As discussões políticas e as intrigas pessoais

Mal a disputa eleitoral começa, e já se nota o tom da campanha que se aproxima. A arte da política é na sua essência, a contraposição das idéias, o debate sobre os programas passados, implementados, e os que poderiam ser mais bem investidos, programas em que a população mais carente poderia se beneficiar. Esse é o debate.

Contudo, infelizmente no Brasil, já não bastasse o desprestígio dos políticos, e a desmoralização do Congresso Nacional, tido como uma das instituições, segundo pesquisa, de menor credibilidade junto ao povo brasileiro, surgem as modalidades de ataques pessoais envolvendo candidatos ou pessoas ligadas aos candidatos.

Com efeito essa postura não é saudável para a democracia brasileira, até porque o que importa são os programas de governo, sua viabilidade, e a aprovação da população em relação a eles. Tenho observado que a candidata Marta Suplicy tem sido o alvo preferido de uma campanha nada ética por parte de seus opositores, o que nos leva a uma direção contrária ao debate sadio, empobrecendo a discussão democrática, e tornando-a pobre do ponto de vista da contraposição das idéias, na realização da transparência programática dos candidatos.

Afinal como dizia Henri Béraud ( 1885-1958), jornalista francês, ” Na política é difícil distinguir os homens capazes dos homens capazes de tudo “. A nós nos resta observarmos a postura ética dos candidatos nos debates, mesmo porque, a personalidade de cada um é fator agregado à forma de governar.

Fernando Rizzolo

Importação bate recorde e superávit comercial cai 44% no ano

SÃO PAULO – O superávit comercial do País somou US$ 2,719 bilhões em junho, o segundo melhor resultado do ano, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Apesar disso, o saldo da balança acumulado no primeiro semestre de 2008, de US$ 11,370 bilhões, é 44,74% menor que no mesmo período de 2007.

Essa redução no saldo comercial acontece devido ao crescimento desproporcional das importações ante as exportações brasileiras. No mês passado, as compras do País somaram US$ 15,875 bilhões, crescimento de 62,6% ante 2007 e recorde histórico. Enquanto isso, as vendas externas foram de US$ 18,594 bilhões, alta de apenas 35% na comparação com o ano passado.

No acumulado em 12 meses, a balança comercial acumula superávit de 30,818 bilhões, 35,1% menor que o saldo anterior, que foi de US$ 47,502 bilhões.

Meta

Com o resultado do semestre, o ministro interino do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Meziat, afirmou nesta terça-feira, 1º, que a meta de exportações para este ano, que é de US$ 180 bi, deve ser revista para cima. Ele comentou que as exportações já passaram de US$ 90 bilhões este ano até junho.

Segundo Meziat, no segundo semestre as exportações tendem a aumentar. Ele observou que apesar da taxa de câmbio não ser favorável às exportações, desde o fim de 2002, o dólar só cai e as exportações só sobem.
Agência Estado

Rizzolo: É lógico que esse resultado do aumento das importações afetando a balança comercial que acumula superávit de 30,818 bilhões, 35,1% menor que o saldo anterior, que foi de US$ 47,502 bilhões tem tudo a ver com a política econômica de juros estratosféricos. Ora, se os juros aumentam, há uma maior entrada de dólares o que faz o real se valorizar inviabilizando as exportações. Mas ocorre que a vontade de frear o crescimento do Brasil é maior. Aí surgem aquelas medidas de ” incentivo ” a alguns setores da exportação, que nada adiantam face à violência macroeconômica impetrada pelo BC e o Copom. O que podemos esperar daqui para frente é piorar o quadro das exportações, vez que a justificativa da alta dos juros é a ” pseudo inflação” que está sim dentro do aceitável e da meta pré estabelecida. O resto é puro terrorismo. Pelo que observamos, Meziat aplaude as medidas do BC. É uma pena ver em que mãos estamos.

Conto da “inflação” é ardil para travar o crescimento

O presidente Lula passou incólume pelo Meirelles, pela mídia golpista, pelo ex-PFL e pelo ainda PSDB, segundo a pesquisa CNI/Ibope divulgada na última segunda-feira. Nenhum deles, nem todos somados, conseguiu derrubar sua popularidade. É verdade que essas pesquisas não são a revelação da verdade que alguns pretendem – ou se iludem. Mas, considerando a fonte dessa, a aprovação do presidente Lula deve ser maior ainda do que os 72% registrados na pesquisa.

O fato é que depois de semanas martelando que o Brasil está à beira do colapso inflacionário – apesar da inflação ser uma das menores do mundo e estar rigorosamente dentro da meta estabelecida – os fariseus não conseguiram abalar o prestígio popular do presidente.

