Violência, uma questão de desenvolvimento e gestão

Não resta a menor dúvida, que existe uma inter-relação entre a violência e a falta de oportunidade, que pode ser traduzida pelo desemprego, falta de um planejamento familiar, e principalmente educação. Não relevar as questões sociais, como pano de fundo, é não considera-la a coluna vertebral de uma sociedade, é no mínimo, não ser responsável. Nesse esteio, o governo federal, empreendeu políticas de inclusão assentadas nos recursos advindos dentre outros da CPMF, ora, relegada, por problemas de cunho político.

Todavia, atribuir à questão da violência um caráter meramente econômico ou cultural, é não ir ao cerne da questão enfrentando-a, até porque, existem outros fatores que contribuem para o aumento da criminalidade.No tocante ao desenvolvimento, observamos que na Região Metropolitana de São Paulo, a taxa de desemprego passou de 14,2% em novembro para 13,5% da População Economicamente Ativa (PEA) em dezembro do ano passado.

Na realidade, é a menor taxa, para o mês de dezembro, desde 1996, quando estava em 14,2%. Em dezembro de 1995, a taxa de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo foi de 13,2%, a mais baixa de toda a série, esses dados constam da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgada hoje.

Trata-se aí de um dos aspectos que contribuíram para que a cidade de São Paulo, que ocupava o 182º no ranking de homicídios, despencasse para 492º, ou seja, a cidade ganhou 310 posições. A relação do número de mortes por 100 mil habitantes (proporção que caracteriza a taxa de homicídios) na capital paulista caiu de 48,2 em 2004 para 31,1 em 2006. Os homicídios recuaram 40,4%: de 4.275 para 2.546 dois anos depois. Mas a questão principal que vem de encontro a esses números, são dois fatores que somados, levam a uma melhora dos índices de criminalidade, que são: desenvolvimento e gestão.

Esses dois fatores ao se complementarem, e uma vez implementados, geram o que poderíamos chamar de “maior acesso ao manejamento da segurança pública”. Nesse aspecto, o governo Serra tem caminhado na direção certa. Os gestos de responsabilidade do governador, ao pleitear a prorrogação da CPMF junto ao governo federal, vêm corroborar sua visão de que não há excelência em gestão, sem recursos. Em 2001, o estado de São Paulo tinha 67.649 presos; em 2006, eles eram 143.310 — mais do que o dobro. Por outro lado, esse quadro, nos leva a uma reflexão; que não há contenção da violência apenas com o desenvolvimento, mas com gestão, com uma polícia inteligente, com policiais bem remunerados.

Isto posto, não hesitaria em afirmar, que a base, ou concretagem social, vem do produto da implementação das políticas de inclusão, mas apenas elas não bastam. A questão da violência passa pela administração com eficiência dos órgãos envolvidos, dos recursos a eles destinados, e aos programas sociais que levam o desenvolvimento aqueles que poderiam um dia transgredir.

Fernando Rizzolo

“Compra” da Xstrata maquia desnacionalização da Vale

HSBC e Santander colocaram à disposição US$ 50 bilhões para ambevizar a Vale, avaliada em US$ 120 bilhões. Outros US$ 30 bilhões seriam pagos em ações, com direito a voto, aos controladores da mineradora anglo-suíça

O governo federal poderá vetar a aquisição da mineradora anglo-suíça Xstrata pela Vale do Rio Doce. Pela proposta que está sendo gestada pela direção da Vale, conforme divulgada pela imprensa, a empresa corre o risco de ser desnacionalizada e ficar pendurada em bancos e especuladores estrangeiros. O governo considera o negócio prejudicial aos interesses do país.

Para concretizar a compra, a Vale, avaliada em US$ 120 bilhões, precisaria entre US$ 70 bilhões e US$ 100 bilhões. De acordo com o jornal londrino “Financial Times”, já está acertado que US$ 50 bilhões seriam financiados por bancos estrangeiros tais como o HSBC, Santander, Credit Suisse, Citigroup, BNP Paribas, Barclays e RBS. O restante, cerca de US$ 30 bilhões, seria obtido através da transferência de ações preferenciais da Vale aos controladores da Xstrata.

O principal acionista da Xstrata, a trading Glencore, seria beneficiado com as ações da Vale, além dos demais acionistas da mineradora anglo-suíça, em sua maioria especuladores como a Axa Investments, Alliance Bernstein, Black Rock. Caso a negociação seja concretizada, significaria a transferência para os estrangeiros de grande parte do capital da empresa.

Segunda maior mineradora do mundo e a primeira na produção de minério de ferro, a Vale é estratégica para o desenvolvimento do país. Atualmente, as ações ordinárias representam 60% do capital total da Vale do Rio Doce, e as preferenciais (PN), 40%. O detalhe é que as ações preferenciais da Vale são da classe A, que dão direito a voto.

Para preservar a empresa da desnacionalização e entrega do subsolo nacional aos estrangeiros, basta os representantes do BNDESPar e da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) vetar a negociação no Conselho de Administração da Vale. O governo conta com uma “golden share” (ação especial) que garante poder de veto em algumas situações, entre elas em relação ao aumento de capital estrangeiro na companhia.

Na segunda-feira, o Conselho de Administração começou a analisar a operação. O presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, disse que “é só um estudo pra ver realmente se fecha nas condições, se é factível, se tem geração de caixa, esses detalhes todos. Depois, na decisão, [os representantes do] governo tem poder [pra resolver]”, disse ele. O Bradesco é acionista da Vale e participa do conselho através da Bradespar.

O negócio da Vale com a Xstrata está sendo comparado com o da AmBev, que resultou na desnacionalização da principal indústria cervejeira brasileira. Em 1999, Brahma e Antarctica anunciaram fusão e criação da AmBev, sendo aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no ano seguinte. Mais tarde, o processo de desnacionalização surgiu maquiado por uma campanha que dava conta de que as cervejas brasileiras ganhariam o mundo através de uma associação com a empresa belga InterBrew. Mais ainda, de que a AmBev seria a dona da InterBrew. O que ocorreu foi o contrário. Com a dita “fusão”, foi criada a belga InBev, que passou a controlar a AmBev e monopolizar o mercado nacional de cerveja.

LUIZ ROCHA
Hora do Povo

Rizzolo: O governo federal deverá acompanhar essa negociação de perto, para tanto, os representantes do BNDESPar e da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) poderão vetar a negociação no Conselho de Administração da Vale. O problema , é que o mesmo poderá ocorrer como na Ambev, quando desnacionalizaram da principal indústria cervejeira brasileira, só que neste caso, não trata-se de cerveja, mas de subsolo nacional. A Vale é a segunda maior mineradora do mundo e a primeira na produção de minério de ferro. Muito embora setores consevadores dizem que isso é “nacionalismo bobo”, não é verdade; todo cuidado é pouco quando se trata de subsolo e produção de minério de ferro, neste caso não estamos falando de bebidas. Contudo, entendo que não há motivos para maiores preocupações, agora, nacinalista todo brasileiro tem obrigação de ser, sem fanatismo, é claro.

Suplicy canta e dança no Iraque para distribuir alegria à tropa de ocupação

Suplicy faz a festa no Iraque ocupado pelas tropas de Bush

O senador Eduardo Suplicy (PT/SP) foi ao Iraque dar palestras sobre “renda mínima”. Cercado de forte esquema de segurança desembarcou em Bagdá, dia 16 de janeiro, ficando até o dia seguinte, quando voou para Amã, e de lá para Paris. Entusiasmado com a fabulosa “redemocratização” levada pelas tropas de ocupação de Bush, cantou “Blowin’n in the Wind”, de Bob Dylan, e dançou para a turma dos parceiros de Bush.

Suplicy contou, extasiado, que foi recebido com status de xeique. No aeroporto, seis homens, contratados pela embaixada brasileira a uma empresa de segurança britânica, o esperavam munidos de metralhadoras automáticas. Além deles, outros seguranças destacados pelo “gabinete” iraquiano protegiam o senador. “Me deram um colete à prova de balas e um capacete para ir até área verde (zona de segurança onde ficam as autoridades no país)”, disse. Suplicy não informou se sugeriu aos mandatários do Iraque doar todas essas armas e equipamentos de segurança para ajudar no “renda mínima”. Aliás, o senador poderia ter dado exemplo, abdicando de usar o colete e o capacete. Abaixo o desperdício!

Na quinta, jantou com 40 pessoas onde relatou para uma animada e receptiva platéia, formada por cinco ministros, parlamentares e empresários, seus mundialmente brilhantes projetos de desenvolvimento e distribuição de renda. “Procurei mostrar como uma renda básica colaboraria para que xiitas, sunitas e curdos pudessem sentir-se todos solidários, participando da riqueza e ajudando na construção da democracia”, esclareceu o senador.

Como se as corporações norte-americanas e seus apaniguados no Iraque estivessem interessados em distribuir riqueza a rodo e construir democracia. Só se for a democracia dos mercenários, esquadrões da morte, da soldadesca invasora e dos assaltantes de petróleo.

Hora do Povo

Rizzolo: É impressionante como o Senador Suplicy não se deu conta de que aquilo é uma invasão norte americana. Ensinar o que é renda mínima no Iraque é no mínimo hilariante. Depois da aula, como se bastasse, cantou “Blowin’n in the Wind”, de Bob Dylan, e dançou para a turma dos parceiros de Bush. Olha, realmente o PT, deveria antes de deixa-lo partir, fazer uma reflexão, chama-lo para uma conversa, tranquiliza-lo com chá de camomila.

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Brasil fica proibido de exportar carne bovina à União Européia

Nenhuma propriedade agrícola brasileira possui no momento autorização para fornecer bois para exportação de carne à União Européia, o que deverá fazer com que as vendas sejam interrompidas a partir de 31 de janeiro, quando entram em vigor novas regras européias.

Como houve uma discordância entre os governos brasileiro e europeu sobre o número de fazendas liberadas para exportar à UE, nenhuma propriedade conseguiu autorização sob as novas regras, válidas a partir de quinta-feira, disse um integrante da Comissão Européia nesta quarta-feira.

Apenas cerca de 300 propriedades brasileiras, ou 3% das fazendas, deveriam receber permissões para exportar aos 27 países integrantes do bloco europeu, segundo interpretação do comissário de Saúde do bloco, Markos Kyprianou, mas o Brasil enviou uma lista com um número maior de unidades consideradas habilitadas (2.600).

Diante dessa divergência, segundo Kyprianou, ainda não há uma lista com as fazendas habilitadas a vender gado para os frigoríficos brasileiros que exportam carne à UE.

“Tínhamos considerado cerca de 300 propriedades sendo autorizadas a exportar para a UE, com base em inspeções prévias e informações dos brasileiros”, disse o comissário de Saúde à Reuters.

“Não há uma lista de propriedades autorizadas… neste momento, não há propriedades autorizadas a exportar para a UE”, acrescentou ele.

