A questão das pesquisas com células tronco é controversa. A partir da próxima quarta-feira o futuro no Brasil das pesquisas com células-tronco de embriões humanos, será apreciada em uma sala que ostenta um grande crucifixo na parede. Isso não significa que o bom senso não deverá imperar nas decisões dos 11 ministros que irão apreciar a questão. Muito se tem falado sobre essa nova tendência científica na busca da cura das mais variadas doenças. Não há dúvida, que o julgamento será permeado por questões religiosas e argumentos emocionais, mas a questão principal é de ordem prática. Será realmente importante a utilização de embriões em pesquisas? Até hoje, a clonagem terapêutica, não se conseguiu clonar um primata. Ao se tentar, obtém-se meia dúzia de células aneuploides (células cujos núcleos contém um número diferente de cromossomos, no caso humano diferente de 46).
Cientistas como Joel R. Chamberlain e colegas, publicaram na Science 2004, estudo mostrando que há doenças genéticas que podem ser tratadas, mas com células tronco adultas, modificadas geneticamente, como na Osteogenesis Imperfecta, a qual origina desordens ósseas no esqueleto. Os resultados demonstrados foram um sucesso. A questão é muito complexa, esbarra pela ética, e pelo receio da perda do controle sobre os embriões. No meu ponto de vista deve-se exigir mais cautela e um maior envolvimento da sociedade; o atropelamento nas discussões poderá nos levar a fazer erradas opções.
Do ponto de vista religioso, no caso judaico, segundo o rabino Rabino Y. David Weitman, “temos permissão e obrigação Divinas de pesquisar a fim de curar o ser humano. Ou seja, isso não se constitui em um desafio à vontade Divina. Nós não achamos que isso seja “brincar de D’us”. Pelo contrário, o judaísmo acredita que D’us convidou o ser humano a ser Seu sócio na obra da Criação. O homem, tem o direito e o dever de aperfeiçoar a obra Divina, que, em certos casos, foi deixada inacabada por Ele. De acordo com o judaísmo, é uma obrigação desenvolver este mundo da melhor forma possível para que ele seja proveitoso ao ser humano. Todavia, é importante ter em mente que cada descoberta, científica ou tecnológica, pode ser potencialmente uma bênção, ou o oposto. Será uma bênção quando acrescentar dignidade ao homem, e quando realmente reduzir a dor, a doença e a miséria. E será uma maldição, Dos nos livre, quando for usada irresponsavelmente”.
É exatamente nesse aspecto que como cidadão me questiono; entendo ainda muito prematura essa discussão num Brasil pobre, desestruturado, onde o Estado nem sequer possui controle sobre os cartões corporativos, tampouco seria capaz regulamentando questões que envolvam a vida, temos que ampliar essa discussão, não pode o Congresso ser o único responsável pela decisão de assuntos desta natureza, há que se cosntituir um regulador destas matérias, uma espécie de conselho consultivo. Na verdade, nossos sábios de todas as religiões deverão também analisar com mais parcimônia questões que envolvem o desenvolvimento da vida, e por ética, sobre aqueles que ainda não vieram a esse mundo.
Me questiono quanto a implementação hoje, não acredito que seria uma boa idéia, a maioria dos países ainda está discutindo o assunto. Nos Estados Unidos nove estados proíbem radicalmente a utilização de células-tronco embrionárias. A França após enfrentar questionamentos jurídicos resolveu proibir todos os tipos de clonagem. A Austrália agora que está começando a avançar na discussão. A Inglaterra voltou atrás na sua política de total abertura.A Espanha só libera a utilização de embriões que estão congelados no mínimo por dois anos.
Temos que nos preocupar, sim, por hora, com aqueles que já são seres humanos e que permanecem na miséria e no desalento no nosso País, embriões devem sim esperar por um Brasil melhor, mais digno. E os representantes das empresas farmaceuticas internacionais que se contenham por mais tempo. Não é o momento agora, deixem os embriões em paz…
Fernando Rizzolo