A pesquisa egistrou um certo aumento de preocupação com a inflação (o que seria de espantar se não houvesse, depois da verborréia a respeito do assunto), mas quem não passou pela aprovação popular foi o Banco Central: somente 31% dos pesquisados (suspeita-se que todos na filial do Citibank) se disseram contentes com os aumentos de juros (v. matéria nesta página).

Mas vamos direto ao assunto: o objetivo dessa alaúza em torno de uma inflação fantasmagórica é, antes de tudo, derrubar a popularidade do presidente – e, no limite, o próprio, ainda que as chances disso acontecer sejam quase infinitesimais. Qual a forma de fazer isso? Impedindo o crescimento proporcionado pela política do presidente. Daí toda essa gritaria desavergonhada em torno da inflação, dos gastos do governo, os grunhidos pela alta dos juros, etc., etc. Em resumo, o negócio é não deixar o presidente Lula levar à prática a política do presidente Lula – sintetizada, sobretudo, pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

No começo de abril, quando Meirelles apareceu com o alarde em torno de uma suposta inflação, o ex-ministro Delfim Netto classificou tal tentativa como “terrorismo” e “merchandising financeiro”. Estava com toda a razão. Aliás, é interessante recordar um trecho de um dos artigos de Delfim: “Ouvindo a autoridade monetária [isto é, o BC] e lendo as análises do sistema financeiro, alguém que ontem tivesse chegado de Marte concluiria que o Brasil está sob grave ameaça de voltar a uma superinflação, que deve ser ‘preventivamente’ combatida por ‘superjuros’”.

O que havia era um aumento de preços localizado – e determinado por condições externas, nada adiantando qualquer aumento de juros para combatê-lo, mesmo para quem acredita que essa é a única forma de lidar com a inflação.

O que hoje existe é a mesma coisa. E a inflação, que estava dentro da meta, continua dentro da meta. No entanto, o BC implementou uma política marciana, sob o aplauso de todos os inimigos do atual governo, na mídia e no parlamento, como se o país estivesse perto de se tornar a Alemanha de depois da I Guerra Mundial, onde era preciso um carrinho de pedreiro para se carregar o dinheiro necessário à compra de meio pão.

Se existe uma causa interna para aumento de preços, esta é a propaganda da inflação feita pelo BC, através de seu presidente ou pelo semanal Boletim Focus, publicado como suposta expectativa do “mercado” – como se o chamado mercado financeiro fosse algum ente espiritual, e não o que ele realmente é, um cartel que enche os cofres manipulando índices e cotações.

O que estão propondo – e, mais do que propondo, estão tentando coagir o governo a empreender – é um programa de desaceleração do crescimento. Evidentemente, não há nada mais antagônico ao governo Lula e a todas as aspirações do povo que elegeu o presidente duas vezes. No entanto, querem substituir o Programa de Aceleração do Crescimento pelo seu programa de desaceleração do crescimento, reivindicando que o governo deve seguir a política de seus inimigos. Assim, estaria garantida não só a espoliação do país por alguns bancos e especuladores, mas também a quebra do principal obstáculo a essa espoliação – a liderança de Lula.

Os corifeus do programa de desaceleração do crescimento não escondem a sua preferência – ou, melhor, não escondem o que querem impor ao país. É algo aberto, declarado e despudoradamente cínico que consideram o crescimento do país um grande mal. Naturalmente, não se esperava que áulicos de banqueiros achassem que o crescimento do país fosse algo maravilhoso. Mas, a principal razão, do ponto de vista político, pela qual querem barrar o crescimento é, precisamente, tentar golpear a popularidade de Lula, originária de sua identificação com a política de crescimento – vale dizer, com as necessidades do povo: emprego, distribuição e aumento de renda, melhores condições de vida, melhor atendimento público de suas carências. Portanto, não há espanto em ver que são os inimigos do atual governo que deslancharam o charivari sobre a inflação, que aplaudem Meirelles e os aumentos de juros, etc.

O programa de Lula nada tem de absurdo ou fora da realidade. Absurdo e fora da realidade é achar que um dos maiores países do mundo não pode fazer outra coisa senão se arrastar penosamente, sangrado por espoliadores financeiros, doando a eles o dinheiro público, o dinheiro com que o povo contribui, através dos impostos, para sustentar o Estado e a coletividade.

Os investimentos públicos, desde janeiro, aumentaram 24% em relação a 2007. Essa é a mola propulsora do crescimento. Pois são esses investimentos públicos que querem estancar com toda a conversa de que, para combater uma suposta inflação, seria necessário cortar os “gastos” do governo.

Quanto aos aumentos dos juros, eles somente fazem diminuir os recursos que o governo tem à sua disposição para investir no crescimento. E não é com aumentos de superávit primário (isto é, da reserva para pagar juros) que se impedirá Meirelles & cia. de aumentar os juros. Pelo contrário, os elementos tucanofílicos que no momento compõem a diretoria do BC prometem mais aumentos de juros.

