Violência, uma questão de desenvolvimento e gestão

Não resta a menor dúvida, que existe uma inter-relação entre a violência e a falta de oportunidade, que pode ser traduzida pelo desemprego, falta de um planejamento familiar, e principalmente educação. Não relevar as questões sociais, como pano de fundo, é não considera-la a coluna vertebral de uma sociedade, é no mínimo, não ser responsável. Nesse esteio, o governo federal, empreendeu políticas de inclusão assentadas nos recursos advindos dentre outros da CPMF, ora, relegada, por problemas de cunho político.

Todavia, atribuir à questão da violência um caráter meramente econômico ou cultural, é não ir ao cerne da questão enfrentando-a, até porque, existem outros fatores que contribuem para o aumento da criminalidade.No tocante ao desenvolvimento, observamos que na Região Metropolitana de São Paulo, a taxa de desemprego passou de 14,2% em novembro para 13,5% da População Economicamente Ativa (PEA) em dezembro do ano passado.

Na realidade, é a menor taxa, para o mês de dezembro, desde 1996, quando estava em 14,2%. Em dezembro de 1995, a taxa de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo foi de 13,2%, a mais baixa de toda a série, esses dados constam da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgada hoje.

Trata-se aí de um dos aspectos que contribuíram para que a cidade de São Paulo, que ocupava o 182º no ranking de homicídios, despencasse para 492º, ou seja, a cidade ganhou 310 posições. A relação do número de mortes por 100 mil habitantes (proporção que caracteriza a taxa de homicídios) na capital paulista caiu de 48,2 em 2004 para 31,1 em 2006. Os homicídios recuaram 40,4%: de 4.275 para 2.546 dois anos depois. Mas a questão principal que vem de encontro a esses números, são dois fatores que somados, levam a uma melhora dos índices de criminalidade, que são: desenvolvimento e gestão.

Esses dois fatores ao se complementarem, e uma vez implementados, geram o que poderíamos chamar de “maior acesso ao manejamento da segurança pública”. Nesse aspecto, o governo Serra tem caminhado na direção certa. Os gestos de responsabilidade do governador, ao pleitear a prorrogação da CPMF junto ao governo federal, vêm corroborar sua visão de que não há excelência em gestão, sem recursos. Em 2001, o estado de São Paulo tinha 67.649 presos; em 2006, eles eram 143.310 — mais do que o dobro. Por outro lado, esse quadro, nos leva a uma reflexão; que não há contenção da violência apenas com o desenvolvimento, mas com gestão, com uma polícia inteligente, com policiais bem remunerados.

Isto posto, não hesitaria em afirmar, que a base, ou concretagem social, vem do produto da implementação das políticas de inclusão, mas apenas elas não bastam. A questão da violência passa pela administração com eficiência dos órgãos envolvidos, dos recursos a eles destinados, e aos programas sociais que levam o desenvolvimento aqueles que poderiam um dia transgredir.

Fernando Rizzolo

“Compra” da Xstrata maquia desnacionalização da Vale

HSBC e Santander colocaram à disposição US$ 50 bilhões para ambevizar a Vale, avaliada em US$ 120 bilhões. Outros US$ 30 bilhões seriam pagos em ações, com direito a voto, aos controladores da mineradora anglo-suíça

O governo federal poderá vetar a aquisição da mineradora anglo-suíça Xstrata pela Vale do Rio Doce. Pela proposta que está sendo gestada pela direção da Vale, conforme divulgada pela imprensa, a empresa corre o risco de ser desnacionalizada e ficar pendurada em bancos e especuladores estrangeiros. O governo considera o negócio prejudicial aos interesses do país.

Para concretizar a compra, a Vale, avaliada em US$ 120 bilhões, precisaria entre US$ 70 bilhões e US$ 100 bilhões. De acordo com o jornal londrino “Financial Times”, já está acertado que US$ 50 bilhões seriam financiados por bancos estrangeiros tais como o HSBC, Santander, Credit Suisse, Citigroup, BNP Paribas, Barclays e RBS. O restante, cerca de US$ 30 bilhões, seria obtido através da transferência de ações preferenciais da Vale aos controladores da Xstrata.

O principal acionista da Xstrata, a trading Glencore, seria beneficiado com as ações da Vale, além dos demais acionistas da mineradora anglo-suíça, em sua maioria especuladores como a Axa Investments, Alliance Bernstein, Black Rock. Caso a negociação seja concretizada, significaria a transferência para os estrangeiros de grande parte do capital da empresa.

Segunda maior mineradora do mundo e a primeira na produção de minério de ferro, a Vale é estratégica para o desenvolvimento do país. Atualmente, as ações ordinárias representam 60% do capital total da Vale do Rio Doce, e as preferenciais (PN), 40%. O detalhe é que as ações preferenciais da Vale são da classe A, que dão direito a voto.

Para preservar a empresa da desnacionalização e entrega do subsolo nacional aos estrangeiros, basta os representantes do BNDESPar e da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) vetar a negociação no Conselho de Administração da Vale. O governo conta com uma “golden share” (ação especial) que garante poder de veto em algumas situações, entre elas em relação ao aumento de capital estrangeiro na companhia.

