Leia a íntegra da nota do MPF que acusa Dantas de suborno

SÃO PAULO – O banqueiro Daniel Dantas, preso nesta terça-feira, 8, pela Polícia Federal, tentou subornar um delegado da PF para que alguns nomes do inquérito policial fossem retirados. O fato foi revelado pelo delegado ao juiz, que autorizou uma ação controlada, ou seja, os contatos continuaram sem que fosse dado o flagrante de corrupção ativa contra os corruptores com o intuito de se obter mais informações e provas.

Também foi decretada a prisão preventiva de duas pessoas ligadas ao banqueiro e do ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, mas o juiz “entendeu que não existiam fundamentos suficientes para decretá-la”.

A operação, batizada de Satiagraha, investigou desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro. Além de Dantas, foram presos também o empresário Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. As investigações tiveram início há quatro anos e são um desdobramento do “Caso Mensalão”.

Leia a íntegra da nota do MPF:

Quadrilha montada no Grupo Opportunity associou-se ao grupo do megainvestidor Naji Nahas para faturar alto no mercado de ações com informação privilegiada. Doleiros criaram sofisticado esquema de lavagem de dinheiro, também utilizado por Celso Pitta.

O juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro, acolheu parcialmente manifestação do Ministério Público Federal em São Paulo (MPF/SP) e decretou a prisão temporária de 22 pessoas e mais duas prisões preventivas que integram dois grupos criminosos que, associados, faturaram alto no mercado de ações mediante informações privilegiadas.

Além das prisões, a Justiça Federal determinou também a realização de 56 mandados de busca e apreensão, que estão sendo cumpridos hoje, 8 de julho. As 24 ordens de prisão estão sendo cumpridas desde as 6h de hoje. As ordens judiciais foram cumpridas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia e no Distrito Federal.

Batizada de Satiagraha (resistência pela verdade), a nova operação da Polícia Federal não tem relação com a Operação Chacal (caso Kroll), no qual Dantas já responde à ação penal. As investigações em curso partiram de informações enviadas pelo Supremo Tribunal Federal atendendo requerimento do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, no processo do mensalão.

O MPF requereu mais investigações em torno da informação obtida pela CPMI dos Correios de que as empresas Telemig e Amazônia Celular, nas quais o Banco Opportunity, de Dantas, tem participação, foram as principais depositantes nas contas de Marcos Valério, responsável pela arquitetura do esquema ilegal de pagamentos a deputados da base aliada.

A partir dessas informações, a Polícia Federal empreendeu uma série de diligências com autorização judicial, como escutas telefônicas, interceptação de dados, além de elaborar laudos e utilizar informações presentes em um procedimento administrativo interno do Banco Central do Brasil em face do Opportunity.

Na avaliação do procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pelo caso e autor dos pedidos de prisão, a investigação da Polícia Federal já se deparou com indícios suficientes dos crimes financeiros de gestão fraudulenta, operação ilegal de instituição financeira, evasão de divisas e concessão de empréstimos vedados, além de uso indevido de informação privilegiada (insider information), lavagem de dinheiro, corrupção ativa e formação de quadrilha.

Foram decretadas as prisões temporárias de Daniel Dantas e de mais dez pessoas ligadas a ele: Verônica Dantas (irmã e parceira de negócios), Carlos Rodemburg (sócio e vice-presidente do banco Opportunity), Daniele Ninio, Arthur Joaquim de Carvalho, Eduardo Penido Monteiro, Dorio Ferman, Itamar Benigno Filho, Norberto Aguiar Tomaz, Maria Amália Delfim de Melo Coutrin e Rodrigo Bhering de Andrade.

O grupo de Dantas, segundo o MPF, cometeu o crime de evasão de divisas por meio do Opportunity Fund, uma offshore no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, no Caribe. Segundo os laudos periciais, tal fundo movimentou entre 1992 e 2004 quase US$ 2 bilhões. Além de evasão e quadrilha, as investigações já permitem dizer que o grupo de Dantas cometeu também gestão fraudulenta, concessão de empréstimos vedados (empréstimos entre empresas do mesmo grupo) e corrupção ativa.

Do grupo de Naji Nahas, foram decretadas a prisão do megainvestidor e de mais dez pessoas: Fernando Nahas (filho), Maria do Carmo Antunes Jannini, Antonio Moreira Dias Filho, Roberto Sande Caldeira Bastos, os doleiros Carmine Enrique, Carmine Enrique Filho, Miguel Jurno Neto, Lúcio Bolonha Funaro e Marco Ernest Matalon e o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, cliente dos doleiros, que teve operações financeiras ilegais interceptadas pela PF.

O grupo de Nahas, apontam as investigações, teria cometido os crimes de quadrilha, operar instituição financeira sem autorização, uso indevido de informação privilegiada (insider trading) e lavagem de dinheiro.

Corrupção e vazamento – Foi decretada a prisão preventiva de duas pessoas. Uma delas, Hugo Chicaroni, já foi presa. Ambas, a mando de Dantas, ofereceram US$ 1 milhão para um delegado federal que participava das investigações para que ele tirasse alguns nomes do inquérito policial. O fato foi revelado pelo delegado ao juiz, que autorizou uma ação controlada, ou seja, os contatos continuaram sem que fosse dado o flagrante de corrupção ativa contra os corruptores com o intuito de se obter mais informações e provas. O grupo chegou a dar 129 mil reais ao policial.

