O presidente Lula passou incólume pelo Meirelles, pela mídia golpista, pelo ex-PFL e pelo ainda PSDB, segundo a pesquisa CNI/Ibope divulgada na última segunda-feira. Nenhum deles, nem todos somados, conseguiu derrubar sua popularidade. É verdade que essas pesquisas não são a revelação da verdade que alguns pretendem – ou se iludem. Mas, considerando a fonte dessa, a aprovação do presidente Lula deve ser maior ainda do que os 72% registrados na pesquisa.
O fato é que depois de semanas martelando que o Brasil está à beira do colapso inflacionário – apesar da inflação ser uma das menores do mundo e estar rigorosamente dentro da meta estabelecida – os fariseus não conseguiram abalar o prestígio popular do presidente.
A pesquisa egistrou um certo aumento de preocupação com a inflação (o que seria de espantar se não houvesse, depois da verborréia a respeito do assunto), mas quem não passou pela aprovação popular foi o Banco Central: somente 31% dos pesquisados (suspeita-se que todos na filial do Citibank) se disseram contentes com os aumentos de juros (v. matéria nesta página).
Mas vamos direto ao assunto: o objetivo dessa alaúza em torno de uma inflação fantasmagórica é, antes de tudo, derrubar a popularidade do presidente – e, no limite, o próprio, ainda que as chances disso acontecer sejam quase infinitesimais. Qual a forma de fazer isso? Impedindo o crescimento proporcionado pela política do presidente. Daí toda essa gritaria desavergonhada em torno da inflação, dos gastos do governo, os grunhidos pela alta dos juros, etc., etc. Em resumo, o negócio é não deixar o presidente Lula levar à prática a política do presidente Lula – sintetizada, sobretudo, pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
No começo de abril, quando Meirelles apareceu com o alarde em torno de uma suposta inflação, o ex-ministro Delfim Netto classificou tal tentativa como “terrorismo” e “merchandising financeiro”. Estava com toda a razão. Aliás, é interessante recordar um trecho de um dos artigos de Delfim: “Ouvindo a autoridade monetária [isto é, o BC] e lendo as análises do sistema financeiro, alguém que ontem tivesse chegado de Marte concluiria que o Brasil está sob grave ameaça de voltar a uma superinflação, que deve ser ‘preventivamente’ combatida por ‘superjuros’”.
O que havia era um aumento de preços localizado – e determinado por condições externas, nada adiantando qualquer aumento de juros para combatê-lo, mesmo para quem acredita que essa é a única forma de lidar com a inflação.
O que hoje existe é a mesma coisa. E a inflação, que estava dentro da meta, continua dentro da meta. No entanto, o BC implementou uma política marciana, sob o aplauso de todos os inimigos do atual governo, na mídia e no parlamento, como se o país estivesse perto de se tornar a Alemanha de depois da I Guerra Mundial, onde era preciso um carrinho de pedreiro para se carregar o dinheiro necessário à compra de meio pão.
Se existe uma causa interna para aumento de preços, esta é a propaganda da inflação feita pelo BC, através de seu presidente ou pelo semanal Boletim Focus, publicado como suposta expectativa do “mercado” – como se o chamado mercado financeiro fosse algum ente espiritual, e não o que ele realmente é, um cartel que enche os cofres manipulando índices e cotações.
O que estão propondo – e, mais do que propondo, estão tentando coagir o governo a empreender – é um programa de desaceleração do crescimento. Evidentemente, não há nada mais antagônico ao governo Lula e a todas as aspirações do povo que elegeu o presidente duas vezes. No entanto, querem substituir o Programa de Aceleração do Crescimento pelo seu programa de desaceleração do crescimento, reivindicando que o governo deve seguir a política de seus inimigos. Assim, estaria garantida não só a espoliação do país por alguns bancos e especuladores, mas também a quebra do principal obstáculo a essa espoliação – a liderança de Lula.
