Durante os 7 anos de governo Bush, mais 5 milhões de pessoas foram lançadas à “pobreza severa”; o crescimento da oferta de emprego caiu em 2/3. O número de pessoas sem acesso a cuidados com a saúde aumentou de 38 milhões para 47 milhões
Compilação do “Caucus Democrático” sobre a herança maldita de W. Bush, em comparação com os EUA que ele havia recebido na posse em janeiro de 2001, revelou que seu governo reduziu à metade o “crescimento” da economia; quase dobrou a dívida nacional e o débito dos consumidores; cortou em dois-terços a criação de empregos; elevou para 47 milhões o número dos sem-seguro-saúde e para 36,5 milhões o de miseráveis; cortou a renda média por família e tornou negativa a poupança das famílias; transformou um superávit orçamentário num monumental déficit; e arrasou a reputação do país no exterior. O “Caucus” é o mais antigo organismo partidário dos EUA, atuando desde os fundadores da República e se orgulha, ainda, do papel de apoio ao presidente Roosevelt.
Vamos aos números. O crescimento real do PIB dos EUA se arrastou a uma média de 2,65% nos sete anos de W. Bush, comparado com 4,09% nos oito anos anteriores, com os democratas. No mesmo período – 20 de janeiro de 2001 até hoje – a dívida nacional dos EUA quase dobrou, de US$ 5,7 trilhões, para US$ 9,2 trilhões. Note-se que esses “2,65%” do PIB em boa parte eram espuma especulativa, na bolsa e nas hipotecas, como revelado no estouro do subprime.
A criação de novos empregos pelo setor privado, por ano, ao longo do reinado de W. Bush praticamente baixou a um terço da sob o governo democrata (oito anos de Bill Clinton). De 4.369.000 empregos por ano, desabou para 1.760.000 postos de trabalho. (Desses, a maioria recebendo salários miseráveis aos moldes da Wal Mart e McDonalds). Há ainda o superávit orçamentário legado por Clinton, que W. Bush, com suas guerras e sua isenção de impostos para magnatas, transformou em um monumental déficit. Respectivamente “US$ 431 bilhões de superávit sobre os três anos prévios” e a façanha do texano, de US$ 734 bilhões no vermelho.
SUBPRIME
A fonte da maioria dos dados são órgãos do próprio governo e, em vários casos, o Caucus inclusive é condescendente. Isto é, a realidade é ainda pior do que é apresentada. Veja-se que a compilação sequer toca, por exemplo, na crise do subprime, que já se transformou numa crise dos bancos, corretoras e seguradoras, e onde as perdas, de acordo com o “Wall Street Journal”, já ultrapassaram os US$ 100 bilhões. Também não toca no número de americanos que perderam suas casas por causa do subprime. Mas o que mostra é mais do que suficiente.
Ela apresenta, ainda, quanto custou ao povo norte-americano o desastre conduzido por W. Bush, pelo cartel do petróleo e das armas, e por Wall Street. O número de americanos na pobreza aumentou de 31,6 milhões para 36,5 milhões – mais de 15%. Note-se que o país mais rico do mundo, e com a mais perdulária elite já vista, ter 31 milhões de pobres em 2001 já era um escândalo. Mas W. Bush, que costuma conversar com Deus no seu rancho quando não está tirando uma prosa com as suas vacas, logrou aumentar esse número em mais de 5 milhões.
SAÚDE
Ainda no item “qualidade de vida”, o Caucus assinalou que o número de americanos sem seguro saúde, num país onde a saúde é privatizada e caríssima, disparou de 38 milhões antes de 2001 (Clinton), para 47 milhões. Note-se que sob Clinton, que inclusive tentou implantar um sistema menos selvagem sem sucesso, mais 4,5 milhões de pessoas haviam conseguido o seguro saúde, enquanto mais de 8,5 milhões o perderam, sob W.Bush. Outro dado que impressiona é a elevação do custo do seguro saúde “premium” para uma família: quase 100% de aumento, contra uma inflação reconhecidamente pequena nesse período. Segundo os números do Caucus, respectivamente US$ 12.106 por ano (com Bush) e US$ 6.230 antes.
