O contraditório de Serra

Hoje li com muita atenção, um ótimo artigo escrito por Altamiro Borges, membro do PC do B, intitulado ” São Paulo, palanque dos neoliberais “, em seu texto, descreve de que forma São Paulo tornou – se o ninho da direita. Não há como não concordar com as suas pontuações na exegese do brilhante texto por ele escrito. Todavia, descreve o governador Serra como um neoliberal irrecuperável e autocrático. Com efeito, existe um componente de auto mutilação ideológica em Serra, às formas das tradições do “Opus Dei”; de contornos a trair idéias e sentimentos de justiça social, que um dia povoaram o consciente e o inconsciente do governador.

Muitas vezes me pergunto se conceitos nobres podem ser abandonados por direcionamentos partidários, ou por maioria condicionante via mídia neoliberal ou interesses econômicos. Não chegaria a acreditar que as modulações ideológicas vividas pelo governador não o assaltam na escuridão da noite ao conversar com Deus e nas suas introspecções. Acondicionar todos os ideais e o passado de Serra e condená-lo pelo fato de ser partidariamente conduzido à direita gananciosa, não o desqualifica, porque na essência, a devida oportunidade eleitoral o levará a se afastar daqueles que na realidade o comprometem partidariamente e o acorrentam na condição neoliberal conspurcando-o ideologicamente.

Enganam-se aqueles que apostam na ingenuidade política de Serra, da mesma forma que, de forma oportuna modificou seu discurso a agradar a direita paulista ditada pelos jornalões e por algumas revistas muito lidas em ” consultórios médicos “. Não estaria eu de todo errado, se Lula já não ensaiasse uma aproximação à Serra, uma leitura na vocação combativa a favor da CPMF empreendida pelo governador, numa verdadeira catequese tucana, num gesto realmente nobre.

Tampouco me enganaria, quando Zé Dirceu elogia Serra, em entrevista na revista Piauí, o classificando de obsessivo e trabalhador. Serra, ao contrário das apregoações de Altamiro Borges, não é perigoso, mas mal utilizado, um potencial que poderá retornar ao bem do povo brasileiro, talvez longe do PSDB e mais perto daquilo que um dia foi, e que com certeza não se arrependeu de ter sido. Um político de esquerda, que passou quatorze anos de sua vida no exílio. Só aos mortos é dado o direito de jamais mudar suas idéias, e ele nem mudou viu.

Fernando Rizzolo

Tecnologia, instrumento de soberania

Nos anos 70, grande parte das indústrias multinacionais que hoje ainda atuam no Brasil, iniciavam seus investimentos no nosso mercado, que na época, era de 90 milhões de consumidores. Chegavam trazendo tecnologia, numa época em que nós vivíamos o chamado ” milagre brasileiro “, com uma demanda crescente, e uma inflação também acentuada. Logo se acomodaram, face à inflação, com o estilo de reajustes de preços através de tabelas e outros artifícios de recomposição inflacionária. Poucas eram as indústrias nacionais que detinham a tecnologia das empresas estrangeiras na fabricação de máquinas, de equipamentos, capazes de uma maior rentabilidade na produção, objetivando, de forma clara, mais produção, e mais lucro aos empresários, com uma menor utilização de mão-de-obra local.

A economia brasileira, assim como todos os meios de produção, sempre foram direcionados para a classe média e alta, que absorvia toda a produção dos bens de consumo. Assim sendo, o nosso parque industrial era servil a esse segmento da população, posto que a imensa maioria desprovida de poder aquisitivo, ficava fora do mercado de consumo, e por conseqüência, o operariado era golpeado pela modernização tecnológica, que reduzia de forma drástica a mão-de-obra pouco especializada.

