BRASÍLIA – Os militares decidiram dar o troco ao ministro da Justiça, Tarso Genro, por conta da audiência pública convocada por ele na semana passada, para debater a punição de “agentes do Estado” que tenham praticado tortura, assassinatos e violações dos direitos humanos durante o regime militar. Revoltados com o que consideram “conduta revanchista” do ministro, oficiais da reserva, com o apoio de comandantes da ativa, patrocinarão uma espécie de “anti-seminário” no Clube Militar do Rio de Janeiro, na próxima quinta-feira.
Em recente conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, disse que é preciso “pôr uma pedra sobre este assunto”, até porque o tema está saturado e o objetivo da Lei da Anistia foi encerrar um debate que “abre feridas e provoca indignação”. Um general da ativa que acompanha a movimentação dos colegas reformados disse ao Estado que a oficialidade vai se manter calada, “como convém ao regime democrático”, mas avisa que a reserva “vai pôr a boca no trombone”.
Segundo este general, o objetivo do “anti-seminário” de 7 de agosto é debater o “passado terrorista” de autoridades do governo Lula e de personalidades do PT, discutindo, inclusive, se não seria o caso de puni-los pelos excessos cometidos na luta armada. O que mais irrita oficiais das três Forças é o fato de a maioria desses “terroristas” ter recebido “indenizações milionárias” do Estado. A queixa geral é de que “eles também mataram e seqüestraram, e agora querem provocar os militares que engolem calados”.
No seminário, uma das idéias é aproveitar a estrutura do Clube Militar, como agremiação que desde a República Velha vem funcionando como uma espécie de porta-voz da oficialidade, para exibir uma série de slides com fotos e uma biografia resumida da “atividade terrorista” de ministros de Estado e petistas ilustres. A lista das autoridades começa pelo ex-ministro José Dirceu e tem o próprio Tarso Genro em quinto lugar. O segundo posto é dado à ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. O ministro da Comunicação de Governo, Franklin Martins, aparece em quarto, logo atrás do deputado José Genoino (PT-SP). Mais atrás, estão os ministros do Meio Ambiente, Carlos Minc, e da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.
“Será que quem seqüestrou o embaixador norte-americano e o prendeu, dizendo todo dia que ia matá-lo, não cometeu ato de tortura igualmente condenável?”, questionou o presidente do Clube Militar, general da reserva Gilberto Barbosa de Figueiredo, em recente entrevista ao Estado. Ele não mencionou o ministro Franklin como um dos idealizadores do seqüestro, mas antecipou o tom do fórum de debates do dia 7 de agosto.
O general defende a tese de que, se for para julgar quem torturou, como sugeriu o ministro Tarso Genro, o julgamento deve ser estendido a todos, inclusive os que estão na cúpula do atual governo. A lista dos “terroristas do governo” já está circulando entre oficiais da ativa e da reserva por meio de mensagens divulgadas pela Internet. Nela, os militares se queixam de que o presidente Lula governa “cercado por remanescentes da luta armada”.
Um dos mais criticados é o secretário de Direitos Humanos, acusado no texto de “agir com muita liberdade e desenvoltura na defesa de posições revanchistas”, no desempenho de suas funções. A mensagem conclui afirmando que a Secretaria dos Direitos Humanos “foi criada para promover o revanchismo político, afrontar as instituições militares e defender organizações de esquerda”.
Na biografia comentada da ministra Dilma, a mensagem diz que ela “participou da organização de assaltos a bancos e quartéis, foi condenada em três processos e ficou presa no presídio Tiradentes”. Em tom irônico, lembra trechos do depoimento da ministra ao Tortura Nunca Mais, em que ela relatou ter sido torturada durante 22 dias. “Um caso raro que não se sabe por que não foi incluído até hoje no Guiness, pois conseguiu sobreviver durante 528 horas aos diferentes tipos de tortura a que alega ter sido submetida”, conclui a mensagem.
Agência Estado
Rizzolo: O problema do revanchismo é extremamente sério. Houve com a abertura democrática – que foi na realidade negociada não conquistada na marra – a lei de Anistia, que de forma ampla ” zerou” os conflitos de ambas as partes, dando lugar então à democracia. Contudo, ao que parece, setores do governo de cunho mais radicalizado, como que ainda não satisfeitos, propõem a punição daqueles que por origem dos termos em que a Lei de Anistia foi inspirada, foram anistiados, nos termos da Lei.
Entendo que essa postura não é nada salutar para o Brasil, aliás a antipatia desses setores do governo em relação aos militares é preocupante. Ao que tudo indica, parecem não se darem por satisfeitos enquanto não punirem exemplarmente os militares que se excederam na época do regime de exceção.
Entendo a proposta dos militares da reserva, como extremamente justa. Ora se vamos jogar fora a Lei de Anistia e tudo que a inspirou, teremos que iniciar do ponto zero, e desta forma, o julgamento deve ser estendido a todos, inclusive os que estão na cúpula do atual governo com um passado de terroristas, e olha que são muitos, faça você mesmo sua lista.
A verdade é que hoje o governo Petista de alto escalão está sedento por vingança, até porque a questão financeira já foi resolvida com as indenizações, e isso, de forma alguma, é algo bom para o Brasil, e vou além, acho muito preocupante, afinal, imagino que entendem eles ser esta uma oportunidade ímpar de se vingarem face ao fato de estarem no poder, e ainda blindados por Lula.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado que a crise internacional dos alimentos é um desafio “positivo” para o país. “Se essa crise dos alimentos é um problema para alguns, para nós é uma oportunidade extraordinária”, disse ele, em discurso durante a posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo).
