Existem questões muito claras que devemos nos ater e fazermos uma reflexão ao analisarmos a derrota de Hugo Chavez na sua proposta de reforma constitucional. Ainda me lembro de uma antiga história muito contada nos EUA nos anos 70, em que um Senador republicano americano sob a indignação de todos na época, havia enviado seu filho mais velho a conhecer a antiga URSS. O senador, conhecido por suas posições reacionárias, estava sendo criticado pela então chamada direita americana; numa explicação didática, disse que o motivo principal da sua ida se dava ao fato de seu filho ser ” esquerdista”, e portanto, a melhor forma, no seu entender, era manda-lo à URSS para se tornar enfim como seu pai, um reacionário.
Na verdade, em política, não existe avanço sem derrota, estive na Venezuela há alguns meses atrás, conheci parte daquilo que é o Socialismo Bolivariano, conversei muito com a população, conversei com empresários, e com o Ministro de Planejamento. A Venezuela que conheci é ao mesmo tempo próspera, com projetos avançados de desenvolvimento social, e ao mesmo tempo calada, medrosa, incerta , e apreensiva.
Numa análise não tão aprofundada, podemos dizer que há muita esperança por parte da população pobre, mas presente também esta, no bojo da esperança, um receio, um temor que fora na verdade bem aproveitado e apregoado pela direita, por aqueles que em contra partida conseguiram absorver no inconsciente do povo venezuelano, o temor pelo desconhecido. Tenho para mim que não há mais como coexistir avanço social vinculado a discurso assustador, é um engano supormos, que o povo pobre, humilde, se engaje na sua totalidade às correntes que se inspiram nos velhos símbolos já explorados pelos conservadores e pela mídia, e que amedrontam o eleitor com pouca conscientização política.
A começar pelas vigas mestres do ” Socialismo do Século XXI” que até o momento vai de Trotsky a Jesus Cristo, encenando uma ideologia confusa onde tenta-se ressuscitar figuras antigas da esquerda com ídolos libertadores, num caldeirão nacionalista , religioso e revolucionário. Sendo que alguns desses ídolos serviram com instrumento da direita na alienação do povo venezuelano durante anos de exploração. Os trajes vermelhos, os símbolos revolucionários, os bonés tipo MST, as palavras de ordem, isso tudo tem sua validade ideológica, mas não a sua aplicabilidade nos dias de hoje junto às massas. O que a esquerda atual ainda não entendeu, é que existe sim um trabalho de muitos anos por parte da mídia em desqualificar esses símbolos de forma jocosa, desqualificando-os, e vinculando-os a um perigo.
Outra questão, que no meu ponto vista, contribuiu foi a falta ao comandante de postura pessoal. Chavez definitivamente não é um ditador, e nem diria que não é por vocação, mas sim por não haver espaço para essa condição nos dias de hoje na Venezuela. Não há como conceber, palavrões como esteio argumentativo de derrota, falta modos, e isso também foi de certa forma usado pela oposição como uma desqualificadora; uma coisa é o rei da Espanha se ríspido, outra, infelizmente é Chavez se expor por debaixo do manto da vulgaridade.
A crítica proveitosa, vem da análise feita com imparcialidade, e não resta dúvida que à parte, das questões elencadas, Chavez promoveu e esta promovendo um desenvolvimento nunca vista anteriormente na Venezuela, muito embora favorecido pela alavanca do petróleo em alta, tornou-se também um porta-voz contra os desmandos republicanos de Bush e um agente do contexto de desenvolvimento social na Venezuela e na América Latina. Mas isso não basta.
O sentido maior político, nos leva a refletir sobre de que forma um avanço no social deve ser conduzido, para que a população reverta o medo pela consciência, minimizando e enfraquecendo as forças de oposição; com certeza será com democracia, com transparência, no enfrentamento da elite egoísta, e acima de tudo, com um modelo bem explicado, claro, provido de coluna vertebral, com um discurso sem agressividade, e principalmente com postura pessoal, e educação, elementos que emprestam confiabilidade. Isso é o mínimo que o povo, o investidor estrangeiro, e a democracia participativa, merecem.
Fernando Rizzolo