Segundo Kyprianou, como o Brasil enviou na terça-feira uma lista com um número muito maior, mais tempo será necessário para que a checagem das fazendas seja realizada.

“Claro que essa situação pode mudar nos próximos dias, mas no momento não há lista aprovada”, disse o comissário.

O governo brasileiro tinha até o final do mês para elaborar a lista.

As restrições impostas pela UE foram anunciadas depois de uma delegação européia ter encontrado, de acordo com o bloco, irregularidades no sistema sanitário e de rastreabilidade do Brasil, no ano passado.

Além disso, as limitações seguem um forte lobby feito por fazendeiros do bloco, principalmente irlandeses, que afirmam estar sendo prejudicados pelas exportações brasileiras.

Para o analista Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, a posição da UE, “na prática, paralisa as exportações de carne in natura do Brasil para lá”, a partir de 31 de janeiro.

As exportações de carne industrializadas estão fora das restrições, uma vez que o vírus da febre aftosa é eliminado no processo de industrialização.

Em 2007, o Brasil exportou 2,53 milhões de toneladas (equivalente carcaça) de carne bovina para todos os destinos, obtendo com essas vendas externas US$ 4,42 bilhões.

Segundo a Abiec, entidade que representa os exportadores de carne bovina do Brasil, as exportações de carne bovina para a UE somaram 543,5 mil toneladas (21% do total), o equivalente a US$ 1,4 bilhão (32%).

De acordo com o analista, os países integrantes do bloco europeu respondem pela maior parte da receita obtida com as exportações por pagarem um preço mais elevado pelo produto brasileiro.

Não havia nenhum representante da Abiec imediatamente disponível para comentar o assunto.

O Ministério da Agricultura do Brasil afirmou que se manifestará oficialmente sobre o tema mais tarde nesta quarta-feira.

“Acho que os europeus, por pagarem melhor pela carne brasileira, podem exigir o que bem entenderem. Agora, a partir do momento que o Brasil atende a exigência, não tem por que restringirem as 300 propriedades…”, afirmou Rosa.

Segundo ele, o Brasil tem hoje mais de 6.000 propriedades que atendem as exigências da UE dentro de Estados sem problemas sanitários para exportar. “E dessas 6.000, 2.600, na avaliação do Ministério da Agricultura, atendem todas as exigências da UE.”

Assim, segundo Tito Rosa, não há como o Brasil selecionar uma lista de 300 propriedades, como quer a UE, se tem 2.600 atendendo as exigências. “Qual critério seria adotado? Então essa regra da UE é arbitrária.”

O analista disse ainda que, uma vez que os frigoríficos não sabem quais são as propriedades que serão habilitadas, “estão paralisando abates para atender à demanda de carne in natura da UE”.

Em função do problema, segundo Tito Rosa, provavelmente os frigoríficos vão utilizar o argumento para pressionar o preço pago pela arroba do boi no mercado brasileiro.

Por outro lado, disse o analista, há outros fatores altistas para o mercado de boi, como a redução do rebanho nacional após um período de intenso abate de matrizes, e o setor está em expansão, demandando mais gado para abate, em função do crescimento no consumo interno e externo.

Rizzolo: Agora, o governo tem obrigação de se adiantar, no sentido de preencher as exigências da Europa, por mais bizarras que sejam elas. Tudo isso por falta de capacidade de o Brasil entregar uma lista de 300 propriedades? A União Européia restringiu o número de fazendas a 300 (3% das 10 mil registradas no passado no Sisbov, sistema de rastreabilidade do gado), o Ministério da Agricultura brasileiro apresentou uma lista com cerca de 2.600 propriedades.

Isso significa falta de preparo técnico, mas a questão principal é que o Brasil precisa de uma vez por todas fazer valer nosso potencial de mercado, somos 180 milhões de consumidores. Se existe barreiras protecionistas na Europa, porque não taxamos um pouco mais as enormes remessas de lucros e dividendos das empresas européias aqui sediadas, que vivem do nosso mercado? Mas não, a passividade e a falta de pulso, faz do “conciliador Lula”, uma voz fraca na defesa dos interesses dos empresários nacionais e dos pecuaristas. E mais, não tem nada de radical no que afirmo, radicalismo é deixar o mercado de carne da noite para dia “a ver navios”.

Incluir os esquecidos gera crise ?

Ainda me lembro, quando na década de 70, sugia um filme que como se dizia na época era ” de cunho comunista” chamado ” A classe Operária vai ao Paraíso” do diretor italiano Elio Petri. Com pinceladas socilistas, retratava-se as manifestações de alienação dentro de uma fábrica e a precarização do trabalho que nela ocorre de forma generalizada; ainda estudante de Direito, imagina o dia em que literalmente os pobres iriam vivenciar o consumo, e sua conseqüências boas e ruins.

Na época, o mundo vivia uma fracionazação social entre ricos e pobres muito mais acentuada, o que propiciou as investidas da esquerda no ganho do terreno ideológico em muitos países, inclusive no Brasil. O que não poderíamos imaginar, é que a produção dos bens de consumo, surgiriam como um problema nos Estados socialistas a ponto de perturba-los, e num resumo das pregações leninistas, stalinistas e trotskistas, passassem a rever as relações com os meios de produção, abandonando de vez o socialismo, ou transformando-o, como a China o fez, num ” socialismo de mercado”. Com isso, agregado ainda aos que não sonharam tal sonho, como alguns países da América Latina, observou-se uma investida de forma contundente na inclusão por parte da população mais pobre desses países, no acesso aos bens de consumo.

Nem precisou os economistas se aterem aos estudos de Adam Smith, para logo se apropriarem da idéia de que só a produção e a capacidade de consumo de um povo, aumenta o bem-estar social; face a isso, iniciou-se um alavancamento dos meios de produção em países como a China e Índia, que passaram a fabricar manufaturados e consumir bens elevando e incluindo uma população gigantesca que outrora jamais tivera acesso ao mercado. Na euforia produtiva, os EUA passaram a investir mais na Ásia, e por conseqüência, importar mais produtos desses países consumindo o americano médio mais do que deveria.

Na corrida ao consumo, países emergentes passaram a ter políticas voltadas à inclusão social, com programas evolutivos que culminaram com a acessibilidade maior a tudo que, em tempos atrás, apenas uma pequena parcela tinha participação. Na imensa bolha de consumo mundial, surge o consumo desenfreado com o fácil crédito imobiliário americano, desregulamentado e arrebanhando os excluídos americanos do sonho da casa própria. O final da história já sabemos, crise americana que poderá se tornar mundial sem termos hoje, meios de saber sua intensidade.

Não há que se falar em ” descolamento”, se ela (crise) vier, teremos todos que enfrenta-la. Numa análise mais profunda, observamos que a partir do momento em que os pobres do mundo passaram de forma uníssona a consumir mais, surgiu uma crise, e fica a pergunta no ar: Seria a inclusão dos esquecidos um fator de geração de crises? Ou será que classe operária não tem espaço no capitalismo, para viver no paraíso.

Fernando Rizzolo

O cenário dos pessimistas

Vê-se, portanto, que nem o cenário negativo é tão negativo assim. A não ser que sobrevenha algo catastrófico que não está no momento no horizonte dos analistas

Um estudo distribuído esta semana pela consultoria Tendências a seus clientes afirma que há 30% de chances de um cenário pessimista para a economia brasileira em 2008, em decorrência da crise financeira nos Estados Unidos. Analistas prevêem dois trimestres de contração da economia americana, até meados deste ano, seguidos de uma retomada da expansão. Para compor o cenário pessimista no Brasil, trabalhou-se com duas premissas: 1) o forte impacto da desaceleração estadunidense nos preços das commodities e 2) a deterioração interna do cenário fiscal, em decorrência do fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e da resistência do governo, do Congresso e do Judiciário em ajustar, para baixo, seus orçamentos à nova realidade.

Vamos alinhavar os indicadores desse suposto cenário negativo. Para um crescimento mundial de 3,0%, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceria 3,2%. A inflação (IPCA) seria de 5,5%, contra os 4,5% de 2007. O superávit primário bateria em 3,2% do PIB (contra os 3,9% do ano passado) e o risco Brasil iria para 300 em dezembro, em vez dos 214 com que fechou 2007. Mas o quadro pessimista traz também boas notícias, para os críticos do câmbio. Se tudo der errado, dizem os consultores, o dólar encerra 2008 valendo R$ 2,30, contra os R$ 1,79 de dezembro último. O que levaria a dívida líquida sobre o PIB a uma queda de 5,5 pontos percentuais (de 42,7% a 37,2%). Mas, como nada é perfeito, nessa projeção pessimista o juro Selic iria para 14 %, quase três pontos percentuais de alta ao longo do ano.

Quais seriam as conseqüências políticas desse desempenho apenas medíocre? O ajuste brasileiro se daria às custas de alguma inflação adicional e de uma nova elevação de juros. Em troca, os beneficiários dos programas sociais do governo teriam o seu garantido, bem como o capital financeiro e o setor exportador, cujos aplausos certamente encobririam na opinião pública os protestos dos que estão ali pelo meio da pirâmide, gente que vive de salário e depende de crédito e emprego para melhorar de vida.

Assim, nesse cenário ruim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viveria um momento desfavorável em seu segundo mandato, ao absorver todos os custos do ajuste. A oposição não perderia a oportunidade de debitar na conta do petista essa aterrissagem medíocre, e certamente cobraria dele uma suposta perda de oportunidades no ciclo de crescimento anterior à crise. Tudo isso teria efeitos políticos lá pelo fim de 2008, coincidindo com as eleições municipais. Diferentemente do primeiro mandato, quando o ano da disputa nas prefeituras (2004) foi bom, especialmente na comparação com o doloroso 2003 do ajuste antiinflacionário e fiscal.

Se esse é o cenário pessimista, qual é o otimista? O Brasil escapará mais um menos incólume se 1) a economia americana der uma freada rápida, mas pontual, 2) o crescimento chinês provar-se não tão dependente assim dos Estados Unidos e, em conseqüência, 3) a demanda mundial por matérias-primas e comida continuar aquecida. Claro que sempre nos sobrará explicar por que estamos derrubando árvores na Amazônia para plantar soja e criar gado, mas esse ônus é preferível a responder diante dos eleitores brasileiros por que faltam empregos e crédito. Este último problema derruba governos, enquanto o primeiro apenas cria problemas na esfera das relações públicas.

Há um certo consenso de que num cenário otimista na economia será muito boa a perspectiva eleitoral das forças políticas agrupadas em torno do Palácio do Planalto. A novidade é outra. Se estiverem corretos os dados expostos pelos analistas para um cenário desfavorável, estaríamos diante de um tranco suave neste ano, o que deixaria uma margem de pelo menos mais um ano e meio para que o governo conseguisse reacelerar a economia e chegar ao final de 2010 com ventos novamente otimistas.

