A simulação é tema conhecido e reconhecido pela medicina em geral mas é tratada de modo discreto e apenas na Medicina Legal no seu capítulo de Infortunística (acidentes e doenças profissionais). O conceito de ganho secundário pode ser caracterizado por vantagens práticas que podem ser alcançadas usando-se de um sintoma para manipular e/ou influenciar outras pessoas, termo usado pelos médicos e psiquiatras onde bem caracteriza a intenção de determinada pessoa em utilizar um sintoma com um fim distinto, com uma finalidade a seu favor.
Mas poderíamos perguntar o que tem a ver o conceito tão amplamente usado nos corredores da psicanálise coma crise energética brasileira? Numa análise perfunctória, podemos observar os atores que apregoam a crise energética, imbuídos de uma sintomatologia típica do ganho secundário.
De nada restou provado ainda, se estamos ou não, vivendo uma crise energética no país, ou se apenas existem pontuações isoladas como a crise de gás no Rio de Janeiro. Nos amplos debates que ocorrem entre os especialistas, podemos observar que por trás da análise da capacidade produtiva da reserva da Bacia de Santos, existem as afirmativas por parte de alguns especialistas de que a produção estimada não é bem o que os técnicos da Petrobras dizem; essas declarações sempre vêem acompanhadas de uma fundamentação mercantilista, onde no bojo da defesa das idéias investimento na prospecção, estão enfim os interesses das transnacionais do petróleo.
Não é de se esperar que o poderoso lobby das empresas de prospecção não tenham desenvolvido uma nova estratégia de mobilização da opinião pública nos moldes técnico argumentativo, com a pura intenção de descaracterizar as pontuações do governo em relação a retirar os 41 blocos da Nona Rodada de Licitação da Agência Nacional de Petróleo (ANP) , o que foi decididido em bom termo, ao determinar à ANP que exclua da Nona Rodada de Licitações os blocos situados nas bacias do Espírito Santo, de Campos e de Santos, relacionadas às possíveis acumulações em reservatórios do Pré-sal, e que promova estudos “no prazo mais curto possível”, para “as mudanças necessárias no marco legal que contemplem um novo paradigma de exploração e produção de petróleo e gás natural”.
Não resta a menor dúvida que essa atitude patriótica, face ao potencial da reserva Tupi, deixou as transnacionais enfurecidas, e hoje, a rede lobista joga uma argumentação pseudo técnica para a sociedade brasileira, de que faltará, capacidade financeira e tecnológica para suprir a ” crise energética de gás, em especial”, sendo então imprescindível a revisão dessa posição brasileira.
Se nos aprofundarmos mais ainda, podemos verificar que, dentre as fundamentações apocalípticas, estão de forma velada, a intenção de se valer do ” perigo da política de Evo Morales “. Os lobistas da prospecção, incitam a população a acreditar que a Bolívia não é confiável, e que a única opção energética baseada em gás deve ser explorada no Brasil, e lógico, no esteio argumentativo, como não temos possibilidade de fazermos sozinhos, não podem eles ficarem ” de fora”.
Desta forma, a crise energética, que ainda não se provou de forma clara se existe ou não, toma contornos políticos de interesses internacionais que convergem com o fomento a indisposição do Brasil com seus vizinhos, principalmente a Bolívia e a Venezuela, para que, num ganho secundário, possamos abrir e desconsiderar aspectos patrióticos pautados na questão do petróleo e do gás.
A Petrobras como empresa Estatal e a União como detentora do monopólio, jamais poderão se deixar influenciar por ” técnicos” que subliminarmente em suas opiniões técnicas de cunho político, vivem uma crise psicanalítica financeira de ganho secundário, em favor daqueles que ainda persistem em explorar o povo brasileiro. Como dizia Monteiro Lobato, o Petróleo é ” ainda ” nosso ”
Fernando Rizzolo