A renda média de uma família também encolheu sob W. Bush. Nos oito anos anteriores à fraude da Flórida, essa renda, de acordo com essa fonte, aumentou US$ 6.000, para US$ 49.163. Com Bush, diminuiu US$ 1.100, baixando para US$ 48.023 (Há estudos situando essa perda em US$ 2.000). Essa renda, apesar de toda a demagogia do texano sobre os cortes nos impostos, foi seguidamente abalroada, ainda, pela triplicação do preço do galão de gasolina, de US$ 1,39 para US$ 3,07 – o que não teria ocorrido sem a invasão do Iraque (a OPEP pleiteava um aumento para um patamar que é hoje um terço do preço das Sete Irmãs de 100 dólares o barril). Também pesou o aumento no ensino superior privatizado, que custa os olhos da cara – de US$ 3164 por ano, para US$ 5192.
POUPANÇA NEGATIVA
Assim, destaca a compilação, a taxa de poupança pessoal despencou de 2,3% positivos para menos 0,50%. O que expressa a situação das famílias tentarem mitigar o arrocho salarial em vigor, apelando para o endividamento forçado, o cartão de crédito e inclusive a hipoteca da casa.
Dessa forma, e com aquela desinteressada mãozinha de Allan Greenspan em prol dos 500 bancos com água pelo nariz em 2001, a dívida dos consumidores explodiu de US$ 7,6 trilhões, para US$ 12,8 trilhões.
Ao mesmo tempo, e refletindo tanto os desajustes estruturais da economia americana, vergada pelos monopólios, e sua perda de competitividade, enquanto não parava de bater recordes de fachada de “aumento na produtividade”, o déficit anual dos EUA no comércio exterior dobrou, de US$ 380 bilhões para US$ 759 bilhões. Por sua vez, a “força do dólar” dos EUA – como apresenta o artigo – caiu de 1,07 euros por dólar (2001), para US$ 0,68 euros por dólar. (Registre-se que nem assim as exportações dos EUA viraram o jogo). Quanto à dependência dos EUA de petróleo proveniente do estrangeiro, aumentou de “52,75% para 60,38%”.
DESASTRE
A compilação também registra o desastre à imagem do país no exterior, sob a política terrorista e as guerras de W. Bush. Ela cita que, no geral de uma pesquisa de “como a América é vista no exterior”, realizada pela PEW em dez nações, o “favoravelmente” caiu de 58,3% para 39,2%. Cá para nós, deram uma retocada para chegar nesses “39%”, para não desanimar o time da casa. Por exemplo, na Alemanha, o “favoravelmente” tinha 78% – depois de Bush foi cortado para a metade; Na Inglaterra, de “83%” pró, um tombo para 56%. Na Turquia é, atualmente, de 12%; ligeiramente melhor na Indonésia – 30%. Abu Graib, Guantánamo e tortura se tornaram a imagem mais fidedigna dos EUA aos olhos dos demais povos.
O Caucus não deixa de notar que a “prontidão de combate” – total em todas as unidades antes de W. Bush – agora virou “nem uma só brigada na ativa ou da reserva considerada ‘plenamente pronta para combate’”. Com sua costumeira modéstia, a Resistência iraquiana compreende as razões do Caucus para não conceder os devidos créditos.
Os dados da compilação podem ser confirmados em órgãos federais e estaduais dos EUA, como o Bureau de Análise Econômica, o Departamento do Tesouro, o Bureau de Estatísticas sobre o Trabalho e o Bureau de Censo dos EUA. Também o Escritório de Coordenação do Ensino Superior do Estado de Washington, Pew Research Center e o Centro Kaiser de Estudos sobre Seguro Saúde.
ANTONIO PIMENTA
Hora do Povo
Rizzolo: A resposta aos republicanos com certeza vai ser dada nas urnas, com a vitória dos democratas. O problema de saúde nos EUA é extremamente sério. Hoje existem 47 milhões de pessoas sem seguro-saúde, situação que inspirou o documentário de Michel Moore sobre essa questão. A idéia de que o mercado por si só é auto regulador, é uma tolice e leva os países, como já levou os EUA a problemas sociais e econômicos. Entender que uma nação poderosa como os EUA não tinham o menor controle sobre as subprimes nos leva a refletir o quanto vulnerável é o sistema puramente capitalista.
O Estado deve ter sua participação na medida contida sem excessos, contudo, a coluna vertebral dos investimentos, os direcionamentos econômicos, devem partir do Pode Público. Negar isso, é chancelar a anarquia, a fome, o desespero, a injustiça. Em parte o que está ocorrendo nos EUA tem caráter didático para que os neoliberais de plantão se contenham e reconheçam os erros. A participação da iniciativa privada deve ser livre, mas o direcionamento dos investimentos devem ser coordenados a partir de uma política pública onde a presença do Estado se faz necessária, senão vira isso que estamos presenciando nos EUA.
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