Petróleo para 2012 e Gás para hoje

A descoberta do campo de Tupi, na região do que se chama de pré-sal, é de suma importância ao Brasil. Não resta dúvida de que a descoberta colocara o Brasil como país exportador de petróleo; contudo, teremos esse petróleo à disposição somente em 2012, alem disso, como se trata de uma tecnologia de extração cara, o custo do processamento será ainda analisado. O que não podemos deixar de observar, é que muito embora a noticia seja boa, estamos vivendo já um problema de energia em curto prazo; o fato de que em períodos de seca as termoelétricas são obrigatoriamente acionadas, gera uma demanda de gás excessiva, e hoje, o gás é nosso problema. O que descobrimos no Campo de Tupi, é petróleo leve, de boa qualidade, mas não é gás.

Com efeito, a política do bom senso prevaleceu na diplomacia brasileira, quando da decisão da nacionalização dos hidrocarbonetos, em maio de 2006, por parte de Evo Morales. Os profetas da discórdia na época cobravam de Lula uma postura ” agressiva ” e “forte”, em relação à Bolívia. Aproveitavam sua ira neoliberal, para que a intriga fosse instalada com o puro intuito para que o ganho secundário ideológico prevalecesse. Foi com o costumeiro acerto que o governo federal, ponderou e não deu ouvidos aos “precipitados”, e hoje, passado mais de um ano, os investimentos da Petrobras voltam ao país de Morales que em curto prazo poderá, face ao bom senso e da cooperação mútua, minimizar essa crise energética que hoje vivemos no país. Não resta dúvida, que a falta de visão, e as disputas internas nos Ministérios, procrastinaram decisões que já deveriam estar em pauta há um bom tempo, até porque, não podemos falar em desenvolvimento sem energia, seja ela qual for. O resto são projeções, ufanismos, e conjecturas. A descoberta veio ao encontro de um problema mais urgente, abafar a crise de energia que tem sim de fundo político e técnico na falta de planejamento por parte do governo.

Fernando Rizzolo

Petrobras anuncia a maior reserva de petróleo e gás do país

capa_941.jpg

A Petrobras é operadora da área com 65% do capital do campo onde foi feita a descoberta, em parceria com a britânica BG Group, que detém 25%, e a portuguesa Petrogal/Galp, com 10%. O óleo encontrado no local tem 28 graus API, considerado de melhor qualidade comercial do que a média do petróleo encontrado no Brasil. Quanto mais próximo de 50 graus API, mais leve é o óleo e portanto mais fácil de refinar.

Profundidade chega a 6 mil metros

”É uma descoberta gigante, sem sombra de dúvidas. É aproximadamente o dobro do tamanho de Roncador, a maior descoberta de petróleo brasileira até então”, afirmou a O Globo o consultor Caio Carvalhão, do Cambridge Energy Research Association.
A descoberta tende a elevar o Brasil para o 12º lugar no ranking dos países com maiores reservas conhecidas de petróleo e gás (veja o gráfico). Atualmente na 16ª colocação, ele superaria o México, Argélia, Catar e China.

O anúncio da descoberta levou a uma corrida para as ações da Petrobras na Bolsa de Valores de São Paulo. Durante a manhã desta quinta-feira o valor dos papéis da estatal subiu mais de 10%.

A Petrobras realizou, também, uma avaliação regional do potencial petrolífero do pré-sal que se estende pelas bacias do Sul e Sudeste brasileiros. Os volumes recuperáveis estimados de óleo e gás para os reservatórios do pré-sal, se confirmados, elevarão significativamente a quantidade conhecida de óleo em bacias brasileiras.

Segundo o comunicado enviado à imprensa pela estatal, ”pré-sal são rochas reservatórios que se encontram abaixo de uma extensa camada de sal, que abrange o litoral do Estado do Espírito Santo até Santa Catarina, ao longo de mais de 800 km de extensão por até 200 km de largura, em lâmina d’água que varia de 1.500m a 3.000m e soterramento entre 3.000 e 4.000 metros”. A grande profundidade exigirá fortes investimentos para explorar as reservas.

