Copom aumenta juro mesmo com a inflação sob controle

Selic sobe de 11,75% para 12,25 e juro real no Brasil é o maior do mundo: 6,9%

Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentou outra vez os juros básicos. A taxa com a qual bancos e outros especuladores sangram o Tesouro, ancorando nela as suas próprias taxas de juros, passou de 11,75% para 12,25% ao ano. A taxa real (isto é, descontada a inflação) passou a ser 6,9%, outra vez a maior do mundo.

Dentre os países que adotam o sistema de metas de inflação, o Brasil ficou abaixo do limite da meta

O pretexto foi a inflação, que, segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, está ameaçando a economia. Porém, como ela está perfeitamente dentro da “meta” (uma banda que vai de 2,5% a 6,5%), a tese agora é a de que a inflação tem que estar no “centro” da meta (4,5%). Senão, provavelmente, um tsunami vai transportar Brasília para Bora-Bora, ou alguma outra desgraça, tão real quanto esta. Resta saber porque o próprio Meirelles propôs uma banda como meta, se somente o centro dela é que importa.

Ao lado, o leitor poderá ver um dos gráficos apresentados pelo ministro Guido Mantega no balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), também na quarta-feira. Percebe-se, pelo gráfico, que a inflação em quase todos os países que usam o sistema de metas ficou acima da banda anteriormente definida como meta. No entanto, o céu não desabou sobre os habitantes desses países, nem os juros foram catapultados para a órbita de Plutão porque a inflação ficou acima da meta.

Já o Brasil, considerando-se a inflação de 12 meses até abril, ficou 1,5% abaixo do limite máximo da meta. Entretanto, Meirelles e o BC aumentaram os juros – e com a perspectiva de continuar aumentando-os até, dizem os asseclas de Meirelles, atingir 14,25% em dezembro (cf. o site da famigerada “Veja”). Como notou o ministro Mantega, outro dos três países que ficaram com a inflação abaixo do limite da meta, o Canadá, encontra-se com a economia paralisada – e, poderia acrescentar, os juros canadenses também são quase insignificantes diante dos brasileiros.

ALARDE

Na verdade, quase todos esses países têm taxas básicas de juros imensamente menores do que as do nosso. Os que mais se aproximam do Brasil são a Austrália (5,5%) e a Turquia (5,3%). O quarto lugar do mundo, a Colômbia, tem uma taxa de 3,7% e o quinto, o México, 2,6%. Todos os outros países têm taxas inferiores, mesmo a maioria deles ultrapassando a meta de inflação.

Porém, apesar disso, o México não aumentou sua taxa de juros porque a inflação excedeu a meta em 0,7%, nem a Colômbia – apesar de toda a subserviência aos EUA do seu governo atual – aumentou-a porque a inflação ficou 1,4% além do teto da meta. Nem o Chile, cuja inflação ultrapassou em 4,5% a meta, ou a Islândia (4,7% a mais) ou a África do Sul (3,8% além da meta) pensaram em fazê-lo, apesar dos juros nesses países, se comparados aos do Brasil, parecerem quase microscópicos.

No entanto, se acreditássemos na conversa de Meirelles, qualquer desses países teria mais razão do que o Brasil para aumentar os juros – sob pena, supõe-se, de desaparecer do mapa se não o fizesse. Mas nenhum deles desapareceu, nem aumentou os juros.

Certamente, é inútil procurar alguma coerência em Meirelles, exceto se considerarmos seu verdadeiro objetivo: frear o crescimento, alcançado pela política do presidente Lula, em especial pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Não existe, a rigor, razão econômica para aumentar os juros agora e bloquear o crescimento. A ação do BC é, cada vez mais abertamente, política.

Meirelles & sequazes passaram semanas alardeando que a demanda (ou seja, o consumo da população) estava demasiadamente aquecida, ou, até mesmo, “superaquecida”; que havia um desequilíbrio entre oferta (produção) e demanda; que esse suposto desequilíbrio já estava levando a um surto inflacionário, que exigia aumentos de juros consecutivos para refrear o consumo.

