Quando se fala que a carga tributária de 37% do PIB no Brasil é enorme, e parace que apenas isso preocupa os neoliberais de plantão, tornando a ” eficiência” e o “rigor nos gastos públicos” os mantras da insensibilidade social, podemos inferir que na Inglaterra, um páis onde nem há necessidade de tanta intervenção estatal, a carga tributária é na ordem de 38% do PIB daquele país. Numa análise perfunctória, observamos que alguma coisa esta errada, o Brasil como um país pobre, decidiu, após o desmantelamento proposital da saúde pública, optar por um sistema egoísta de seguro saúde, onde só há possibilidade de se ter um atendimento digno, pagando-se um pedágio à iniciativa privada, ou seja , aos planos de saúde, tornando a população refém dos mesmos.
Não podemos imaginar um país com 45 milhões de pessoas que vivem na miséria, sem ter um atendimento digno na área da saúde, que repito, fora sucateada, para enfim ser destinada e entregue aos ” Barões da Medicina privada “. Num quadro em que os hospitais públicos passam por uma crise, que médicos necessitam ter no mínimo quatro empregos para sobreviver, na escassez de escolas de medicina, na imensa maioria das crianças brasileiras que pouca assistência médica tem por parte do Estado e vivem num verdadeiro abandono em termos de saúde pública, setores insensíveis da política brasileira como parte do PSDB e DEM, conspiram rindo , às gargalhadas, a possibilidade de vetar a prorrogação da CPMF, boicotando parte dos recursos ao PAC da Saúde que será laçado hoje pelo presidente Lula. Para a platéia, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, deverá descrever as linhas gerais da política, prevista para ser executada nos próximos quatro anos. Deverão ser investidos R$ 89 bilhões – R$ 24 bilhões viriam de um porcentual recolhido com a CPMF.
Numa postura que poderíamos chamar até de cristã, o governo vai tentar sensibilizar e demonstrar aos insensíveis, a necessidade do PAC da Saúde que prevê exames anuais, fazendo com que através do diagnóstico precoce, descubra-se problemas, como de visão, que estejam prejudicando os estudantes nas salas de aula. Vai levar para as 27 milhões de crianças nas escolas o Saúde da Família, de maneira que a escola, a família, o aluno e os profissionais de saúde, juntos, tratem da questão da saúde. A idéia, segundo o governo, é que cada criança, dos 27 milhões de alunos, seja examinada duas vezes ao ano por um médico, [crianças] que tenham problema de audição, de visão, de desnutrição. Tudo que pode comprometer o aprendizado vai ser enfrentado e garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ora, o Brasil é um país pobre , e o desenvolvimento social deve ser orquestrado pelo Estado; o que temos hoje, na realidade, é um Estado raquítico, como assim afirma Pochman , presidente do Ipea, e não há como implementar projetos sociais, abrindo – se mão dos 40 bilhões de arrecadação da CPMF; na verdade, o objetivo é ampliar programas já existentes, como Saúde da Família, Farmácia Popular e Brasil Sorridente.
Numa posição mais moderada, mais cristã, e mais coerente com a realidade brasileira, os tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), tentam se engajar na aprovação da CPMF, mas são pressionados pela ala insensível que corre na contramão do povo brasileiro, sem contar é claro, com os apregoadores da ” eficiência” e do rigor nos gastos públicos ” como a Fiesp, que nem com um dedo em riste de um cirurgião como o Dr. Jatene, se curvam ao desejo sombrio, de impedir que crianças tenham acesso à saúde através do Estado. Não podemos conceber os milhões de reais gastos em panfletagem feitas em nome do empresariado paulista, no boicote desses projetos, vinculados , é claro, à CPMF. E vou até mais longe, isso é uma questão de religiosidade, de cristianismo, de bondade. O que diz a Igreja Católica ? Promover conspirações prejudicando a arrecadação de impostos, já exaustivamente exauridos em relação à necessidade dos mesmos ao do povo, é ético, é cristão ?
Acredito que parte do PSDB não é condenada pelo passado, haja vista, o passado do governador Serra, e acredito que os preceitos de justiça social, oportunidade de desenvolvimento, e o dever moral de se levar saúde pública aos pobres, deverá induzir os mais individualistas espíritos que não sabem o que é compartilhar, a ceder pelo menos em nome daquilo que aprenderam nas aulas de religião, amor ao próximo.
Fernando Rizzolo
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