Ata do Copom expõe boicote ao crescimento econômico do país

“Na hora em que a capacidade instalada está atingindo o seu nível mais superior, significa que urgentemente nós precisamos convencer as empresas brasileiras a fazerem mais investimentos”, afirma o presidente Lula

Na ata do Copom em que justifica a manutenção da Selic em 11,25% ao ano, o Banco Central tece algumas considerações que são contraditórias com a disposição do presidente Lula em conduzir o país a um crescimento duradouro. Todas elas convergem para a análise de que o “aumento do nível de utilização da capacidade instalada” reflete “a aceleração da atividade econômica”. Daí que “o ritmo de expansão da demanda doméstica”, diz a ata do Meirelles, “continua podendo colocar riscos não desprezíveis para a dinâmica inflacionária”. Logo, na ótica do BC, a única solução é parar de reduzir os juros.

Para isso se escorou no fato de a utilização da capacidade instalada na indústria de transformação ter alcançado o patamar de 83,6% em agosto, o maior já calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ante essa situação, duas opções: a tomada pelo BC, de parar o processo de redução de juros, que ocorria mesmo que a conta-gotas, com o objetivo de segurar a produção, isto é, de paralisar o esforço nacional pelo crescimento. A outra alternativa, que joga o país para frente, foi apontada pelo presidente da República, na segunda-feira, em Salvador, quando da inauguração de uma unidade do Cimatec/Senai.

“Este país só será construído se nós tivermos algumas coisas em mente: é preciso consolidar definitivamente a democracia, que a gente continue baixando as taxas de juros, que a gente tenha cada vez mais linhas de crédito para financiamento e que esse crédito esteja disponibilizado em menos tempo”, sublinhou Lula.

O presidente afirmou que “na hora em que a capacidade instalada está atingindo o seu nível mais superior, significa que urgentemente nós precisamos convencer as empresas brasileiras a fazerem mais investimentos, porque a etapa de uma empresa fazer um novo investimento é o seguinte: primeiro a economia começa a crescer, o empresário começa a vender um pouco mais. Nesse momento, o empresário ainda não tem coragem de construir um galpão a mais, porque ele não sabe se vai ser duradouro. Então, o primeiro passo dele é contratar umas horas-extras, duas horas a mais por dia ou quem sabe trabalhar um sábado até meio-dia. Aí, se aquilo vai se consolidando, a economia continua crescendo e o empresário está vendo a sua demanda crescer cada vez mais, o que ele vai fazer? Ele vai abrir um terceiro turno. Se isso se consolida, aí sim vem uma nova planta, um novo projeto, novas máquinas”.

PAC

É exatamente disso que se trata: aumento de investimento, PIB em expansão, conforme vem sendo registrado pelo IBGE. Há quase um ano, imediatamente após o segundo turno Lula defendeu que o país precisava crescer no mínimo 5%. E foi implantado o PAC, essencial para fosse criado no país um ambiente de crescimento econômico.

O presidente Lula citou o exemplo do setor petrolífero. “Os fornecedores da Petrobrás estão demorando 470 dias para entregar as encomendas que antes entregavam em 270 dias. Por quê? Porque as empresas de petróleo estão crescendo muito no mundo, a demanda é muito grande, não há capacidade instalada para atender a demanda nem da Petrobrás e nem de outras empresas do mundo”. E apontou uma proposta para enfrentar o problema: “O BNDES estará à disposição para a gente construir linhas de financiamento, porque agora chegou a hora dessas empresas voltarem a crescer”.

Outro exemplo levantado por Lula foi o setor do cimento, em que “várias empresas que tinham desativado fornos inteiros, porque há 26 anos a indústria da construção civil não crescia”. Mas agora, disse Lula, há falta de cimento e “gente para colocar azulejo”. Assim, a atitude a ser tomada “é a de criar política de incentivo para que essas empresas possam voltar a produzir” e “até 2010 serão instaladas neste país mais 12 fábricas de produção de cimento, porque há muitos anos não se construía nenhuma”.

Para o BC o problema é a expansão da atividade econômica que provocou um aumento da utilização da capacidade instalada, que “ocorre a despeito do expressivo aumento do volume de investimentos”. E de onde advém o aumento da atividade produtiva? “Ao longo dos próximos meses, o crescimento do crédito e a expansão da massa salarial real devem continuar impulsionando a atividade econômica”, reconhece a ata do Copom. “A esses fatores de sustentação da demanda”, diz o BC, “devem ser acrescidos os efeitos da expansão das transferências governamentais e de outros impulsos fiscais esperados para os próximos meses deste ano e para 2008”. Entre outras transferências: Bolsa Família, desoneração da construção civil. Ou seja, tudo o que o BC considera como gasto do governo tem impulsionado crescimento. Como o BC não tem nenhum compromisso com isso, precisa ser contido, com a manutenção dos juros altos.

