a diminuição do coeficiente dos produtos industriais, o seja, querem apenas “escancarar” nossa indústria nacional e no tocante a agricultura, nada aos países do Terceiro Mundo. Tudo para eles, e nada, para nós.
Isso me lembra aquela história comum do sujeito “mixo” que vai numa festa de milionários, e que depois de alguns drinques (não é o caso do Presidente), começa a dar uma de grã fino, achando que pode conversar de igual para igual com os outros, e logo, loguinho, o pessoal coloca-o no seu lugar. Não dá pra conversar de igual pra igual com esses países, porque para eles o que interessa são os interesses deles aqui, não os nossos lá, deu pra entender ? Isso vem encontro com a idéia de que só uma América Latina forte, coesa, com interesses próprios num Bloco só pode-se evoluir, mas, como temos observado representantes dos interesses internacionais, que querem nos desqualificar “trabalham” através da mídia golpista para que a América Latina vá pro “vinagre”, jogando a Venezuela contra o Brasil, desqualificando o Banco do Sul, apostando na discórdia do Mercosul, fomentando uma intriga entre países vizinhos.
Em suma, o Brasil vai ter que sair da festa dos milionários e vir aqui pra América Latina com os países irmãos e se enxergar de dentro pra fora. O futuro do Brasil está na união dos países da América Latina, vivendo em harmonia com uma política de avanço conjunto. Agora, não adianta esnobar a América Latina, e “dar de ombros pro Chavez”, indo bater na porta dos EUA e Europa porque já deu pra perceber que o “Cartel dos Poderosos” nada quer negociar, e lutam para manter seus interesses.
Temos um mercado consumidor de 190 milhões de pessoas, uma quantidade enorme de multinacionais que aqui se beneficiam com vultuosas remessas de lucros e dividendos e que nem sequer pagam Imposto de Renda ao povo brasileiro, destruindo nosso parque industrial nacional, bancos internacionais que concorrem no nosso mercado, se beneficiando com juros estratosféricos. E ainda querem mais? Não querem ceder em nada ? Vamos nos conscientizar e parar de dar ouvidos às viúvas da Alca, e à mídia reacionária que quer a desunião na América Latina, e pensar no Mercosul ou numa versão melhor ainda a Alba.