Vê-se, portanto, que nem o cenário pessimista é tão pessimista assim. A não ser que sobrevenha algo catastrófico que não está no momento no horizonte dos analistas, as chances de o Brasil alcançar bem ou razoavelmente bem a próxima sucessão presidencial são consideráveis. Do que se deduz que a oposição precisará dar um jeito de escapar do discurso catastrofista se quiser chegar a algum lugar diferente dos que chegou em 2002 e 2006.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje (29/01/2008) no Correio Braziliense
Por Alon Feuerwerker
alon.feuerwerker@correioweb.com.br

Rizzolo: Fica evidente, num cenário pessimista, que o Produto Interno Bruto(PIB) do Brasil, obviamente, cresceria menos, ao redor de 3,2%. O que a meu ver, sugere um excesso de pessimismo; contudo, em relação a um provável aumento da inflação em relação à do ano passado, entendo ser ela melhor do que agravar os efeitos da crise. O próprio FED americano, admitiu um provável aumento do índice inflacionário, tendo em vista o corte no juro. Quanto à eventual desvalorização cambial, seria benéfica em relação ao aumento das exportações, e poderia até compensar perdas no mercado interno.

É bom lembrar, que temos instrumentos básicos de controle, como fortalecer o mercado interno, e utilizar, se necessário, as reservas internacionais que estão por volta de US$ 185,024 bilhões, para um controle cambial mais eficaz, e evitar fortes e bruscas desvalorizações originadas de um colapso de capitais internacionais para o país, caso isso venha a ocorrer. Isso neutralizará possíveis riscos de reaceleração inflacionária. Observem, que nem tudo, significa necessariamente aumento de juros.

Brasil tem recorde de remessa de lucros e investimento dos EUA

Múltis drenaram US$ 21 bi do Brasil para suas matrizes

Remessa de lucros em 2007 foi recorde e também o “investimento direto estrangeiro”

Os dados divulgados no último dia 28 pelo Banco Central sobre a remessa de lucros e o “investimento direto estrangeiro” durante o ano passado mostraram onde residem os problemas do Brasil para que não seja afetado por uma crise que não é sua, que não provocou e que não tem necessidade alguma de importar ou de se submeter a ela.

Todas as crises no centro do sistema sempre foram uma excelente oportunidade para que os países da periferia desse sistema crescessem e implementassem o caminho do desenvolvimento e justiça social. Foi assim em 1930, onde inauguramos um ciclo de crescimento que iria preencher as décadas seguintes, e até na crise de 1973/74 – onde mesmo a ditadura percebeu o espaço, desenvolvendo o nosso setor de máquinas e equipamentos, antes fundamentalmente externo, e o país cresceu. E será assim nesta crise, se basearmos nosso crescimento firmemente no mercado interno. Exatamente por isso os dados anunciados pelo BC são ilustrativos dos problemas que necessitamos resolver.

LUCROS

A remessa de lucros para o exterior em 2007 foi de US$ 21,2 bilhões. Em 2006, havia sido de US$ 16,3 bilhões. O que representa uma escalada, aumentando sucessivamente de US$ 6,4 bilhões (2003) para US$ 8,2 bilhões (2004), US$ 10,6 bilhões (2005), US$ 16,3 bilhões (2006) e US$ 21,2 bilhões (2007). Ou seja, desde 2003 as remessas de lucros das empresas estrangeiras para o exterior – sem contar as formas maquiadas de enviar lucros – mais do que triplicou. Em relação ao ano anterior, as remessas de lucros em 2007 aumentaram 30%. Quanto a 2008, em apenas 28 dias as empresas estrangeiras enviaram US$ 2,1 bilhões para suas sedes.

Tal aumento de remessas se dá, exatamente, quando se prevê, neste ano, uma redução no saldo comercial de US$ 10 bilhões (de US$ 40 bilhões para US$ 30 bilhões). As remessas, que já são mais da metade do saldo comercial (exportações menos importações), tendem a aumentar em razão da entrada do “investimento” estrangeiro, ou seja, da tomada de setores da economia pelo capital externo. Ao mesmo tempo, o nosso saldo comercial tende a diminuir, devido à própria crise nos países centrais. O que mostra que esse quadro não é sustentável.

O “investimento direto estrangeiro”, isto é, o dinheiro externo para comprar empresas, aumentar a participação acionária externa ou turbinar empresas estrangeiras já instaladas aqui, subiu para US$ 34,6 bilhões. Em 2003, foi de US$ 10,1 bilhões; em 2004, US$ 18,1 bilhões; em 2005, US$ 15,1 bilhões; e, em 2006, US$ 18,8 bilhões. Ou seja, o dinheiro estrangeiro para dominar setores da economia por pouco não dobra em apenas um ano e, em relação a 2003, da mesma forma que a remessa de lucros, mais do que triplicou.

Quanto a esse último dado, há quem ache que ele mostra o “vigor” da nossa economia e que isso é muito bom para o país. Portanto, deveríamos abrir as portas, senão outras dependências mais íntimas, para que esse dinheiro estrangeiro invada o país – e, em seguida, comemorar efusivamente. Daí a importância que vêem no chamado “investment grade”, uma classificação das “agências de risco” – todas, braços de bancos americanos que zelam pela segurança dos especuladores, perdão, “investidores”.

Do jeito que falam nesse “investment grade”, parece até que a Polônia, a Tunísia, a Bulgária e a Romênia, países contemplados com a prebenda, conseguiram alguma coisa com ele, além de ter sua economia transformada numa economia externa, dirigida de fora, saqueada de fora, parasitada desde fora e com lucros enviados para fora. Além disso, esses países conseguiram rebaixar o salário real dos trabalhadores e aumentar o desemprego – pois esse é o efeito de ter monopólios industriais e financeiros externos operando à solta numa economia. O “investment grade” é, precisamente, uma carta de imunidade para que esses monopólios entrem num país.

O estouro na remessa de lucros é suficiente para perceber quais são as conseqüências dessa cegueira – ou quais podem ser, pois, apesar de tudo, o Brasil não é um país em bancarrota como a Polônia ou a Romênia, e esperemos que nunca seja.

Não por acaso, o “investimento direto estrangeiro” sempre foi considerado parte do “passivo externo” do país, assim como a dívida externa. Simplesmente porque ele significa que ativos aqui existentes deixaram de ser ativos brasileiros. Logo, em relação ao país, passaram a ser passivos, transferindo recursos nossos para fora, sob a forma sobretudo de lucros. Funcionam, portanto, como uma dívida, tirando recursos do país, ao invés de aportá-los, como faria um empreendimento nacional. É verdade que, ao contrário da dívida, esse desvio de recursos não tem fim à vista.

Não se trata, evidentemente, de uma questão meramente ideológica de patriotismo, sem base na realidade. Ao contrário, trata-se de uma questão muito prática. A solução não é impedir que haja qualquer capital estrangeiro no país. Subordinadas aos interesses do povo e do país, não há porque não admitir a existência de empresas estrangeiras aqui dentro.

No entanto, não existe país viável sem economia própria, isto é, de propriedade principalmente – ainda que não exclusivamente – nacional. Por que não existe? Entre outras razões porque, se a economia for propriedade principalmente de elementos externos, na primeira crise que houver o país será arrasado, escalpelado e esfolado, pois o primeiro interesse desses proprietários externos será arrancar daqui o que puderem para cobrir os rombos na economia do país deles.

Além disso, os objetivos de justiça social – maior distribuição de renda, maior salário real, mais emprego – são incompatíveis com o domínio da economia por monopólios. O que se chama de “investimento direto estrangeiro” é, precisamente, a entrada de monopólios estrangeiros para açambarcar ramos da economia do país e, no limite, o conjunto da economia. A conseqüência da monopolização, em especial se os monopólios não são do próprio país, é a concentração de renda, o salário baixo e o desemprego endêmico, pois é impossível ao monopólio realizar seu objetivo – o de extrair superlucros – sem que essa seja a conseqüência.

Por essa razão, uma enxurrada de “investimento direto estrangeiro” só é uma boa notícia para quem acha que os capitalistas dos EUA são franciscanos e não capitalistas.

JUROS

No ano passado, entraram US$ 47,97 bilhões (entrada líquida, já descontado o que saiu), para especular na Bolsa ou com títulos do governo. Para isso, o sr. Meirelles manteve os juros nas alturas, sacrificando trabalhadores e empresários nacionais. Logo ao primeiro rebate da crise nos EUA, esse dinheiro começou a sair. Daí a queda na Bolsa aqui no país.

Apesar disso, não há nenhuma inevitabilidade no estouro das contas do país. Pelo contrário, nunca, nos últimos anos, a situação foi tão favorável para que possamos crescer – até porque somos dos poucos países do mundo que contam com um mercado interno potencial enorme, além de amplos recursos naturais.

Certamente, isso significa aumentar o poder aquisitivo da população, aumentar o crédito – inclusive o financiamento às empresas – e avançar em áreas onde, até agora, permanecemos dependentes de importações. Nossa sorte é que foi para isso mesmo que nós elegemos o presidente Lula.

Há alguns anos, alguns débeis mentais – quase todos tucanos de primeira hora ou seus apologistas da mídia – pregavam que não havia diferença entre uma empresa nacional e uma estrangeira aqui instalada. Pois existe. Uma delas é que a empresa nacional não remete bilhões de dólares em lucros para fora do país. Outra é que ela não devasta o país para remeter recursos quando uma crise bate às portas do seu país de origem – simplesmente porque seu país de origem é o Brasil. Ou seja, ela não é um parasita da economia alheia. Não é pouca diferença, amigo leitor.

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo:O importante nessa análise, por sinal brilhante do jornalista Carlos Lopes, é que na medida em que os investimentos externos momentaneamente desafogam a economia, gerando uma sensação de empregabilidade, ela por outro lado, face a falta de uma política mais restritiva em relação às remessas de lucros acaba sendo prejudicial. Falta no Brasil, uma forte disposição em alavancar a nossa indústria nacional; uma coisa é certa, se estão investindo mais em determinados setores da economia, é porque na verade, é vantajoso, estão embasados nos ” investment grade” que os asseguram o bom negócio.

O capital estrangeiro nesses setores “avalizados” pelas ” agências de risco, por pouco não dobra em apenas um ano. Na realidade o IDE( investimento direto estrangeiro) deve ser considerado, sim, passivo externo, até porque não temos como mante-lo sob controle. Temos que desenvolver o parque industrial nacional e gerar um mercado interno forte robusto contando também, é claro com o capital externo, que é importante e necessário, porém, com maior controle e parcimônia, não se trata de nacionalismo infantilóide, mas gestão de interesses nacionais.

