A alta das commodities e da devastação

Um dos grandes desafios da atualidade, é como manter um nível de desenvolvimento e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente. Essa questão atinge em maior impacto países como o Brasil, que possuem extensa área de cultivo e florestas que necessitam ser preservadas a todo custo.

Seria um excesso de ingenuidade, acreditarmos que o governo tem possibilidade de controlar a evolução do agronegócio, aquecido e impulsionado por financiamentos, e pela demanda internacional expressada nos altos preços das commodities agrícolas, minerais, e ambientais, cujos valores se sustentam em bons índices no mercado internacional. Com efeito, a elevação dos preços de pelo menos duas commodities, soja e carne, tiveram sim, participação no crescimento da derrubada ilegal de árvores; corroborando este fato, observarmos que um dos fatores que foram apontados para a diminuição do desmatamento, foi a queda nos preços internacionais. Mas só esses fatos não justificariam o problema ambiental.

As medidas de contenção como o bloqueio de financiamento público para atividades que desmatem, atingirá os créditos do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), um dos mais propalados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de financiamentos do Banco do Brasil, do BNDES e do Basa (Banco da Amazônia). Contudo, grande parte dessa devastação não e promovida pela pobre agricultura familiar, e sim, pela recuperação financeira do agronegócio, vez que, para se fazer devastação é necessário estar capitalizado.

Agora a grande questão, é saber de que forma poderemos ser grandes fornecedores de desses produtos em alta no mercado, e, ao mesmo, atuarmos numa “fina dosemetria” para que os excessos não sejam cometidos; esse é o grande desafio. Não há dúvida, muito embora românticos insistam em afirmar ao contrário, que o agronegócio vai cada vez mais prevalecer no Brasil, até porque, no ano passado o setor absorveu R$ 40 bilhões de reais em créditos. Apesar do governo tutelar com incentivos à agricultura familiar, ela é difusa, não organizada, e os recursos acabam não chegando de forma devida aos trabalhadores, face à burocracia.

A estrutura conceitual do agronegócio, passa mais por volume, produção e eficiência, e não há como negar que em razão disso, a balança comercial do agronegócio fechou o ano de 2007 com um saldo recorde: US$ 49,7 bilhões. Este valor foi alcançado graças ao desempenho das exportações do setor que atingiram a cifra de US$ 58,4 bilhões – 18,2% superior ao ano de 2006, contra US$ 8,7 bilhões das importações – resultado tanto do aumento dos volumes (5,6%) quanto dos preços (12%).

Um dos fatores de desenvolvimento não só do Brasil, mas de toda a América Latina é, sem dúvida, exclusivamente graças a fatores externos, como a expansão da economia mundial e os altos preços das commodities, e isso a meu ver é preocupante. Não podemos resumir nossa economia, e ficar de todo dependente das commodities, que impulsionam o valor das nossas exportações em virtude das demandas por estes produtos, principalmente pelos países asiáticos; surtos externos de crescimento, não vão durar para sempre.

De forma racional e sincera, o governo deve admitir suas falhas quando impõe totalmente as causas da devastação aos valores atribuídos internacionalmente às commodities, isso, na verdade, não justifica a intempestividade em aferir os danos causados ao meio ambiente. O que falta na realidade, é menos eufemismos e bravatas por parte da ministra do Meio Ambiente Marina Silva, e mais competência no monitoramento das áreas, para prever a tempo os danos não só causados pelo mercado internacional de commodities, mas face a problemas de ordem “técnica”.

Fernando Rizzolo

O individualismo e o isolacionismo

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Globalização é a expressão de ordem do capitalismo. Na realidade o que impulsiona essa expressão é um tipo de alienação. A ironia da globalização, advêm do fato do mundo estar teoricamente unificado, e ao mesmo tempo as pessoas estarem tão separadas entre si como nunca na história da humanidade. Cada vez mais, nós nos definimos a nós mesmos em termos econômicos. Costumamos a um primeiro encontro, sempre perguntar ao outro. Você trabalha em que área? Nossas semanas estão divididas entre o trabalho e o descanso, o que na maioria das vezes significa horários para produzir, e horários para consumir, nos encontrando num ciclo entre produção e consumo, invariavelmente.

Nossas alienações aumentam de forma progressiva. A cada etapa que acompanha o desenvolvimento profissional, nos distanciamos dos outros cada vez mais; mudamos de um apartamento para um condomínio fechado, sem contato com os nossos vizinhos, compramos dispositivos que efetuam ” personalização ” do mesmo apenas para nosso uso exclusivo, nos proporcionando ouvir ou assistir somente músicas ou filmes do nosso gosto, de forma separada dos outros, geralmente através de “headphones” que acabam nos desconectando do mundo. Até mesmo nossos celulares, que deveriam nos conectar com os outros, nos permitem ” filtrar” nossas relações, nos separando dos corpos que estão ao nosso redor, de forma a nos fazer ouvir vozes ” descorpadas”, de pessoas, que no final, raramente encontramos. Filhos que só falam com os pais por telefone, visitas via celular a entes queridos, com um final geralmente dizendo ” eu te amo “.

Desesperadamente procuramos no fundo, estar com, somos na essência ” animais sociáveis”, apesar de com freqüência estarmos exaustos da alternância entre fazer, comprar, produzir e consumir, o que nos impõe uma real impossibilidade de “simplesmente sermos nós”.

Num ambiente altamente desfigurado, ajudarmos ao outro, é a melhor forma de nos tornarmos parte de algo maior. Como fazer isso? Agindo ao semelhante, ou seja, fazer aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem a nós mesmos. Seria o princípio judaico de assegurar que não haverá ninguém sem roupas enquanto temos roupas, ou não haverá famintos enquanto alguns saboreiam alimentos. O capitalismo nos leva ao egocentrismo, ao individualismo, e dessa forma, não mais temos condições de pensar no coletivo, tudo enfim gira em torno do pessoal, do único, do mesquinho.

Mas como poderíamos quebrar essa cultura importada, a do consumo? Uma das formas é a reflexão, é o se despir da ganância, é se voltar as coisas simples da vida, à natureza, aos amigos, e não se deixar levar à extrema concorrência que gera o ódio, e leva fatalmente à depressão.

Ter um projeto de vida e uma visão política de Justiça Social, enobrece o homem e refina os preceitos éticos que tanto o individualismo consumista nos obscureceu. Pensar em Deus e agir como parceiro dele aqui na terra procurando ser o melhor naquilo que você faz é a melhor oração, mas sem se deixar levar pela febre do isolamento e do do consumo que o levará fatalmente à tristeza e a falta de sentido na vida. Pense nisso.

Fernando Rizzolo