Ao menos 25 pessoas ficaram feridas no confronto entre policiais militares e civis durante manifestação na tarde desta quinta-feira (16), nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual paulista. Mesmo com o enfrentamento, o primeiro entre as forças policiais em SP, a Polícia Civil decidiu não encerrar a greve, que já dura um mês.
Depois do confronto com a Polícia Militar durante manifestação na tarde desta quinta-feira, lideranças dos policiais civis em greve afirmaram que a paralisação da categoria no Estado de São Paulo vai continuar. “Mais do que nunca, agora a greve vai continuar”, disse o presidente do Sindicato dos Investigadores de São Paulo, João Rebouças.
A intenção dos policiais civis era pressionar o governo a retomar as negociações e, para isso, pretendiam ser recebidos pelo governador José Serra (PSDB). A Polícia Militar foi chamada para impedir que a passeata –com cerca de 2.000 policiais– se aproximasse da sede do governo
A marcha era escoltada por policiais de dois grupos de elite da Polícia Civil –GOE (Grupo de Operações Especiais) e Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos)– que tentaram impedir a subida dos grevistas à sede do governo, bloqueando as vias com as motos da polícia.
No choque entre policiais civis e PMs foram usadas bombas de efeito moral (gás lacrimogêneo), balas de borracha e a cavalaria para conter os policiais grevistas. O confronto danificou viaturas da Polícia Militar, do GOE e do Garra danificadas.
Treze vítimas foram levadas para o hospital Albert Einstein, próximo ao local do protesto; cinco foram atendidas no hospital Itacolomy Butantã e outras cinco na unidade Morumbi do hospital São Luiz.
No final da noite desta quinta, a assessoria do Albert Einstein informou que todos os feridos apresentam quadro de saúde estável e que cinco deles já foram liberado. O Itacolomy informou que três dos cinco atendidos foram liberados; e, segundo o São Luiz, um dos pacientes, com fratura exposta em um dos dedos da mão direita, foi transferido para o hospital São Leopoldo. Outra vítima atendida no São Luiz sofreu queimaduras de terceiro grau na região abdominal.
Motivação
O governador José Serra (PSDB) afirmou que a manifestação dos policiais civis teve motivação político-eleitoral. “Nessa manifestação estiveram cerca de mil pessoas, e a Polícia Civil tem 35 mil efetivos. Portanto trata-se de minoria. Mais ainda, nem todos que estão na manifestação são da Polícia Civil. Tem CUT, Força Sindical, outros sindicatos, partidos políticos, deputados de outros partidos, todos chamando para a manifestação, com uso claramente político-eleitoral”, disse.
As afirmações do governador foram rechaçadas por lideranças dos manifestantes. O delegado André Dahmer, diretor da Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado de São Paulo), culpou o governo do Estado pelo confronto. “Nós não queremos guerra. O governo não quer diálogo. Ele [governo] quer guerra.”
O presidente do Sindicato da Polícia Civil de Campinas e região, Aparecido de Carvalho, também acusou o governo estadual pelo confronto. “É uma irresponsabilidade sem tamanho um governador, que se diz democrático, sabendo que homens armados vêm reivindicar salários e dignidade, colocar a PM, que é uma co-irmã, armada, correndo todos os riscos. O saldo disso poderiam ser diversas mortes de policiais.”
As negociações entre grevistas e governo entraram em um impasse no dia 9 de outubro, quando um acordo parecia estar próximo. Na ocasião, lideranças dos policiais e representantes do governo se reuniram para buscar um consenso.
Uma proposta feita informalmente pelo governo acenava com reajuste salarial de 6,2%, extinção da 4ª e 5ª classe e a redução de três para dois níveis de salários adicionais. Os grevistas apresentaram uma contraproposta durante a reunião, que não foi aceita pelo governo. Desde então, o diálogo foi rompido.
Folha online
Rizzolo: O bom senso nos impõe uma análise mais cautelosa sobre as questões que envolvem esta greve em si, que na verdade possui particularidades. A greve dos policiais civil, à parte da sua legitimidade, não é uma greve como as demais, senão vejamos:
Todos sabem da existência de uma rivalidade antiga, entre as polícias de São Paulo. Até hoje não ficou bem definido o papel da polícia militar e da polícia judiciária, que tem por finalidade a investigação e a condução dos inquéritos. O ocorre que por vezes, uma acaba invadindo as atribuições da outra, sem contar o fato da representatividade política e da presença de grupos políticos partidários como bem afirmou o governador José Serra.
Ademais, existe uma agravante em todo este contexto, as passeatas, os gritos de ordem, as manifestações, são de pessoas que possuem acesso a armas, até pela natureza profissional. Ora, é claro que o governador ao ver a aproximação de mais de 1000 pessoas, policiais muitos armados, se dirigindo ao Palácio dos Bandeirantes, liderados ou incitados por sindicalistas claramente petistas, se viu acuado e isso é natural. Por bemm ” ad cautela “, por precaução, requereu a presença da Polícia Militar no local, por medida de segurança e para eventualmente conter os ânimos, que já estavam exaltados. E deu-se o confronto, um tipo de acerto de contas antigo.
Agora, se Serra não os recebeu, agiu muito mal. Sob qual pretexto um governador do Estado se recusa a receber lideranças? Qual a argumentação do governador para não abrir um canal de diálogo no Palácio Bandeirantes? O que me parece é houve intenção de ambas as partes em ter um ” ganho secundário político” com esse evento triste. Mas que tudo foi arquitetado por aqueles que amargam o desespero eleitoral, foi viu.
No desespero da campanha petista, a CUT, Força Sindical, outros sindicatos, partidos políticos, e deputados de outros partidos, usaram a polícia civil como massa de manobra para atingir seus objetivos. Sempre fui um defensor tanto da polícia civil e militar, mas nesse caso entendo que ambas foram vítimas das ” arruaças políticas eleitoreiras de última hora “, potencializadas com a postura do governador.