Apesar do governo já ter aumentado a meta de superávit – de 3,8% para 4,33% -, o boletim do Banco Central no último dia 30 anunciou que, de janeiro a maio, o superávit primário foi de 6,55% do PIB – ou seja, R$ 75 bilhões foram tirados do Orçamento para pagamento de juros. Porém, devido ao aumento de juros, a dívida do governo em títulos públicos, em um único mês (maio em relação a abril), aumentou em R$ 20,9 bilhões.

Vê-se, por aí, aonde leva a marola sobre a inflação.

CARLOS LOPES
Horado Povo

Rizzolo: Concordo em parte com o texto, acredito que a intenção em alardear por todos os lados uma inflação que na realidade está sim dentro da meta, significa não apenas desqualificar Lula, mas colocar a todo vapor a implementação da política especulativa da alta de juros, visando a perpetuação do “Cassino Brasil”; alem disso, é claro, existe o ganho secundário de barrar de desenvolvimento, como diz o texto, impor um Plano de desaceleração do crescimento. Os investimentos públicos, desde janeiro, aumentaram 24% em relação a 2007, e isso sim os incomoda, querem com toda essa ortodoxia econômica, frear o desenvolvimento tendo como esteio argumentativo a inflação. É como sempre digo: é proibido crescer no Brasil, ou se quiserem, Lula ganhou mas não levou, fazer o Brasil parar e desestabilizar Lula é caminho daqueles que de todas as formas querem o poder.

Quem acompanha este Blog sabe que tenho inúmeras restrições ao governo Lula, em muita coisa eu bato mesmo, contudo na questão da inflação, é óbvio que existe um alarde proposital, um exagero visando um ganho político. Aliás, a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na segunda-feira, revelou que cresceu a rejeição da população brasileira à elevação das taxas de juros. Segundo a CNI/Ibope, o número dos que não aceitam as medidas defendidas pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, subiu de 53% em março para 61% em junho. O número dos que apoiavam a elevação dos juros caiu de 39% em maio para apenas 31% em junho. Só não vê quem não quer, ou quem compra a idéia do discurso apocalíptico da mídia sob a batuta do BC e Meirelles.

Charge do Novaes para o JB online

Para Lula, PT deveria ter autorizado aliança em BH

Após o PSDB confirmar que apoiará informalmente Márcio Lacerda, candidato da aliança PSB-PT em Belo Horizonte (MG), como exigiu a Executiva Nacional petista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que a instância nacional do PT deveria ter autorizado os tucanos a participar da coligação.

“Eu confesso que, depois de o PT de Minas aprovar, municipal e estadual, depois da convenção aprovar, eu acho que direção nacional do partido poderia tranqüilamente ter confirmado tudo o que aconteceu. Se tivesse que fazer uma repressão ao (Fernando) Pimentel (prefeito de Belo Horizonte), que a fizesse em segredo, porque o jogo estava sendo feito à luz do dia. Todo mundo sabia o que estava acontecendo em Minas”, afirmou Lula após participar de evento em Itajubá (MG).

Para o presidente, a aliança era plenamente aceitável e seria uma “loucura” relacionar a disputa municipal em Belo Horizonte com as eleições presidenciais em 2010.

“Cada cidade, em se tratando de eleição municipal, faz o acordo que for possível fazer e o que for melhor para que ganhe o candidato que o governo apóia. Em Belo Horizonte, o prefeito e o governador (Aécio Neves, do PSDB) têm um acordo e lançaram um candidato do PSB. O PT tem a vice e, portanto, é plenamente aceitável, viável e importante. A participação de Aécio é importante, pois vai ajudar a eleger o candidato”, afirmou.

Entretanto, o presidente ressalvou que o assunto está encerrado. “Não dá para fazer um cavalo de batalha. Estamos a três meses das eleições. O negócio é ir para rua e ganhar as eleições. Eu terei o imenso prazer de participar de um comício em Minas Gerais. Eu vou participar pouco das eleições, mas Belo Horizonte é uma das cidades que eu quero ir”, completou o presidente.

Folha online

Rizzolo: Isso comprova mais uma vez que o presidente Lula já se descolou do PT há muito tempo. Aliás uma decisão extremamente sábia, vez que com isso se torna imune às questões que já comprometeram a imagem do partido Na verdade Lula tem razão, na esfera municipal não haveria sequer nenhum problema, tampouco macularia o debate para 2010. Contudo, a ala raivosa petista que entende ser politicamente maior do que todos, jamais aceita coligar-se com o PSDB, e mais uma vez o que observamos é um retrocesso na evolução política nesse País. Uma pena.