FREIO

Na segunda-feira, véspera do primeiro dia da reunião do Copom, o IBGE divulgou que a indústria havia crescido, no mês de abril, 10,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse resultado significativo indicava que a oferta, a produção, estava avançando mais do que o consumo – portanto, era impossível o “superaquecimento” da demanda e o “desequilíbrio” propalado por Meirelles.

Mais ainda quando esse resultado da indústria foi obtido sem que a sua capacidade ocupada (isto é, a parcela da capacidade do maquinário efetivamente usada na produção) sofresse alteração. Como revelou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a utilização da capacidade instalada ficou em 83,2% em abril, contra 83,1% em março. Portanto, quase 20% da capacidade instalada permaneceram sem utilização, mesmo com o aumento na produção – o que significa que os investimentos estão aumentando a capacidade da indústria a tempo de suprir o aumento de consumo, e que a folga da indústria para continuar aumentando a produção é, no momento, de quase um quinto da sua capacidade.

Pois bem, leitores, em 24 horas apareceram asseclas de Meirelles argumentando que o aumento da produção tornava ainda mais urgente o aumento dos juros. Porque, desse jeito, o povo ia se entusiasmar com a fartura de produtos à sua disposição (ainda por cima, mais baratos, ou seja, com possível inflação em queda) e ia começar a comprar, comprar, comprar, até que a indústria não tivesse capacidade de suprir a demanda desses tresloucados, sempre querendo comprar alguma coisa, aumentando, assim, a inflação. Logo, aumento de oferta só serve para aquecer a demanda, inflação em queda só serve para aumentar a inflação e crescimento da indústria só serve para aumentar juros.

Pelo jeito, o ideal de Meirelles é uma indústria que não venda os seus produtos e consumidores que não os comprem. Portanto, uma indústria que não produza, por falta de compradores, e consumidores que não consumam, por falta de dinheiro. Se a indústria cresce em relação ao consumo, é preciso aumentar os juros. Se o consumo cresce em relação à produção, também é preciso aumentar os juros. Sempre é preciso aumentar os juros para que o país não cresça.

Mas, voltemos ao gráfico: os EUA não constam dele, porque não usam metas de inflação – eles inventaram o sistema para os outros usarem, não para eles usarem. Veja-se o que diz o grande sacerdote da religião, quer dizer, do sistema de metas, Edwin Truman, ex-secretário-assistente do Tesouro dos EUA e ex-diretor do banco central americano. Em resumo, junto com o sistema de metas de inflação, eles inventaram uma classificação de países que os livra de usar o vomitório que receitam para os demais (cf., Edwin Truman, “Inflation Targeting in the World Economy”, 2003).

Porém, pela classificação de Truman, nós também não precisaríamos mais desse estrupício, uma vez que já atingimos inflação baixa, portanto estaríamos dispensados de, como ele diz, “sacrificar” a economia. Mas como tudo é encenação para roubar os outros países, basta um Meirelles no Banco Central que esses problemas de coerência estão automaticamente resolvidos. Afinal, nunca se ouviu falar de um ladrão que deixasse de roubar por considerações teóricas. Nessas horas, a teoria é enviada para o lixo sem precisar de substitutas, pois o negócio é roubar. E o resto que se dane.

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: Como sempre a política daqueles que querem frear o desenvolvimento do Brasil, acaba prosperando. Exatamente aqueles que não querem um Brasil com desenvolvimento acabam utilizando-se de argumentações vazias para justificar sua política econômica perversa. No texto acima de Carlos Lopes, podemos inferir no quadro apresentado por Mantega, a posição em relação à questão inflacionária no que diz respeito ao desvio das metas dos demais países. Não é possível que num País como o Brasil em que precisamos gerar por ano 5 milhões de novos empregos, insiste-se nessa política retrógrada que visa apenas prestigiar especuladores de plantão.

