Da vida pessoal à vida pública

Bertrand Roussel (1872-1970) , filósofo e autor de História do Pensamento Ocidental dizia que ” A humanidade tem dupla moral: uma que prega mas não pratica, outra que pratica mas não prega.” Na política as figuras entre o pessoal e o público acabam mais cedo ou mais tarde se misturando nas ações ou omissões no trato público administrativo. A verdade é que por ainda termos pouca tradição democrática, não exercitamos ou não vinculamos o nosso voto ao aspecto pessoal ético e moral dos candidatos, nos atendo muito mais nas propostas políticas, nos esquecendo que a realização bem como a gestão da ” res pública”, depende também muito em função do passado e da personalidade do candidato, que na maioria das vezes desconhecemos.

A palavra candidato vem do latim candidatus, que significa aquele que veste roupa branca. Quer dizer que, em sua origem, a palavra dá idéia de pureza, de brancura, de honestidade, isto é, para candidatar-se a um cargo eletivo, o cidadão precisava ser candidatus, ou seja, vestir-se de branco, como símbolo de sua idoneidade moral, para ser eleito. Portanto podemos concluir que aspecto ” candidatus” na sua essência, precisa ser revista por nós no exercício da democracia. Hoje sabemos muito mais sobre a vida pessoal dos nossos vizinhos, até mesmo sem conhece-los, do que sobre os candidatos e sua vida privada e pessoal.

A condição de conhecermos de mais perto quem são os candidatos na sua vida pessoal, seus gostos, suas habilidades, é de suma importância na análise política. Soube-se por exemplo, há pouquíssimo tempo, que o candidato à presidência dos EUA, MacCain não sabe sequer usar um computador ! No Brasil as habilidades pessoais, os gostos, as preferências sexuais, a moral, os vícios, a ética são sempre por nós desconhecidas em relação aos candidatos a qualquer cargo eletivo, mantendo-se o foco apenas nas promessas, nos projetos e planos de governo que passam a ser analisados num prisma unilateral, predispondo dessa forma, condutas de improbidade face à personalidade maquiada e desenhada por profissionais marqueteiros.

Quem é e foi o seu candidato do ponto de vista pessoal? Poderia ser uma boa pergunta antes de lançarmos nossos olhos aos projetos de governo, promessas, disputa política e tudo mais que se assiste no grande circo da democracia no Brasil. Seria um bom início. No mínimo nada mais coerente do que saber mais sobre seu candidato, do que você sabe sobre a vida de seu vizinho de porta.

Fernando Rizzolo