Ainda me lembro, quando na década de 70, sugia um filme que como se dizia na época era ” de cunho comunista” chamado ” A classe Operária vai ao Paraíso” do diretor italiano Elio Petri. Com pinceladas socilistas, retratava-se as manifestações de alienação dentro de uma fábrica e a precarização do trabalho que nela ocorre de forma generalizada; ainda estudante de Direito, imagina o dia em que literalmente os pobres iriam vivenciar o consumo, e sua conseqüências boas e ruins.
Na época, o mundo vivia uma fracionazação social entre ricos e pobres muito mais acentuada, o que propiciou as investidas da esquerda no ganho do terreno ideológico em muitos países, inclusive no Brasil. O que não poderíamos imaginar, é que a produção dos bens de consumo, surgiriam como um problema nos Estados socialistas a ponto de perturba-los, e num resumo das pregações leninistas, stalinistas e trotskistas, passassem a rever as relações com os meios de produção, abandonando de vez o socialismo, ou transformando-o, como a China o fez, num ” socialismo de mercado”. Com isso, agregado ainda aos que não sonharam tal sonho, como alguns países da América Latina, observou-se uma investida de forma contundente na inclusão por parte da população mais pobre desses países, no acesso aos bens de consumo.
Nem precisou os economistas se aterem aos estudos de Adam Smith, para logo se apropriarem da idéia de que só a produção e a capacidade de consumo de um povo, aumenta o bem-estar social; face a isso, iniciou-se um alavancamento dos meios de produção em países como a China e Índia, que passaram a fabricar manufaturados e consumir bens elevando e incluindo uma população gigantesca que outrora jamais tivera acesso ao mercado. Na euforia produtiva, os EUA passaram a investir mais na Ásia, e por conseqüência, importar mais produtos desses países consumindo o americano médio mais do que deveria.
Na corrida ao consumo, países emergentes passaram a ter políticas voltadas à inclusão social, com programas evolutivos que culminaram com a acessibilidade maior a tudo que, em tempos atrás, apenas uma pequena parcela tinha participação. Na imensa bolha de consumo mundial, surge o consumo desenfreado com o fácil crédito imobiliário americano, desregulamentado e arrebanhando os excluídos americanos do sonho da casa própria. O final da história já sabemos, crise americana que poderá se tornar mundial sem termos hoje, meios de saber sua intensidade.
Não há que se falar em ” descolamento”, se ela (crise) vier, teremos todos que enfrenta-la. Numa análise mais profunda, observamos que a partir do momento em que os pobres do mundo passaram de forma uníssona a consumir mais, surgiu uma crise, e fica a pergunta no ar: Seria a inclusão dos esquecidos um fator de geração de crises? Ou será que classe operária não tem espaço no capitalismo, para viver no paraíso.
Fernando Rizzolo