Economistas atribuem a alta da inflação global ao encarecimento das commodities agrícolas em todo o planeta, bem com à disparada das cotações do barril de petróleo. A alta dos preços internacionais dos alimentos teve impacto inclusive sobre a inflação brasileira, que ameaça romper a meta estabelecida pelo governo para este ano e 2009.
Em seu discurso, o presidente afirmou que, para combater a alta dos preços, elevar a produção será a principal arma. A meta, segundo ele, é dobrar a produção da agricultura familiar até 2010.
“A palavra de ordem deste governo para combater a inflação e a crise americana é aumentar os investimentos em produção”, acrescentou.
O presidente Lula admitiu que o país vive um “clima preocupante” por causa da crise econômica dos EUA, mas afirmou que o Brasil está mais preparado para enfrentar o problema. “Há 8 anos, se os Estados Unidos espirrasse, nós pegaríamos uma pneumonia”, disse ele.
E após o fracasso da Rodada Doha, Lula não poupou os organismos internacionais de críticas. “No G-8 [reunião dos países mais desenvolvidos do mundo], ninguém falou da crise americana. Ah, se fosse o Brasil, a Bolívia, a Venezuela e a Argentina…estava todo mundo dando palpite, dizendo que o fazer”, disse ele.
Folha online
Rizzolo: O mais interessante no discurso de Lula é que ao mesmo tempo em que apregoa um combate da inflação via maior produção, o que é a lógica, impõe via BC um política de alta de juros extremamente perversa. Ora, se queremos combater a inflação com um aumento da produção precisamos começar pela queda dos juros. O aumento da produção de alimentos no Brasil é na verdade a grande oportunidade que temos de definitivamente definirmos nossa vocação de grande produtor agrícola. Apenas para frisar, temos que despertar a “oportunidade extraordinária” também em relação ao desenvolvimento do mercado interno brasileiro, e isso também passa pela queda das taxas de juros.
O candidato do Partido Republicano à Casa Branca, John McCain, disse hoje que seu adversário democrata, Barack Obama, é um grande orador, mas disse que os bons discursos não são tudo em política.
“O bom critério também é importante”, disse McCain, que afirmou que “isso é o que os Estados Unidos vão precisar no futuro líder”.
McCain disse que as diferenças entre ele e Obama “se vêem cada vez com maior clareza” e, “ao se aproximar o dia, a decisão acertada torna-se mais óbvia”.
O candidato republicano disse que foi capaz de rebater seu partido quando assim exigiram “os princípios e o bom senso”.
Neste sentido, disse que reprovou os erros que a Administração republicana cometeu no Iraque, “o que permitiu levar uma nova estratégia” que “salvou de uma catastrófica derrota dos Estados Unidos no Oriente Médio”, disse.
McCain reprovou o adversário por dizer que o Iraque era uma causa perdida, declarando com confiança que o aumento das tropas seria um fracasso e exigindo uma retirada imediata das mesmas, “sem se importar com as desastrosas conseqüências”.
“Vi a guerra de perto e conheço seus terríveis seqüelas e, como presidente, levarei esta guerra até o fim com a vitória”, disse McCain.
Segundo o candidato republicano, Obama “é um grande orador, mas Washington está cheio de bons oradores”.
Agência Estadp
Rizzolo: O mais estranho na disputa americana é na realidade a diferença de intenção de votos entre Obama e McCain. Entendo que já seria hora de ter uma maior diferença nessa relação de intenção de votos. É bem verdade que Obama tem menos experiência do que MacCain, mas suas propostas são inovadoras e despertam maior interesse do eleitorado. Os democratas deverão vencer, apenas o que me causa espécie, como já disse, é o fato da margem estar ainda modesta. Nem sempre discursos inflamados revertem em votos principalmente num eleitorado politicamente maduros como o americano, Vamos ver.
O presidente Lula confirmou que vai participar da campanha eleitoral dos candidatos do PT em São Paulo e na região do Grande ABC. Na tarde deste sábado, ele esteve presente na cerimônia de posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo. O evento também contou com os ex-ministros Marta Suplicy e Luiz Marinho, respectivamente candidatos petistas às prefeituras de São Paulo e São Bernardo do Campo.
– Terei imenso prazer em estar com a imprensa nos comícios que eu vou fazer com os candidatos do PT aqui na região e nos comícios que eu vou fazer com a companheira Marta lá em São Paulo – declarou o presidente.
Durante a festa, porém, o presidente preferiu limitar suas homenagens ao novo presidente do sindicato, Sérgio Nobre, funcionário da Mercedes-Benz.
– Hoje, o rei da festa é o Sérgio Nobre. É para ele que eu rendo as minhas homenagens – saudou Lula.
Zero Hora
Rizzolo: A iniciativa de Lula é fortalecer as campanhas em São Paulo reduto do PSDB, de certa forma será bom para aferir até que ponto tem o poder de transferir votos. Pessoalmente não acredito muito em transferência de votos, muito embora o prestígio de Lula é indiscutível. Essa ” mãozinha” poderá fazer uma grande diferença para o PT. Em discurso emocionado, o presidente lembrou de suas raízes sindicalistas e fez uma brincadeira, “eu to até parecendo o presidente do sindicato”. O presidente aproveitou a oportunidade para criticar a imprensa por não ter destacado o crescimento industrial. “Se fosse coisa ruim, todos teriam dado manchete”.