Charge do Myrria para A Crítica

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Liberalismo Financeiro e o PAC

Um dos conceitos mais discutidos nas questões políticas e econômicas na última década, foi a do neoliberalismo e seu papel na economia. Seus ardentes combatentes, em contraponto aos amantes de Adam Smith, se digladiaram numa discussão polarizada, que em última instância, se expressava em conceitos sócio políticos sobre a participação do Estado como provedor de desenvolvimento, e ao mesmo tempo, como regulador do processo econômico em oposição aos liberais que entendiam que o mercado por si era auto sustável.

Mais recentemente no Brasil, como na América Latina, prevaleceu-se o pensamento contrário às posturas neoliberais e ao ” Consenso de Washington”; impulsionado por economistas como Joseph Stinglitz ( Prêmio nobel ), que sempre defendeu um modelo econômico não tão liberal, onde o Estado assume um papel mais participativo na elaboração das diretrizes de investimento, balizando-o, e dando o tom na segmentação da aplicação dos recursos à iniciativa privada. Modelo este, mais próximo ao instituido na época do “milagre brasileiro”, onde a presença do Estado era mais acentuada.

Foi nesse esteio de pensamento, que o modelo econômico do governo do presidente Lula, pavimentou seus ideais de construir e desenvolver programas de inclusão social e consolidar a implantação de projetos de infra-estrutura contidos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Ainda na esfera da regulação por parte do Estado, a sucessão de crises forçou modificações do sistema bancário brasileiro, que tornou-se mais eficaz, ao contrário dos preceitos do liberalismo financeiro. Hoje, o Banco Central, ao contrário do FED( banco central americano), tem grande abrangência nas suas atividades reguladoras e fiscalizadoras.

A história de certo modo veio provar que não estávamos de todo errado ao propagarmos uma política econômica mais centrada e menos arrojada do ponto de vista do liberalismo financeiro. A crise bancária dos EUA que levou à elaboração de uma pacote de resguardo à economia no valor de US$ 700 bilhões em dinheiro público, nos leva apensar que o caminho inverso das propostas liberais ganha força no pensamento econômico mundial.

Por ironia econômica, nosso modelo de desenvolvimento, baseado no PAC, sofrerá as influências da crise mundial advindas do descontrole financeiro. Já se observa um grande número de obras fora do prazo estabelecido, até o balanço do programa está atrasado. Com efeito, as indústrias do setor de infra -estrutura já sentem o enxugamento do crédito, estando este mais restritivo. Preocupado com esta questão que envolve o desenvolvimento dos projetos, o governo vai procurar garantir recursos para quatro áreas significativas: agricultura, exportação, PAC, BNDES. Contudo a Taxa de Juros de Longo Prazo poderão ser alteradas dificultando ainda mais o crédito.

Não seria exagero a um observador, inferir que a inter conectividade dos mercados ultrapassa as políticas internas monetárias, fazendo com que a blindagem econômica dos demais países pobres acabam sendo um minimizador na contenção das turbulência internacionais, que ainda insistem na pouca regulação financeira e na pouca participação do Estado na economia, fazendo com que o debate sobre a discussão neoliberal, seja paga pelos pobres do mundo e pelos pobres contribuintes dos países ricos.

Fernando Rizzolo

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Ao lado do velho córrego, ele chorava como uma criança

Ainda me lembro bem daquele sábado, era uma tarde quente, e eu como que tivesse uma alegria estranha, com uma corda na mão, tentava laçar meu cavalo para caminhar pelas estradas de Potuverá, um bairro rural de Itapecerica da Serra, interior, hoje, periferia de São Paulo. Aquilo para mim naquela época, em 1973, era uma aventura. Eu estudava Direito em São Paulo, e quando chegava sexta-feira, sentia o cheiro do mato das florestas, dos riachos, do trilho de trem que rasgava Aldeinha passando por trás da nossa Fazenda. Mas naquela tarde, algo de estranho ocorreu; percebi que meu cavalo – sempre me avistava costumava correr em minha direção- Numa peleja dura e com muito custo, cheguei a laça-lo, e enfim, segurando -o firme como quem contava com um amigo, coloquei a sela e fui em direção ao centro da cidade pela antiga BR116, hoje, a Régis Bittencourt.

O caminho era sempre o mesmo, virava no ” Bar do vovô” e seguia a velha estrada até a cidade. Galopava com um vento no rosto, naquela estrada de terra dura, num cavalo que “socava” chamado ” amargoso”- mistura de amargo com “bardoso’. Foi quando observei num vilarejo uma voz de choro, um choro triste que chegava a doer na alma. Puxei a rédea, parei, observei e vi uma casa muito pobre, com umas galinhas ciscando, e ao lado da casa um córrego, com uma água verde que cheirava mal.

Mas o choro, o choro mesmo, vinha de trás da casa. Resolvi então descer e caminhar até lá. Logo que me aproximei da casa, uma velhinha com uns olhos azúis marejados me olhou com um olhar assustado, como quem precisava de ajuda. Perguntei: ” A senhora mora aí ?” “Moro, sim senhor “, respondeu meio encabulada.” Está tudo bem? Ouvi alguém chorando… “. Logo que ela percebeu que eu já tinha ouvido o choro me disse: ” Sabe que é, senhor, o irmãozinho dele morreu hoje pela manhã. Ele era muito apegado ao irmão, de tanto brincarem juntos no córrego, o irmãozinho ficou doente e morreu; quem disse foi o médico lá do Hospital. Olha senhor, ele não pára de chorar, está chorando o dia inteiro, ali atrás, perto da curva do córrego”.

