O pobre vendedor e a Saúde Pública no Brasil

Não faz muito tempo que num jantar junto ao empresariado paulista, o Dr. Jatene colocou seu dedo em riste, e fazia ali uma manifestação pessoal contra o fim da CPMF, dizia ele em bom-tom, que os ricos precisavam aprender a pagar impostos; com muita propriedade sustentou a contribuição, como essencial à saúde pública no Brasil. Foi derrotado.

Pouco mais de um mês, somos surpreendidos com um incêndio num dos maiores hospitais públicos do Brasil, o Hospital das Clínicas em São Paulo. Vítima do incêndio, falece um pobre vendedor que estava internado com câncer, desde novembro; segundo informações, o vendedor foi submetido a uma cirurgia para a extração de um tumor no esôfago, e desde então estava em estado grave no pós-operatório do centro cirúrgico.

Esse incêndio, uma fatalidade, desnuda a condição da nossa saúde pública, dos nossos hospitais, da falta de estrutura, da falta de manutenção, do desrespeito ao cidadão simples que não tem a quem recorrer, a não ser ao Estado raquítico brasileiro, como diz o economista Pochmann da Unicamp. O HC é uma autarquia, portanto autônoma para gerir os recursos. Dirigida por ” Catedráticos” que se posicionam em ” departamentos ducados “, fazem o que bem entendem na gestão pública do orçamento, lá impera a política, e não a excelência na gestão. Dos R$ 16,9 milhões orçados pelo governo do Estado para obras de adequação, ampliação e aparelhamento do Hospital das Clínicas neste ano, 17,83% – R$ 3.013.281,00 – foram empenhados, de 1º de janeiro até 18 de dezembro. E R$ 2.667.806,00 (15,79%) foram realmente pagos aos prestadores de serviços ou em compra de materiais e equipamentos. Todo o circo político que envolve a administração do HC já fora denunciado pelo médico Waldemir Rezende em seu livro Estação Clinicas.

Quanto ao problema principal, que é a saúde pública brasileira, o fim da CPMF nada significa, para o nosso presidente. Promete ele, ” dar uma volta por cima ” e ainda afagando os poderosos, menti ao dizer que não aumentará impostos, nem tampouco criará novos tributos. Nos resta uma perguntar: Porque Lula não diz a verdade? Repor R$ 40 bilhões que seriam destinados à saúde, apenas cortando gastos? Isso não é verdade, a reforma tributária prevê minimizar a quantidade de impostos, mas não a arrecadação. Não podemos apenas contar com a calmaria do mercado, na evolução das condições econômicas que por si só aumentam a arrecadação, precisamos de um Estado forte, que disponibilize infra estrutura para o desenvolvimento de uma política digna de saúde pública no Brasil.

O Senado rejeitando a prorrogação da CPMF, barganhou o que pode, e não outorgou aquilo que o pobre mais precisa, recursos. Precisamos ir além das mesquinharias políticas de ocasião, e enfrentarmos o problema da saúde pública de frente. O governo repete qual mantra os mesmos sofismas, fazendo acreditar que apenas com ” ajustes e cortes” resolverá o problema causado pelo rombo da CPMF.

Lula não quer um enfrentamento com as elites, e dessa forma, faz uso de todas as milongas para devagar desmentir o que jamais deveria ter dito, que está tudo bem, e que tudo se resolverá, num afago àqueles que por interesses políticos nunca consternaram com as crueldades infligidas ao povo pobre, que só ao Estado pode se socorrer. O vendedor morreu, no dia de Natal, e muitos nessa noite, no Hospital das Clínicas, se desesperavam ao som das sirenes das ambulâncias, enquanto a elite e os Senadores, brindavam de forma emblemática a essência do cristianismo, numa Noite Feliz.

Conheça os bastidores do HC – Estação Clínicas

Fernando Rizzolo