Os corifeus do programa de desaceleração do crescimento não escondem a sua preferência – ou, melhor, não escondem o que querem impor ao país. É algo aberto, declarado e despudoradamente cínico que consideram o crescimento do país um grande mal. Naturalmente, não se esperava que áulicos de banqueiros achassem que o crescimento do país fosse algo maravilhoso. Mas, a principal razão, do ponto de vista político, pela qual querem barrar o crescimento é, precisamente, tentar golpear a popularidade de Lula, originária de sua identificação com a política de crescimento – vale dizer, com as necessidades do povo: emprego, distribuição e aumento de renda, melhores condições de vida, melhor atendimento público de suas carências. Portanto, não há espanto em ver que são os inimigos do atual governo que deslancharam o charivari sobre a inflação, que aplaudem Meirelles e os aumentos de juros, etc.
O programa de Lula nada tem de absurdo ou fora da realidade. Absurdo e fora da realidade é achar que um dos maiores países do mundo não pode fazer outra coisa senão se arrastar penosamente, sangrado por espoliadores financeiros, doando a eles o dinheiro público, o dinheiro com que o povo contribui, através dos impostos, para sustentar o Estado e a coletividade.
Os investimentos públicos, desde janeiro, aumentaram 24% em relação a 2007. Essa é a mola propulsora do crescimento. Pois são esses investimentos públicos que querem estancar com toda a conversa de que, para combater uma suposta inflação, seria necessário cortar os “gastos” do governo.
Quanto aos aumentos dos juros, eles somente fazem diminuir os recursos que o governo tem à sua disposição para investir no crescimento. E não é com aumentos de superávit primário (isto é, da reserva para pagar juros) que se impedirá Meirelles & cia. de aumentar os juros. Pelo contrário, os elementos tucanofílicos que no momento compõem a diretoria do BC prometem mais aumentos de juros.
Apesar do governo já ter aumentado a meta de superávit – de 3,8% para 4,33% -, o boletim do Banco Central no último dia 30 anunciou que, de janeiro a maio, o superávit primário foi de 6,55% do PIB – ou seja, R$ 75 bilhões foram tirados do Orçamento para pagamento de juros. Porém, devido ao aumento de juros, a dívida do governo em títulos públicos, em um único mês (maio em relação a abril), aumentou em R$ 20,9 bilhões.
Vê-se, por aí, aonde leva a marola sobre a inflação.
CARLOS LOPES
Horado Povo
Rizzolo: Concordo em parte com o texto, acredito que a intenção em alardear por todos os lados uma inflação que na realidade está sim dentro da meta, significa não apenas desqualificar Lula, mas colocar a todo vapor a implementação da política especulativa da alta de juros, visando a perpetuação do “Cassino Brasil”; alem disso, é claro, existe o ganho secundário de barrar de desenvolvimento, como diz o texto, impor um Plano de desaceleração do crescimento. Os investimentos públicos, desde janeiro, aumentaram 24% em relação a 2007, e isso sim os incomoda, querem com toda essa ortodoxia econômica, frear o desenvolvimento tendo como esteio argumentativo a inflação. É como sempre digo: é proibido crescer no Brasil, ou se quiserem, Lula ganhou mas não levou, fazer o Brasil parar e desestabilizar Lula é caminho daqueles que de todas as formas querem o poder.
Quem acompanha este Blog sabe que tenho inúmeras restrições ao governo Lula, em muita coisa eu bato mesmo, contudo na questão da inflação, é óbvio que existe um alarde proposital, um exagero visando um ganho político. Aliás, a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na segunda-feira, revelou que cresceu a rejeição da população brasileira à elevação das taxas de juros. Segundo a CNI/Ibope, o número dos que não aceitam as medidas defendidas pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, subiu de 53% em março para 61% em junho. O número dos que apoiavam a elevação dos juros caiu de 39% em maio para apenas 31% em junho. Só não vê quem não quer, ou quem compra a idéia do discurso apocalíptico da mídia sob a batuta do BC e Meirelles.