Investimento estrangeiro bate recorde no Brasil em 2007

O total de Investimento Estrangeiro Direto (IED) que ingressou no Brasil no ano passado foi de US$ 34,616 bilhões. Apenas em dezembro, o IED somou US$ 886 milhões. O total de investimentos estrangeiros em 2007 bateu o recorde de 2006, quando a marca chegou a US$ 18,782 bilhões.

O Banco Central, que divulgou os números nesta segunda-feira (28), previa que o total de investimento estrangeiro direto em 2007 fosse de US$ 35 bilhões. Já a conta corrente do balanço de pagamentos de 2007 fechou o ano com saldo positivo de US$ 3,555 bilhões, segundo os números do BC.

Em dezembro, porém, o saldo foi negativo em US$ 699 milhões. Em 2006, as transações financeiras do Brasil com o resto do mundo resultaram em um superávit da ordem de US$ 13,53 bilhões.

Com o aumento em 2007, esse capital que vem do exterior passa a ter uma importância maior para a economia nacional. Enquanto em 2006 o IED correspondeu a 1,75% do PIB (Produto Interno Bruto), no ano passado a proporção foi de 2,64% do PIB.

Os dados levam em conta recursos estrangeiros para o setor produtivo no país e ainda empréstimos intercompanhias, aqueles feitos pela matriz da multinacional para a subsidiária brasileira, abatidas as remessas feitas por conta de ganho com o capital investido.

Do total ingressado em dezembro, US$ 1,235 bilhão foi de participação no capital. Houve saída líquida de US$ 349 milhões nos empréstimos intercompanhias.

2008 começa diferente

O Banco Central (BC) informou que em janeiro, até esta segunda-feira, já foram registradas saídas líquidas no valor de US$ 1,8 bilhão de investimentos estrangeiros em ações e renda fixa.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, atribui o movimento à excessiva volatilidade das Bolsas de Balores em todo o mundo, resultado da incerteza proveniente da economia norte-americana. “Há perdas nas Bolsas do mundo inteiro, e é natural que ocorra aqui também” , disse.

O técnico do Banco Central disse ser difícil avaliar se a forte saída do investidor estrangeiro das ações prosseguirá, pois depende do comportamento das Bolsas internacionais frente ao atual ambiente de crise.

Lopes lembrou, porém, que do ponto de vista do investimento estrangeiro produtivo, 2008 começou de forma promissora para o Brasil, uma vez que já ingressaram US$ 4 bilhões em investimento externo direto (IED) até hoje, com a previsão de fechar o mês em US$ 4,5 bilhões.

Da redação, com agências

Rizzolo: As perdas são significativas em 2008, contudo, ao analisarmos a natureza dos investimentos, observamos que houve uma recuperação nos investimentos estrangeiros de cunho produtivo, já ingressaram US$ 4 bilhões em investimento externo direto (IED), esses recursos tem entrado pela perspectiva da economia brasileira, e não pela pura especulação financeira, haja vista, o fato da bolsa e renda fixa terem sofrido uma queda de US$1,8 bilhão muito em face também ao nervosismo externo.

Outro fator preponderante foi a redução do juro americano que faz com que com capital externo tenha mais ganho no Brasil, aumentando a atratividade do país. Por outro lado, a remessa de lucros para o exterior em 2007 foi de US$ 21,2 bilhões. Em 2006, havia sido de US$ 16,3 bilhões. O que representa uma escalada, aumentando sucessivamente de US$ 6,4 bilhões (2003) para US$ 8,2 bilhões (2004), US$ 10,6 bilhões (2005), US$ 16,3 bilhões (2006) e US$ 21,2 bilhões (2007). Leia o artigo acima onde procuro fazer uma análise mais detalhada sobre essa questão.

Governo destinará R$ 4 bilhões para combater “doenças da pobreza”

O combate a males como hanseníase, tuberculose, malária e dengue, conhecidos por “doenças da pobreza”, terá metas específicas, inclusive com recursos alocados, para tratamento, o que inclui saneamento ambiental. Foi o que assegurou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em entrevista ao programa Sala de Convidados, produzido pela Fundação Oswaldo Cruz, e e transmitido ao vivo pela NBR, a TV do Poder Executivo.

“Pretendemos alocar R$ 4 bilhões em quatro anos para triplicar a oferta de saneamento ambiental às populações indígenas, quilombolas e as que moram em regiões vulneráveis”, afirmou, destacando que a oferta de esgoto e água também está incluída no que chamou de “Pacão” – o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.

O ministro ressaltou a melhoria de posição do país no ranking da mortalidade infantil, divulgada no último relatório do Fundo das Organização das Nações Unidas para a Infância (Unicef). “Nossa meta agora é corrigir não só as distorções regionais, mas também as de renda”, disse. Ele atribuiu essa melhora ao Programa Saúde da Família. “Nossa cobertura prioritária do PSF é nas regiões com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo”.

Outra meta do programa, segundo Temporão, é ampliar a oferta de transplantes no país. “O Brasil é o segundo país em volume de transplantes no mundo, mas ainda temos uma fila enorme. Queremos passar dos atuais 15 mil tranplantes por ano para 22 mil, em 2010. Nesse caso, vamos depender de recursos financeiros, mas também da sensibilidade das pessoas sobre a importância da doação e da capacitação dos hospitais para receber doações”.

Agência Brasil

Rizzolo: A destinação de recursos com o fim de combater doenças da pobreza é louvável. Contudo, o que mais causa as doenças é a falta de infra-estrutura em saneamento básico, e para isso, nem é preciso ser médico sanitarista para afirmá-lo. O problema, é que investir em saneamento básico, não aparece, e não é convertido em voto. O governo, não se apropria da idéia, de que de nada adianta apenas combater as doenças da pobreza, se no bojo do problema está a falta de ” oferta de esgoto e água ” que de forma secundária em importância, segundo Temporão, ” também estão incluídas no “Pacão” . Pacão ? Essa eu não conhecia!

Após Carolina do Sul, Obama vai fortalecido à ‘super-terça’

Ainda na luta para ser o candidato democrata à sucessão de George W. Bush na Casa Branca, Barack Obama ganhou novo fôlego e estímulo neste sábado (26), ao vencer de forma consagradora as primárias da Carolina do Sul. O triunfo fortalece o senador de Illinois para a disputa da chamada ”super terça-feira”, em 5 de fevereiro, quando mais de 20 estados americanos farão primárias simultâneas.

Na Carolina do Sul, graças ao esmagador apoio do eleitorado negro, Barack Obama recebeu o dobro dos votos da senadora Hillary Clinton (55% x 27%) e também superou o ex-senador John Edwards (18%). O fato de metade dos cidadãos que foram votar ser afro-americana, segundo as pesquisas de boca-de-urna, poderia ter ajudado o senador a vencer a disputa, na qual houve uma grande polarização racial dos eleitores.

De fato, oito de cada dez eleitores negros que compareceram às urnas votaram em Obama, enquanto apenas dois escolheram a ex-primeira-dama dos Estados Unidos. Em sua primeira aparição pública após obter a vitória, Obama tentou — segundo os analistas políticos — amenizar a tensão racial que houve na campanha nos últimos dias.

O senador não quer ser considerado ”o candidato dos afro-americanos” — o que poderia prejudicá-lo no restante do país. ”Nestas eleições, não se trata de escolher segundo a região de cada um, a religião ou o gênero. Não se trata de ricos contra pobres, jovens contra velhos, nem brancos contra negros. Trata-se (de uma batalha) do passado contra o futuro”, disse publicamente.

Novo cenário

O resultado das primárias na Carolina do Sul aumentou a indefinição da corrida eleitoral entre os democratas. Segundo pesquisas, Hillary ainda é a favorita para vencer em estados com grandes colégios eleitorais, como a Califórnia, Nova York e Nova Jersey.

Mas tanto Obama como Hillary estão procurando faturar o máximo possível de delegados em cada estado, para a eventualidade de a disputa só ser decidida na convenção democrata, que acontece em agosto na cidade de Denver, no Colorado.

Nos estados da ”super terça-feira”, Obama espera repetir o êxito obtido em Iowa, de população predominantemente branca, e na Carolina do Sul, de eleitorado majoritariamente negro.

Além do apoio afro-americano, Obama tem despertado a simpatia de eleitores independentes, como aconteceu em New Hampshire, onde ele obteve a segunda colocação. Sua candidatura também atrai republicanos moderados — caso de Nevada, estado em que o senador também ficou com o segundo lugar, mas faturou mais delegados do que Hillary.

O fato de a candidatura de Obama ter um apelo que transcende raças e até barreiras ideológicas vem sendo destacado por seus eleitores, que apreciam a mensagem de união defendida pelo candidato. ”Ele é um homem negro e é um grande orador. É como Martin (o reverendo Martin Luther King), que tinha muitos correligionários brancos”, disse o afro-americano Tommie Wilson, que votou em Obama neste sábado.

“Telefonei para meu avô hoje, e ele falou que sonhava em um dia ver um homem negro chegar à Presidência. Isso é muito bonito, mas a importância de Obama não é o fato de ele ser afro-americano — mas, sim, de ter uma mensagem que chega a todos os americanos”, afirmou.
Site do PC do B

Rizzolo: A candidatura de Obama representa um avanço progressista nos EUA, muito embora, como já afirmei em outras oportunidades, seu discurso não difere muito do de Hillary em relação a questões pontuais como a retirada imediata das forças americanas no Iraque. Poderíamos dizer que Obama tem o ” bônus” de ser um bom orador e cativar a população negra nos EUA. De qualquer forma, o grande desafio de sua candidatura, é obter os votos da população branca. Os conservadores lançam teorias conspiratórias a seu respeito, chegaram a dizer que ele é muçulmano e que chegou a estudar numa madraça. Pura invenção, alegoria, tudo, para desqualifica-lo, aliás é a tática dos republicanos belicistas que insistem na política ” agressionista” de Bush. Pessoalmente entendo que tanto Obama quanto Hillary são candidatos descentes, vamos aguardar a “super- terça”, e torcer pelos democratas.

A alta das commodities e da devastação

Um dos grandes desafios da atualidade, é como manter um nível de desenvolvimento e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente. Essa questão atinge em maior impacto países como o Brasil, que possuem extensa área de cultivo e florestas que necessitam ser preservadas a todo custo.

Seria um excesso de ingenuidade, acreditarmos que o governo tem possibilidade de controlar a evolução do agronegócio, aquecido e impulsionado por financiamentos, e pela demanda internacional expressada nos altos preços das commodities agrícolas, minerais, e ambientais, cujos valores se sustentam em bons índices no mercado internacional. Com efeito, a elevação dos preços de pelo menos duas commodities, soja e carne, tiveram sim, participação no crescimento da derrubada ilegal de árvores; corroborando este fato, observarmos que um dos fatores que foram apontados para a diminuição do desmatamento, foi a queda nos preços internacionais. Mas só esses fatos não justificariam o problema ambiental.

