Um cabo eleitoral chamado PAC

Com cenário internacional se deteriorando, e a brisa de uma crise anunciada se concretizando na economia brasileira, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), peça-chave do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, poderá ser a alavanca eleitoral nas eleições municipais em 2008.

Ao completar um ano, o Pac, sob a ameaça de cortes de verbas, ficou mais na retórica do que no concreto, pouco se viu aos olhos do povo o tão revolucionário Programa de Aceleração, muito embora, o balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mostra que em dezembro do ano passado 86% dos projetos monitorados estavam com ritmo adequado. Em agosto do ano passado, o porcentual de projetos que tinham essa avaliação era de 80%.

Motivos não faltam, a possibilidade de uma crise energética ou uma crise econômica se misturam na indefinição política percebida nas declarações ora de que não haverá apagão elétrico, ora sobre a questão dos aumentos de impostos. Além disso, há dúvidas se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas de uma nação), previsto em 5% para este ano, será concretizado com a deterioração da economia internacional, e as dificuldades que a mesma poderá acarretar, inclusive com um aumento real nas taxas de juros.

Especificamente ao PAC, o que poderia amenizar é a notícia de que caiu de R$ 20 bilhões para cerca de R$ 17 bilhões –ou até um pouco menos—a previsão de cortes que a Comissão de Orçamento do Congresso planeja fazer nas despesas do governo para 2008. Pessoalmente, projetaria uma expansão de 4,5% na melhor das hipóteses, face ao cenário atual.

Contudo, do ponto de vista político, o PAC poderá se transformar numa poderosa arma eleitoral fortalecendo as bases do PT e de seus aliados, se os governos e as prefeituras forem suficientemente ágeis; a própria ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef já havia prometido que o País seria um enorme ” canteiro de obras”. Há muito que se fazer em termos de PAC no que diz respeito a projetos sociais que visam a urbanização de favelas, saneamento básico e construção de casas populares.

Temos que tornar o PAC visível aos eleitores; os motores desse setor já foram acionados, a construção civil espera um crescimento de 6% este ano, e é disso que Brasil precisa, casas populares gerando dignidade para a imensa população pobre desassistida, e a enorme capacidade de geração de emprego que o setor da construção civil, pela sua natureza, é capaz de agregar. Ano eleitoral também pode ser o sinônimo de ano de desenvolvimento.

Fernando Rizzolo

Decisão de Virgílio sobre 2010 amplia crise tucana

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) aumenta ainda mais a confusão entre os tucanos e colocou-se como pré-candidato do partido às eleições de 2010. Para o senador, que entrou em atrito com o governador de São Paulo, o também tucano José Serra, durante a tramitação da CPMF no Senado, acabou o tempo de a cúpula tucana escolher o candidato e o resto do partido ter que obedecer. “Chega de três ou quatro entrarem em restaurante caro para ungir Zezinho, enquanto o demagogo do Lula vai em restaurante popular”, atacou o senador amazonense.

É uma referência velada ao jantar em um restaurante de luxo em São Paulo há dois anos, entre Serra, o governador mineiro Aécio Neves, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o então presidente da sigla, senador Tasso Jeressaiti (CE), para discutir a sucessão de 2006. Na ocasião, os caciques apoiaram Serra. Mas o candidato do partido foi o ex-governador paulista Geraldo Alckmin.

Virgilio minimiza o confronto com Serra, tanto que na semana passada disse que o governador paulista é ainda o “melhor nome” para a disputa de 2010. Mas diz que o partido mudou depois da votação da CPMF. “Houve uma inflexão sim. O PSDB tem que ser contra o aumento dos impostos, sempre. Não pode o governo resolver aumentar e um governador ou prefeito aparecer e dizer que está tudo bem”. Para o líder no Senado, o PSDB está há oito anos fora do poder e correrá o risco de ficar mais tempo longe do Planalto se não mudar. “O partido tem que ter cara, sempre. Eu tenho 30 anos de vida pública, honesta”, afirmou ele. Virgílio não se assusta com o fraco desempenho que teve nas eleições de 2006, quando concorreu ao governo estadual e teve menos de 2% das intenções de voto. “Fiquei isolado, tinha que dar palanque para o Alckmin e enfrentei Lula em seu melhor momento. Muitos teriam desistido”, disse.

Uma eventual candidatura Virgílio, caso supere de fato a dicotomia Serra-Aécio, traria como bandeira a redução dos impostos, do tamanho da máquina, transparência dos gastos públicos e reformas tributária e previdenciária no primeiro ano de mandato. “As mensagens com as reformas estruturantes essenciais devem estar no Congresso no primeiro dia “, disse.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), confirmou que Virgílio lhe comunicou sua pré-candidatura na semana passada. Além do senador pernambucano, o líder do PSDB conversou também com o próprio Serra e com Fernando Henrique . “O Virgílio foi enfático. Vamos incluir o nome dele nas próximas pesquisas qualitativas, para avaliar a reação do eleitorado”, prometeu Guerra.

