Fome e pobreza caminham de mãos dadas, diz relatório
Um índice calculado por organizações internacionais mostra que o combate à fome avançou no Brasil entre 2003 e 2004, acelerando o passo de uma fenômeno que vem se registrando desde os anos 90.
No Brasil, o Índice da Fome, calculado para 118 países pelo Instituto de Pesquisas sobre Políticas Alimentares (IFPRI), com sede em Washington, caiu de 5,43 em 2003 para 4,60 em 2004.
Em 1990, o indicador chegava a 8,33 e em 1981, a 10,43.
Com isso, o Brasil ficou em 24º lugar no ranking da fome, quatro posições acima da registrada no ano anterior, quando 119 nações foram consideradas. Mas a entrada e saída de países na lista dificulta uma comparação.
O índice levou em consideração fatores como mortalidade infantil, desnutrição infantil e o número de pessoas com deficiência alimentar nas 118 nações pobres ou emergentes.
Os resultados colocam o Brasil como um país com bom desempenho no combate à fome, e “a caminho” de fazer sua parte nas metas do milênio, que, entre outros objetivos, prevêm que o mundo chegue a 2015 com um nível de fome equivalente à metade do de 1990.
Dados analisados pelas organizações mostram que, entre 1990 e 2004, a mortalidade infantil de crianças com menos de cinco anos de idade caiu de 6% para 3,4%.
Em estimativas médias calculadas para o mesmo período, a prevalência de crianças abaixo do peso caiu de 7% para 2,4%. Já a proporção de pessoas desnutridas caiu de 12% para 8% da população.
Melhora
A trajetória do Brasil ilustra a melhora geral na América Latina, região onde, junto com o Leste da Ásia, houve avanços no combate à fome.
Segunda colocada no ranking, a Argentina viu seu indicador cair de 1,81 para 1,10. O Chile, que figura em 5º, reduziu o índice de 1,87 para 1,83.
Cuba (2,2 contra 2,57 em 2003) é o país mais próximo de atingir as metas do milênio, e lidera a lista dos países que mais fizeram progresso.
Se atingir uma mortalidade infantil de quatro crianças com menos de cinco anos para cada mil nascidas vivas (atualmente esse número é de sete, contra 13 em 1990), o país terá alcançado os objetivos da ONU em todos os quesitos, antes do prazo estipulado.
O grande problema continua sendo a África subsaariana: 25 de 36 países com problemas considerados “extremamente alarmantes” – indicadores acima de 30 – estão nesta área.
Apenas seis de 42 países (Djibuti, Moçambique, Congo, Gana, Mauritânia e Malauí) foram considerados “a caminho” de cumprir as metas do milênio.
“A pobreza é a principal causa da fome e da desnutrição: os pobres não podem comprar comida suficiente nem prover a si mesmos uma dieta balanceada. Produtores agrícolas pobres não estão em posição de produzir comida em quantidade e qualidade suficientes para subsistência”, diz o relatório.
O documento estima que o mundo tinha 854 milhões de pessoas passando fome em 2004. No relatório do ano passado, a estimativa era de 815 milhões de famintos em 2003.
BBC Brasil
Rizzolo: Pequena Reflexão sobre a fome: O combate à fome e a miséria no Brasil estão diretamente vinculados às políticas públicas de transferência de renda e de geração de emprego. Só podemos conceber a eficácia dos programas de transferência de renda como a Bolsa Família, se tivermos arrecadação; é claro que aqueles que lucram, e que gostam de não pagar impostos, detestam a modalidade de imposto chamado CPMF, todavia, o Poder Público, não pode “fabricar dinheiro” e não há como, de uma hora para outra, se desfazer dos recursos da CPMF. Num país como o Brasil, onde de acordo com o Atlas da Exclusão Social – os ricos no Brasil (Cortez, 2004) apenas cinco mil famílias controlam 45% de toda a riqueza, virar as costas para 47 milhões de pessoas que vivem na miséria e que dependem desses programas é no mínimo amoral. Os 10% mais ricos da população impõem historicamente, a ditadura da concentração, pois chegam a responder por quase 75% de toda a riqueza nacional. Enquanto os 90% mais pobres ficam com apenas 25%. Esse quadro de perversão distributiva se agrava quando constatamos que quatro cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, e Belo Horizonte) concentram quase 80% de todas as famílias ricas do país.
Muitas são as causas da desigualdade no Brasil, o que não é algo recente, pelo contrário, esse modelo vem sobrevivendo a todas as mudanças históricas, e sobrevivendo também à sucessão dos distintos ciclos econômicos. A melhora na posição do Brasil no “ranking da fome” é conseqüência muito mais da insistência de setores progressistas do que da compreensão das elites, que no seu reacionarismo concentrando o poder econômico, inviabilizam a concretização de reformas em um ambiente democrático; é claro que na ausência de revolução e de reformas, geralmente obstadas pelo conservadorismo, as políticas públicas não prosperam. É exatamente nesse esteio, que se faz a imperiosa necessidade de arrecadação em face ao lucro das empresas; o processo de tributação é importante e necessário ao desenvolvimento do povo brasileiro na erradicação da miséria que sempre assolou a maior parte da população. Acho que já deu pra entender através desta perfunctória reflexão, não é ? Só a ganância explicaria, e desculpe e expressão, que ” pessoas dotadas de verdadeiras taras” ainda persistam na falta de compreensão, opondo resistências ao enfrentamento da desigual repartição da renda no nosso pobre Brasil.