As medidas de contenção como o bloqueio de financiamento público para atividades que desmatem, atingirá os créditos do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), um dos mais propalados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de financiamentos do Banco do Brasil, do BNDES e do Basa (Banco da Amazônia). Contudo, grande parte dessa devastação não e promovida pela pobre agricultura familiar, e sim, pela recuperação financeira do agronegócio, vez que, para se fazer devastação é necessário estar capitalizado.

Agora a grande questão, é saber de que forma poderemos ser grandes fornecedores de desses produtos em alta no mercado, e, ao mesmo, atuarmos numa “fina dosemetria” para que os excessos não sejam cometidos; esse é o grande desafio. Não há dúvida, muito embora românticos insistam em afirmar ao contrário, que o agronegócio vai cada vez mais prevalecer no Brasil, até porque, no ano passado o setor absorveu R$ 40 bilhões de reais em créditos. Apesar do governo tutelar com incentivos à agricultura familiar, ela é difusa, não organizada, e os recursos acabam não chegando de forma devida aos trabalhadores, face à burocracia.

A estrutura conceitual do agronegócio, passa mais por volume, produção e eficiência, e não há como negar que em razão disso, a balança comercial do agronegócio fechou o ano de 2007 com um saldo recorde: US$ 49,7 bilhões. Este valor foi alcançado graças ao desempenho das exportações do setor que atingiram a cifra de US$ 58,4 bilhões – 18,2% superior ao ano de 2006, contra US$ 8,7 bilhões das importações – resultado tanto do aumento dos volumes (5,6%) quanto dos preços (12%).

Um dos fatores de desenvolvimento não só do Brasil, mas de toda a América Latina é, sem dúvida, exclusivamente graças a fatores externos, como a expansão da economia mundial e os altos preços das commodities, e isso a meu ver é preocupante. Não podemos resumir nossa economia, e ficar de todo dependente das commodities, que impulsionam o valor das nossas exportações em virtude das demandas por estes produtos, principalmente pelos países asiáticos; surtos externos de crescimento, não vão durar para sempre.

De forma racional e sincera, o governo deve admitir suas falhas quando impõe totalmente as causas da devastação aos valores atribuídos internacionalmente às commodities, isso, na verdade, não justifica a intempestividade em aferir os danos causados ao meio ambiente. O que falta na realidade, é menos eufemismos e bravatas por parte da ministra do Meio Ambiente Marina Silva, e mais competência no monitoramento das áreas, para prever a tempo os danos não só causados pelo mercado internacional de commodities, mas face a problemas de ordem “técnica”.

Fernando Rizzolo

O individualismo e o isolacionismo

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Globalização é a expressão de ordem do capitalismo. Na realidade o que impulsiona essa expressão é um tipo de alienação. A ironia da globalização, advêm do fato do mundo estar teoricamente unificado, e ao mesmo tempo as pessoas estarem tão separadas entre si como nunca na história da humanidade. Cada vez mais, nós nos definimos a nós mesmos em termos econômicos. Costumamos a um primeiro encontro, sempre perguntar ao outro. Você trabalha em que área? Nossas semanas estão divididas entre o trabalho e o descanso, o que na maioria das vezes significa horários para produzir, e horários para consumir, nos encontrando num ciclo entre produção e consumo, invariavelmente.

Nossas alienações aumentam de forma progressiva. A cada etapa que acompanha o desenvolvimento profissional, nos distanciamos dos outros cada vez mais; mudamos de um apartamento para um condomínio fechado, sem contato com os nossos vizinhos, compramos dispositivos que efetuam ” personalização ” do mesmo apenas para nosso uso exclusivo, nos proporcionando ouvir ou assistir somente músicas ou filmes do nosso gosto, de forma separada dos outros, geralmente através de “headphones” que acabam nos desconectando do mundo. Até mesmo nossos celulares, que deveriam nos conectar com os outros, nos permitem ” filtrar” nossas relações, nos separando dos corpos que estão ao nosso redor, de forma a nos fazer ouvir vozes ” descorpadas”, de pessoas, que no final, raramente encontramos. Filhos que só falam com os pais por telefone, visitas via celular a entes queridos, com um final geralmente dizendo ” eu te amo “.

Desesperadamente procuramos no fundo, estar com, somos na essência ” animais sociáveis”, apesar de com freqüência estarmos exaustos da alternância entre fazer, comprar, produzir e consumir, o que nos impõe uma real impossibilidade de “simplesmente sermos nós”.

Num ambiente altamente desfigurado, ajudarmos ao outro, é a melhor forma de nos tornarmos parte de algo maior. Como fazer isso? Agindo ao semelhante, ou seja, fazer aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem a nós mesmos. Seria o princípio judaico de assegurar que não haverá ninguém sem roupas enquanto temos roupas, ou não haverá famintos enquanto alguns saboreiam alimentos. O capitalismo nos leva ao egocentrismo, ao individualismo, e dessa forma, não mais temos condições de pensar no coletivo, tudo enfim gira em torno do pessoal, do único, do mesquinho.

Mas como poderíamos quebrar essa cultura importada, a do consumo? Uma das formas é a reflexão, é o se despir da ganância, é se voltar as coisas simples da vida, à natureza, aos amigos, e não se deixar levar à extrema concorrência que gera o ódio, e leva fatalmente à depressão.

Ter um projeto de vida e uma visão política de Justiça Social, enobrece o homem e refina os preceitos éticos que tanto o individualismo consumista nos obscureceu. Pensar em Deus e agir como parceiro dele aqui na terra procurando ser o melhor naquilo que você faz é a melhor oração, mas sem se deixar levar pela febre do isolamento e do do consumo que o levará fatalmente à tristeza e a falta de sentido na vida. Pense nisso.

Fernando Rizzolo

As idolatrias do mundo moderno

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Vista do Monte Sinai

Como de costume, todo Sábado procuro não escrever textos que não estejam relacionados com o Shabbat e com o estudo da Tora. Sem ter a intenção de dar uma conotação pessoal religiosa ao que escrevo, permito dirigir me a você, que acompanha minhas reflexões diariamente, e compartilhar com o amigo(a), de uma forma humilde, esses momentos de introspecção dos meus estudos no Shabbat, que se iniciam todas às sextas-feiras, quando me recolho duas horas antes da primeira estrela surgir no céu, numa Sinagoga ortodoxa que freqüento em São Paulo.

Como já disse anteriormente, tenho profundo respeito por todas as crenças, religiões, e acima de tudo sou um brasileiro patriota, amo meu país e o povo brasileiro, e tenho sim, uma grande satisfação espiritual em ao estudar a Parashá (Porção da Tora semanal) relacioná-la ao que vivemos nos dias atuais. Shabbat é um dia de paz, descanso e harmonia. Devemos nos abster das tensões e às exigências da vida cotidiana.

Como é uma reflexão de estudo pessoal, baseada na introspecção bíblica, recomendo a todos que acompanhem no Antigo testamento (Torah ) os comentários aqui expostos, para que possamos ter uma semana de paz; e que através dos estudos judaicos, possamos compreender nossas vidas e encontrar formas de superar as adversidades na visão de Hashem (Deus). Isso nos dará energia e um “Idiche Kop” ( perspicácia particular), para que enfim tenhamos condições de construir um Brasil cada vez mais digno e com mais justiça social, que é a base do Judaísmo, do Cristianismo, do Islamismo, e de todas as religiões que levam a um mesmo Deus.

E lembre-se, Deus não quer apenas que você ore, mas que você aja com um parceiro dele aqui neste mundo, promovendo mudanças, estudando, se aperfeiçoando cada vez mais em sua área de atuação, e lendo, lendo muito. Quem não lê não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo . Nesses aspectos, Ele Hashem ( Deus), precisa mais de você do que você dele. Somos aqui nesse mundo, parceiros de alguém maior. E quando orares, siga um conselho do Rabi Menahem Kotzk que ouvindo o comentário, respondeu: ” Se alguém clama ” Pai, ó Pai ! ” várias vezes, Deus acaba se tornando realmente seu Pai “.

A parashat desta semana chama-se Yitrô inicia-se com o sogro de Moshê, Yitrô, chegando ao acampamento do povo judeu no deserto, onde é saudado calorosamente por grande quantidade de pessoas. Yitrô desejou juntar-se a eles quando ouviu falar de todas as maravilhas e milagres que D’us realizara para o povo judeu durante o êxodo do Egito.

Quando vê que Moshê está agindo como único juiz do povo desde o amanhecer até a noite, Yitrô declara que este sistema jamais funcionará. Sugere portanto que juizes subordinados sejam designados para julgar os casos menos importantes. Moshê concorda com este plano.

O povo judeu chega ao Monte Sinai e prepara-se para receber a Torá. Moshê escala a montanha e D’us lhe diz para transmitir ao povo de que serão para Ele como um tesouro entre as nações. Após três dias de preparação, finalmente chega o momento da revelação, e em meio a trovões, raios e o som do shofar, D’us desce sobre a montanha e proclama os Dez Mandamentos.

Moshê então sobe à montanha para receber o restante da Torá de D’us, tanto a parte escrita como a oral. A porção é concluída com várias mitsvot referentes à construção do Altar no Templo.

Deus não se revelou nos desertos de forma repentina. A entrega da Torá foi antecedida de muitos preparativos, que estão detalhadas nos versículos que antecedem a Revelação (Êxodo, capítulo 19). Foram tentativas de aproximar os corações e de estabelecer uma fraternidade verdadeira entre as diversas facções do povo, pois a união de todas elas sem exceção era condição sine qua non para o surgimento de uma interligação entro o Divino e o humano. Mas um dos mandamentos que mais me sensibiliza, é o ” Não terás outros Deuses diante de mim ” . Não lugar para dois deuses no universo. É inadmissível a existência de uma força Divina adicional. Todas as forças existentes no mundo provêm do mesmo Ser Supremo e Único. Também não há espaço para a pergunta provocativa ” quem criou Deus?”, pois ” exigir uma causa à primeira causa, escreveu Frank Ballard, ” é o mesmo que pedir que o primeiro seja, ao mesmo tempo, também o segundo! Isto significa exigir que a grande causa de tudo não seja, ao mesmo tempo uma conseqüência .

De fato, todo aquele que aceita o jugo do Reino Divino, e para quem as palavras ” Eu é” preenchem todo o seu ser, está livre de qualquer forma de obediência ou servidão a outras forças existentes no Universo. Na antiguidade, os objetos eram cultuados como divindades. Um dos mandamentos que mais me leva à uma reflexão, é o ” Não terás outros deuses diante de mim “, pela sua casualidade nos dias de hoje. Na formulação de Franz Rosenzweig, ” apenas os nomes mudaram. A multiplicidade do culto continua existindo. Cultura e civilização, povo e país, nação e raça, arte e ciência, economia e posição social, eis uma resenha curta, e certamente incompleta, do Panteão de “divindades” modernas. E, quem poderá negar a existência destas divindades? Jamais um idólatra adorou com tanto sacrifício e fé como os nossos contemporâneos fazem aos deuses acima…. E assim continua viva, até os nossos dias, a guerra, entre a dedicação ao único e a dedicação aos muitos no coração do homem, e o desfecho desta batalha continua sendo incerto “( Franz Rosenzwig em seu livro sobre Iahuda Halevi, citado por Nechama Leobowitz em uma de suas obras que costumo ler ).

