Lembrando o Passado, Fortalecendo o Futuro

Contam os velhos rabinos franceses, que certa noite fria e chuvosa, Napoleão Bonaparte, como de costume, resolveu sair de madrugada pelas ruas de Paris. Com seu cavalo majestoso, percorria os vilarejos da velha cidade francesa, sob os ruídos do trote que estalavam os paralelepípedos molhados pela chuva fria e fina. Foi quando então em determinado quarteirão de um bairro judeu, ouviu choros, soluços, e um imensa tristeza que vinha de uma casa, que mais parecia uma sinagoga repleta de homens mulheres e crianças.

Tão logo observou o que ocorria, desceu de seu cavalo e com cuidado se aproximou da casa. Ainda sob o triste som dos soluços que vinham dos fundos da casa, num gesto de curiosidade e preocupação, abordou um velho judeu de brancas barbas que passava pela calçada e perguntou:

– O que está havendo nesta casa?

– É uma sinagoga, senhor. – respondeu o velho trêmulo de frio,

– E porque estão eles chorando? Faleceu alguém da família? – perguntou Napoleão.

– Não, senhor, choram porque hoje representa a destruição do templo. – disse o velho constrangido.

– Destruição do templo?

– Quando ocorreu essa tragédia, essa destruição? – perguntou Napoleão num ar paternal e de certa forma oferecendo uma eventual ajuda.

O velho desconsertado e cabisbaixo, reergueu seus olhos a Napoleão com um olhar marejado e respondeu:

– Há mil anos, senhor.

– Mil anos ! – exclamou Napoleão.

Foi quando então Napoleão virou-se para seus assessores e num gesto de emoção mais uma vez exclamou :

– Um povo que é capaz de chorar por um fato triste, ocorrido há mais de mil anos atrás, é também capaz de encontrar forças para superar um futuro por mais mil anos à frente.

Muitas vezes, o fato de relembrarmos um passado triste, quer em nossa vida pessoal, afetiva ou profissional, e com essa lembrança, atingirmos a essência de um sentimento triste, com certeza tal atitude nos tornará mais fortes, vez que ao nos conectarmos com esse passado, vivenciaremos e nos fortaleceremos para melhor poder presenciar as situações do presente e do futuro.

Não se trata de lamentar o passado, ou se prender aos fatos de outrora, mas nos protegermos das eventuais mimificações históricas que de certa forma nosso inconsciente poderá repetir contribuindo para que o triste ocorrido volte a acontecer. Nem sempre esquecer o passado é saudável, e isso pode-se aplicar em todas as situações da nossa vida, inclusive políticas. Lembrar um passado amargo, com uma leve tristeza reflexiva, engrandece a alma e nos remete a encontramos meios de evitar que suas causas no futuro não prosperem.

Napoleão não estava errado, um povo deve manter na memória o seu passado, seja ele de gloria ou tristeza, com isso refaz sua história, se reconcilia com seus ideais, comemora com suas tradições, e acima de tudo, tem um instrumento digno de chorar sozinho uma história de vida.

Tenha um Sábado de paz e uma semana feliz !

Fernando Rizzolo