CPMF – Vamos ouvir o morro

Em um ponto todos concordam, o maior prejudicado com o fim da prorrogação da CPMF é a população pobre. De um lado a oposição capitaneada pelo PSDB e DEM , representantes da direita, do capital, uma oposição que conspira para que o governo não tenha o recurso necessário para levar adiante projetos de inclusão, vez que isso traria uma maior densidade política , maior popularidade a Lula e isso eles não querem. Pensar no povo então, nem se fale, isso passa longe das mentes raivosas, sedentas para liquidar com o imposto que é acima de tudo difícil de sonegar.

Por outro lado, até mesmo dentro da oposição, políticos como Serra e Aécio, que ainda possuem sanidade social, investem em tentar cooptar membros da oposição, numa verdadeira catequese medieval. Por alguns motivos talvez o façam dessa forma, ou visando um governo futuro com o recurso, ou pelo passado ideológico de comprometimento com os mais humildes. Até não poderia ser diferente, as pessoas envelhecem mas as idéias de conteúdo ético, de justiça social, continuam sendo sua coluna vertebral ideológica, como é o caso do governador Serra, que apesar de ter ” se engando ” ao se unir com os direitosos, hoje vive uma mistura de constrangimento e indignação. Talvez até porque não imaginava, que um partido que se dizia ” socialdemocrata” se tornaria um reduto da extrema-direita. Imagino que deve haver um drama interno nas emoções de Serra, batalhas que se travam entre o bem e o mal entre o que ele foi, e parte do que restou ainda, mas que na verdade, não pode ser revelado ideologicamente.

Levar adiante conceitos de um partido em crise como o PSDB e tê-los que sustentar, não deve ser empreita tão fácil de ser levada. Dessa forma, o que vemos: uma oposição oportunista, com catequistas tentando abranda-la e contorna-la e grupos exigindo mais e mais para negociar, lucrar; outros grupelhos ainda mais agressivos exigem mais concessões, para que com certeza menos o povo obtenha. Temos então a vítima: o povo brasileiro, aquele que deu seu voto a esse bando, aquele coitadinho que ganha um salário de fome, que não tem saúde, que não tem como alimentar seus filhos, que não tem moradia, vive a democracia representativa como se fosse um refém de si mesmo, daquilo que ele criou, entregando sua confiança em mandatos outorgados pelo seu voto a pessoas que trabalham arduamente contra ele, a democracia desta feita, se volta contra ele mesmo.

Até quando o povo brasileiro ficara refém dessa turma? Já que o maior interessado na CPMF é o povo, não seria razoável submetê-lo a um referendo? Por que não? Qual é medo? Se o povo não quiser, sua vontade sera feita como assim o foi no referendo da Venezuela. Não é mais digno? Não é mais nobre ? Porque calar o povo! Mas não, isso eles não querem, querem aguardar os efeitos da conspiração, quem sabe ela vai dar certo? Quem sabe alguem mais sofra uma fratura. Quanto ao povo? Dizem eles, ora, o povo…que se dane……

Fernando Rizzolo

Banco do Sul um agente da integração

Muito embora os conservadores alegam que o Banco do Sul não passa de uma “invenção de Hugo Chavez”, e afirmam que o governo brasileiro esta sendo usado como massa de manobra nas más intenções dos seus idealizadores, o presidente Lula, nesse domingo, afirmou em seu discurso na Argentina, que o Banco do Sul servirá para financiar projetos na área de infra-estrutura, ciência e tecnologia, para reduzir a pobreza e as diferenças sociais e econômicas na região. Na verdade o Banco do Sul que será lançado no primeiro semestre de 2008, sera uma espécie de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) da América do Sul, com recursos próprios para financiamento de desenvolvimento e integração.

Como se tivessem na contramão dos interesses da América Latina, os opositores da iniciativa, declaram que a “aventura do Banco do Sul” conta agora com a aquiescência de Guido Mantega, que como dizem, está menos refratário aos objetivos do Banco, o que certamente os irrita. No elenco de afirmações “vazias”, afirmam que o Brasil será manipulado pelo Conselho de Administração, pelos “discípulos de Hugo Chavez”, e que também beneficiará a Argentina que tem conseguido rolar sua dívida, graças ao apóio da Venezuela.

O que não dizem em nenhum momento, é que o Banco do Sul vem de encontro à criação de uma instituição financeira que irá contribuir para que os países latino-americanos rompam a dependência a mercados de capitais globalizados, incertos e altamente especulativos, propiciando a própria capacidade de reserva, a detenção de fuga de capitais e a inversão de recursos em forma consistente, com os direitos e as necessidades dos povos. Tenho dito que não podemos ficar à mercê das políticas perversas editadas pelo Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Observem que na própria Ásia , países que já sentiram de perto os efeitos de crises, estão estudando a formação de Fundo Monetário Asiático mais conhecido como a Iniciativa de Chiang Mai e começou basicamente pela criação de uma rede de acordos bilaterais de “swaps”, cuja finalidade é prover financiamento de balanços de pagamentos em situação de emergência. Os países participantes são a China, o Japão, a Coréia do Sul e os dez membros da Asean, a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Indonésia, Tailândia, Malásia, Filipinas, entre outros).

O fracasso da rodada de Doha deixa cada vez mais claro que neste mundo de impérios globalizados, só tem vez os blocos coesos de interesses compartilhados. O Banco do Sul seria um amplificador vigoroso da voz e dos interesses latino-americanos, o que contraria interesses dos EUA que através do Brasil insistiram, desta feita, em não fazer do Banco do Sul um substituto do FMI, cuja política visa, na verdade, apenas os interesses do governo americano, haja vista o que ocorreu na gravíssima crise cambial e financeira asiática de 1997-98, que definitivamente mudou a percepção desses países. Houve descontentamento, e até revolta, com o modo como os EUA e o FMI abordaram a crise.

As recomendações de política econômica foram consideradas em grande parte medidas contraproducentes. Além disso, parece ter ficado evidente que os EUA estavam se valendo do Fundo e de outras instituições sediadas em Washington para promover o seu interesses nacionais. “O FMI tem feito mais para promover a agenda comercial e de investimento dos EUA na Coréia do que 30 anos de entendimentos comerciais bilaterais”, disse na época Lawrence Summers, então subsecretário do Tesouro do governo Clinton.

Fica claro, que para conseguir seu desiderato, o conservadorismo exulta e se delicia com a promoção de divergências via mídia e Congresso Nacional entre o Brasil e os países da América Latina, em especial à Venezuela, onde vêem a oportunidade de isolar o Brasil, deixando-o numa situação refratária a uma maior integração Latino Americana, para que talvez, finalmente, se sinta socorrido e alinhado aos interesses do EUA, até mesmo do ponto de vista militar, onde os investimentos das Forças Armadas são tímidos e precários frente a outros países da América Latina, e que certamente nos leva a uma reflexão, a uma pergunta. A quem isso serve?

Fernando Rizzolo