A Nova CPMF e a Dignidade dos Pobres

Alan Lebowitz sempre foi um rapaz franzino de pouco peso e muitas indagações. Vivia numa cidade da Polônia e estudava numa Yeshiva (seminário judaico). Certa vez algumas horas antes do Shabbat (dia sagrado pelos judeus), Alan foi impelido a uma questão de alta indagação – como sempre surgiam elas antes de todo o Shabbat-, num canto da sinagoga vestido de preto e com um olhar distante, pensava ele de que forma formularia a questão que tanto o inquietava naquela tarde, tão logo o religioso Rabino chegasse.

Ainda meio constrangido, ao ver o Rabino chegar, tentou de forma inibida se aproximar; e num ato de heroísmo, meio que ruborizado, fez a pergunta que de certa forma o atormentava :

Perguntou ele: -Rabino, hoje é Shabbat, sei que muitas ações que pratico em dias comuns não posso executa-las hoje, de acordo com as Leis da Torá, mas se eu visse alguém em perigo de vida, na eminência de morte, transgrediria a Torá ao proceder tais atos proibidos no Shabbat ? O rabino olhou para Alan e disse: – Você viu alguém sofrendo, na eminência de morrer em algum Shabbat, e hesitou em socorrê-lo? Não. Disse ele. – Mas se eu visse, e tivesse que para socorrê -lo, infringirir a Lei ou questioná-la poderia eu fazê-lo ? Retrucou ele sem tempo para maiores indagações. O abaixou a cabeça e rabino respondeu: – Primeiro a vida, depois as discussões sobre o que é certo ou errado, terias que tentar de todas as formas salvar alguém na iminência de morte, e se abster das Leis sagradas, pois a vida está acima das discussões e questões sobre o que é certo ou errado.

Vivemos num Pais pobre, onde a maioria da nossa população não tem a quem recorrer a não ser à saúde pública, ao Estado. Filas de desesperados se amontoam aguardando nos corredores frios dos hospitais públicos, por um atendimento de urgência na tentativa de salvaguardar o único patrimônio que possuem, que é a sua saúde, seu corpo e sua dignidade.

Num País onde banqueiros e empresários nunca tanto lucraram, ainda se discute a legitimidade de recursos para a saúde da pobre população. Num País onde nenhum empresário ou banqueiro repassou o valor do fim da CPMF aos seus produtos e sim acabaram incorporando-os aos seus já poupudos lucros, discutem no alto de um pedestal, a questão do ponto de vista jurídico, ou de gestão, usando tal argumentação para negá-los àqueles que estão na eminência de sucumbir nos frios e sombrios corredores na precária assistência dos hospitais públicos do nosso Páis.

Discutir como, e porque não viabilizar a receita da nova CPMF para a saúde pública brasileira, é como não socorrer alguém face a uma questão religiosa. Articulá-la em função de uma postulação ideológica ou jurídica, ou justificá-la por entender que já há recursos demais, é submeter e sobrepor a ganância acima dos preceitos da vida, até porque quem os apregoa são aqueles que tudo do melhor possuem, a si próprios e a sua família. Não podemos jamais sobrepor os interesses mesquinhos sobre as virtudes humanas. O rabino tinha razão. Alan compreendeu. E você ?

Fernando Rizzolo