Vale privatizada anuncia interesse em açambarcar reserva nacional de urânio

Visando açambarcar a sexta maior reserva de urânio do mundo, a holandesa Bunge e a privatizada Vale do Rio Doce estão em campanha aberta pelo fim do monopólio estatal do urânio, inclusive com lobby no Congresso. Com apenas 30% do território prospectado, as reservas brasileiras somam 309 mil toneladas.

Em solenidade dia 6, em São José dos Campos (SP), o presidente da Vale, Roger Agnelli, informou que além de explorar o minério a empresa pretende construir usinas nucleares. “A energia nuclear é uma realidade, é uma tendência inevitável”, frisou Agnelli, acrescentando que “o Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do planeta e nosso interesse é estabelecer parceria com o governo para pesquisar o potencial do país”. Em 2008, a Vale irá destinar US$ 470 milhões em geração própria de energia.

Bunge, Vale e Galvani encaminharam à estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) proposta para explorar em parceria a mina de Santa Quitéria, no Ceará, rica em urânio e fosfato, este último usado na produção de fertilizantes.

Curiosamente, o convite partiu da INB, que investirá US$ 20 milhões e os parceiros privados, US$ 110 milhões, na construção de uma unidade de beneficiamento e tratamento de urânio lavrado. A exploração do fosfato ficará com as empresas privadas.

Sobre a importância estratégica do urânio, citamos apenas uma avaliação do presidente da Eletronuclear, almirante Othon Pinheiro da Silva: “Dominamos todo o ciclo do urânio, assim como o do petróleo. Do ponto de vista da energia nuclear, apenas Estados Unidos e Rússia têm situação semelhante: dominam o ciclo atômico e possuem reservas para atender à própria demanda. Este é um diferencial e uma grande vantagem que o país não pode ignorar”. Segundo ele, além de Angra 1, 2 e 3, “o Brasil deverá implementar de quatro a oito novas plantas nucleares nas próximas duas décadas, o que agregará entre quatro a oito mil megawatts de energia ao sistema entre 2016 a 2030”.

Hora do Povo

Rizzolo: Isso é um absurdo, o maior perigo de uma abertura da exploração e comercialização do urânio para a iniciativa privada é a questão da produção de bombas nucleares, isso é um patrimônio do Estado brasileiro, por de trás dessa intenção privatista existe o interesse militar desse urânio. Um bem estratégico nacional não pode ser dado simplesmente à iniciativa privada, o urânio, hoje, é responsável por 17% de toda energia produzida no mundo. Por ser considerado uma fonte de energia “limpa” e que não polui o ar e nem causa grandes inundações (como as hidrelétricas), o minério é visto como um potencial a ser explorado. Além disso, é mais rentável que o carvão ou o petróleo (1 kg equivale a 10 toneladas de petróleo e 20 toneladas de carvão). Dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) mostram que existem 30 reatores nucleares sendo construídos no mundo, outros 74 planejados e mais 162 propostos.

O Brasil possui a sexta maior reserva mundial de urânio, o que permite o suprimento das necessidades domésticas em longo prazo. Estudos de prospecção e pesquisas geológicas foram realizados em apenas 25% do território nacional. Hoje, o minério extraído em território nacional pelas Indústrias Nucleares Brasileira (INB) abastece as usinas de Angra I e II. Só a jazida de Caetité resolve essa demanda. Se Angra III for construída, a produção de urânio deverá ser maior, com a exploração da jazida de Santa Quitéria (CE). A questão é séria e o lobby já existe, não podemos deixar que privateiros internacionais oportunistas açambarquem nossas reservas nacionais de urânio. Atenção plena, hein!

Publicado em Política. Tags: . Leave a Comment »

Maria Pili: “Baduel, segue o teu caminho que eu fico com o povo”

Jornalista venezuelana, no artigo “O que não te perdôo”, desvenda motivações para repentina ida do ex-ministro da Defesa para apoiar a campanha da oligarquia contra a Reforma Constitucional.

