O uso das instituições à revelia do povo brasileiro

Quando setores de esquerda da América Latina, se comprometem a dar lições de democracia participativa, no Brasil, pessoas com ambições políticas sem maiores legitimidades populares ou sociais, se lançam através de instituições para se auto promoverem. Essa postura infelizmente está se tornando comum nos últimos dois anos; investidas e pontuações contra impostos vinculados ao desenvolvimento social como a CPMF, se torna alvo de panfletagem da Fiesp por intermédio de seu presidente Paulo Skaf, que de tudo faz, para através da Fiesp e da argumentação vazia contra a CPMF aparecer e divulgar seu nome, como denuncia o Ministro Mantega em seu artigo de hoje no Estadão.

Não bastou o dedo em riste do Dr. Jatene para conduzi-lo a uma reflexão sobre o impacto que terá a falta dos 40 bilhões de reais; recurso esse, na implementação do PAC, envolvendo várias áreas, como na saúde, saneamento básico, educação e outros. O assunto CPMF já fora devidamente exaurido no contexto de sua legitimidade, mas ao que parece, seus defensores não querem sua prorrogação por questões meramente políticas e relacionadas ao fisco.

O uso indevido das instituições para promoção pessoal de seus presidentes também surgiu na OAB de São Paulo, no movimento ” Cansei”. Na verdade os advogados paulistas foram surpreendidos com algo que jamais tinham visto, a OAB/SP se tornar instituição de direita, defendendo interesses patronais, algo que desqualificou a imagem da instituição que sempre fora a trincheira dos pobres e dos humildes. Contudo, ao que parece, o presidente da OAB/SP fez uma ” mea culpa” e ao que tudo indica, deu novamente seu contorno corporativo, não se deixando ser manipulado por aqueles que através da instituição, querem se promover politicamente.

Já Paulo Skaf, como afirma Mantega, no Estadão de hoje, “teve ter ambições políticas, porque não é normal como a Fiesp entrou nessa campanha “, e afirma ainda mais ” Eu nunca vi um presidente de uma instituição respeitável como a Fiesp, fazer panfletagem, ir ao Congresso com pilhas de panfletos ” . Na realidade tudo é articulado para desgastar o governo Lula, existe sim uma movimentação orquestrada pelos presidentes que tomaram de assalto as instituições corporativas, para que juntos, promovam um golpe, contra o presidente “operário perdulário” como assim afirmam eles. O uso das instituições representativas como palanque político, prejudica seus associados, e beneficia aqueles que têm sede de poder na contramão dos interesses do povo brasileiro.

O que podemos inferir dessas promoções pessoais é que o resultado será muito pior para os empresários, vez que um plano B não sera descartável, e a CPMF, se não for prorrogada, a receita será substituida através do IOF, IPI, imposto de importação, ou seja, tudo o que não precisará passa pela ” Casa do Povo “. Ou aqueles que querem punir o povo brasileiro, através da promoção pessoal, entendem que o povo sofrerá os efeitos da vaidade ?

Fernando Rizzolo

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Referendo: conservadores comemoram vitória com cautela

Dentro e fora da Venezuela, diversas forças conservadoras festejaram os resultados do referendo deste domingo (2). “A Comissão Européia e os Estados Unidos mostraram satisfação”, informa a CBN. “Igreja Católica comemora derrota de Chávez”, destaca a agência Ansa. Em um comunicado, a sempre retrógrada Repórteres Sem Fronteiras (RSF) tratou logo de congratular a oposição.

Por André Cintra

Por ligeira maioria de votos, os venezuelanos rejeitaram, nas urnas, os 69 artigos da reforma da Constituição proposta pelo presidente Hugo Chávez. Os artigos mais ousados fortaleciam o poder popular, proibiam o monopólio e o latifúndio, reduziam a jornada de trabalho e asseguravam a Previdência a todos os venezuelanos, inclusive aos trabalhadores informais. Se aprovada, a proposta seria um golpe no coração nas elites venezuelanas – que reagiram de forma raivosa.