Na segunda-feira, o Conselho de Administração começou a analisar a operação. O presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, disse que “é só um estudo pra ver realmente se fecha nas condições, se é factível, se tem geração de caixa, esses detalhes todos. Depois, na decisão, [os representantes do] governo tem poder [pra resolver]”, disse ele. O Bradesco é acionista da Vale e participa do conselho através da Bradespar.

O negócio da Vale com a Xstrata está sendo comparado com o da AmBev, que resultou na desnacionalização da principal indústria cervejeira brasileira. Em 1999, Brahma e Antarctica anunciaram fusão e criação da AmBev, sendo aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no ano seguinte. Mais tarde, o processo de desnacionalização surgiu maquiado por uma campanha que dava conta de que as cervejas brasileiras ganhariam o mundo através de uma associação com a empresa belga InterBrew. Mais ainda, de que a AmBev seria a dona da InterBrew. O que ocorreu foi o contrário. Com a dita “fusão”, foi criada a belga InBev, que passou a controlar a AmBev e monopolizar o mercado nacional de cerveja.

LUIZ ROCHA
Hora do Povo

Rizzolo: O governo federal deverá acompanhar essa negociação de perto, para tanto, os representantes do BNDESPar e da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) poderão vetar a negociação no Conselho de Administração da Vale. O problema , é que o mesmo poderá ocorrer como na Ambev, quando desnacionalizaram da principal indústria cervejeira brasileira, só que neste caso, não trata-se de cerveja, mas de subsolo nacional. A Vale é a segunda maior mineradora do mundo e a primeira na produção de minério de ferro. Muito embora setores consevadores dizem que isso é “nacionalismo bobo”, não é verdade; todo cuidado é pouco quando se trata de subsolo e produção de minério de ferro, neste caso não estamos falando de bebidas. Contudo, entendo que não há motivos para maiores preocupações, agora, nacinalista todo brasileiro tem obrigação de ser, sem fanatismo, é claro.

Suplicy canta e dança no Iraque para distribuir alegria à tropa de ocupação

Suplicy faz a festa no Iraque ocupado pelas tropas de Bush

O senador Eduardo Suplicy (PT/SP) foi ao Iraque dar palestras sobre “renda mínima”. Cercado de forte esquema de segurança desembarcou em Bagdá, dia 16 de janeiro, ficando até o dia seguinte, quando voou para Amã, e de lá para Paris. Entusiasmado com a fabulosa “redemocratização” levada pelas tropas de ocupação de Bush, cantou “Blowin’n in the Wind”, de Bob Dylan, e dançou para a turma dos parceiros de Bush.

Suplicy contou, extasiado, que foi recebido com status de xeique. No aeroporto, seis homens, contratados pela embaixada brasileira a uma empresa de segurança britânica, o esperavam munidos de metralhadoras automáticas. Além deles, outros seguranças destacados pelo “gabinete” iraquiano protegiam o senador. “Me deram um colete à prova de balas e um capacete para ir até área verde (zona de segurança onde ficam as autoridades no país)”, disse. Suplicy não informou se sugeriu aos mandatários do Iraque doar todas essas armas e equipamentos de segurança para ajudar no “renda mínima”. Aliás, o senador poderia ter dado exemplo, abdicando de usar o colete e o capacete. Abaixo o desperdício!

Na quinta, jantou com 40 pessoas onde relatou para uma animada e receptiva platéia, formada por cinco ministros, parlamentares e empresários, seus mundialmente brilhantes projetos de desenvolvimento e distribuição de renda. “Procurei mostrar como uma renda básica colaboraria para que xiitas, sunitas e curdos pudessem sentir-se todos solidários, participando da riqueza e ajudando na construção da democracia”, esclareceu o senador.

Como se as corporações norte-americanas e seus apaniguados no Iraque estivessem interessados em distribuir riqueza a rodo e construir democracia. Só se for a democracia dos mercenários, esquadrões da morte, da soldadesca invasora e dos assaltantes de petróleo.

Hora do Povo

Rizzolo: É impressionante como o Senador Suplicy não se deu conta de que aquilo é uma invasão norte americana. Ensinar o que é renda mínima no Iraque é no mínimo hilariante. Depois da aula, como se bastasse, cantou “Blowin’n in the Wind”, de Bob Dylan, e dançou para a turma dos parceiros de Bush. Olha, realmente o PT, deveria antes de deixa-lo partir, fazer uma reflexão, chama-lo para uma conversa, tranquiliza-lo com chá de camomila.

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Brasil fica proibido de exportar carne bovina à União Européia

Nenhuma propriedade agrícola brasileira possui no momento autorização para fornecer bois para exportação de carne à União Européia, o que deverá fazer com que as vendas sejam interrompidas a partir de 31 de janeiro, quando entram em vigor novas regras européias.

Como houve uma discordância entre os governos brasileiro e europeu sobre o número de fazendas liberadas para exportar à UE, nenhuma propriedade conseguiu autorização sob as novas regras, válidas a partir de quinta-feira, disse um integrante da Comissão Européia nesta quarta-feira.

