Casa Branca diz que crise já afeta Brasil

Washington, 7 out (EFE).- A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse hoje, em sua coletiva de imprensa diária, que a crise financeira já afeta mercados como o brasileiro e ressaltou que medidas precisam ser tomadas.

“Isto está afetando todo o mundo, incluindo mercados emergentes como Brasil e México. Por isso há muito trabalho pela frente (…) e continuamos trabalhando”, afirmou a porta-voz da Casa Branca.

Na coletiva, Dana Perino destacou que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, falou hoje com líderes europeus sobre a instabilidade dos mercados, explicou sobre as medidas tomadas para conter a crise e ressaltou a importância de uma resposta global coordenada.

Segundo ela, Bush ligou para o presidente francês, Nicolas Sarkozy, o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, e o premier da Itália, Silvio Berlusconi.

“Nas conversas com nossos bons aliados e nossos amigos, o presidente falou das diferentes medidas que os EUA tomaram para devolver a estabilidade aos mercados e da importância que todos os países trabalhem juntos para coordenar nossas ações”, assinalou a porta-voz.

Segundo a porta-voz, o Governo Bush “está satisfeito com os níveis de esforços e coordenação” global dos Executivos para enfrentar a crise financeira internacional.

“É importante irmos todos na mesma direção”, acrescentou.

Em sua conversa telefônica com Sarkozy, Bush tratou com o presidente francês sua proposta de reunir o Grupo dos Oito (G8, que reúne os sete mais desenvolvidos e a Rússia) para abordar os graves problemas dos mercados financeiros.

“O presidente está disposto a participar dela, mas nosso foco de atenção imediato é o encontro deste fim de semana (do G7), porque ainda nos movimentamos em uma situação de emergência”, esclareceu a porta-voz.
Folha online

Rizzolo: Muito embora o governo brasileiro minimize a crise, as medidas de contenção aos gastos públicos, e um política realista do ponto de vista econômico devem ser tomadas. O governo brasileiro retardou as medidas e substimou os efeitos da crise que ora assola o Brasil. Não podemos avaliar a dimensão da crise no país, através de ” indiretas” vindas do exterior para que haja uma revisão na planificação dos investimentos, e dos gastos públicos no sentido de nos resguardarmos. Acho que seria interessante um pacote de medidas, muito embora o governo não goste da palavra “pacote” porque não é nada popular, e para o governo, substimar a crise significa manter a popularidade, acho essa conduta um tanto temerária.

Crise ‘apaga’ bons prospectos para economias emergentes, diz jornal americano

Uma reportagem publicada nesta terça-feira no “Wall Street Journal” afirma que “os prospectos para os mercados emergentes estão se apagando” diante da crise mundial, que já se espalha por economias industrializadas e em desenvolvimento.

O artigo expressa uma leitura amplamente divulgada nos principais jornais europeus e americanos – a de que os países emergentes, até então considerados mais preparados para enfrentar um futuro de instabilidade, “não estão imunes à crise”.

“Embora muitos mercados emergentes ainda tenham prospectos mais cor-de-rosa que os Estados Unidos ou a Europa, eles agora enfrentam um ambiente drasticamente diferente daquele de alguns meses atrás”, escrevem os repórteres do “WSJ”.

“Os preços das commodities, uma importante fonte de exportações das economias em desenvolvimento, tombaram. Ao mesmo tempo, os custos de empréstimos para as companhias aumentaram como parte da crise de crédito, dificultando seu acesso a capital”, afirma.

O diário financeiro americano destaca a queda de 5,4% da Bolsa de Valores de São Paulo, em um dia em que as ações chegaram a cair 15% e o sistema de contenção de perdas foi acionado duas vezes. A queda de 19% da Bolsa de Moscou também foi destaque nas reportagens desta terça-feira.

Ao mesmo tempo, as moedas de países como o Brasil, a Turquia, a Coréia do Sul e o México, se desvalorizaram em relação ao dólar americano, à medida que investidores se desfaziam de ativos considerados de maior risco.

‘Fundamentos’
Para o jornal britânico “Financial Times”, a força com que a crise afetou os mercados em desenvolvimento “desfaz a idéia de que os maiores mercados emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China – os Brics – estavam imunes à crise”.

No entanto, diz o jornal, “as perdas recentes confundem os fundamentos em muitas destas economias, já que governos introduziram reformas cruciais” para fortalecê-las contra riscos econômicos.