Rumo à direita

Ao comentar as declarações de Virgílio, o jornalista Paulo Henrique Amorim ironizou: “Arthur Virgilio está certo – o PSDB tem que ir para a direita e fazer o que os conservadores de sociedades democráticas fazem em todo o mundo: cortar impostos. No mundo inteiro é assim: os conservadores não querem pagar imposto – preferem guardar o dinheiro no bolso; os trabalhistas querem o dinheiro dos ricos para dar aos pobres”.

Site do PC do B

Rizzolo: Quando o PSDB demonstra que no seu quadro existem políticos de bom senso como José Serra e Aécio, vem o camarada Virgílio com as velhas iconografias reacionárias num discurso de ” não pagar impostos,” de ” eficiência”, ” competência “, ” tamanho da máquina “, enfim, aquela ” baboseira” típica dos discursos elitistas. Muito bem fez o governador Serra e Aécio em apoiar a prorrogação da CPMF; demonstraram que possuem coluna vertebral ideológica, e defendem o interesse do povo brasileiro e isso deve ser reconhecido por todos principalmente pela esquerda legítima. Não a esquerda dos oportunistas que vivem uma letargia intelectual, ao mesmo tempo em que se dizem progressistas batem palmas para Sarney e se vangloriam com os acordos de Lula mercadejando cargos em troca de apoio político. Vigílio atrapalha na medida em que coloca o PSDB numa posição de extrema-direita, trabalhando a favor do PT e não prestigiando o pouco de progressismo que ainda subsiste em alguns setores do tucanato.

Citibank anuncia rombo recorde de US$ 18 bi no quarto trimestre

O maior banco dos EUA divulgou também um prejuízo de US$ 9,8 bilhões.
Vai ainda realizar 21.000 demissões e corte de 41% nos dividendos

O Citibank, o maior banco dos EUA em ativos, anunciou um prejuízo de US$ 9,8 bilhões no último trimestre de 2007 – o maior da história – e confirmou um rombo de US$ 18 bilhões em perdas no ‘subprime”, isto é, na especulação hipotecária, e mais US$ 4,2 bilhões com empréstimos bichados. O novo presidente do Citi, Vikram Pandit, convocado às pressas em novembro passado, anunciou, ainda, mais 4 mil demissões, além das 17 mil já comunicadas no meio do ano, e um corte de 41% nos dividendos. As ações despencaram e as bolsas no mundo inteiro vêm acompanhando a derrubada.

E eis que o colapso da pirâmide com papéis podres de hipotecas arrasta de roldão o segundo banco da família Rockefeller – o outro é o Chase, agora fundido com o JP Morgan -, por décadas, o símbolo da arrogância imperial e da intromissão na economia alheia. O banco que presidia o “Comitê dos Bancos Credores” no achaque da crise da dívida externa dos países dependentes, e que, como notou o presidente Lula, se metia “a dar palpites sobre como administrar os países, as coisas”. “Quando chega a hora de mostrar a sua competência, eles mostram que não têm tanta competência quanto falavam”.

O rombo do quarto trimestre é recorde, mas não é o único. No terceiro trimestre de 2007, os resultados já haviam sido tão ruins que o então presidente, Charles Prince, no cargo desde 2003, caiu. O banco teve de admitir no dia 5 de novembro um rombo de US$ 11 bilhões nesse período. Mas em julho, quando já fazia mais de um ano desde que a bolha especulativa começara a estourar, Prince ainda asseverava que o Citi continuava “dançando o boom das aquisições”. Antes de ir ao chão, ainda filosofou sobre “significativa volatilidade de mercado” e “ruptura das relações históricas de preço”.

RUPTURA

A “ruptura das relações históricas de preço” era uma cínica referência ao fato de que os títulos-frankstein montados pelas operações de “engenharia especulativa”, para bancar empréstimos alavancados e a pirâmide das hipotecas, então tidos como “AAA”, do dia para a noite eram descobertos como “junk”, lixo. Por precaução, o Citi anunciou a demissão de Prince num domingo, antes que as bolsas abrissem. Agora em janeiro, a agência “Standard & Poor’s”, buscando se desvincular da fraude na determinação dos títulos subprime, rebaixou o Citi para “AA-” e apontou como “negativa” a tendência para o banco. Afinal, não eram a S&P, a Moodys e outras espeluncas que asseguravam que os títulos “junk” eram de primeirís-sima linha?

