O maior banco dos EUA divulgou também um prejuízo de US$ 9,8 bilhões.
Vai ainda realizar 21.000 demissões e corte de 41% nos dividendos
O Citibank, o maior banco dos EUA em ativos, anunciou um prejuízo de US$ 9,8 bilhões no último trimestre de 2007 – o maior da história – e confirmou um rombo de US$ 18 bilhões em perdas no ‘subprime”, isto é, na especulação hipotecária, e mais US$ 4,2 bilhões com empréstimos bichados. O novo presidente do Citi, Vikram Pandit, convocado às pressas em novembro passado, anunciou, ainda, mais 4 mil demissões, além das 17 mil já comunicadas no meio do ano, e um corte de 41% nos dividendos. As ações despencaram e as bolsas no mundo inteiro vêm acompanhando a derrubada.
E eis que o colapso da pirâmide com papéis podres de hipotecas arrasta de roldão o segundo banco da família Rockefeller – o outro é o Chase, agora fundido com o JP Morgan -, por décadas, o símbolo da arrogância imperial e da intromissão na economia alheia. O banco que presidia o “Comitê dos Bancos Credores” no achaque da crise da dívida externa dos países dependentes, e que, como notou o presidente Lula, se metia “a dar palpites sobre como administrar os países, as coisas”. “Quando chega a hora de mostrar a sua competência, eles mostram que não têm tanta competência quanto falavam”.
O rombo do quarto trimestre é recorde, mas não é o único. No terceiro trimestre de 2007, os resultados já haviam sido tão ruins que o então presidente, Charles Prince, no cargo desde 2003, caiu. O banco teve de admitir no dia 5 de novembro um rombo de US$ 11 bilhões nesse período. Mas em julho, quando já fazia mais de um ano desde que a bolha especulativa começara a estourar, Prince ainda asseverava que o Citi continuava “dançando o boom das aquisições”. Antes de ir ao chão, ainda filosofou sobre “significativa volatilidade de mercado” e “ruptura das relações históricas de preço”.
RUPTURA
A “ruptura das relações históricas de preço” era uma cínica referência ao fato de que os títulos-frankstein montados pelas operações de “engenharia especulativa”, para bancar empréstimos alavancados e a pirâmide das hipotecas, então tidos como “AAA”, do dia para a noite eram descobertos como “junk”, lixo. Por precaução, o Citi anunciou a demissão de Prince num domingo, antes que as bolsas abrissem. Agora em janeiro, a agência “Standard & Poor’s”, buscando se desvincular da fraude na determinação dos títulos subprime, rebaixou o Citi para “AA-” e apontou como “negativa” a tendência para o banco. Afinal, não eram a S&P, a Moodys e outras espeluncas que asseguravam que os títulos “junk” eram de primeirís-sima linha?
Muito tem sido escrito sobre a concessão de empréstimos sem critérios, a gente que não tinha como pagar. Mas não foram as pessoas que foram enganar os bancos, mas os bancos, as corretoras e todo tipo de espertalhão que montaram operações em larga escala para levar a população a adquirir os títulos bichados, botando sua casa no risco. Um analista comparou os “títulos” suprime a um porquinho pintado de batom, a que foi atribuído valor equivalente a um título do governo dos EUA, AAA.
Outro comparou com montar uma torta de camadas, em que várias delas são constituídas de lama, estrume e outras especiarias, mas que, como também tinha chantilly, virava um “título AAA”. Mas, a pirâmide com hipotecas é apenas o lado mais “extenso” da questão, porque paralelamente foram montados esquemas mais sofisticados, entenda-se, com um nível de fraude mais apurado. O tipo de “papéis” que dão suporte a uma avalanche de aquisições e fusões “alavancadas”. Por exemplo, a BBC afirmou que no dia 14 de dezembro o Citi encerrou sete operações “SIV” – tipo particularmente arriscado de derivativo -, no montante de US$ 48 bilhões.
PADROEIRO
Assim como na crise de 90-91, quando 500 bancos norte-americanos foram à lona e os demais se salvaram com a ajuda de São Greenspan, o santo padroeiro dos Rockefellers durante quase duas décadas, o Citi saiu à cata de socorro lá fora. Na época, um príncipe saudita compareceu com o dinheiro. Dessa vez, o Citi apelou, em novembro, para o sheik de Abu Dhabi, conseguindo US$ 7,5 bilhões. Conforme a coisa piorou, chamou o príncipe saudita de novo, que ampliou sua cota, e também o sheik do Kuwait e o governo de Cingapura, que estão aportando US$ 14,5 bilhões. Nada como ter uma frota armada nas imediações dos cofres amigos.
SONO DOS JUSTOS
Mas há muito chão até a fina flor da malandragem de Wall Street poder dormir sossegada. No dia 17 de julho do ano passado, uma das maiores corretoras de títulos dos EUA, a Bear Stearns, teve de comunicar aos seus clientes que dois de seus fundos, bancados por títulos subprime, de US$ 20 bilhões, não valiam mais nada. Em 9 de agosto, o banco francês Paribas interrompeu operações por “não ter como avaliar o preço” dos títulos. Havia meses que os bancos faziam de conta que nada estava acontecendo, mesmo após US$ 10 bilhões de perdas do HSBC. A crise causou um aperto de crédito, em cada banco temia realizar operações com o outro, convulsionou as bolsas no mundo inteiro e escancarou o estouro da bolha nos EUA. Desde então, praticamente todos os grandes bancos e corretoras dos EUA declararam rombos nas suas contas, assim como vários outros da Europa, que se envolveram na especulação ‘subprime’. Só nas vésperas de Natal, os bancos centrais liberaram mais de US$ 500 bilhões no mundo inteiro aos bancos comerciais, para mantê-los à tona.
INJEÇÃO
Quanto à injeção de capital no Citi, ainda há muito chão à frente. Como já assinalou a revista inglesa “The Economist”, “se há algo que deixa os grandes de Wall Street sem dormir, é a perspectiva das pontes irem ao colapso. Bancos que financiaram operações de aquisição [buy-outs] têm facilitado os acordos por tomarem dezenas de bilhões de doláres em débitos e ações ‘ponte’. O objetivo é dar baixa na contabilidade rapidamente repassando-os para investidores institucionais”. O que, conclui a revista, tem ficado “cada vez mais difícil de fazer”, conforme “os apetites por papéis altamente lucrativos mas de alto risco definham”. Como os demais mastodontes financeiros dos EUA, o Citi está entupido desse lixo tóxico.
ANTONIO PIMENTA
Hora do Povo
Rizzolo: A crise dos “subprimes” demonstra a vulnerabilidade do mercado americano onde especuladores fazem o que bem entendem sem a devida regulamentação do setor bancário. O mais interessante é que quando é para se fazer uso de empréstimos irresponsáveis, é a lógica do mercado que impera, contudo nas crises a tutela do Estado é apregoada, para enfim pagar a conta dos prejuízos causados pelos sedentos de lucros.
Como diz o texto, não foram as pessoas que foram enganar os bancos, mas os bancos, as corretoras e todo tipo de espertalhão que montaram operações em larga escala para levar a população a adquirir os títulos bichados, botando sua casa no risco. Com certeza o reflexo será sentido no Brasil, mas face ao mercado interno aquecido o efeito poderá ser brando. Até o tema das campanhas presidenciais americanas mudou, antes o foco era o Iraque, agora com certeza será a economia que poderá fazer e trazer tanto estrago quanto a guerra de Bush.
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