Ainda falta petróleo leve

Os poços que atingiram o pré-sal e que foram testados pela Petrobras mostram, até agora, alta produtividade de petróleo leve e de gás natural. Esses poços se localizam nas bacias do Espírito Santo, de Campos e de Santos (a Bacia de Santos se estende de Cabo Frio ao alto de Florianópolis (SC).

A Petrobras produz atualmente cerca de 1,8 milhão de barris de petróleo por dia. quantidade que satisfaz a demanda brasileira. A estatal, no entanto, ainda precisa importar petróleo leve, pois o óleo extraído em território brasileiro não tem características ideais para o refino.

Da redação, com agências
Site do PC do B

Rizzolo: A informação do potencial da reserva de petróleo recém descoberta na Bacia de Santos eleva o Brasil para o 12º lugar no ranking dos países com maiores reservas conhecidas de petróleo e gás. Atualmente na 16ª colocação, ele superaria o México, Argélia, Catar e China. Não há duvida que é uma excelente notícia e que vem corroborar com o fato de que uma empresa Estatal bem administrada como a Petrobrás, dignifica e traz desenvolvimento à nação, ao contrário do que afirmam os privatistas, que tem por objetivo sucatear os bens públicos para depois açambarca-los.

“Não vai faltar nem gás nem energia”

Lula: “vamos garantir toda a energia que for necessária”

Presidente repeliu aqueles que alardeiam uma suposta crise energética e disse que “estamos investindo muito na produção de energia”

O presidente Lula repeliu na quarta-feira, em discurso na cerimônia de abertura do 5º Encontro Nacional do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural – Prominp, as previsões dos apologistas da crise no setor energético. “Este país hoje está sólido e não vai ter crise energética nenhuma”. “As indústrias podem crescer que nós garantimos toda a energia que for necessária”, frisou.

Sobre a “iminência da suposta crise”, alardeada diariamente por parte da mídia, ávida por atingir seu governo, Lula respondeu que “não falta, na verdade, é gente para botar defeito, o que não falta é gente para dizer: ‘não vai dar certo’”. “Mas podem ficar tranquilos, não vai faltar gás e nem energia neste país”, reafirmou.

GÁS

Sobre o fornecimento de gás para as distribuidoras do Rio de Janeiro e São Paulo, reduzidas na semana passada, Lula ironizou os alarmistas de plantão: “Aconteceu um probleminha de gás no Rio de Janeiro: ‘Ah, acabou a energia do mundo’”. “Não acabou, não. Este país já tem energia garantida até 2012”. “Vamos descobrir os gases que precisamos descobrir ou vamos comprar o gás que precisar comprar”, enfatizou.

Lula falou sobre a viagem à Bolívia do presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, para discutir a ampliação do fornecimento de gás para o Brasil. Ele mostrou também outras iniciativas do governo para garantir a energia que será “mais do que suficiente para o desenvolvimento do país”. “Estamos investindo muito na produção de energia. Estamos construindo Madeira. Estamos discutindo o projeto do gasoduto com a Venezuela”. “Estamos fazendo aquilo que precisa ser feito para garantir que o Brasil tenha tranqüilidade energética num futuro, eu diria, bastante longo”.

Reforçando as palavras do presidente da República, Sérgio Gabrielli, de volta da viagem à Bolívia onde acertou com as autoridades locais a ampliação dos investimentos na produção de gás, disse que a Petrobrás “não deixou e não vai vai deixar de fornecer o gás necessário para o país”. “A Petrobrás em nenhum momento deixou de abastecer as distribuidoras nos níveis contratuais”, declarou (ver matéria ampliada na página 2). A estatal vinha fornecendo gás para as distribuidoras numa quantidade acima do contratado. No momento em que foi necessário ampliar a produção das usinas termoelétricas, a Petrobrás reduziu o fornecimento, mas sempre mantendo uma quantidade de gás acima do contratado com as distribuidoras.