A união dos conservadores pelo “não” talvez só tenha sido inferior à de abril de 2002, quando um golpe liderado por setores militares – com apoio das elites do país, da Igreja Católica, da Casa Branca e da CIA – derrubou Chávez do poder. Na precipitada comemoração, houve cenas constrangedoras, como bispos abraçando militares efusivamente no Palácio de Miraflores. A investida, como se sabe, foi um fiasco: provocou uma grande reação popular e caiu de podre após dois dias.

Tensão continua

Certamente um filme do fracassado golpe de 2002 passou agora por essas cabeças retrógradas, que nem pensam em associar o resultado do referendo ao fim da era Chávez. O próprio presidente, embora tenha admitido a derrota, recomendou à oposição que “administre bem” o resultado de domingo.

As forças oposicionistas não constituem um grupo homogêneo, de interesses iguais. Mas a estratégia de Chávez – votar 69 artigos em apenas dois em dois blocos, sem enaltecer os objetivos sociais mais avançados – ajudou as tropas do “não”. Antes do referendo, elas souberam “esconder” os trunfos da avançada proposta chavista, dando destaque a pontos menos relevantes e à proposta de reeleição indefinida. É o caso da ingerência religiosa. Conforme lembra a Ansa, a “Igreja Católica teve um papel ativo durante a campanha do referendo e pediu formalmente às pessoas que recusassem a proposta, juntando-se à oposição”.

Para piorar, na reta final do referendo, Chávez monopolizou as atenções na mídia mais pelo entrave com o rei espanhol e com eventuais ameaças de retaliação. Sem contar uma abstenção que superou 44% do eleitorado (7,2 milhões). O “sim” teve no domingo cerca de 3 milhões de votos a menos que Chávez nas eleições presidenciais do ano passado, enquanto a oposição cresceu 300 mil.

Temor do futuro

O Miami Herald Tribune, um dos mais reacionários jornais americanos, ecoou a reação da Casa Branca: “A administração Bush considerou como uma vitória para a democracia a estranha derrota eleitoral do presidente venezuelano, Hugo Chávez, seu mais enérgico inimigo na América Latina”. Já o Los Angeles Times falou em “derrota eleitoral horrível para o homem forte, sua primeira em nove anos no cargo”.

Após a vitória do “não”, o bispo Roberto Luckert acusou Chávez de “confrontação” e “beligerância”. Mas ele mesmo partiu para a provocação ao bradar que o presidente não aceitará a derrota. Mirando os próximos embates eleitorais, Luckert esqueceu de vez que a Venezuela é um Estado laico e fez um apelo à oposição: “Deixe de besteira pensando quem vai ser o candidato. O que tem a maioria é o que tem que ir (à disputa), e todo mundo deve levar esse candidato ao governo ou à prefeitura.”

Nenhum jornal ou especialista, porém, pode especular com precisão o futuro do governo Chávez, que vai até 2012. Lembrando 2002, a onda conservadora é muito mais contida, mesmo tendo atraído setores da classe média e, sobretudo, do movimento estudantil. Um dos novos líderes oposicionista, não por acaso, é Ricardo Sánchez, presidente da Federação de Centros Estudantis da Universidade Central de Venezuela.

Sánchez não repete euforia de cinco anos atrás. Seu discurso sobre “reconciliação” contém termos como “atitude ponderada, em términos de inclusão, de reconhecer erros e de capacidade de perdão”. A oposição a Chávez parece ganhar mais força onde o discurso soa menos pretensioso – na aparência.

Site do PC do B

Rizzolo: É claro que agora a especulação em relação ao futuro da Venezuela continuará, ficou patente que o papel da Igreja Católica, defensora dos interesses da elite, contribuiu para que o ” Não ” ganhasse corpo. Faltou também maior esclarecimento à população dos verdadeiros avanços propostos, somado ao fato da enorme abstenção que superou 44% do eleitorado (7,2 milhões). O lado positivo do referendo, foi a demonstração de democracia; não resta dúvida que até 2012, muito ainda vai acontecer no país de Chavez, frear a oposição sedenta em destitui-lo será tarefa árdua. Há também que se fazer uma reflexão sobre o discurso oposicionista da ” reconciliação ” de cunho intimidatório. Agora, não há como avançar apenas com programas sociais, deixando de lado o fator conscientização, talvez seja o sinônimo do fato atribuído por Chavez sobre a derrota, na afirmação que o ” povo não estava ainda preparado “.