Hoje no Brasil vivemos uma outra realidade, temos que de qualquer forma incluir as 45 milhões de pessoas, ou 11 milhões de famílias, que ainda desprovidas estão no acesso aos bens de consumo mais elementares que norteiam os princípios de dignidade humana. Temos ainda no Brasil, 8 milhões de pessoas que não possui luz elétrica nas suas pobres moradias, o que nos provoca uma reflexão ao nos questionarmos até que ponto a tecnologia empregada no nosso país até os dias de hoje, foi conivente com a exclusão, vez que fora utilizada como instrumento a serviço do capital, induzida pelos governos neoliberais que nos antecederam; contribuindo dessa forma, para a exclusão do povo brasileiro.

Não podemos entender desenvolvimento tecnológico se o mesmo não estiver a serviço do desenvolvimento social; a implementação de novas tecnologias nos meios de produção deve se ter como objetivo o avanço social, e não apenas a opção de menor custo e de rentabilidade ao empresariado, desprezando o seu objetivo maior que é a inclusão do segmento de menor poder aquisitivo. Nesse esteio de pensamento, o corpo técnico brasileiro na figura dos engenheiros, exercem papel de suma importância, no desenvolvimento de um pensamento que eu chamaria de técnico-social, na absorção das novas tecnologias e na implantação destas, numa política voltada ao desenvolvimento da indústria nacional; alicerçando o importante conceito de soberania técnico -social, consolidando o nosso parque industrial nacional em todas as áreas.

Fernando Rizzolo

Investimentos públicos devem dobrar em 2008, segundo o Ipea

O investimento continuará sendo o principal motor do crescimento da economia brasileira neste ano. Na visão de economistas, a formação bruta de capital fixo (FBCF), equação usada para medir o comportamento do investimento, tende a manter o forte ritmo de expansão verificado no ano passado, quando cresceu entre 12,3% a 12,5%. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) corrobora essa previsão.

O economista Marcos Felipe Casarin, do Grupo de Conjuntura do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), prevê um crescimento de 11% para a FBCF este ano. O Ipea trabalha com 12%. Se qualquer um desses resultados for confirmado, será consolidada uma trajetória ascendente do investimento, nos últimos quatro anos, a taxas superiores a 10%, bem acima do PIB. Garante-se assim um cenário sustentado para a atividade econômica do país nos próximos anos.

O presidente do Ipea, Márcio Pochman, acredita que as medidas tomadas pelo governo para compensar a perda da CPMF não deverão afetar o investimento público. Na sua avaliação, os investimentos do governo poderão dobrar sua fatia no PIB, de 0,5% para 1%, devido às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que foram preservadas dos cortes no Orçamento após a derrota do governo na renovação da CPMF. Dessa forma, Pochman aposta em uma taxa de investimento recorde para este ano, na casa dos 19,2%, inédita desde os anos 70.

Mesmo as projeções mais conservadoras para o PIB de 2008 não parecem diminuir a disposição dos empresários para investir. Maurício Bähr, presidente do Grupo Suez no Brasil, que se prepara para disputar a concorrência da hidrelétrica de Jirau, segundo usina do rio Madeira, estimada em R$ 10 bilhões, está “com a agenda cheia”.

O presidente da Light, José Luiz Alquéres, também confirmou a disposição de aumentar em 2008 os investimentos da distribuidora carioca. Serão aplicados R$ 560 milhões em três projetos de geração de energia. Arnaldo Calbucci, do grupo Wilson Sons, da área de logística e portos, também planeja gastar mais este ano. “Vamos aplicar US$ 120 milhões na área de portos, embarcações offshore e na área de rebocadores portuários. Temos uma previsão otimista para a economia em 2008, principalmente na infra-estrutura.”

Receio

Fábio Silveira, economista da RC Consultores, no entanto, mostrou preocupação com um possível impacto da crise internacional sobre o investimento e conseqüente crescimento do Brasil em 2008. Ele não prevê nova alta do juro básico, mas teme que o terceiro e quarto trimestres do ano sejam fracos em termos da atividade econômica por causa de um possível agravamento da crise americana. Isso não impede, porém, a RC Consultores de trabalhar com um projeção de crescimento de 5,5% do PIB brasileiro em 2008 e uma taxa de investimento de 18,6% do PIB.