A jornalista venezuelana, Mary Pili Hernández, põe a nu, a essência da atitude do general Raúl Baduel de, após anos integrante do governo dirigido por Chávez, abraçar agora a campanha do “Não” sem ter se manifestado em nenhum momento dos intensos debates que mobilizaram todos os setores do povo venezuelano. Se isso se constitui traição ou não, diz Mary ao general: “deixo à tua consciência”.

A seguir o artigo de Mary Pili, que já ocupou os cargos de presidente do canal estatal Venezuelana de Televisão, VTV, no início do mandato do presidente Chávez; vice-ministra de Relações Exteriores, responsável pela América do Norte, durante a gestão do ministro Ali Rodríguez, é membro do Comitê de Organização do Partido Socialista Unido da Venezuela, PSUV e escreve em vários jornais venezuelanos, inclusive no El Nacional, onde tem uma coluna semanal. Este artigo foi originalmente publicado no El Nacional em 08/11/07.

O que não te perdôo

“Amigo Raúl:

Não vou te chamar de traidor, isso deixo à tua consciência. Tens o direito de pensar o que quiseres e o dizer aos quatro ventos, porque vivemos num país democrático. Não critico que não gostes da Reforma, nem que vás votar “Não”, nem que tenhas feito uma coletiva de imprensa para contá-lo a todo mundo. Mas há três coisas que não te perdôo e quero que as conheças, não para que mudes de parecer, mas para que reflitas sobre teus erros.

1. Não te perdôo que tenhas esperado o primeiro dia da campanha para dizer que não gostas da Reforma. Na Assembléia Nacional pediram direito à palavra José Vicente Rangel, que foi Ministro da Defesa como tu, e Aristóbulo Istúriz, que também foi Ministro, e expressaram seus pontos de vista. Também esteve Elea-zar Días Rangel, simplesmente um jornalista, mas inclusive estiveram Julio Borges, Henry Ramos Allup e outros mais, expondo o que não gostavam. Por que não fizestes isso? Por que esperaste? Qual era teu plano? Qualquer uma de tuas propostas poderia haver sido incluída, mas não permitiste essa possibilidade. Não haver dito o que não gostavas, no momento em que a Assembléia abriu as consultas, demonstra que tua intenção não é construtiva, já que não permite consertar erros, no caso de que estes realmente existam. E se tua crítica não é construtiva, logica-mente é desleal.

2. Não te perdôo que tenhas dito que, ao ser aprovada a Reforma, isto constituiria um golpe de Estado. Este argumento, por demais absurdo, demonstra que desprezas o povo, que pensas que nós, que vamos votar pelo sim (que sem dúvida seremos a maioria, como bem o sabes), somos autômatos ou manipulados, e que não sabemos o que fazemos.Irmão, esse discurso está bem para os dissociados, para aqueles que acreditam ser melhores que todo mundo, que têm mais direitos que os demais e que são mais inteligentes, cultos e preparados que o resto dos cidadãos. Mas nunca para alguém que ganhou o amor desse mesmo povo no 13 de abril. Mas, esse axioma estranho no qual o voto do povo constituiria um “golpe de Estado” (?) demonstra, também, que tens medo do povo. Um povo que sabe o que lhe convém, embora agora isso não te convenha.

3. Não te perdôo que tenhas feito um chamado a teus “companheiros de armas”, e que tenhas lhes insinuado que devem atuar, frente a isto que tu chamaste “golpe de Estado”. Se dizes que há um golpe de Estado e logo depois fazes um chamado a teus companheiros de armas, quando até apenas umas semanas eras Ministro de Defesa, quando passaste toda tua vida ganhando o respeito deles, quando tens três sóis [correspondente às estrelas de general no Brasil] no teu ombro, o que é que devo supor que estás lhes dizendo ? Sabes uma coisa?: Nem a ti, nem ao próprio Simón Bolívar ressuscitado permito que brinquem com a minha paz, nem com a paz dos meus filhos. E deixe-me te esclarecer que as duas primeiras coisas que disse não as perdôo como revolucionária, mas esta última não a perdôo como mãe. Porque a paz de meus filhos não é negociável.

