Não faltarão argumentos contrários, em qualquer decisão econômica tributária do governo, em recuperar os 40 bilhões de reais evaporados da noite para dia, face a uma articulação maldosa entre PSDB e DEM, sob o fundo musical da Fiesp. Nobre foi a postura do governador Serra, ao atender o pedido do governo, e ao compreender da necessidade dos recursos que seriam aplicados à saúde
Como já comentei em um artigo meu, existe um elenco de impostos que poderiam ser utilizados para ” tapar o buraco” deixado pelo fim do imposto, mas o que gostaria de refletir aqui, é o fator ético que assola essa questão; diria que imposto, seja ele qual for, sempre passa por uma transferência de renda, do rico para o pobre, e quando falamos em assistir aquele que pouco possui, falamos também no próximo, na mão estendida, nas lições de cristianismo, de judaísmo, constantes nos livros espíritas, e em todas as religiões.
Não há como sobrepor argumentos de “eficácia”, “eficiência de gestão nos gastos públicos “, ” de rigor fiscal ” sobre os conceitos de ajudar o nosso semelhante em momentos de urgência social, que em judaísmo chamamos de Tsedaká (caridade). Vivemos num país onde existem 45 milhões de pessoas que vivem na linha da miséria, crianças que quando doentes são desassistidas pelo Estado, e isso ninguém melhor para falar do que a Cláudia Bonfiglioli, Presidente da Casa Hope, que por iniciativa própria criou a maior instituição de apoio a crianças com câncer no Brasil. Temos, além disso, hoje, 8 milhões de famílias que ainda vivem na idade da pedra, sem luz elétrica em sua pobres e humildes moradias, e só políticos de espíritos revanchistas, imbuídos dos mais mesquinhos princípios éticos, seriam capaz de arregimentar um Senado para golpear recurso aos pobres.
Saber que os recursos iriam para pobres, eles sabiam, tinham consciência; saber que existiam lideranças lúcidas como o governador Serra e Aécio também tinham ciência, porem, preferiram ignorar a tudo, num gesto pouco cristão. Riram, se confraternizaram com a derrubada, amaldiçoaram o imposto, beberam e brindaram a retirada de uma enorme quantia aos necessitados, viraram as costas para o povo pobre brasileiro, e foram para casa, no aconchego das suas famílias abastadas.
A energia ruim criada, pela essência ética do tributo derrocado, não deixará impune a consciência daqueles que ao se voltarem às coisas de Deus, irão se deparar com algo maior, num futuro divino acerto de conta. Pode parecer o texto, carregado de religiosidade, mas não de utopia, mas não de princípios éticos, prefiro-o assim, como um lamento na incompreensão dos atos que destituem os pobres de uma vida melhor. Tenho pena do povo brasileiro.
Fernando Rizzolo