Casarin, da UFRJ, aponta as importações e a produção de bens de capital como os principais fatores a impulsionar os investimentos em 2007 e também este ano, principalmente nos setores de infra-estrutura, construção civil e agrícola, maiores demandantes de máquinas e equipamentos. Segundo ele, outro fator que vai puxar com força a FBCF em 2008 é a construção civil. O economista prevê para este ano um “boom” do setor, apoiado pelo binômio “crédito habitacional e PAC”.

Nos cálculos do Banco Central, o crédito habitacional deve atingir a marca de 1,6% do PIB em 2007, um percentual significativo se for levado em conta a recessão vivida nos últimos 20 anos pela construção civil. “Estamos no limiar de uma recuperação do setor de construção, que ainda tem muito a crescer. Em 1988, este número girava em torno de 8% do PIB. O Banco Central trabalha com uma marca de 3,5% do PIB em 2009 para o crédito habitacional”, informou.

O que chama a atenção, porém, nessa curva ascendente do investimento no Brasil, é que o atual padrão de crescimento econômico, ancorado na demanda interna, vem se beneficiando e crescendo com a apreciação cambial. As importações de bens de capital cresceram 33% no ano passado enquanto a produção nacional registrou expansão entre 18% e 20%.

Para Marcos Casarin, se ao estímulo do câmbio forem somados a expansão do crédito e os ganhos de previsibilidade da economia propiciados pela estabilidade de preços, o cenário é altamente favorável às importações de bens de capital. “As importações de máquinas e equipamentos oferecem o melhor dos mundos para o empresariado: máquinas mais baratas e mais produtivas, ou produtividade alta e preços baixos.”

Ele afirma que, ao contrário de 2004, quando a economia cresceu 5,7% e o investimento saiu do vermelho, os preços dos bens de capital nacional também não subiram em 2007. “Eles estão estáveis, elevando-se apenas 2,1% no ano, segundo o IPA-DI da FGV de máquinas e equipamentos. Isto tem contribuído para a produção de bens de capital crescer de forma acelerada a curto prazo como resultado da demanda por máquinas nacionais, incluindo caminhões”, diz. “A Vale do Rio Doce arrematou toda a produção de caminhões pesados da Volkswagen. Todo caminhão que está saindo da fábrica da Volks em Resende (RJ) é da Vale”, afirma. É um exemplo, segundo ele, do aquecimento da demanda interna por bens de capital.

A alta do investimento deve começar em 2008 a impactar favoravelmente o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) do país, hoje quase no limite (82% na média, segundo a Confederação Nacional da Indústria). Casarin prevê que a capacidade instalada deverá recuar, à medida que investimentos contratados em 2007 se transformem em expansão de produção por parte das empresas, garantindo o aumento da oferta de bens na economia, ou seja, crescimento do PIB. E, conseqüentemente, exorcizando a ameaça de uma inflação de demanda.

Fonte: Valor Econômico

Rizzolo: A formação bruta de capital fixo (FBCF), equação usada para medir o comportamento do investimento, vai continuar acelerada e se prevê um crescimento de 11% para este ano. Não há duvida, que o fato do PAC ter sido preservado, apesar do rombo da CPMF, contribuirá para que o desempenho seja mantido. O importante é que a coluna vertebral dos investimentos estatais continue, para que a iniciativa privada, em consonância às perspectivas de crescimento, tenha tranqüilidade e segurança nos investimentos. Um exemplo disso, é o setor da construção civil, que será extremamente beneficiado apoiado pelo binômio “crédito habitacional e PAC”.

A notícia boa, é que a demanda interna está aquecida, e isso de certa forma, nos blinda das crises vindas do exterior como ó possível agravamento da economia americana face à “subprimes”. Estive pessoalmente conversando com o Pochman, e ele se mostrou confiante. Vamos torcer.