Num momento em que Lula, num rompante neoliberal privatiza rodovias federais, dando margem à direita de sentir o “vento da satisfação” na reafirmação de que aquilo tudo que fora condenável no discurso do PT tornar-se absorvível pela pretensa esquerda petista. Os bancos lucram como nunca, num Brasil onde as taxas de juros cortejam capitais especuladores num vendaval de entrada de dólares, fazendo com que as nossas exportações despenquem, nada mais justo do que a esquerda admitir que a sustentação argumentativa de que o governo Lula é “neodesenvolvimentista” ou ” social- desenvolvimentista” foi um sonho que nem sequer se concretizou.
A característica neodesenvolvimentista seria um passo à frente ao desenvolvimentismo, uma versão mal rascunhada do socialismo. O neodesenvolvimentismo, estado embrionário do socialismo, tentou se “amoldurar’ no governo Lula com as implantações dos programas sociais e nas transfências de renda, contudo, ao que parece, na violenta internacionalização da economia, no pouco apoio às questões como indústria nacional, nos privilégios tributários às transnacionais, nas privatizações, no descaso com a Amazônia, parece surgir as contradições. O próprio Comandante do Comando Militar da Amazônia, General de Exército Heleno, afirmou que” o principal problema na região amazônica atualmente é o “vazio de poder”, observando que no lugar da presença do Estado estão as ONGS, nacionais e internacionais, o governo petista, na verdade, esta se transformando num clone do governo do FHC, que tanto condenou, frustando dessa forma os 58 milhões de eleitores.
Ainda nessa questão da Amazônia, a situação me parece ainda mais complexa quando, com muita propriedade, se referiu o Comandante da Amazônia, fazendo uso de uma frase do atual prêmio Nobel da Paz, Al Gore, dita em 1989 que ao meu ver condensa o pensamento daqueles que querem lançar mão sobre o nosso território: “ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós”.
Ora, isso tudo nos projeta a uma reflexão até que ponto o governo Lula, à parte dos programas de impacto que hoje são essenciais como PAC, Bolsa Família e outros, e os avanços sociais que não há como não reconhecer, não se aproxima das pontuações neoliberais de FHC tão amaldiçoadas na sua campanha, bem como no início de seu governo. Na medida em que o tempo passa, os ventos neoliberais tão rechaçados, voltam com uma brisa “socialista” ou uma “roupagem de esquerda”, mas que na verdade, ao meu ver, tampouco neodesenvolvimentista poderia se caracterizar.
Ao mesmo tempo, um forte candidato chamado Serra, que lidera as pesquisas para presidente, parece se distanciar de forma sabia, e se souber capitalizar a patente aproximação ideológica petista ao seu discurso, oferecendo uma proposta mais à esquerda, aglutinando uma polarização ideológica que com certeza nunca deixou de existir no âmago de seus ideais, conseguirá salvar e ao mesmo tempo drenar correntes progressistas desse país, não vou dizer ao PSDB, até por que ao meu ver PSDB é uma coisa, e Serra é outra, mas diria, ao seu lado, para que o Brasil pudesse alem de ter “discursos socialistas de palanque” ter uma verdadeira política de cunho social, no sentido de avançar, expurgando grande parte daqueles que em época de eleição são exorcizados, excomungados, mas que surgem docemente durante a caminhada da governabilidade como “excelentes opções”, talvez como “já comprovadas em governos anteriores”.
Fernando Rizzolo