Um investidor ouvido pelo jornal sintetizou o que seria esta “confusão”:

“Que economia é mais forte, a do Brasil ou da Itália? Os fundamentos econômicos ainda são mais fortes nas economias emergentes”, afirmou, segundo o “FT”.

Desenvolvendo raciocínio na mesma linha, o “The New York Times” cita o caso do Brasil. Avalia que o país “fez mais que qualquer outro país na América Latina” para tentar garantir tranqüilidade diante de turbulências: acumulou reservas de US$ 200 bilhões e diversificou suas exportações para reduzir a dependência em relação à demanda nos Estados Unidos.

Passos semelhantes foram tomados por outros países emergentes – mas a “saúde relativa (dessas economias) inspira pouca fé nos mercados”, lamenta o “NYT”.

“Muitas das economias mais dinâmicas do mundo pensaram que estavam imunes dos problemas no mundo desenvolvido. Mas economistas afirmam que uma turbulência simultânea na Europa e nos Estados Unidos é demais para suportar.”
BBC/Folha online

Rizzolo: A disparada do dólar hoje -a pior desde janeiro de 1999 -, no mercado indica que a crise passa no Brasil pelo “fator confiança”. As previsões não são nada boas, com a escassez de crédito, o custo financeiro aumenta, e isso, em conjunto com o fator cambial, insinua uma inflação nos preços, que irão absorver tais cusos. Alem disso, com o preço das commodities despencando em conjunto com a indisponibilidade de crédito abundante ao produtor, nos aponta dois fatores explosivos em sentido contrário.

O que salta aos olhos, é a ingenuidade política do governo em subestimar a crise desde o início; há duas semanas atrás o presidente Lula afirmava que crise “era um problema de Bush”. Da mesma forma em que se constata o despreparo político econômico, o governo continua com os gastos públicos nas alturas; com o “vamos pisar no acelerador”; talvez alguém deverá alerta-los que gastos públicos pródigos com crise não combinam. De qualquer forma o dólar descansa quinta-feira no Yom Kipur, assim esperamos.

As “bolhas” eminentes

O aumento do limite da dedução de compulsórios para R$ 300 milhões, e a disponibilização de R$ 24 bilhões exclusivos para a compra de carteira de bancos menores e ampliação da linha de crédito para exportações em R$ 5 bilhões, provavelmente não será suficiente para deter a crise no mercado financeiro. Hoje a força motriz da crise é o “fator confiança”. A queda do preço das commodities, e a incerteza de que realmente a antecipação de R$ 5 bilhões para o crédito rural sejam suficientes, acabam sendo fatores que contribuem para o aprofundamento da crise no Brasil.

No âmbito internacional, não há dúvida que a China irá exportar e consumir menos, e isso poderá gerar um tipo de “bolha chinesa”, vez que terão que direcionar sua produção para o mercado interno, ainda pobre e com um consumidor de caráter poupador, pouco induzido ao consumo. O fato do consumo interno dos emergentes diminuir, nos levará ainda mais a uma desvalorização das commodities que são hoje nosso carro chefe exportador.

Por outro lado, a escassez de crédito no Brasil, irá gerar um custo financeiro maior, que em conjunto com a desvalorização cambial rápida, nos levará certamente a um índice de inflação maior em 2009. Por último, ficaria a dúvida se as reservas acumuladas no país serão efetivamente suficientes em casos de tempestades que ainda estarão por vir, até porque não sabemos a dimensão da crise.

Talvez a questão mais interessante e que nos levaria a uma reflexão nesta crise, é o fato de que o mundo está à beira de estatizar o sistema bancário; na verdade, a atribuição à crise pela pouca intervenção estatal ocorrido no setor bancário privado mundial, nos levou a reconsiderar o papel regulador do Estado, condenando de vez o liberalismo financeiro. Uma bandeira ideológica do passado, virou a verdade atual; o que de certa forma, em vista da influência da esquerda em alguns países como o Brasil, trouxe do ponto vista econômico interno certo conforto.

Na verdade, o governo deve repensar sua política de gastos públicos, até porque não haverá dinheiro suficiente para pisar no acelerador, e socorrer a economia num momento crucial como este. A grande diferença da crise do momento em relação às outras, é que além do fator risco, os provedores de crédito poderiam até não se contaminar pelo ” fator confiança”, mas o pior é que desta vez a maioria nem sequer tem mais recursos para emprestar.

Fernando Rizzolo

Charge do Myrria para o A Crítica

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