Dentro do grupo Opportunity, Daniel Dantas e seus associados, segundo a investigação da Polícia Federal e o pedido de prisão formulado pelo MPF, para dar conseqüência a suas ações, formaram uma “infinidade de empresas” que, na sua totalidade são “de ‘fachada’, ‘laranja’ e operadas por supostos prepostos ou ‘testas de ferro'”.

A PF e o MPF apuram o vazamento de informações sigilosas do inquérito que será objeto de investigação própria. De posse da informação sigilosa, o grupo de Daniel Dantas empreendeu uma série de medidas, algumas ilegais, como a tentativa de suborno ao delegado, com o intuito de impedir o prosseguimento das investigações contra ele, sua irmã e Carlos Rodemburg. Entre medidas judiciais, o empresário propôs ação, que tramita do Supremo Tribunal Federal, na qual pede que não seja preso pela ordem da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo.

O MPF e a PF pediram também a prisão do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado federal, pela participação na organização criminosa de Daniel Dantas, mas o juiz federal Fausto de Sanctis entendeu que não existiam fundamentos suficientes para decretá-las.

Agência Estado

Rizzolo: Como advogado atuei durante muitos anos na Justiça Federal Criminal, da Capital, na época em que ainda era localizada na Praça da República. A título de informação, a competência da Justiça Federal Criminal é julgar delitos da esfera Federal, ou seja, crimes em que a União é a vítima. No tocante ao caso em questão, que está “sub judice”, pouco posso falar, até porque é vedado do ponto de vista ético, a qualquer advogado se manifestar em processo em que não é parte. Não conheço o teor dos autos, mas entendo que ainda é prematuro nos manifestarmos.

É bom lembrar que tudo está por hora, em fase de investigação, de qualquer forma não podemos nos esquecer que existem outros processos envolvendo Dantas e Pitta. A verdade é que em todos os envolvidos não há nenhum “santo”, tampouco em relação aqueles que participaram do mensalão e não foram relacionados na operação em questão. Acho uma ótima oportunidade para Dantas exercer o princípio do contraditório, e falar o que sabe. Agora não podemos deixar de reconhecer que a Pólícia Federal, como de costume, fez um ótimo trabalho investigativo que já dura quase quatro anos. Infelizmente a política brasileira predispõe a existência de ” empresários” que visam o lucro a qualquer custo, principalmente no que diz respeito a promiscuidade financeira com os interesses políticos. Acaba dando nisso.

Ex-refém norte-americano acusa as Farc de “terrorismo”

Marc Gonsalves, um dos três reféns norte-americanos em poder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) libertados semana passada, depois de operação militar na Colômbia, afirmou que os membros da guerrilha não são revolucionários como se fazem crer, mas “terroristas”.

“Não se trata de um grupo revolucionário. São terroristas”, afirmou ontem, nas primeiras declarações públicas desde sua libertação na quarta-feira passada (2) pelo Exército colombiano junto com outros 14 reféns, entre eles dois outros americanos e a franco-colombiana Ingrid Betancourt.

“Eles dizem que querem a igualdade e que querem fazer da Colômbia um lugar melhor. Mas tudo é mentira”, acrescentou Gonsalves durante entrevista à imprensa transmitida pela televisão no Texas (sul).

“Eles utilizam isso para justificar suas atividades criminosas (…) Seus interesses se limitam ao tráfico de droga, à extorsão, aos seqüestros. Recusam-se a reconhecer os direitos do homem. Rejeitam a democracia”, prosseguiu.

Os três ex-reféns americanos Marc Gonsalves, Thomas Howes e Keith Stansell, haviam sido capturados pelos rebeldes quando realizavam missão contra as drogas para o ministério da Defesa americano na Colômbia em fevereiro de 2003.

Os três homens estão numa base americana no Texas desde a manhã de quinta-feira (3), para fazer exames médicos e reencontrar as famílias. Cercados por familiares e segurando bandeiras dos Estados Unidos, os ex-reféns agradeceram aos governos colombiano e americano por sua libertação.

Howes aplaudiu o Exército colombiano por “nosso espetacular resgate”, enquanto Gonsalves qualificou de “heróis” os militares que participaram da operação de resgate. “Não adianta dizer que não são terroristas, devem prová-lo. Deixem que os demais reféns voltem para casa”, disse Gonsalves.

Folha online

Rizzolo: Bem, mas não precisa nem ter sido refém para afirmar isso, é lógico que as Farc utilizaram um discurso revolucionário para atingir seus objetivos, e ganhar a simpatia de alguns grupos dentro e fora da Colômbia. Agora o que eu não entendo, é como não há uma enérgica resposta por parte do Brasil contra a presença desse grupo guerrilheiro. O que se pode inferir são declarações tímidas, o próprio assessor e ideólogo do presidente Alvaro Uribe na Colômbia, apesar das origens de esquerda, o advogado José Obdulio Gaviria, 56, não desmente o certo mal-estar com a posição considerada dúbia do Brasil em relação às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que praticam seqüestro e mortes e são combatidas ferozmente pelo governo.

Na realidade, como eu sempre afirmo, existe uma percepção da esquerda brasileira e do governo em relação as Farc, como um movimento de esquerda, e isso gera certa condescendência. As Farc promovem o terrorismo, e isso deve ser rechaçado de forma franca, direta, e objetiva. O resto é conversa mole…

Charge do Novaes para o Gazeta Mercantil