Com o coração totalmente partido, caminhei em direção à curva do córrego e vi então uma cena muito triste: um rapaz agachado, encolhidinho, soluçando como uma criança. Tentei consolá-lo, mas era difícil, a perda do irmão doía no seu peito como uma faca rasgando seu tórax, perguntei “O que houve? ”
– Meu irmãozinho de seis anos morreu, ele dependia de mim, minha mãe morreu, meu pai sumiu, e nós vivíamos aqui com a minha avó. Sempre aos sábados brincávamos jogando bola ou empinando pipa ao lado desse córrego, mas não sabia que estava contaminado; o doutor disse que a infecção ele pegou aqui ”

Naquele momento, olhei para ele e percebi o que a miséria e as desventuras da vida fazem com as pessoas. Já naquele tempo não se investia em saneamento básico, e não se investia como ainda hoje não se investe, porque saneamento básico é obra que não aparece, não dá votos. E mais, hoje como antigamente, as pessoas continuam morrendo de infecções vindas da rua, dos córregos, dos riachos, pela negligência dos políticos que são bons, em época de eleição tocar ” aquelas musiquinhas irritantes “, com aqueles carros de som imundos. São os que eu chamo de velhos “políticos profissionais”, “espertos”, dotados daqueles “olhinhos” que não perdem um lance de oportunidade sequer, que prometem tudo; mas quando eleitos, fazem afinal o jogo dos prefeitos, que por sinal, detestam investir em saneamento básico, saúde pública e lixões.

Fiquei muito abalado com aquela cena, que até hoje a tenho na memória. O choro, o desespero a miséria, ainda estão vivos em mim, quando passo por lá, sempre lembro do garotinho que se foi, e o soluço de tristeza de seu irmão, que hoje é um conhecido comerciante no Embu. Há dois anos, o encontrei num supermercado, ele se lembrou de mim, do cavalo, dos momentos em que eu tentei consolá-lo. Disse a ele brincando que um dia ainda seria prefeito de Itapecerica da Serra. Ele olhou para mim, deu um sorriso, depois olhou para o chão e disse: ” Doutor, se um dia o senhor for prefeito, acabe com aquele riacho maldito, que ele ainda está infectado, matando as crianças e rindo de mim. Sempre que posso, ainda sento ao lado dele derramo minhas lágrimas, choro de saudade do meu irmãozinho; infelizmente ele se foi e não volta jamais “. Naquele momento senti que a alma daquela criança migrara para aquelas esferas em que todas as almas santas e injustiçadas se encontram. Não consigo imaginar o Eden sem aquele menino, inocente e vítima do descaso.

Fernando Rizzolo

Dedico este texto a todas às crianças da periferia de São Paulo que morrem ou morreram nas últimas décadas, face à falta de saneamento básico e abandono pelo Poder Público.

Lula diz que pacote dos EUA é injusto com pobres

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou os Estados Unidos pela crise financeira global e disse que o plano de resgate de 700 bilhões de dólares para socorrer Wall Street é injusto com as pessoas pobres de outros países do mundo.

O Congresso norte-americano acertou, na madrugada de domingo, as bases para o acordo de resgate destinado ao setor financeiro. A crise iniciada em Wall Street se espalhou para os mercados de todo o mundo.

“Eles querem ajudar os bancos e não querem ajudar os pobres”, disse Lula, na noite de sábado, durante comício do PT na cidade de Garulhos, na Grande São Paulo.

“Porque quando eles ganham é só deles, mas o prejuízo eles querem repartir com todos os países do mundo e com os mais pobres. Se eles brincaram com a economia deles, eles que resolvam e não deixem a crise chegar aqui”, acrescentou o presidente, de acordo com reportagem da Agência Brasil.

Lula disse ainda que os Estados Unidos têm a responsabilidade de resolver a crise de repercussão internacional que eles mesmos causaram.

“Se eles brincaram com a economia deles, eles que resolvam e não deixem a crise chegar aqui”, afirmou o presidente, acrescentando que o Brasil está em melhores condições para enfrentar a crise do que no passado por não depender tanto dos EUA.

“Antes, os Estados Unidos eram responsáveis por 30 por cento das nossas exportações, agora são 15 por cento. Começamos a vender para a América do Sul, Ásia, Europa, Oriente Médio, África”, disse.

A economia brasileira está crescendo mais de 5 por cento ao ano, mas deve diminuir para um crescimento por volta de 4 por cento no próximo ano. Empresas exportadoras brasileiras anunciaram na semana passada grandes perdas de derivativos devido à flutuação cambial causada pela crise financeira global.
Agência estado

Rizzolo: A realidade é que pacote americano é única solução plausível para resolver o problema causado pela falta de regulação do mercado financeiro americano. Em verdade a liberalização financeira, tão apregoada pelos neoliberais do mundo, desta vez está sendo questionada até pelos seus mais árduos defensores no passado. De fato que paga são os pobres, não só dos países em desenvolvimentos ou extremamente miseráveis, mas o contribuinte americano que também é um assalariado e sofrerá com o desemprego e um mercado mais retraído. É como sempre afirmo, a liberalização financeira possui um discurso em que o lucro não é compartilhado pelo Estado, mas os prejuízos estes sim. Os povos é que pagam.

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