PAE – Plano de Aceleração Espiritual

Foi um domingo normal, como de costume li todos os jornais da capital paulista, artigos sobre política, economia, política internacional, ciência, enfim, tudo que é reservado a uma manhã de domingo ensolarada lendo e relendo trechos não tão diferentes daqueles que li no decorrer da semana. Foi no caminho, no cumprimento de mais um ritual da manhã de domingo, caminhar no Ibirapuera, que me vi perdido em meus pensamentos, refletindo sobre o nosso desenvolvimento econômico, sobre o que estamos vivenciando nessa era de desenvolvimento brasileiro, quando preliminares apontam que pelo menos R$ 15 bilhões poderão entrar a mais do que o projetado pelo governo no decreto de programação orçamentária, quando novas reservas de petróleo nos enchem de orgulho, ao pensarmos que poderemos entrar no rol daqueles maiores produtores do mineral, que não pára de se valorizar.

O Brasil na era Lula é um País que desponta com uma enorme energia, com um vocação de crescimento nunca antes vista, mas algo me leva a pensar que deveria refletir sobre uma questão maior, uma questão que de tal forma fosse, a justificar a utilização de forma ética e benéfica os recursos públicos e pessoais advindos desta prosperidade. Aí me perguntei, será que entre tantos planos de desenvolvimento econômico, estaríamos programando para nós mesmos um plano maior, visando acompanhar este desenvolvimento material?

Não temos no Brasil uma tradição em valorizar o conteúdo espiritual e religioso das pessoas, até por que tantos foram os problemas que afligiram nossa nação, que os esforços se deram mais na direção do desenvolvimento econômico, contudo, me parece que algo maior nos chama a medida em que materialmente começamos a nos desenvolver. Nos EUA, a tradição espiritual é projetada pela linhagem protestante, cujos líderes sempre procuraram adequar o desenvolvimento material com o espiritual. O que faz dos EUA, uma nação marcada por valores que refletem nos votos, no caráter dos candidatos, e na ética que permeia a democracia. Numa sondagem organizada por uma organização evangélica sediada em Washington DC foi revelado que entre os cristãos, cerca de 82% acreditam que têm uma obrigação moral para apoiar Israel, os evangélicos americanos entendem que Israel significa mais do que um lar judaico, um lar espiritual.

No Brasil, felizmente, aqueles que exercitam a palavra de Deus, de Hashem, não param de crescer, isso significa que, em três anos, quase seis milhões de brasileiros aderiram ao protestantismo, que continua crescendo graças ao trabalho de uma nova geração de pastores. A socióloga da USP (Universidade de São Paulo) Maria Cristina Loureiro Serra afirma que o sucesso do discurso dos novos pastores está relacionado ao fato de enfatizarem a importância da racionalidade, além de mirarem um segmento que começa a crescer: o dos fiéis da classe média. O estudo da FGV indica que a maior parte dos evangélicos no país pertence às classes econômicas mais pobres: enquanto o percentual de evangélicos no Brasil era de 15% em 2000, na periferia e nas regiões metropolitanas ele chegava a 20%.

Não há como conviver com o desenvolvimento econômico, se dentro de nós existe a pobreza espiritual, a violência, a tristeza e a desesperança. Ao contrário daqueles que apregoam o antievangelismo entendo que o caráter espiritual de um povo independe de religião, mas incontestável é a necessidade de viabilizarmos a nós mesmos, um desenvolvimento interior baseado em algo maior, um PAE (Plano de Aceleração Espiritual), para que a ética, a bondade, e os valores de paz integrem o diversos “planos de desenvolvimento”. Quem sabe assim, possamos educar melhor nossas crianças para o convívio com o desenvolvimento material, lançando as espiritualmente ao encontro de Deus, e jamais arremessando-as ao mais baixo nível de amor como o que vimos no caso Isabella.

E assim foi, quando me apercebi pensando nisso tudo, já tinha dado três voltas no Parque do Ibirapuera, e uma proeza: não pensei em política. Cansado ao voltar para casa, entrei na sala e vi a Torah (Bíblia) sobre a mesa, abaixei os olhos e pensei : alguém me acompanhou nessa caminhada…. valeu…

Fernando Rizzolo