Leia com atenção as palavras do comentarista Rabi Yits`chac Arama que, apesar de ter vivido séculos atrás, escreve como se fosse nosso contemporâneo:

E de modo geral, a grande idolatria de nosso mundo é uma realidade vigorosa. Esta idolatria são os esforços e os pensamentos investidos nos negócios e no acumulo de bens. Tais esforços e pensamentos brandem contra Deus; apóiam-se e sustentam-se nos bens e nos negócios, e por eles negam a existência do Divino, caracterizando a essência da idolatria “

Rabi Yits´chac Arama

Outro mandamento de suma inportância, é a santificação do Shabat ” ” Estejas lembrado do dia do Shabat para santificá-lo”. Independentemente de a sua religião desenvolver uma sensibilidade espiritual no Sábado é um ato extremamente saudável. Temos que criar um ambiente de paz e reflexão no Sábado, que é um dia de descanso para todos, em igualdade absoluta. Nesse dia podemos criar o equilíbrio entra vida material e a vida espiritual nas nossas vidas. É um dia em que segundo Heschel ” durante o qual experimentamos o gosta da vida e da existência, ao invés do gosto da ação e realização ” . A energia do Shabat pode ser experimentada por qualquer pessoa, raça, ou religião, como já disse, basta senti-la. Pessoalmente, e algumas corrente rabínicas, entendem que até os animais devem descansar em Shabat, para estranheza dos meus cachorros, que no sábado não os levo para passear; pois Deus admite que o Shabat é para todos, até para o descanso dos animais nossos irmãos aqui na Terra.

Fontes: Beit Chabad, Reflexões sobre a Torá de Moshe Grylak, Heshel, Frank Ballard

Texto para Reflexão

Sofrimento não tem sentido a não ser que você decida diferentemente

Por Harold Kushner

O seguinte artigo, extraído do best-seller de Kushner, é uma resposta ao sofrimento, em que se conclui que Deus não é a causa imediata da tragédia. Deve-se observar, no entanto,que esta é a solução teológica deste pensador em particular e, de fato, é provavelmente contrária à teologia formal, que supõe que o sofrimento é infligido ao povo judeu por causa de seus pecados. Este texto foi reimpresso, com consentimento, a partir do livro When bad Things happen to Good People (Quando Coisas Ruins Acontecem Com Boas Pessoas), publicado por Schocken Books.

O Sofrimento Não é Uma Punição de um Deus Cruel

Eu acredito em Deus. Mas eu não acredito nas mesmas coisas sobre Ele nas quais acreditava anos atrás, enquanto crescia, ou quando fui um estudante de teologia.Reconheço Suas limitações. Ele é limitado no alcance de Suas ações pelas leis da natureza e pela evolução da natureza humana e liberdade moral humana.

Eu não mais responsabilizo Deus pelas doenças, acidentes e desastres naturais, porque eu percebo que perco muito e ganho pouco quando culpo Deus por essas coisas. Eu consigo reverenciar mais facilmente um Deus que odeia o sofrimento mas não pode eliminá-lo do que um Deus que escolhe fazer crianças sofrerem e morrerem, seja qual for o motivo superior.

Há alguns anos, quando a teologia da “morte de Deus” estava na moda, lembro ter visto um adesivo onde se lia “Meu Deus não está morto, sinto muito pelo seu.” Acho que em meu adesivo se leria “Meu Deus não é cruel, sinto muito pelo seu.”

Deus não causa nossos infortúnios. Alguns deles são causados por má sorte, alguns são causados por pessoas más, e alguns simplesmente são uma conseqüência inevitável de sermos humanos e mortais, vivendo em um mundo de leis naturais inexoráveis.

As coisas dolorosas que nos acontecem não são castigos por nosso mau comportamento, nem são, de algum modo, parte de algum grande projeto de Deus. Porque a tragédia não é vontade de Deus, não precisamos nos sentir chateados com Deus e nem traídos por Ele, quando a tragédia nos atinge. Podemos nos dirigir a Ele para que nos ajude a superá-la, exatamente porque podemos nos convencer que Ele se sente tão ultrajado por ela quanto nós.

Uma Noção de Significância Torna a Dor Mais Suportável

“Isso quer dizer que minha dor não tem sentido?” Este é o desafio mais expressivo que pode ser suscitado pelo ponto de vista que tenho defendido neste livro. Poderíamos suportar quase qualquer dor se soubéssemos que existe um motivo atrás disso, um propósito para a mesma. Mas mesmo um fardo mais leve se torna demais se sentirmos que não faz sentido.

Em um hospital de veteranos, os pacientes que foram seriamente feridos em combate têm uma maior facilidade para se adaptarem aos seus ferimentos do que pacientes com exatamente o mesmo ferimento, mas que tenha sido causado seja quando se divertiam numa quadra de futebol ou numa piscina, porque os primeiros podem acreditar que seu sofrimento, pelo menos, foi por uma boa causa. Pais que tenham se convencido de que existe algum propósito que será atingido pela limitação de seus filhos, podem aceitar o problema mais facilmente pelo mesmo motivo.

Vocês se lembram da história bíblica sobre Moisés, no capítulo 32 do Êxodo, como ele atirou as tábuas dos Dez Mandamentos quebrando-as, quando desceu do Monte Sinai e viu os Israelitas venerando o bezerro de ouro?

Existe uma lenda judaica que nos conta que, enquanto Moisés descia a montanha com as tábuas de pedra nas quais Deus havia escrito os Dez Mandamentos, ele não teve problemas para carregá-las, embora fossem placas de pedra largas e espessas, e a descida era íngreme. Afinal, apesar de serem pesadas, tinham sido inscritas por Deus e eram preciosas para Moisés. Mas quando Moisés encontrou o povo dançando em volta do bezerro de ouro, a lenda diz, as palavras desapareceram das tábuas. Elas se tornaram, novamente, apenas pedras negras. E, então, se tornaram pesadas demais para que ele as segurasse.

Poderíamos suportar qualquer fardo se soubéssemos que existe um sentido no que fazemos. Terei eu tornado mais difícil para as pessoas aceitarem suas doenças, seus infortúnios, suas tragédias familiares, aos lhes dizer que estas não são coisas enviadas por Deus, como parte de um plano mestre Dele?

Permitam que eu sugira que as coisas ruins que acontecem em nossas vidas não têm sentido quando nos acontecem. Elas não acontecem por algum bom motivo que nos faria aceitá-las de bom grado. Mas nós podemos dar a elas um significado. Podemos redimir nossas tragédias da insensatez ao conferir um significado às mesmas.

Olhar Para o Futuro Redime Nossas Tragédias

A pergunta que deveríamos estar formulando não é: “Por que isso aconteceu comigo, o que eu fiz para merecer isso?” Esta é, na verdade, uma pergunta irrespondível, inútil. Uma pergunta melhor seria: “Agora que isso aconteceu comigo, o que eu vou fazer a respeito?”

Martin Gray, um sobrevivente do Gueto de Varsóvia e do Holocausto, escreveu um livro sobre sua vida chamado For Those I Loved (Para Aqueles que Eu Amei). Ele conta como, depois do Holocausto, reconstruiu sua vida, se tornou um homem de sucesso, se casou e criou uma família. A vida parecia boa depois dos horrores do campo de concentração.

Então, um certo dia, sua mulher e filhos foram mortos quando um incêndio florestal destruiu sua casa, no sul da França. Gray ficou destroçado, à beira da loucura, com mais esta tragédia. As pessoas lhe encorajavam a exigir um inquérito para determinar as causas da tragédia. Mas, ao invés disso, ele optou por dedicar seus recursos para um movimento de proteção à natureza contra incêndios futuros. Ele explicou que um inquérito, uma investigação, se concentraria no passado e em questões de dor e tristeza e culpa. Ele queria se concentrar no futuro.

Um inquérito o colocaria contra outras pessoas – “será que alguém foi negligente? De quem é a culpa?” – e ficar contra outras pessoas, se dedicar a encontrar um vilão, apenas deixa uma pessoa solitária mais solitária ainda. A vida, ele concluiu, tem que ser vivida para alguma coisa, e não contra alguma coisa.

Nós também precisamos superar as questões que se concentram no passado e na dor –“por que isso aconteceu comigo?”—e, ao invés disso, precisamos fazer a pergunta que nos abre as portas do futuro: “Agora que isso aconteceu comigo, o que eu vou fazer a respeito?”

Rabi Harold S. Kushner é rabino pertencente ao Templo Israel em Natick, Massachusetts. Ele é autor de vários livros, incluindo Living a Life that Matters (Vivendo uma vida significativa).

Fonte site da Comunidade Shalom

Rizzolo: Eu diria que a mente humana é extremamente incapaz de entender os conceitos e a lógica do pensamento de Deus. A nossa lógica, não é a mesma lógica de Deus, quando coisas acontecem como tragédias não estamos ao alcance de entende-las pelo simples motivo de que nossa mente, nosso cérebro, não possui a capacidade e a lógica Divina, temos apenas que aceita-las. Talvez por isso rezemos o Cadish aos mortos, que nas suas letras é uma exaltação a Deus, provavelmente uma exaltação a aceitação da lógica Divina.

Tenha um Sábado e uma semana de muita paz !

Fernando Rizzolo

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O meio ambiente não é (só) caso de polícia

O problema, entretanto, é quando as pessoas de bem precisam se transformar em malfeitores para garantir um amanhã melhor para si e sua família

Enquanto o presidente da República dava ontem tratos à bola no difícil tema do desmatamento recorde da Amazônia, o mundo tomava conhecimento de que a economia chinesa cresceu estonteantes 11,4% em 2007. E o Brasil descobria que o desemprego interno despencou para 7,4% em dezembro. O que o primeiro assunto tem a ver com os dois últimos? Tudo. O avanço do Brasil sobre a Amazônia não ocorre porque os brasileiros são maus ou não gostam da natureza. A exploração econômica da região progride porque a demanda por alimentos está aquecidíssima. Árvores são derrubadas para criar gado e plantar soja. Com um agravante: a expansão da cana-de-açúcar para produzir etanol na porção meridional do país empurra ainda mais outras culturas para o Brasil setentrional.

