Quem acompanha o meu Blog, os meus artigos em jornais, sabe que sempre defendi o governo Lula nas suas ações de inclusão aos pobres, e ao Bolsa Família, que ao meu entender, é essencial à população que vive abaixo da linha de pobreza, entendendo-o como um programa emergencial. É claro, que numa segunda fase, é necessário a implementação de políticas geradoras de emprego, e o abandono paulatino das práticas assistencialistas. O Brasil é um país pobre, vivemos a financeirização da economia, as políticas macroeconômicas visam prestigiar o capital, o lucro, e a especulação financeira face à independência do Banco Central, orgão capitaneado pelos banqueiros, e Lula, demonstra cada vez mais, sua incapacidade nos enfrentamentos com as elites e os donos do capital.
Do outro lado, os defensores de uma política produtiva, inclusiva, e que atenda o interesse da imensa população pobre, que hoje esta por volta de 45 milhões de pessoas. A Igreja Católica, parte dela, é claro, luta pelo direito à inclusão social, por programas pontuados pelo bem-estar daqueles que durante muitos anos foram esquecidos pelo Estado. O Bispo contra a transposição, relembrou a luta de Dom Aluísio Lorscheider no regime militar. Com a morte do arcebispo emérito de Aparecida, um dos maiores expoentes na luta a favor humildes, a sociedade e a Igreja Católica perdem um de seus maiores expoentes na luta contra a injustiça social, sem dúvida, Dom Aluísio deixa um legado de luta que deve servir de paradígma ao clero católico no Brasil.
Na luta em defesa aos excluídos, Lula surgiu como uma esperança nesse cenário político ao ser reeleito, mas sem nos que apercerbermos, surgiram as estranhas alianças com a burguesia, com os detentores do capital, passando o governo a compor, de forma velada, o alvo de sua política, trocando os pobres e desvalidos pelos interesses do agro negócios, dos grandes capitais, das grandes empreiteiras e, principalmente, o servilismo aos bancos, aliás, Brecht dizia não ver muita diferença entre fundar um banco e assaltar um.
Quando o bispo afirmou que o STF foi “subserviente” ao Executivo, ao liberar as obras, não disse nada de novo, houve por parte de Lula um desrespeito em não negociar a transposição do Rio São Francisco com os movimentos, com a Igreja, impondo seu desiderato em afagar o agro negócio e as empreiteiras de forma autoritária. Como é sabido por todos, maior parte da água (bem comum do povo brasileiro) servirá para a produção agrícola e industrial de exportação e apenas 4% dessa água serão destinados ao consumo humano. Não compactuo com a direita brasileira egoísta, e entendo que Lula não pode ser prestigiado pela esquerda, vez que age através dos mecanismos de subordinação ( patrimonialismo, clientelismo, manipulação dos poderes), traindo os 58 milhões de votos. Prestigia-lo pra que ?
A esquerda brasileira esta cada mais difusa, e sem direção, outro dia recebi um email de um leitor me perguntando qual era afinal minha posição política, se era comunista, socialista, social democrata ou anarquista, respondi a ele que não era nada daquilo, era sim ” Rizzolista” ( risos..). Sempre tive um posicionamento político de esquerda, já fui trotskista um dia (corrente morenista), vaguei pelo stalinismo, hoje compactuo com uma esquerda racional, de vanguarda, não barganhada, não vendida, não cooptada; uma esquerda moderna, com a vertente da democracia participativa, com uma visão realista dos atuais meios de produção, dos limites do Estado, e contra a perversidade privatista descontrolada, e acima de tudo sem ser raivosa. Nada disso existe. Enfim, estou sozinho, conto comigo mesmo, não é ?
Da forma em que Lula atua, desagrada parte da direita e da esquerda, que sem opção, propõe alta indulgência a seu governo, entendendo-o como de ” avanço”, o que é uma piada. Na melhor das hipóteses, seu governo é social desenvolvimentista, que também não quer dizer absolutamente nada. Não abro mão em defender os pobres, mas por inteiro, e no caso do Bispo, Lula portou-se mal, como disse o jurista Fábio Konder Comparato. “Qualquer modificação no escoamento dessas águas (do São Francisco) não pode ser decidida pelo presidente da República, mas sim pelo Congresso Nacional, com a sanção do presidente. Isso está escrito no artigo 48, inciso 5º da Constituição sobre a disposição de bens do domínio da União”. Como disse, acreditei no governo Lula; é claro que, no início do governo houve grandes avanços sociais, mas estão sendo corroídos pela dissipação ideológica,pelos interesses não do povo brasileiro, estou simplesmente me decepcionando. Como disse o bispo d. Cappio “Lula morreu. Estamos no governo Inácio da Silva”. Acho que ele tem razão.
Fernando Rizzolo