Mas a idéia, ao ser lançado o PAC, era exatamente essa: crescimento inicial de 5%. E para isso era preciso ampliar cada vez mais os investimentos, inclusive para superar o problema do aumento da utilização da capacidade instalada da indústria. No que diz respeito aos investimentos do Estado, previsto no PAC, já estão muito bem definidos. Porém, para consolidar os investimentos, faz-se necessário obviamente que a haja uma redução significativa da taxa básica de juros, ainda muito acima das taxas vigentes nos países com os mais expressivos índices de crescimento econômico.

VALDO ALBUQUERQUE
Hora do Povo

Rizzolo: Pequena reflexão: O silêncio da esquerda

Uma das características de servilismo do governo Lula é a retórica em relação as atitudes do Copom, ora, todos nós sabemos, até os mais conservadores, que o desenvolvimento do pais depende de uma redução da taxa de juros, taxa essa Selic que foi mantida em 11,25%, uma das maiores do planeta; os demais argumentos, como “receio da inflação”, “economia aquecida”, são meros argumentos que tentam justificar o injustificável, vez que o Brasil nem sequer foi atingido pela crise norte-americana; e o pior, o vemos nos EUA, após a crise, foi sim uma diminuição nos juros.

O Brasil precisa criar 4 milhões de empregos por ano, precisamos desenvolver nossa indústria, e ao mesmo tempo redirecionar os investimentos na produção, e não na especulação, haja vista os ganhos amorais dos especuladores internacionais e nacinais que à sombra da política perversa financeira que promove a estagnação da nossa economia, auferem ganhos absurdos. Muito alem da perversidade do incentivo à especulação, a política do BC, faz com que face aos juros estratosféricos, os gastos do governo aumentem com o pagamento de juros referentes a divida pública.

Fica patente que quem recebe essa transferência, não permeia essa renda em consumo ou aplica-a em produção, geralmente revertem os ganhos em mais compras de títulos; ao passo que recebe recursos de projetos de transferência de renda, como o Bolsa Família, geram mais consumo, mais produção, e mais emprego. Não é possível que o camarada que recebeu 58 milhões de votos, da população pobre brasileira, promove uma política econômica conservadora desse tipo, ameaça passar um “pito” no Presidente do Banco Central, apenas para impressionar os incautos, corteja os banqueiros que nadam em lucros, promove privatizações pirotécnicas, e ainda conta com a benevolência e a compreensão da esquerda. Que esquerda? Só pode ser uma piada, né?

Desenvolvimento e juro baixo dão vitória à Cristina

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Cristina conclama à unidade para seguir caminho da reconstrução

Vitória de Cristina correspondeu ao amplo apoio ao caminho de desenvolvimento soberano de Kirchner: juros próximos a zero, decisivos para reconstrução do país que fez PIB crescer em 51% e abriu mais de 3 milhões de postos de trabalho

A senadora Cristina Fernández de Kirchner venceu as eleições presidenciais da Argentina com 44,91% dos votos. A candidata da Frente para a Vitória, ampla coalizão formada pelos setores majoritários do peronismo e uma representativa parte do Partido Radical, se impôs no primeiro turno ultrapassando a votação que receberam juntos Elisa Carrió e Roberto Lavagna, segunda e terceiro colocados, com 22,95% e 16,89% respectivamente.

Em seu primeiro discurso proferido no palco montado no Hotel Intercontinental de Buenos Aires, logo depois de anunciados os dados da boca de urna, Cristina destacou que foi a vitória “com a maior diferença entre a primeira e a segunda força desde a chegada da democracia”, frisando que “isto, em lugar de nos outorgar privilégios, gera maiores responsabilidades e obrigações”.

Também convocou a “todos os argentinos e argentinas a reconstruir o tecido social e institucional ainda frágil no nosso país depois de anos de governos anti-pátria” e ressaltou o papel da união, da concertação plural que “nos permitiu construir este espaço superando velhas antino-mias”. Cristina assim se referiu à antiga rivalidade entre os partidos Peronista e Radical na Argentina. O vice-presidente eleito, Julio Cobos, da União Cívica Radical, era governador da província de Córdoba, a terceira em importância econômica do país. É a primeira vez que uma chapa de unidade entre as duas correntes políticas se forma para disputar a eleição presidencial. É também a primeira vez que na Argentina uma mulher se torna presidente pelo voto. Isabel Perón ocupou a Casa Rosada depois do falecimento de seu marido, Juan Domingo Perón, de quem era vice.

SOBERANIA

O inquestionável apoio da população argentina à continuidade do processo de desenvolvimento econômico e social do país tem sua base nas medidas soberanas aplicadas pelo atual governo encabeçado por Néstor Kirchner, assegurou a presidenta eleita em entrevista na televisão na segunda-feira. Com uma taxa de juros reais de 0,2% nos últimos 12 meses (de out/06 a set/07, descontada a inflação), uma taxa de câmbio que favorece a economia nacional (1 dólar = 3,15 pesos), o fim das privatizações, e um aumento da intervenção do Estado, durante os pouco mais de quatro anos do governo Kirchner se produziu um aumento simultâneo do emprego e do salário real só comparável com o ocorrido no segundo qüinqüênio da década de 1940. Esse período corresponde à primeira presidência do general Perón. Entre 2003 e 2007 foram abertos 3.100.000 novos postos de trabalho e o salário médio cresceu em 36%, em termos reais. São dados do informe de outubro sobre a Situação Trabalhista e Social na Argentina, elaborado pela Sociedade de Estudos Trabalhistas, SEL, que acrescenta que nos anos do governo Kirchner (de 25 de maio de 2003 até hoje), o Produto Interno Bruto, PIB, da Argentina cresceu 51%.

