O cenário dos pessimistas

Vê-se, portanto, que nem o cenário negativo é tão negativo assim. A não ser que sobrevenha algo catastrófico que não está no momento no horizonte dos analistas

Um estudo distribuído esta semana pela consultoria Tendências a seus clientes afirma que há 30% de chances de um cenário pessimista para a economia brasileira em 2008, em decorrência da crise financeira nos Estados Unidos. Analistas prevêem dois trimestres de contração da economia americana, até meados deste ano, seguidos de uma retomada da expansão. Para compor o cenário pessimista no Brasil, trabalhou-se com duas premissas: 1) o forte impacto da desaceleração estadunidense nos preços das commodities e 2) a deterioração interna do cenário fiscal, em decorrência do fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e da resistência do governo, do Congresso e do Judiciário em ajustar, para baixo, seus orçamentos à nova realidade.

Vamos alinhavar os indicadores desse suposto cenário negativo. Para um crescimento mundial de 3,0%, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceria 3,2%. A inflação (IPCA) seria de 5,5%, contra os 4,5% de 2007. O superávit primário bateria em 3,2% do PIB (contra os 3,9% do ano passado) e o risco Brasil iria para 300 em dezembro, em vez dos 214 com que fechou 2007. Mas o quadro pessimista traz também boas notícias, para os críticos do câmbio. Se tudo der errado, dizem os consultores, o dólar encerra 2008 valendo R$ 2,30, contra os R$ 1,79 de dezembro último. O que levaria a dívida líquida sobre o PIB a uma queda de 5,5 pontos percentuais (de 42,7% a 37,2%). Mas, como nada é perfeito, nessa projeção pessimista o juro Selic iria para 14 %, quase três pontos percentuais de alta ao longo do ano.

Quais seriam as conseqüências políticas desse desempenho apenas medíocre? O ajuste brasileiro se daria às custas de alguma inflação adicional e de uma nova elevação de juros. Em troca, os beneficiários dos programas sociais do governo teriam o seu garantido, bem como o capital financeiro e o setor exportador, cujos aplausos certamente encobririam na opinião pública os protestos dos que estão ali pelo meio da pirâmide, gente que vive de salário e depende de crédito e emprego para melhorar de vida.

Assim, nesse cenário ruim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viveria um momento desfavorável em seu segundo mandato, ao absorver todos os custos do ajuste. A oposição não perderia a oportunidade de debitar na conta do petista essa aterrissagem medíocre, e certamente cobraria dele uma suposta perda de oportunidades no ciclo de crescimento anterior à crise. Tudo isso teria efeitos políticos lá pelo fim de 2008, coincidindo com as eleições municipais. Diferentemente do primeiro mandato, quando o ano da disputa nas prefeituras (2004) foi bom, especialmente na comparação com o doloroso 2003 do ajuste antiinflacionário e fiscal.

Se esse é o cenário pessimista, qual é o otimista? O Brasil escapará mais um menos incólume se 1) a economia americana der uma freada rápida, mas pontual, 2) o crescimento chinês provar-se não tão dependente assim dos Estados Unidos e, em conseqüência, 3) a demanda mundial por matérias-primas e comida continuar aquecida. Claro que sempre nos sobrará explicar por que estamos derrubando árvores na Amazônia para plantar soja e criar gado, mas esse ônus é preferível a responder diante dos eleitores brasileiros por que faltam empregos e crédito. Este último problema derruba governos, enquanto o primeiro apenas cria problemas na esfera das relações públicas.

Há um certo consenso de que num cenário otimista na economia será muito boa a perspectiva eleitoral das forças políticas agrupadas em torno do Palácio do Planalto. A novidade é outra. Se estiverem corretos os dados expostos pelos analistas para um cenário desfavorável, estaríamos diante de um tranco suave neste ano, o que deixaria uma margem de pelo menos mais um ano e meio para que o governo conseguisse reacelerar a economia e chegar ao final de 2010 com ventos novamente otimistas.

Vê-se, portanto, que nem o cenário pessimista é tão pessimista assim. A não ser que sobrevenha algo catastrófico que não está no momento no horizonte dos analistas, as chances de o Brasil alcançar bem ou razoavelmente bem a próxima sucessão presidencial são consideráveis. Do que se deduz que a oposição precisará dar um jeito de escapar do discurso catastrofista se quiser chegar a algum lugar diferente dos que chegou em 2002 e 2006.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje (29/01/2008) no Correio Braziliense
Por Alon Feuerwerker
alon.feuerwerker@correioweb.com.br

Rizzolo: Fica evidente, num cenário pessimista, que o Produto Interno Bruto(PIB) do Brasil, obviamente, cresceria menos, ao redor de 3,2%. O que a meu ver, sugere um excesso de pessimismo; contudo, em relação a um provável aumento da inflação em relação à do ano passado, entendo ser ela melhor do que agravar os efeitos da crise. O próprio FED americano, admitiu um provável aumento do índice inflacionário, tendo em vista o corte no juro. Quanto à eventual desvalorização cambial, seria benéfica em relação ao aumento das exportações, e poderia até compensar perdas no mercado interno.

É bom lembrar, que temos instrumentos básicos de controle, como fortalecer o mercado interno, e utilizar, se necessário, as reservas internacionais que estão por volta de US$ 185,024 bilhões, para um controle cambial mais eficaz, e evitar fortes e bruscas desvalorizações originadas de um colapso de capitais internacionais para o país, caso isso venha a ocorrer. Isso neutralizará possíveis riscos de reaceleração inflacionária. Observem, que nem tudo, significa necessariamente aumento de juros.

2 Respostas to “O cenário dos pessimistas”

  1. paty Says:

    uma breve descricao do cenario pessimista


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