Por último, vou me permitir te dar um conselho: toma cuidado com quem te reúnes e com quem te aconselhas. Depois do que fizeste, será muito fácil para ti conseguir um papel prota-gônico no reality show oposicionista. Porém, nunca acredites nesses amores sobrevindos. Lamentavelmente para ti, os amores sinceros deixaste para trás. Sigas esse caminho, se assim o preferes, que eu fico com o povo.

Maria Pili Hernandez

Rizzolo: O camarada Baduel é a essência do contraditório. O que fez Baduel de repente, não mais que de repente entender que ao ser aprovada a reforma constituirá esta num golpe de Estado, se até a pouco concordava com tudo? Com quem andou se reunindo Baruel ? Se teve oportunidade de demonstrar o que não concordava e não o fez, por que Baruel ? Entender que Baruel de uma hora para outra resolveu mudar o discurso, é o mesmo que acordar e se achar que é o Homem Aranha, e que pode sair por ai voando. Mas o camarada Baruel de louco nada tem, foi plantado pela oposição para ser o antídoto fabricado de última hora, para tumultuar o pleito, o melhor como diz Maria Pilli é Baduel seguir seu caminho servindo aos interesses internacionais, e não se opor ao caminho da democracia venezuelana.

Dizer o certo na hora certa

O mundo acompanha o desenrolar da política venezuelana, conceitos de democracia estão sendo exercitados através de instrumentos legítimos, que nós aqui também comtemplamos na nossa Carta Magna, que são o Plebiscito, o Refendo, e a Iniciativa Popular, mas que por razões ideológicas, ainda não foram regulamentados. Nas últimas semanas podemos inferir que as notícias e os posicionamentos em relação à Chavez e a democracia na Venezuela, estão se amenizando. Das declarações do presidente Lula, apoiando a democracia participativa, do apoio de líderes europeus, que enxergam de forma clara o amplo debate, e a participação popular nas questões políticas na Venezuela embasada na essência da democracia, na imprensa internacional e brasileira, onde se deu a grande descoberta do óbvio, que não só se deve obter informações distorcidas da imprensa republicana americana, mas sim exercitar o contraditório jornalístico, se valendo de outros veículos de informação.

Contudo, existe ainda, um reduto refratário; são os filhos da ditadura, os que vieram do antigo PDS, dos que não admitem a participação popular e não gostam do ” palpite do povo”. Esses, como jamais exercitaram a democracia, a confundem, embaralham os conceitos de forma maliciosa, dilaceram suas estruturas, restringem sua amplitude, para que num estelionato ideológico de fundo argumentativo, desqualifiquem a participação popular, subvertendo o espírito democrático como exercitassem uma manobra empresarial perversa, visando seus interesses, tentando assim perpetuar a representatividade manipulatória do que chamam de democracia, e que eu classifico como “democracia relativa da elite”.

Com muito bom senso, juristas como o Dr. Fábio Konder Comparato, apregoam a ampliação e o aprofundamento dos mecanismos de democracia direta e participativa, como já disse, há três deles, declarados no artigo 14 da Constituição: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. A iniciativa popular hoje existente é apenas legislativa, não a de emendas constitucionais; por isso, entre as propostas que estão sendo discutidas pelo conselho federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), está a sua ampliação também em relação às emendas constitucionais, o que vem de encontro ao desenvolvimento da participação do povo brasileiro nos desígnios do país

Não podemos de forma alguma, sob pena de ceifarmos a essência da democracia, não entender, ou fingirmos que não entendemos o que ocorre na América Latina em termos de democracia participativa, da inclusão dos pobres, dos movimentos populares; isolarmos a Venezuela atende aos interesses dos EUA, que procura de todas as formas quebrar a integração latino americana. De forma apropriada, no momento atual das relações internacionais, o bom senso nos leva a uma postura firme, objetiva, e sincera, como a afirmação de Lula em relação à democracia na Venezuela, ou seja, dizer o certo na hora certa. Só não enxerga quem não quer, os que possuem “baixa visão democrática” e que são alérgicos ao povo brasileiro.

Fernando Rizzolo