O presidente Lula convocou os empresários a ampliarem os seus investimentos e criticou os que só criticam sem “nada contribuir” para o desenvolvimento. “Parece que introjetaram na nossa cabeça uma doutrina de que é pecado confiarmos em nós, acreditarmos em nós”, destacou. “Os descrentes pareciam ser maioria no Brasil, porque houve um período no Brasil que, não sei porque cargas d’água, desde o final dos anos 80 começou um processo de se desacreditar no Brasil”. “Eu não acredito que seja possível, nenhum clube de futebol, nenhuma associação de bairro e muito menos um país ir para a frente se as pessoas daquele país não acreditam em si próprias”, disse.

“Ainda em 2002, quando falávamos da necessidade de revitalizar as indústrias brasileiras, sobretudo a indústria naval e a indústria de petróleo, com a construção de plataformas aqui, nós fomos achincalhados”, lembrou. “Hoje eu estou vendo a economia brasileira consolidada, a indústria brasileira se consolidando, se fortalecendo. É por isso que nós estamos hoje, eu pelo menos, com muita alegria, alguns com tristeza, porque eles torcem para que as coisas dêem errado”, ressaltou.

Ele aproveitou para rebater os que defendem que a Petrobrás deva pensar apenas nos lucros. “Se imaginarmos apenas o lucro entre a Petrobrás e outra empresa de petróleo do porte da Petrobrás, que pode comprar uma plataforma, em algum país, algumas centenas de dólares mais barata que a que nós fazemos aqui, se pensar assim, estaremos matematicamente pensando certo e politicamente pensando equivocadamente”, disse. “Temos que ver que a recuperação da indústria brasileira, para a indústria do petróleo, significa uma distribuição de riqueza a que a gente estava desacostumado, significa geração de milhares de empregos”, frisou.

“A Petrobrás”, disse Lula, “já poderia ter se transformado numa das maiores ou na maior empresa de petróleo do mundo. Ela não se transformou e não aproveitou outras décadas porque os seus dirigentes possivelmente pensaram pequeno”.

“A Petrobrás agora está descobrindo que ela pode competir, ela está descobrindo que os trabalhadores brasileiros podem produzir, até porque ninguém melhor do que a Petrobrás pode descobrir isso pela qualidade de excelência que é a sua mão-de-obra”.

DESCRENÇA

Continuando a crítica aos propagandistas do caos e do apagão, Lula disse que “não há espaço neste país para descrença”. “O Brasil vai muito bem. O Brasil não estaria nessa situação se não fosse bem gerenciado”, argumentou o presidente. “Este país não exportava porque asfixiava o mercado interno. Não crescia o mercado interno porque asfixiava as exportações. Hoje, tudo isso nós desmentimos. Pode crescer o mercado interno e pode crescer o mercado externo”, avaliou.

“Imagine”, disse Lula, “algum tempo atrás, se tivesse havido a crise imobiliária que teve nos Estados Unidos, quantas vezes o ministro da Fazenda e o ministro do Planejamento já teriam viajado para Nova Iorque ou para Washington para pedir dinheiro para o FMI?”.

Hora do Povo

Rizzolo: Uma das características da diplomacia brasileira no atual governo foi, sem dúvida, não ter dado “ouvidos” aqueles que queriam “medidas duras” contra Evo Morales quando da nacionalização dos hidrocarbonetos, em maio de 2006. Quantas bravatas foram proferidas, por aqueles que na ânsia de amaldiçoar as medidas protecionistas e justas em nome da soberania do povo boliviano, apregoavam que Lula deveria se indispor e ser “duro”. Ora, todos sabemos que não há como desrespeitar decisões de países vizinhos, e a via diplomática é a melhor opção. Não resta dúvida, que a crise energética, esta sendo exagerada, e justamente pela boa diplomacia, é que estamos reativando os investimentos na Bolívia, no sentido de nos precavermos em termo de energia no futuro. O que mais falta, na elite brasileira, é inteligência política emocional, o resto é besteira.

Publicado em Política. Tags: . Leave a Comment »

Paulo Nogueira Batista Jr: “O esperado nunca acontece

Estamos entrando provavelmente em uma nova fase da economia internacional. Pela primeira vez, a China e a Índia são os países que mais contribuem para o crescimento mundial, segundo estimativas do FMI. A participação dos países em desenvolvimento no PIB global vem aumentando de maneira contínua. Países como China, Rússia, Brasil e Índia estão adquirindo uma importância econômica e política gradualmente maior.

