Bolsa-Família reduz miséria, mas não desconcentra renda, diz cientista político

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome completa quatro anos. No Palácio do Planalto, o presidente Lula e o ministro Patrus Ananias fazem festa e comemoram o projeto carro-chefe do governo: o Bolsa-Família. Segundo dados do ministério, as 11 milhões de famílias atendidas pelo programa melhoraram sua situação alimentar e nutricional.

Para Michel Zaidan Filho, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, o programa realmente conseguiu um avanço no combate à miséria, motivo de comemoração para o governo federal.

“O que ocorreu no Brasil é um fenômeno semelhante ao que ocorreu em países asiáticos, em que de fato há uma diminuição da miséria e uma passagem do contingente de miseráveis para a condição de pobreza. Dessa perspectiva, não há dúvida o governo tem muito o que comemorar porque isso tem impactos diretos e indiretos na qualidade de vida, no acesso a determinados serviços, na melhoria da alimentação, da saúde”, afirmou.

No entanto, ele chama atenção para a pouca efetividade do Bolsa-Família no que diz respeito à concentração de renda no país, já que a versão brasileira dessa política não é encarada como um direito universal de todos os cidadãos. Zaidan também critica o caráter assistencialista e eleitoreiro do programa, que atende principalmente as populações mais pobres e menos escolarizadas do Brasil.

Folha online

Rizzolo: Do ponto de vista econômico pouco importa as classificações que se queiram dar em relação aos efeitos do Bolsa Família, minimizar seus efeitos alegando que o “houve uma diminuição da miséria e uma passagem do contingente de miseráveis para a condição de pobreza “, é uma forma de desclassificar o projeto. A verdade é que o Bolsa Família corresponde a um avanço no desenvolvimento social, contudo, e aí vai minha ressalva, a política econômica do governo deveria estar voltada à produção e não a financeirização, vez que dessa forma, não estaríamos promovendo a segunda etapa da inclusão que seria a geração de emprego. O exemplo cabal, são os jovens de 15 anos que após estarem fora do programa mal conseguem ingressar no mercado de trabalho. Agora, concentração de renda existe, mas chamar tudo de eleitoreiro, é fazer o jogo bobo da oposição que ” bate o pezinho” e diz que quer dificultar todas as propostas do governo. Isso para mim, não chama-se oposição, chama-se falta de patriotismo ou miopia da direita retrógrada. Vamos devagar…

PIB e Desenvolvimento Social

A notícia de que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 5,4% em 2007 em relação ao ano anterior, divulgado nesta quarta-feira o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), denota um resultado surpreendente, atingindo o valor de R$ 2,6 trilhões. Para se ter uma idéia em 2006, a alta havia sido de 3,7% .

O conceito de PIB é ao mesmo tempo técnico e interpretativo, o primeiro fator que influencia diretamente a variação do PIB é o consumo da população. Quanto mais as pessoas gastam, mais o PIB cresce. Se o consumo é menor, o PIB cai.

O consumo depende dos salários e dos juros. Se as pessoas ganham mais e pagam menos juros nas prestações, o consumo é maior e o PIB cresce. Com salário baixo e juro alto, o gasto pessoal cai e o PIB também. Por isso os juros altos atrapalham o crescimento do país. Os gastos do governo são outro fator que impulsiona o PIB. Quando faz obras, como a construção de uma estrada, são contratados operários e é gasto material de construção, o que ele eleva a produção geral da economia, assim também acontece com as exportações.

O que temos que analisar antes de comemorar, são os rumos da política econômica imposta atualmente pelo Banco Central, priorizando ainda as altas taxas de juros num cenário de turbulência internacional, fazendo com que a estimativa seja de 4,5%, neste ano. A persistência numa política econômica voltada a financeirização da economia, envolta a um cenário de recessão dos EUA, nos surpreender com o grave problema das contas externas e da valorização do câmbio. Ao que parece, o governo pretende a manutenção das altas taxas de juros, beneficiando o capital especulador em detrimento a uma política de fortalecimento do mercado interno, haja vista, as previsões relacionadas ao PIB para este ano.

Para se ter uma idéia, o diferencial das taxas reais de juros entre Brasil e EUA, estão hoje por volta de 8,5% ao ano. Não resta a menor dúvida, que para conter o câmbio, temos sim que reduzir as taxas que estão na estratosfera beneficiando a especulação. As medidas paliativas que pretende o governo implementar, não vai ao cerne da questão, que em última instância é a taxa de juros praticada no País.

É fato que o desenvolvimento social está relacionado a um aumento do PIB, que por sua vez depende do mercado interno fortalecido; não há que se pensar nesse momento, que teremos o mesmo cenário mundial econômico que tivemos em 2007, beneficiados que fomos pelo alto preço das commodities e pela inclusão da população da China ao consumo destes produtos.

Isto posto, a instrumentalização das medidas que visam a contenção da valorização do real, passam forçosamente pelo Banco Central na sua disposição em beneficiar o capital especulativo, legitimando-o para tanto, velhos ícones como o medo inflacionário e outras vagas argumentações. Os números de 2007 não podem legitimar aos incautos a manutenção e a permanência da financeirzação da nossa economia, mas uma coisa me parece claro, o claro desejo de manter essa política o maior tempo possível, visando os interesses daqueles que apenas vêem o Brasil com um grande Cassino.

Fernando Rizzolo

Charge do Henrique para o Tribuna da Imprensa

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