Muito tem sido escrito sobre a concessão de empréstimos sem critérios, a gente que não tinha como pagar. Mas não foram as pessoas que foram enganar os bancos, mas os bancos, as corretoras e todo tipo de espertalhão que montaram operações em larga escala para levar a população a adquirir os títulos bichados, botando sua casa no risco. Um analista comparou os “títulos” suprime a um porquinho pintado de batom, a que foi atribuído valor equivalente a um título do governo dos EUA, AAA.

Outro comparou com montar uma torta de camadas, em que várias delas são constituídas de lama, estrume e outras especiarias, mas que, como também tinha chantilly, virava um “título AAA”. Mas, a pirâmide com hipotecas é apenas o lado mais “extenso” da questão, porque paralelamente foram montados esquemas mais sofisticados, entenda-se, com um nível de fraude mais apurado. O tipo de “papéis” que dão suporte a uma avalanche de aquisições e fusões “alavancadas”. Por exemplo, a BBC afirmou que no dia 14 de dezembro o Citi encerrou sete operações “SIV” – tipo particularmente arriscado de derivativo -, no montante de US$ 48 bilhões.

PADROEIRO

Assim como na crise de 90-91, quando 500 bancos norte-americanos foram à lona e os demais se salvaram com a ajuda de São Greenspan, o santo padroeiro dos Rockefellers durante quase duas décadas, o Citi saiu à cata de socorro lá fora. Na época, um príncipe saudita compareceu com o dinheiro. Dessa vez, o Citi apelou, em novembro, para o sheik de Abu Dhabi, conseguindo US$ 7,5 bilhões. Conforme a coisa piorou, chamou o príncipe saudita de novo, que ampliou sua cota, e também o sheik do Kuwait e o governo de Cingapura, que estão aportando US$ 14,5 bilhões. Nada como ter uma frota armada nas imediações dos cofres amigos.

SONO DOS JUSTOS

Mas há muito chão até a fina flor da malandragem de Wall Street poder dormir sossegada. No dia 17 de julho do ano passado, uma das maiores corretoras de títulos dos EUA, a Bear Stearns, teve de comunicar aos seus clientes que dois de seus fundos, bancados por títulos subprime, de US$ 20 bilhões, não valiam mais nada. Em 9 de agosto, o banco francês Paribas interrompeu operações por “não ter como avaliar o preço” dos títulos. Havia meses que os bancos faziam de conta que nada estava acontecendo, mesmo após US$ 10 bilhões de perdas do HSBC. A crise causou um aperto de crédito, em cada banco temia realizar operações com o outro, convulsionou as bolsas no mundo inteiro e escancarou o estouro da bolha nos EUA. Desde então, praticamente todos os grandes bancos e corretoras dos EUA declararam rombos nas suas contas, assim como vários outros da Europa, que se envolveram na especulação ‘subprime’. Só nas vésperas de Natal, os bancos centrais liberaram mais de US$ 500 bilhões no mundo inteiro aos bancos comerciais, para mantê-los à tona.

INJEÇÃO

Quanto à injeção de capital no Citi, ainda há muito chão à frente. Como já assinalou a revista inglesa “The Economist”, “se há algo que deixa os grandes de Wall Street sem dormir, é a perspectiva das pontes irem ao colapso. Bancos que financiaram operações de aquisição [buy-outs] têm facilitado os acordos por tomarem dezenas de bilhões de doláres em débitos e ações ‘ponte’. O objetivo é dar baixa na contabilidade rapidamente repassando-os para investidores institucionais”. O que, conclui a revista, tem ficado “cada vez mais difícil de fazer”, conforme “os apetites por papéis altamente lucrativos mas de alto risco definham”. Como os demais mastodontes financeiros dos EUA, o Citi está entupido desse lixo tóxico.

ANTONIO PIMENTA
Hora do Povo

Rizzolo: A crise dos “subprimes” demonstra a vulnerabilidade do mercado americano onde especuladores fazem o que bem entendem sem a devida regulamentação do setor bancário. O mais interessante é que quando é para se fazer uso de empréstimos irresponsáveis, é a lógica do mercado que impera, contudo nas crises a tutela do Estado é apregoada, para enfim pagar a conta dos prejuízos causados pelos sedentos de lucros.

Como diz o texto, não foram as pessoas que foram enganar os bancos, mas os bancos, as corretoras e todo tipo de espertalhão que montaram operações em larga escala para levar a população a adquirir os títulos bichados, botando sua casa no risco. Com certeza o reflexo será sentido no Brasil, mas face ao mercado interno aquecido o efeito poderá ser brando. Até o tema das campanhas presidenciais americanas mudou, antes o foco era o Iraque, agora com certeza será a economia que poderá fazer e trazer tanto estrago quanto a guerra de Bush.