Nem sempre os países desenvolvidos encaram essas mudanças com tranqüilidade. As velhas potências econômicas, embora ainda dominantes, estão em processo de declínio relativo aparentemente inexorável. O seu comportamento é cada vez mais defensivo e protecionista.

Não querem abrir espaço para os que vêm de baixo.

Os países do G7 (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá) ainda respondem por 40% do PIB mundial, mas sua participação tende a diminuir. São países economicamente maduros, basicamente acomodados e satisfeitos, com populações estacionárias ou cadentes. O crescimento demográfico que ainda conseguem registrar resulta, freqüentemente, dos fluxos de imigrantes legais ou ilegais provenientes da América Latina, da África ou da Ásia. Atualmente, os países do G7 abrigam apenas 11% da população do planeta. Os países em desenvolvimento, 85%.

Na crise financeira recente, as economias emergentes desempenharam um papel estabilizador, compensando os efeitos recessivos oriundos dos EUA e da Europa. Tumulto financeiro no Norte e -quem diria?- relativa calma no Sul.

Como dizia Keynes, “the expected never happens; it is the unexpected always” (o esperado nunca acontece; é o inesperado sempre). Quem poderia prever que uma grave crise financeira nos EUA e na Europa teria, pelo menos em uma fase inicial, repercussões tão modestas na periferia do sistema internacional?

Enquanto as velhas potências se debatem com surpreendente fragilidade financeira, países como o Brasil estão assoberbados por influxos excessivos de capital que, quando não são neutralizados ou contidos, contribuem para a valorização da moeda nacional, solapando a competitividade externa.

O que está por trás dessa relativa tranqüilidade dos emergentes é o grande progresso que esses países fizeram em termos de redução das suas vulnerabilidades financeiras.

As contas públicas e os sistemas financeiros nacionais foram fortalecidos. Houve um notável ajustamento das contas externas. Em boa parte do mundo emergente, os balanços de pagamento tornaram-se superavitários e as reservas internacionais aumentaram de forma expressiva.

Com algum atraso, o Brasil acompanhou essa onda e está hoje em posição razoavelmente confortável. Mas atenção: não há muito espaço para complacência. A situação internacional pode se complicar. Se a economia americana entrar em recessão, se a crise financeira no Norte se agravar, é pouco provável que países como o Brasil saiam ilesos.

Por isso, é essencial deter a valorização cambial, que vem produzindo efeitos cada vez mais claros nos setores de “tradeables” e nas contas externas brasileiras. A valorização não é inevitável. Uma combinação de abrandamento da política monetária, com intervenções cambiais esterilizadas e controles sobre a entrada de capitais, pode ser suficiente para enfrentar o problema. Se ele não for enfrentado, estaremos colocando em risco o dinamismo da economia e ressuscitando o problema da vulnerabilidade externa.

Paulo Nogueira Batista Jr é economia e diretor-executivo do FMI

Texto publicado na edição desta quinta-feira (8) da Folha de S.Paulo

Rizzolo: As economias emergentes estão mais estruturadas, haja vista a crise americana do “subprime” que pouco afetou países como o Brasil. O momento de desenvolvimento dos emergentes, precisa sim ser acompanhado de uma política de fortalecimento da economia interna, só podemos conceber uma estrutura econômica forte se temos um mercado interno absorvente, e para isso é necessário desenvolvimento promovido por uma maior queda de juros. O papel estabilizador das economias emergentes deve ser aproveitado a favor do desenvolvimento industrial nacional dessas economias, no Brasil, a política de fortalecimento da indústria nacional é pouco prestigiada, as exportações são açoitadas pelo real valorizado, e o pequeno e médio empresário é que o sente mais a carga tributária.

Não podemos continuar promovendo a entrada de dólares que não são revertidos na produção, no desenvolvimento, e na geração de empregos, e sim na pura especulação por agiotas internacionais. O desejo e a determinação de fazer o Brasil crescer é prejudicado pelas políticas econômicas daqueles que de patriotismo nada tem, e que apenas visam procrastinar as virtudes do lucro fácil.

Publicado em Política. Tags: . Leave a Comment »