A principal ficção difundida pelo presidente da República em seu novo papel de garoto-propaganda do etanol brasileiro no mundo é que há terra sobrando aqui para plantar cana. E que, portanto, podemos muito bem expandir a oferta de álcool sem pressionar o preço dos alimentos ou cortar árvores. É a teoria palaciana das terras infinitas. Tese que não agüenta um sopro. Já perguntamos nesta coluna e repetimos a indagação: se está sobrando terra degradada (improdutiva) para plantar cana, por que falta terra para a reforma agrária? O pessoal do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) pede há anos que o Palácio do Planalto autorize a portaria que moderniza os índices de produtividade, para aumentar o estoque disponível para a democratização da propriedade rural. E nada de o Planalto se mexer.

A explosão do desmatamento é responsabilidade exclusiva do governo Lula e de quem o comanda. A administração federal divide-se entre os adeptos incondicionais do agronegócio e os militantes de um preservacionismo amazônico radical e utópico. Esses dois vetores, aparentemente opostos, na verdade potencializam-se. Ao não se lançar com ímpeto e determinação numa empreitada para tornar viável a exploração econômica racional da Amazônia, o governo petista aparece nos primeiros capítulos como o mocinho da novela. Mas, visto que é impossível ludibriar todos o tempo todo (já advertia Winston Churchill), um dia os números frios vêm à luz e a realidade se impõe: em resumo, a Amazônia brasileira está à mercê do latifúndio do século 21.

E assim continuará, enquanto o presidente da República estiver mais preocupado com o que pensam dele em Paris do que em Roraima. Quantas vezes Lula foi a Roraima desde que tomou posse em 1º de janeiro de 2003? Alguém sabe? Ontem, a cúpula do governo reuniu-se em palácio para discutir o aumento da repressão ao desmatamento ilegal. Ótimo. Mas será que o governo imagina solucionar o problema unicamente com o uso de força policial? A questão ambiental não é somente caso de polícia. Enquanto a árvore derrubada representar a criação de um valor maior do que mantê-la de pé, as estatísticas prosseguirão sua caminhada cruel. O homem se move pela busca da riqueza. Bloquear esse movimento sem oferecer opções é como construir um barragem de rio sem vertedor. Chega uma hora em que a força da água leva tudo de roldão.

Para evitar uma catástrofe na Amazônia, o Brasil precisa escapar do discurso catastrofista. Veja-se, por exemplo, o caso do aquecimento global. Se as teorias a respeito do assunto estiverem corretas, é provável que a elevação da temperatura no planeta acabe contribuindo mais para a extinção das florestas tropicais do que o contrário. O catastrofismo também preocupa por outra razão: do jeito que a coisa vai, daqui a pouco aparece alguém propondo um “Plano Brasil”, nos moldes do Plano Colômbia. Ali, justifica-se a presença de tropas americanas em nome do combate ao narcotráfico. Aqui, certamente haverá quem proponha chamar os marines para tentar salvar o ecossistema amazônico.

A Amazônia tem salvação. Ela está na expansão civilizada do homem, com base na agricultura e na pecuária familiares, no zoneamento ecológico-econômico e na produção científica com o aproveitamento da biodiversidade. A ação policial será sempre importante, como em todo lugar, para combater as ilegalidades e separar os malfeitores das pessoas de bem. O problema, entretanto, é quando as pessoas de bem precisam se transformar em malfeitores para garantir um amanhã melhor para si e sua família.

Por Alon Feuerwerker
Blog do Alon

Rizzolo: A política de incentivo do agronegócio faz com que a desmatamento de lugar a produtos relacionados aos commodities que estão em alta no mercado internacional. Uma política que não seja a policialesca como diz o texto poderia, uma vez bem planejada, conter esse desmatamento. Como apregoar o agronegócio, e ao mesmo tempo detê-lo? Eis a questão. Com crise americana e internacional a questão do ” afrouxamento” dos subsídios agrícolas perpetrados pelos países ricos parece potencializar essa questão. O perigo, é que quando falamos em meio ambiente, em Amazônia, os mariners ficam excitados, e os republicanos esperam o pretexto se cristalizar, para enfim, um dia darem o bote.

Turbulência global ameaça o crescimento da América Latina, diz “FT”

Os desdobramentos nos mercados globais neste ano sugerem que a América Latina poderá perder seu brilho, diz reportagem desta sexta-feira do jornal “Financial Times” (íntegra disponível para assinantes).

O texto justifica a previsão dizendo que as bolsas de toda a região caíram mais rapidamente do que a maioria do restante do mundo, com um declínio médio de quase 16% desde o início do ano.

O “FT” reconhece que houve uma diminuição da dependência dos Estados Unidos, que atualmente absorvem menos de 20% das exportações do Brasil, Argentina, Chile e Peru. Mas ressalta que muitos mercados para os quais a América Latina se diversificou serão duramente atingidos por uma desaceleração americana.

Outra ressalva é o fato de os governos sul-americanos não terem promovido as reformas que aumentariam a produtividade e a perspectiva de crescimento a longo prazo. O Brasil – como outros países do continente – aumentou seus gastos, mas fez pouco para reformar um sistema previdenciário deficitário e a carga tributária aumentou.

Analistas dizem que muitos mercados emergentes estão particularmente vulneráveis, já que a quantidade de dinheiro que atraíram para portfólios de investimento é alta e a fuga de capital poderia se tornar uma torrente caso o sentimento permaneça ruim.

“Não há como a região escapar do que está acontecendo internacionalmente. Há um amortecimento, mas ele desaparecerá”, diz Walter Molano, da BCP Securities.

Folha de São Paulo

Rizzolo:Na realidade, a tese do deslocamento (decoupling), onde alguns economistas otimistas afirmam que as economias emergentes manterão seu dinamismo, apesar dos problemas na potência número um dando um impulso necessário para movimentar outros países, entendendo que o mundo não depende mais de um único motor, não é correta, e tem que ser vista com cautela. No nosso caso específico, que dependemos muito dos preços das commodities, a partir do momento que outros países como China e Índia diminuírem seu consumo face a interrelação econômica com os EUA, fatalmente sentiremos e iremos verificar que não estamos tão ” descolados” como emergente. A saída, como sempre digo, é o mercado interno aquecido.

Copom mantém juros nas alturas e sem viés de baixa

Instinto de Lula não se enganou quando ele falou, com Meirelles presente, na reunião ministerial: “esta mesa aqui parece a Santa Ceia”

Disse o presidente Lula, na reunião do seu Ministério na quarta-feira, que “esta mesa aqui parece a Santa Ceia”. Mais uma vez não se enganou o instinto operário do nosso presidente. Veja, leitor, o que aconteceu.

Na tarde do mesmo dia, um dos participantes da reunião esgueirou-se em meio ao crepúsculo vespertino que anunciava a noite, lentamente encobrindo a capital da República, escoando-se sorrateiramente em direção ao Banco Central. Poucas horas depois, o Copom – isto é, a diretoria do BC – anunciou que a taxa básica de juros estava mantida em 11,25% e sem qualquer perspectiva (“viés”) de baixa. Pior ainda, foi a terceira vez seguida que os juros foram mantidos inalterados, sem que existisse qualquer razão para isso – e existindo todas as razões para baixá-los.

O elemento que se esgueirou da reunião do Ministério para a atmosfera crepuscular de Brasília foi o presidente do BC e do Copom, Henrique Meirelles.

INFORMANTE

Portanto, razão tem o nosso presidente. A reunião do Ministério foi uma verdadeira Santa Ceia. Não faltou nem mesmo um Judas Iscariotes. Dizem até que havia dois, se contarmos com o ministro da cultura alienígena, aliás, “globalizada”. Mas este, pelo menos, não proferiu mais um aforismo sobre o não-ser sendo um ser sem ser um não-ser sendo – notória especialidade filosófica que desenvolveu ao longo dos anos etéreos de sua existência.

Já Meirelles, na falta do ministro Mantega, acometido por um mal-estar odontológico, foi o informante da reunião. Conseguiu dar um informe sobre a crise americana e seus reflexos no Brasil em dez minutos. Dentro em breve ele conseguirá resumir a obra de Adam Smith em menos tempo ainda… Se é que ele ouviu falar nesse pensador escocês. Embora, pensando bem, 10 minutos de Meirelles devem ter sido muito mais do que a maioria dos ministros – e demais seres humanos – pode suportar sem que apareçam sinais premonitórios de convulsões e outros fenômenos desagradáveis.

Na reunião, Meirelles disse que não havia perigo para o Brasil na crise norte-americana, já que nossas exportações para aquele país são apenas 15% do total que vendemos no exterior. Em suma, parece ter repetido o que já havia dito alguns dias antes – a de que nosso crescimento está baseado no mercado interno, por isso a crise dos EUA não nos afetará.

Tudo isso é verdade – ou, pelo menos, tem tudo para ser verdade. Com o mercado interno que temos, uma crise nos EUA pode ser muito benéfica para o Brasil. A condição primordial para isso, naturalmente, é o aumento do poder aquisitivo da população, ou seja, o aumento do salário real e o aumento do crédito aos consumidores e às empresas. O que implica, evidentemente, na queda dos juros. Mercado significa, precisamente, gente que possa comprar mercadorias produzidas pelas empresas e, também, empresas que, para produzir, possam comprar mercadorias de outras empresas. Com os juros nos níveis atuais, boa parte, talvez a maior parte da população, ainda está fora do mercado – simplesmente porque não tem dinheiro para comprar nem mesmo produtos essenciais para uma vida civilizada.

Porém, Meirelles, depois de garantir ao presidente e aos ministros que o Brasil não será afetado, foi fazer jus aos trinta dinheiros – aliás, meio bilhão de dólares – que recebe do BankBoston. Na reunião do Copom, a taxa básica de juros brasileira, a Selic, foi mantida em patamares próximos ao pico do Monte Elbert, ponto mais alto das Montanhas Rochosas norte-americanas.

E os juros altos foram mantidos porque, segundo disse o Meirelles do BC, ao contrário do que disse o Meirelles do Ministério, “o Brasil não está imune à crise”. Realmente, mantendo os juros no espaço, não está mesmo.

Interessante que o banco central dos EUA, o FED – instituição privada mantida pelos monopólios financeiros dos EUA – acaba de baixar os juros em 0,75 pontos percentuais. Antes disso, já havia baixado os juros em setembro, outubro e dezembro. Ou seja, se o problema fosse manter uma taxa “atrativa” para o capital especulativo forâneo, Meirelles poderia baixar os nossos juros e ainda manter essa “atratividade”. Mas é óbvio que o problema dele não é só manter uma taxa “atrativa” para os especuladores externos, e sim encher os cofres deles com o máximo de recursos do nosso país que seja possível. Daí a manutenção dos juros em 11,25%.

A crise norte-americana é uma oportunidade do Brasil crescer de forma mais desimpedida. Aliás, sempre foi assim em todas as crises econômicas nos países centrais, quando o país foi governado a partir de dentro do Brasil e não a partir de fora. Manter os juros altos agora é o sinal para que os especuladores de outras bandas do planeta, em especial Wall Street e adjacências, saqueiem o nosso país para tentar cobrir seus prejuízos.