Após o colapso de 2001 com o modelo de privatizações sem controle, tipo de câmbio fixo e abertura para as importações de Carlos Menem e da frouxidão de Fernando de La Rúa, a Argentina viveu em 2002 a maior recessão econômica de sua história com uma queda de 10,7% de seu PIB e o desemprego chegando aos 21,5% da população ativa no mês de maio. Desde 2003, sob a presidência de Kirchner, o crescimento do PIB se manteve em cerca dos 9% ao ano.

“Nos últimos quatro anos e meio foram criados 3.100.000 empregos, e esse fato voltou a colocar os cidadãos no lugar em que devem estar. Pode parecer uma cifra econômica, mas quando um trabalhador desempregado volta a ter um emprego pode reorganizar sua vida, sua família, reconstrói sua auto-estima, e dá uma enorme contribuição à reconstrução de valores importantes deste país”, ressaltou Cristina na véspera da eleição.

INVESTIMENTOS

“Tentam fabricar uma ameaça de inflação que não existe. A inflação real é a que o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos, INDEC, divulgou, de 5,8% entre janeiro e setembro e 8,6% nos últimos 12 meses”, assegurou, considerando que a questão da inflação “deve nos ocupar e não nos preocupar. Devemos tratá-la no ponto certo. A Argentina necessita ainda de mais investimentos para evitar cair em receitas monetaristas”.

Referindo-se às propostas centrais para seu futuro governo, a presidente eleita valorizou o papel do Estado nacional “que deve prover de infra-estrutura em matéria econômica e social e ser um ativo defensor dos interesses do conjunto da população. Em 2003 pusemos em prática um plano que priorizou o desenvolvimento produtivo e garantiu os serviços que eram vistos como gastos desnecessários. Falavam que o Estado não prestava, mas agora todos sabemos que é central para que voltemos a ter progresso, justiça e igualdade”.

Cristina Kirchner assinalou que “a campanha eleitoral foi tranqüila, não houve apatia como tenta caracterizar a oposição e os meios de comunicação que se comportam como seus porta-vozes, com aquela velha ladainha de que o povo não sabe defender seus interesses. Houve sim certeza de que o caminho a ser seguido para que a Argentina se levante por completo, para garantir o lugar de cada um de nós, é o que foi iniciado pelo governo de Néstor Kirchner”.

Finalmente a candidata eleita disse ter “a maior honra que pode ser outorgada a um argentino”, mas explicou que se sentia com uma dupla responsabilidade, “não só pelo espaço político que represento, mas também porque tenho uma imensa responsabilidade pela minha condição de mulher”. “Quero convocar as mulheres; operárias, estudantes, empresárias e as que ficaram sozinhas à frente do lar”, disse Cristina.

SUSANA SANTOS
Hora do Povo

Rizzolo:A eleição de domingo foi o reconhecimento de uma gestão que em cinco anos somou 49% de crescimento do PIB, porque bateu de frente com os dogmas neoliberais. Como efeito colateral, a inflação ronda as proximidades dos dois dígitos, mas ficou para trás a grande crise de 1999-2001.

Na verdade, a oposição reacionária tentou de tudo, fabricou uma ameaça da inflação, questionou-se como arma eleitoreira os índices de preços, mas o que desejavam na verdade, era impedir o crescimento da economia da Argentina, e a derrota de Cristina. De tudo fizeram, até utilizaram os preços dos “tomates” para legitimar seus argumentos, sob a batuta da mídia golpista que claramente apoiava os opositores da candidata. À direita Argentina, sempre viveu às custas da manipulação da mídia, que sempre foi golpista, uma direita que sempre passou por fora dos sistemas que permeiam a democracia, na verdade, não estão acostumados com uma democracia participativa, e como aqui, apregoam uma democracia “relativa”, aquela em que eles, através do “Partida da Mídia” conseguem sobreviver e oxigenar seus projetos neoliberais.

Com o entreguismo, surgiu a crise política e a destruição da economia Argentina no final de 2001, e é claro, o ressurgimento de um terreno fértil para que uma nova política voltada para os interesses nacionais e da população pobre fosse priorizada, e que não estivesse pautada apenas nos interesses de alguns poucos. Não há duvida que o apoio da população Argentina à continuidade do processo de desenvolvimento econômico e social do país tem sua base nas medidas soberanas aplicadas pelo atual governo encabeçado por Néstor Kirchner, que é exatamente o que falta aqui no Brasil, medidas soberanas, que visem proteger a indústria e o empreendedor nacional. E outra, Cristina Kirchner, de forma velada, já mandou um recado ao Brasil, no sentido de integrarmos a América Latina, e deixarmos essa ” babozeira” de alguns políticos como Sir Sarney de sermos contra a inclusão da Venezuela no Mercosul.

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