Apenas cerca de 300 propriedades brasileiras, ou 3% das fazendas, deveriam receber permissões para exportar aos 27 países integrantes do bloco europeu, segundo interpretação do comissário de Saúde do bloco, Markos Kyprianou, mas o Brasil enviou uma lista com um número maior de unidades consideradas habilitadas (2.600).

Diante dessa divergência, segundo Kyprianou, ainda não há uma lista com as fazendas habilitadas a vender gado para os frigoríficos brasileiros que exportam carne à UE.

“Tínhamos considerado cerca de 300 propriedades sendo autorizadas a exportar para a UE, com base em inspeções prévias e informações dos brasileiros”, disse o comissário de Saúde à Reuters.

“Não há uma lista de propriedades autorizadas… neste momento, não há propriedades autorizadas a exportar para a UE”, acrescentou ele.

Segundo Kyprianou, como o Brasil enviou na terça-feira uma lista com um número muito maior, mais tempo será necessário para que a checagem das fazendas seja realizada.

“Claro que essa situação pode mudar nos próximos dias, mas no momento não há lista aprovada”, disse o comissário.

O governo brasileiro tinha até o final do mês para elaborar a lista.

As restrições impostas pela UE foram anunciadas depois de uma delegação européia ter encontrado, de acordo com o bloco, irregularidades no sistema sanitário e de rastreabilidade do Brasil, no ano passado.

Além disso, as limitações seguem um forte lobby feito por fazendeiros do bloco, principalmente irlandeses, que afirmam estar sendo prejudicados pelas exportações brasileiras.

Para o analista Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, a posição da UE, “na prática, paralisa as exportações de carne in natura do Brasil para lá”, a partir de 31 de janeiro.

As exportações de carne industrializadas estão fora das restrições, uma vez que o vírus da febre aftosa é eliminado no processo de industrialização.

Em 2007, o Brasil exportou 2,53 milhões de toneladas (equivalente carcaça) de carne bovina para todos os destinos, obtendo com essas vendas externas US$ 4,42 bilhões.

Segundo a Abiec, entidade que representa os exportadores de carne bovina do Brasil, as exportações de carne bovina para a UE somaram 543,5 mil toneladas (21% do total), o equivalente a US$ 1,4 bilhão (32%).

De acordo com o analista, os países integrantes do bloco europeu respondem pela maior parte da receita obtida com as exportações por pagarem um preço mais elevado pelo produto brasileiro.

Não havia nenhum representante da Abiec imediatamente disponível para comentar o assunto.

O Ministério da Agricultura do Brasil afirmou que se manifestará oficialmente sobre o tema mais tarde nesta quarta-feira.

“Acho que os europeus, por pagarem melhor pela carne brasileira, podem exigir o que bem entenderem. Agora, a partir do momento que o Brasil atende a exigência, não tem por que restringirem as 300 propriedades…”, afirmou Rosa.

Segundo ele, o Brasil tem hoje mais de 6.000 propriedades que atendem as exigências da UE dentro de Estados sem problemas sanitários para exportar. “E dessas 6.000, 2.600, na avaliação do Ministério da Agricultura, atendem todas as exigências da UE.”

Assim, segundo Tito Rosa, não há como o Brasil selecionar uma lista de 300 propriedades, como quer a UE, se tem 2.600 atendendo as exigências. “Qual critério seria adotado? Então essa regra da UE é arbitrária.”

O analista disse ainda que, uma vez que os frigoríficos não sabem quais são as propriedades que serão habilitadas, “estão paralisando abates para atender à demanda de carne in natura da UE”.

Em função do problema, segundo Tito Rosa, provavelmente os frigoríficos vão utilizar o argumento para pressionar o preço pago pela arroba do boi no mercado brasileiro.

Por outro lado, disse o analista, há outros fatores altistas para o mercado de boi, como a redução do rebanho nacional após um período de intenso abate de matrizes, e o setor está em expansão, demandando mais gado para abate, em função do crescimento no consumo interno e externo.

Rizzolo: Agora, o governo tem obrigação de se adiantar, no sentido de preencher as exigências da Europa, por mais bizarras que sejam elas. Tudo isso por falta de capacidade de o Brasil entregar uma lista de 300 propriedades? A União Européia restringiu o número de fazendas a 300 (3% das 10 mil registradas no passado no Sisbov, sistema de rastreabilidade do gado), o Ministério da Agricultura brasileiro apresentou uma lista com cerca de 2.600 propriedades.

Isso significa falta de preparo técnico, mas a questão principal é que o Brasil precisa de uma vez por todas fazer valer nosso potencial de mercado, somos 180 milhões de consumidores. Se existe barreiras protecionistas na Europa, porque não taxamos um pouco mais as enormes remessas de lucros e dividendos das empresas européias aqui sediadas, que vivem do nosso mercado? Mas não, a passividade e a falta de pulso, faz do “conciliador Lula”, uma voz fraca na defesa dos interesses dos empresários nacionais e dos pecuaristas. E mais, não tem nada de radical no que afirmo, radicalismo é deixar o mercado de carne da noite para dia “a ver navios”.