Ao mesmo tempo, os juros altos restringem o mercado interno, questão que se torna aguda no momento em que é provável uma diminuição em nosso saldo comercial (exportações menos importações). Por isso, a queda dos juros, o aumento do crédito, é essencial para as empresas, para a população e, portanto, para o país. Mantê-los altos é importar a crise dos EUA em troca de exportar dinheiro para lá.

Os juros altos, portanto, restringem o mercado, restringem a produção – e com isso a capacidade do país se desenvolver com a crise dos países centrais, que é também uma crise de sua dominação econômica sobre os países periféricos.

Mas, segundo Meirelles, “avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 11,25% ao ano, sem viés. O Comitê irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”.

FIGUEIRA

A inflação entrou aí – já que o presidente falou em Santa Ceia – como Pilatos no credo. Não há nenhuma ameaça de surto inflacionário. E, mesmo que houvesse, só os cabeças de bagre do Copom é que acham – se é que acham – que a solução para a inflação é aumentar os juros, isto é, deixar todo mundo sem dinheiro, exceto meia dúzia de bancos e monopólios privados, em geral externos.

Quanto ao resto da macro-bobagem acima citada, não é novidade perceber que todo Judas é um vigarista – e há alguns que são, mesmo, macro-vigaristas. Porém, não é todo Judas que tem a decência de se enforcar na primeira figueira à beira da estrada. Como não temos a pretensão de ser Jesus Cristo, é preciso botá-los fora da Santa Ceia para que o país não seja crucificado, morto e sepultado.

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: Fica claro que se temos que fortalecer o mercado interno para blindarmos ainda mais nossa economia, a manutenção das taxas de juros não faz sentido; até porque não existe um perigo eminente de inflação. Também fica patente provável possibilidade da queda dos preços das commodities, o que justificaria também um aquecimento maior do mercado interno. Assim sendo, a quem interessaria as taxas de juros nesse patamar? A resposta é: aos especuladores internacionais, ao dinheiro nervoso, do ganho rápido, que não é investido na produção e que não gera desenvolvimento, emprego, robustez econômica.

Outro fator de defesa da economia brasileira e que vem corroborar as justificativas contra a manutenção destas taxas, são as reservas internacionais – US$ 185,024 bilhões até o dia 18, conseqüência dos saldos comerciais elevados que o país gerou desde 2003. Essas reservas poderão ser usadas pelo governo, para defender o real e evitar fortes e bruscas desvalorizações originadas de um colapso de capitais internacionais para o país, caso isso venha a ocorrer. Isso neutralizará possíveis riscos de reaceleração inflacionária, evitando que o Banco Central eleve a taxa de juros o que provocaria uma retração econômica. Agora, realmente foi a reunião do Ministério foi uma verdadeira Santa Ceia. Não faltou nem mesmo um Judas Iscariotes, e o sacrificado, se continuar prevalecendo essa política de Cassino, vai ser mais uma vez o povo brasileiro.

Paulo Nogueira Batista Jr: “Ansiedade e pânico nos EUA”

Aqui nos a situação econômico-financeira é tenebrosa, como se sabe. Imigrantes brasileiros, por exemplo, começam a retornar ou a planejar o retorno para casa. O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, declarou que a situação é “séria”. Muitos já perderam a esperança de que uma recessão possa ser evitada.

Por Paulo Nogueira Batista Jr*

Isso me faz lembrar uma história de Winston Churchill. Certa vez, quando ele era primeiro-ministro, Churchill teve um encontro com a sua contraparte da República da Irlanda. Os dois países enfrentavam grandes dificuldades na época.

Churchill disse ao primeiro-ministro irlandês que a situação da Inglaterra era “serious but not hopeless” (séria mas não desesperançada ou irremediável). E o irlandês respondeu, segundo relato de Churchill, que a situação no país dele era “hopeless but not serious”.

A situação atual dos EUA está mais para a da Inglaterra ou a da Irlanda de então? Difícil dizer. Os americanos talvez estejam pagando o preço econômico por ter conferido dois mandatos consecutivos a George W. Bush. Oito anos! Eis o resultado: em algumas áreas importantes da economia e do sistema financeiro, a superpotência acumulou ao longo desses anos indicadores dignos de uma república bananeira, como já tive ocasião de comentar nesta coluna.

O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, ao depor na quinta-feira passada em uma comissão do Congresso, tinha a ansiedade estampada no rosto. O pacote de estímulo fiscal, cujas linhas gerais foram anunciadas pelo presidente Bush na sexta, foi considerado vago e insuficiente, desencadeando uma situação de quase pânico nos mercados financeiros internacionais. Em resposta, o Fed acabou antecipando em uma semana o corte de 0,75 ponto percentual que seria feito na reunião regular dos dias 29 e 30 – decisão pouco usual que demonstra o grau de preocupação da autoridade monetária.

O Fed está correndo atrás do prejuízo. As autoridades monetárias e fiscais subestimaram a extensão da crise e agora têm pouco tempo para agir. Reina uma certa afobação, tanto no Fed como no Executivo e no Congresso. A decisão de antecipar o corte de juros, por exemplo, pode ter impacto ambíguo, sobretudo quando tomada de afogadilho. Por um lado, o efeito é positivo – o Fed finalmente acordou para a gravidade da crise. Por outro, pode gerar mais insegurança – o que é que o Fed sabe que nós não sabemos?

A ansiedade dos responsáveis pela política econômica é compreensível.

É perigoso entrar em uma recessão com o sistema financeiro tão fragilizado e vários bancos importantes tão vulneráveis. A recessão, ao gerar dificuldades adicionais de pagamento para pessoas físicas e jurídicas, levaria a um agravamento dos problemas dos bancos e de outras instituições, colocando em risco a solvência do sistema financeiro. Por sua vez, o agravamento dos problemas financeiros realimentaria as forças recessivas, criando um círculo vicioso que pode ser difícil de quebrar mais à frente.

A insistência na urgente adoção de um pacote de estímulo fiscal (com aumentos de gastos e redução de tributos) também tem sua razões. O peso de evitar ou amenizar a recessão não pode recair exclusivamente sobre o Federal Reserve. Se tudo depender de diminuições adicionais da taxa de juro, o dólar ficará sob pressão nos mercados internacionais. A depreciação pode transformar-se em colapso, solapando a confiança no dólar como moeda internacional de reserva.

* Economista e diretor-executivo do FMI

Artigo publicado na edição desta quinta-feira (24) da Folha de S.Paulo

Rizzolo: O efeito ansiedade não é bom para a economia, contudo, não restou outra alternativa ao Federal Reserve a não ser as medidas tomadas às pressas. O fato de Bush estar tanto tempo na presidência, contribuiu para que sua política de beligerância se tornasse mais importante do que uma eventual regulamentação financeira, dentro do mercado americano. Especuladores do calibre de Soros admitem essa falha. Eu já não definiria que a situação não é “serious but not hopeless” ou “hopeless but not serious”, mas na verdade ” quite serious “. No tocante ao medo sobre o que pode acontecer, “Quem sabe teme. Quem sabe muito, não sai de casa. Quem sabe ainda mais, tranca-se no armário. Quem sabe demais, fica mesmo no cofre . ” ( risos..)

IBGE mostra que desemprego em 2007 foi o menor em 5 anos

A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil em 2007 foi de 9,3%, informou nesta quinta-feira (24) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Trata-se da menor série desde março de 2002, quando a pesquisa foi iniciada em Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro. Em linha com o que já havia informado o Ministério do Trabalho, o IBGE confiram que a desocupação chega a seu menor nível e a formalização, ao maior.

Em dezembro, a taxa de desemprego desacelerou em relação ao mês anterior, ficando em 7,4%. Em relação a dezembro de 2006, houve queda de 1 ponto percentual no nível de desemprego. O resultado de dezembro também é o menor para o mês desde 2002, quando a série da pesquisa do IBGE foi iniciada.

O contingente de pessoas desocupadas caiu 9,5% em 2007, fechando o ano com um total de 1,713 milhão de trabalhadores sem emprego. Na comparação com novembro, esse índice caiu 10,9%. Em relação a dezembro de 2006 (1,893 milhão), foi verificado um decréscimo de 9,5% no contingente de pessoas desocupadas.

Já a população ocupada (21,4 milhões de pessoas) não se alterou significativamente em relação a novembro de 2007 (queda de 0,3%), mas cresceu 3% em relação a dezembro de 2006. Segundo o IBGE, foram criados 622 mil postos no trabalho no ano passado.

O rendimento real da população ocupada em 2007 foi de R$ 1.163,90, aumento de 2,3% frente a 2006 e 0,9% frente a novembro. Os homens representavam 55,5% da população ocupada, enquanto as mulheres, 44,5%. A população de 25 a 49 anos representava 63,5% do total de ocupados.

O número de trabalhadores com carteira assinada manteve-se estável em relação a novembro de 2007 e cresceu 7% frente a dezembro de 2006 –o pessoal registrado representou 43,2% da população empregada. Já o número de empregados sem carteira assinada no setor privado ficou estável, representando 13,9% da população ocupada.

Em dezembro, entre os empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado, o rendimento médio ficou em R$ 1.120,30, alta de 0,7% sobre dezembro de 2006. Entre os empregados sem carteira de trabalho assinada no setor privado, o salário médio foi de R$ 812,70, uma alta de 7,8%. Os trabalhadores por conta própria recebiam em média R$ 968,50 (0,7%).

Segmentos

Por setores, em relação a 2006, houve altas no nível de empregados na indústria extrativa, de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água construção (5,4%), construção (12,6%); educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social (4,3%); serviços domésticos (5,9%) e outros serviços (2,3%).

Na outra ponta, houve queda no comércio, reparação de veículos automotores e de objetos pessoais e domésticos e comércio a varejo de combustíveis (-0,7%); e serviços prestados à empresas, aluguéis, atividades imobiliárias e intermediação financeira (-4,2%).

Fonte: Folha Online

Rizzolo: Esse é um dado extremamente importante, é claro, que os índices estão diretamente relacionados com o crescimento da economia. O que prevemos daqui para frente, é uma forte demanda por empregos na área da construção civil devido ao PAC e o desenvolvimento do segmento de casas populares. Agora, não há dúvida, que os dados do IBGE merecem ser comemorados, até porque aumento aumento real no rendimento auferido pela massa trabalhadora, contudo, a recuperação do rendimento médio real dos trabalhadores ainda não foi suficiente para que o indicador retomasse o nível registrado em 2002 de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada hoje pelo mesmo instituto. Esperamos que com a crise internacional, o nível de emprego não fique comprometido em setores que empregam maior número de mão-de-obra, como o da construção civil, que já disputa mão de obra no mercado.