O foco para combater a inflação deve ser o desenvolvimento, visando um aumento da produção, um aumento do mercado interno, só assim poderemos como a China, diminuir a ” ameaça” da inflação, que diga-se de passagem nem existe. Vamos crescer e aumentar a oferta, mas isso o Meirelles, o Copom, e os especuladores não querem, querem a inflação agora no “centro da meta”. Com isso querem transformar a inflação numa pauta política e pouco técnica.

Ipea defende mudança no IR para aumentar cobrança sobre mais ricos

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apresenta nesta quinta-feira ao Senado, durante audiência que discute tributação, um levantamento que aponta como a mudança no Imposto de Renda poderia suprir a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e resultar em aumento de renda para as camadas mais pobres da população.

O levantamento, obtido com exclusividade pela Folha Online, mostra que seria possível com uma transferência dos tributos chamados indiretos, embutidos nos bens de consumo, para a cobrança direta, como o Imposto de Renda.

A alternativa, segundo o estudo, seria ampliar de duas faixas tributadas (15% e 27,5%) para 12, com cobrança progressiva.

Assim, ficariam isentos contribuintes com rendimentos de até R$ 1.257,12. A partir de dessa faixa, o primeiro grupo –com renda de até R$ 2.000–, pagaria 5%.

Progressivamente, a alíquota de 27,5% seria aplicada a rendimentos mensais entre R$ 6.500 mil a R$ 8.000. A última faixa, de renda mensal acima de R$ 50 mil, pagaria 60%.

“Isso não é novo no Brasil, durante um período do regime militar o Brasil tinha 12 faixas de tributação. Com isso, os mais pobres pagariam menos imposto e, progressivamente, os mais ricos seriam mais tributados”, afirma o economista Márcio Pochmann, presidente do Ipea.

Entre 1979 e 1982, o Brasil tinha 12 alíquotas, que chegavam a 55%. De 1983 a 1985, eram 13 faixas, que alcançavam 60%.

Segundo Pochmann, o aumento da arrecadação com IR seria suficiente para cobrir uma perda com o fim da Cofins, hipótese levantada pelo instituto como forma de baratear o consumo e, consequentemente, reduzir a pobreza.

Segundo estudo do Ipea, outros países já adotaram uma cobrança do Imposto de Renda com mais alíquotas dividas de acordo com os rendimentos. Na França, por exemplo, são 12 faixas, entre 5% e 57%. Na China são nove, entre 15% e 45%.

Na Argentina, são sete faixas, entre 9% e 35%, No Chile são seis, entre 5% e 45% e, em na Itália, são cinco, entre 18% e 45%.

O levantamento do Ipea também apresenta como alternativa a cobrança de 1% sobre grandes patrimônios por ano, como forma de tributar fortunas e heranças.
Folha online

Rizzolo: Os tributos chamados indiretos são aqueles que mais afetam os pobres, são em questão aqueles embutidos nos produtos mais consumidos pela população de baixa renda. Suprir a Cofins ( Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social ) pode ser uma idéia atraente, contudo precisa-se saber se haveria realmente uma transferência da vantagem fiscal ao produto final. De qualquer forma a combinação da supressão da Cofins juntamente com o aumento das faixas de tributação, é uma proposta a ser analisada com atenção. O que se vê hoje no Brasil, do ponto de vista fiscal, é uma injustiça com as camadas mais pobres, que proporcionalmente pagam mais impostos diretos e indiretos.

Já o imposto sobre grandes fortunas é uma proposta polêmica e que a experiência da aplicação da mesma no exterior não foi das melhores. O conceito do que é afinal ” grandes fortunas” acaba polemizando a questão. Pochmann, presidente do IPEA, que conheço pessoalmente, pertence a uma elite pensante no Brasil, um respeitado economista, e suas idéias sempre inovadoras, vem sempre de encontro com a realidade atual brasileira.

Charge do Enio para Charge online